quarta-feira, 10 de abril de 2019


Difícil e doloroso


Vinte e um anos depois de Ramón Sampedro, tetraplégico que dizia sr a cabeça a única parte viva do seu corpo, a quem foi recusada autorização legal para pôr termo à vida, tendo recorrido a pessoa amiga para o fazer “clandestinamente”, um novo caso surgiu, em plena campanha eleitoral, a dividir os espanhóis; um casal idoso, com a mulher em vida quase vegetativa havia já muitos anos, acordou entre si fazer-lhe a vontade de ajudá-la a morrer, libertando os dois daquele sofrimento.

Logo após o passamento da companheira, Maria José Carrasco, o marido, Ángel Hernandez, telefonou para o número de emergência médica e contou pormenorizadamete o que tinha acontecido, preparado para arcar com as consequências, mas seguro de que tinha cumprido um acto de amor.

Como já esperava, logo de seguida chegaram as autoridades que, cumprindo o que a lei determina, o levaram para ser presente a um juíz; foi libertado após prestar as declarações que se impunham e aguarda julgamento, tendo dito à comunicação social  que tinha sido tratado por todos com muita compreensão.

Com a mediatização do caso, apareceu muita gente em condições semelhantes, esperando por uma solução legal, pois não querem sobrecarregar ninguém com as consequências de lhes ter ajudado a pôr termo ao sofrimento.

Pelo que por cá já foi discutido, sabemos que este é um tema delicado, não só porque a legalização da eutanásia abre caminho a coisas sinistras, mas também pela responsabilidade moral e eventuais problemas de consciência de quem é “encarregado” de executar um acto de tanta responsabilidade...


Amândio G.Martins

3 comentários:

  1. O seu texto é importante e o comentário que vou fazer não pretende ser exaustivo, como é óbvio. Mas o facto que descreve não faz parte daquilo que, há pouco tempo, cá se discutiu e foi "chumbado" na AR. No caso português o que estava em causa era a eutanásia a pedido do próprio e depois de rigorosamente averiguada a autonomia de quem a pedia e a situação clínica que levava ao pedido. Este caso espanhol configura um acto de Amor, não o duvido, mas claramente uma ilegalidade que, esse sim, pode dar às tais "coisas sinistras". Reafirmo no entanto que percebo a atitude dos senhor A. Hernandez e que, aliás, está bem plasmada no filme AMOR, e há poucos anos, com Jean Louis Trintignant no protagonista. Espero bem que o juíz seja humanista. Quanto ao que penso ( é sempre bom) votaria a favor da proposta de lei "chumbada que "mas não defenderia que o caso espanhol fosse integrado nela como tipificação.

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  2. Compreendo perfeitamnte, Dr. Fernando, o dilema de quem se vê a braços com tão complexa situação e não seria capaz de condenar a pessoa que deu à mulher o medicamento que ela insistentemente lhe pediu; mas assumo a cobardia de não ser capaz de carregar, se o caso se pusesse, tão séria responsabilidade...

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  3. Embora não seja necessário, acho por bem dizer que o caso de Ramon Sampedro se integra no grupo dos que pediram a morte assistida que a lei, na minha óptica, devia conceder, enquanto o de Angel Hernandez deve permanecer ilegal, muito embora humanamente entendível. Pelas razõesque já expuz.

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