A EUROPA POR MAUS CAMINHOS
Foi triste, muito
triste, ver António Costa, mal tomou posse do alto cargo na União
Europeia para que foi investido, deslocar-se imediatamente a Kiev
para abraçar o homem de mão do imperialismo norte-americano. O
“democrata” que ilegalizou todos os partidos do seu país com
exceção do seu e outro da extrema direita. O ambicioso que afogou
num banho de sangue (15 mil mortos) as pretensões legítimas da
população russófona do Donbass para dar cumprimento aos ainda mais
ambiciosos do outro lado do Atlântico, na sua ânsia de hegemonia
global.
A velha Europa, do
Cabo da Roca aos Urais, tem tudo para ser uma potência neste novo
mundo multipolar. Tem saber e potencial. Mas devia ter unidade,
cooperação com os seus vizinhos, com toda a comunidade
internacional e independência. Não devia submeter-se.
Na extensa
entrevista que concedeu ao jornal Público de 29/11/24, António
Costa aponta o dedo acusador à Rússia responsabilizando-a pela
guerra na Ucrânia, sem fazer uma única referência à sua origem há
dez anos, com responsabilidades dos EUA e da UE e não mostrando
nenhuma disponibilidade por parte da UE, à única maneira de como
deve terminar; pela diplomacia.
“O compromisso da
UE com a Ucrânia é para a guerra, para a paz e para a
reconstrução”.
Esta guerra que
podia ter sido evitada e que agora é premente que cesse, só tem
prejudicado a Ucrânia, a Rússia e a UE. Quem ganha com ela, são os
EUA. A sua industria de armamento e dos combustíveis. As inúmeras
sanções aplicadas à Rússia, o rebentamento do gasoduto (nord
stream) que abastecia a Europa, tiverem efeito boomerang em relação
aos países da UE que passaram a comprar o gás muito mais caro aos
EUA. Que, como se constata, ganha em todos os tabuleiros com
prejuízos tremendos para a UE.
O grande apelo de
Costa, assim como dos seus correligionários dirigentes da UE, do
secretário-geral da NATO (o atual e o anterior) e do Reino Unido, é
à corrida aos armamentos. Que, eufemisticamente, designam por
indústria da Defesa.
“Há uma enorme
oportunidade para robustecer uma indústria (da Defesa) que, como
sabemos, tem sido um motor fundamental de modernização do conjunto
do sistema. Não há Europa da Defesa sem uma participação activa
do Reino Unido”.
Sobre essa imensa
vergonha que é o genocídio do povo palestiniano que EUA apoia e UE
cala, nem uma palavra. A Amnistia Internacional denuncia; matam-se
civis à bomba e à fome, famílias inteiras, a chacina já vai em
quase 50 mil. E questiona, que espera mais a Comunidade Internacional
para tomar posição enérgica perante o que classifica como a
tentativa de Israel de dizimar em parte ou na totalidade, aquele
povo.
Na altura em que
escrevo, os ataques à Síria intensificaram-se pelos grupos
terroristas reforçados, alguns ligados à Al Qaeda. Os “amigos”
da Ucrânia, chamam-lhes apenas rebeldes, e não os condenam.
A guerra só
prejudica os povos. A corrida não deve ser aos armamentos, mas sim à
paz e a uma vida digna para todos os seres humanos. Há meios para
isso.
Francisco Ramalho
Publicado hoje também no jornal O SETUBALENSE