segunda-feira, 14 de janeiro de 2019


Dos processos estalinistas...


É sabido que Estaline, como todos os ditadores, era um paranoico que via um concorrente ao seu lugar em todo o homem de valor que o rodeasse; daí que tenha eliminado sistematicamente os melhores homens que se destacavam na luta por um mundo mais justo. Transcrevo do livro anexo um extracto do “diário” de uma das suas vítimas, N. S. Rubachov, referindo um companheiro de cárcere que tinha acabado de ser morto.

“... Vladimir Bogrov caíu do balouço. Há cento e cinquenta anos, no dia da tomada da Bastilha, o balouço europeu pôs-se de novo em movimento, depois de uma longa inacção. Desprendeu-se da tirania com satisfação; com um ímpeto aparentemente irresistível, lançou-se para o céu azul da liberdade. Durante cem anos elevou-se cada vez mais alto nas esferas do liberalismo e da democracia. Mas, gradualmente, a velocidade foi diminuindo, o balouço chegou ao cimo, ao ponto de viragem do seu curso; então, depois de um segundo de imobilidade, começou a fazer marcha atrás, cada vez com maior velocidade. Com o mesmo impulso que leveva na subida, o balouço trouxe os seus passageiros da liberdade para a tirania. E quem, em vez de se agarrar bem, olhava para cima, sentia vertigens e caía.

Quem quiser evitar as vertigens deve tentar descobrir as leis do movimento do balouço. Parece estarmos perante um movimento pendular na história, cuja oscilação vai do absolutismo à democracia e da democracia volta à ditadura absoluta.

A quantidade de liberdade individual que um povo pode conquistar e conservar depende do seu grau de maturidade política. O referido movimento pendular parece indicar que a maturidade política das massas não segue uma curva ascendente regular, como o crescimento de um indivíduo, mas é regulado por leis mais complicadas”...


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Curioso o problema que aqui traz ( o eventual movimento pendular do mundo). Já, há tempos, adorei um pequeno livro de João Aguiar -O Jardim das Delícias- que focava o assunto, embora sob um ponto de vida mais holístico e não tanto sobre a organização político-social. Que posso dizer? Somente que os diagnósticos definitivos não fazem o meu género. E espero que este também não se cumpra. Tal como não se cumpriu o "Fim da História- O Último Homem". E a verdade é que, mesmo que não linearmente, "o mundo pula e avança"... No binómio democracia/ditadura, os tempos não vão de feição para a primeira, mas quero crer que ainda há muita reserva ética e cultural...
    Mas, grato por trazer o assunto à colação, Amândio.

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  2. Claro que o caminho é combater o que nos aparece como errado, seja qual for a circunstância, mantendo sempre bem viva a esperança, sabendo que umas vezes se ganha e outras não...

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