segunda-feira, 18 de novembro de 2019


A cavalo dado...


Pode questionar-se a intenção que terá levado alguém a contribuír generosamente, em parte ou na totalidade, para aquisição de um aparelho caro para uma instituição pública, mas se a pessoa ou empresa não colocou condições, e o equipamento é mesmo necessário, a quem dele beneficia, se for educado, cumpre aceitar e agradecer; infelizmente, a pobreza de espírito, mais atrofiante que a material, leva certas almas a desconfiar e até  recusar a oferta, mesmo que se destine a preencher grave lacuna.

Aconteceu há tempos, em Espanha, algo semelhante, a propósito de uma valiosa oferta do magnata Amancio Ortega a uma unidade hospitalar; o líder do Podemos, Pablo Iglésias, em discurso de campanha na localidade, invectivou aquela generososidade, o que teve como consequência imediata o autarca local, da mesma formação política, perder as eleições, deixando-o de tal forma revoltado que, em lágrimas, anunciou abandonar o partido, dizendo ao líder que alguns políticos, quando abrem a boca para dizer asneiras, deviam morder a língua.

Diz a notícia do JN que o Governo está a colocar entraves ao funcionamento de uma máquina comprada com contribuições particulares para equipar uma sala destinada ao atendimento de doentes cardíacos no hospital de Guimarães, obrigando este hospital a mandar para Braga doentes que podiam ser tratados ali; enfim, aceito que alguma coisa me escape nesta contenda, mas que manter sem utilidade há cerca de um ano, se calhar a deteriorar-se, um equipamento importante, por questões secundárias, me parece uma estupidez, lá isso parece...


Amândio G. Martins

4 comentários:

  1. Caro Amândio, o seu texto deixou-me hesitante entre vir o não vir aqui. Porque na análise racional que gostaria de expressar há ângulos diversos que julgo serem em demasia para um comentário de blogue. Mas se aqui estamos, é para intervir e se interviermos é curial que o façamos com assuntos destes. Além disso, relendo o que escreveu, o seu primeiro parágrafo - com aquele "se o equipamento for mesmo útil para quem o utiliza - eliminou logo algum óbice intelectual que eu pudese ter e... colocou-me inelutavelmente ao seu lado.
    Duas histórias por mim vividas: uma boa e outra triste. A primeira começa com um desastre que politraumatizou e colocou em coma uma menina filha dum homem rico e que, no seguimento, devido ao brio profissional dum grupo de jovens colegas e a um ventilador ferrugento, salvaram a vida , sem sequelas, à rapariguinha. O pai, reconhecido, ofereceu um novo aparelho, no valor de 10.000 contos e assim se deu o pontapé de saída a um serviço de cuidados intensivos pediátricos que hoje é dos melhores do país. A segunda, dirigia eu outro serviço noutro hospital, foi a recusa por parte da administração da anuência que uma prestigiada neuropediatra me deu ao pedido que lhe fiz para lá ir uma vez/semana, de modo a melhor seguir alguns doentes que desse saber precisavam... "à borla"!
    Ainda tremo ao lembrar-me destas coisas. Quanto à última, foi mais uma acha para as inquidades parvas que me levaram a pedir a demissão. Coisas que a vida nos traz...

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  2. Ora aqui está um assunto que vale a pena esmiuçar. Tal como o Fernando, também tive dúvidas em vir aqui, mas, espicaçado pelo seu comentário, não resisto a colocar algumas questões, de modo telegráfico:
    1.Por que razão o Pablo Iglesias “invectivou aquela generosidade”?
    2.O autarca local ficou arreliado pelo desperdício da oferta (pelos vistos útil à população), ou por perder as eleições?
    3.O que é que o Amancio “Zara” Ortega queria? Só beneficiar el pueblo em questão?
    4.Como o Amândio reconhece, pode haver, em Guimarães, qualquer coisa que nos esteja a “escapar”. Que poderá ser?
    5.Sempre, na nossa vida, como possivelmente no segundo episódio que aconteceu ao Fernando, há birras e corporativismos.
    6.Também há, vezes de mais, presentes envenenados.
    7.E de decisões simplesmente estúpidas de quem manda, nunca ninguém está livre.

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  3. No caso espanhol a oferta foi aceite e toda a gente ficou agradecida; a intervenção de Iglésias foi no sentido de que o Estado não pode estar dependente de tais bondades, mas fê-lo atribuindo a Ortega entenções reservadas, o que muitas vezes acontecerá, nem que seja para se redimirem de qualquer falha na vida, mas não foi prudente na forma como exteriorizou os sentimentos e pagou caro por isso. No caso de Guimarães, poderá haver motivo válido para as "reticências" do Governo, mas encravar tanto tempo um equipamento sem terem esclarecido os motivos causa revolta. Obrigado aos dois.

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  4. ..."Mas fê-lo atribuindo a Ortega intenções reservadas", quis dizer...

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