BARBÁRIE E REGRESSÃO CIVILIZACIONAL

Com tanto avanço tecnológico, mas simultaneamente tanta barbárie, tanta hipocrisia e tanta indiferença. O maior exemplo é o que se passa na martirizada Faixa de Gaza. Depois do Holocausto nazi, quem diria que se voltava a matar gente, homens mulheres e crianças indefesos, a tiro, à bomba e à fome. Uma imensa vergonha que cobre não apenas os decisores e executores diretos, mas também quem os apoia e quem, como aqui na Europa, a própria UE, os tolera. Os mesmos que apoiaram o início da guerra na Ucrânia, que têm impedido que ela termine e que a continuam a apoiar. A propósito, e também relacionado com os resultados eleitorais do Chega sobretudo no nosso distrito, quem ainda não o fez, sugiro vivamente a leitura do excelente artigo de opinião de Viriato Soromenho-Marques, “Do Vermelho para o Cinzento-Escuro”, aqui n`O SETUBALENSE da passada terça-feira, 20.

Nesse mesmo dia, vi no programa 360 da RTP3, o jornalista Miguel Szymanski e o médico Nelson Olin, fazerem uma descrição tão real sobre o genocídio que impressionou, com certeza, até o mais frio dos telespectadores. Israel, impede há meses o abastecimento alimentar daquela gente. Há milhares de bebés em risco de morrerem de fome. Aliás, quando escrevo, sexta de manhã, a OMS, perante o risco de morte de toda a população, apela à clemência. Mas quase todas as relações de Estado com Israel continuam normais.

Nelson Olin, explicou que as crianças (se sobreviverem) ficam com perturbações graves para o resto da vida. E disse que a sua aparência era idêntica às detidas em Auschwitz e noutros campos de concentração nazis. E os bombardeamentos continuam.

Vivemos tempos de ignomínia e com a extrema direita a crescer um pouco por todo o mundo, como aqui na Europa a que, desgraçadamente, Portugal não escapa. O Principal motivo é a desilusão com as políticas de partidos ditos social-democratas, democratas-cristãos ou mesmo socialistas. Depois os líderes dos partidos extremistas, aproveitam-se dessa desilusão acrescentando como bodes expiatórios os imigrantes e, no nosso caso, os ciganos. E sem fazerem propostas, apresentam-se como críticos do sistema de que fazem parte, a pior parte, e as pessoas mal informadas, manipuladas, desiludidas, em vez de escolherem alternativas válidas; os partidos à esquerda do PS, nomeadamente o mais consequente e com propostas para os diversos problemas nacionais, o PCP/CDU, optam pela pior solução. Pela “solução” demagógica, populista, xenófoba e reacionária do partido de André Ventura que até se deu ao luxo de ameaçar : “Ainda não viram nada!”. E depois, agitam a falácia da “ameaça russa” e como diz VSM no artigo referido; “ O alinhamento de Portugal e da União Europeia numa guerra perdida, que pode escalar para o apocalipse nuclear; a loucura de pensar que o futuro da UE se encontrará numa corrida aos armamentos, aumentando as dívidas públicas, a desigualdade e a degradação dos serviços de saúde, educação e transportes, assim como a própria segurança social”.

Francisco Ramalho

Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE