segunda-feira, 29 de abril de 2024

VIVA O 1.º DE MAIO !


 

ASSIM O EXIGE O FUTURO !

 


Da paleontologia

 

Fui para Lisboa quando era ainda rapazinho, e a minha primeira morada lá foi junto ao Campo de Santana, numa ruela perpendicular ao Paço da Rainha, em frente à Academia Militar; morava na porta em frente um tipo de sujeito a que se costuma chamar “gajo porreiro”, sempre bem disposto e a querer saber se estava tudo bem comigo, também porque era colega de borgas de um conterrâneo meu que se interessava por mim, como é que me estaria a adaptar na capital, tão diferente do local de onde provinha.

 

O moço, que era o que se podia chamar "benfiquista doente", por tudo e nada dizia que “não há pai para o Benfica”; um dia, estando eu com o grupo de conterrâneos que morava por ali perto e se costumava juntar à noite para jantar no restaurante Altinho, e depois por ali se mantinham em amena cavaqueira, falando de futebol e outras sandices, ocorreu-me aquela expressão do meu vizinho benfiquista e disse que “não havia pai para o Benfica”, o que provocou nos da minha terra uma reacção de tamanha surpresa, eles que eram todos sportinguistas, que me obrigaram a abjurar de tal convicção, sob pena de não ser mais aceite naquele grupo.

 

E não me custou nada fazer-lhes a vontade, porque o futebol, se até ali não me dizia nada, dali para a frente pouco mais passou a dizer-me, por muito que me levassem com eles sempre que o Sporting jogava em Alvalade ou nos outros campos por perto; é verdade que me fizeram sportinguista, mas com simpantizantes como eu o clube há muito tinha desaparecido por falta de clientela, sendo que o meu interesse pelo tema se resume a procurar andar informado, principalmente pelo que leio no meu JN diário.

 

Vem esta verborreia a propósito da notícia futeboleira do momento, que foi ver Pinto da Costa saír de cena humilhado e de rabinho entre as pernas, situação que, se tivesse sido mais lúcido e bem aconselhado, podia ter evitado, saindo a tempo e de cabeça erguida; mas são assim todos os ditadores, que têm de si próprios um tão alto conceito que se julgam imprescindíveis, e que só os substituirá quem eles apadrinharem, mas este deu com os burros na água, muito por culpa também dos lambe-botas que o rodeavam. Enfim, deste dinossauro ficarão as pegadas, nem todas suficientemente nítidas para valer a pena rever...

 

Amândio G. Martins

 

 

domingo, 28 de abril de 2024

Promotores do medo

 

TREMENDISTAS

 

Interpretam nos escritos sagrados

As penas que um bom deus nunca daria

Com perlenga terrífica e fria

Assustam quantos são pouco ilustrados.

 

Querendo ter os crentes dominados

Mostram-nos tremendista a liturgia

Nos sermões espantam a freguesia

Pecando apontam-nos os pecados.

 

Como forma de dominar a gente

Asseguram à ignorância crente

Como escapar ao castigo eterno;

 

Quem no que faz é correcto não trema

Cultive a sabedoria serena

Sem precisar ter medo do inferno...

 

Amândio G. Martins

 

Tanto me faz



Ciumentas perante a expressiva imagem que o país deu dos seus sentimentos quanto à memória, vivida ou relatada, do 25 de Abril libertador, algumas almas insatisfeitas não param de falar sobre a necessidade “imperiosa” de comemorar o 25 de Novembro. Estão no seu direito, e declaro desde já que não me aquentam nem me arrefentam. Se quiserem mais datas de comemoração de factos fracturantes, até posso lembrar o 11 de Março, data que, certamente, não lhes vai agradar, mas, parece-me, os beneficiou ao precipitar o tão “desejado” 25 de Novembro. Vejo até grande utilidade na comemoração que exigem, já em 2024, ou, se tiverem um bocadinho de paciência, no ano que vem, atendendo ao cinquentenário. Será da maneira que, acompanhando a opinião de Pacheco Pereira no PÚBLICO de 27/4, teremos um padrão de comparação da importância da manifestação “popular” (que, com toda a certeza, será financiada a “ferro e fogo”), face à genuína e desinteressada adesão que se sentiu nas comemorações da semana passada. Ou me engano muito, ou vão ter de suar (inutilmente) as estopinhas para morder os calcanhares da exuberante popularidade que se viu.  

O regime tem já pouco de Abril

Vasco Lourenço, Capitão do Exército, foi um dos militares preponderantes na concretização do glorioso 25 de Abril. Prestou uma entrevista interessante e cronologicamente histórica, do antes durante e depois desta data, à Antena 2. Diabolizou o PREC, que permitiu aos operários falar olhos nos olhos com patrões. Um tempo em que capitalistas, gestores, generais, directores e doutores disto e daquilo não tinham autoridade nem os meios de repressão para se fazerem obedecer, pela simples razão de que os soldados não só se recusavam a esse papel como se colocavam ao lado dos trabalhadores, camponeses e moradores pobres contra a polícia! No golpe militar de Abril, que se transformou em Revolução, sobretudo pela acção relevante do Povo, que saiu à rua em massa, agora, Vasco Lourenço lamentou que parte dos desígnios de Abril estejam por cumprir(!). Sabendo de antemão da alargada coligação, que até abarcava a extrema-direita, para fazer o golpe contra-revolucionário do 25 de Novembro/75, não percebemos o descontentamento. Vasco Lourenço participou neste acto, que foi a antítese de Abril, onde ninguém saiu à rua para festejar, reinando um silêncio sepulcral... este marco, seria a má semente para o injusto e mau estado do actual Estado novembrista e capitalista que mata!

sábado, 27 de abril de 2024

LIBERDADE DE EXPRESSÃO EM EMBLEMAS

A liberdade de expressão conquistada com o 25 de Abril de 1974, acabando com a censura da ditadura fascista, também teve a sua expressão nos emblemas de organizações e iniciativas, nomeadamente no campo sindical.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Como reparar os crimes coloniais...

 

...Se até os países mais poderosos, aqueles que souberam aplicar e multiplicar nas respectivas metrópoles as riquezas roubadas – bem ao contrário dos portugueses, que delapidaram tudo em exóticos e escandalosos luxos  -   massacrando vidas humanas e aniquilando culturas, não fizeram mais, quando o tentaram, que disfarçar as culpas com ofertas de reparação menos que simbólicas, que não foram mais que um agravo das ofensas sofridas pelos povos brutalmente colonizados; é que tudo ainda hoje continua a ser vergonhosamente gravoso e ofensivamente ridículo na cultura dos outrora colonialistas opressores, com intoleráveis expressões como, no nosso caso, nos autoelogiarmos constantemente pela “força civilizadora como fomos capazes da dar novos mundos ao mundo”.

 

É verdade que já nada nos deve espantar na leveza palradora do nosso presidente da República que, vendo ali uma oportunidade de ouro de brilhar ao vivo e em directo para jornalistas estrangeiros, soltou-se-lhe a língua para aquela impensada verborreia, comprometendo o país em indemnizações que nunca poderia pagar, tão avassaladores foram os estragos causados pelos antepassados por esse mundo fora...

 

Amândio G. Martins

 

 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta a um amigo desprevenido



Sei que tem saudades da sua juventude. Quem as não tem? Mas é legítimo confundi-las com as que, por associação de ideias, se podem misturar com a vivência global em que nos inseríamos? Isto aplica-se a tantos de nós que, há 50 anos, já éramos adultos, com diferenciadas responsabilidades na vida. Convém não esquecer que essa vida de então estava amplamente condicionada pelo circunstancialismo político dominante. Ou porque estávamos na guerra colonial, ou porque, se pertencêssemos a alguns dos grupos sociais “desfavorecidos”, tínhamos condicionada a nossa liberdade de movimentos, sujeita à vontade de outros. As nossas mulheres ou mães, por exemplo, não poderiam deslocar-se ao estrangeiro sem autorização expressa dos respectivos maridos. Qualquer “cidadão” que não fosse “branquinho de gema”, embora não sujeito a um “apartheid” declarado, tinha o ferrete da cor da pele e, consequentemente, muitas portas fechadas, mesmo na sua terra natal, em África. Era o colonialismo em toda a sua força, com países a oprimirem “legalmente” outros países. 

Não nos deixemos confundir nem enganar. A todo o tempo somos assediados por populistas que nos segredam que o 25 de Abril acabou com os tempos felizes. Prefiro, sem tibiezas, os tempos, ainda que imperfeitos, em que podemos falar, discordar, pensar pela própria cabeça. E isso foi o 25 de Abril que nos trouxe.


Expresso - 25.04.2024

Carta a um amigo incauto, nestes 50 anos

 

Sei que você nunca partilhou dos ideais democráticos. Pela educação que recebeu, pela propaganda que ingeriu, nunca sentiu a pulsão dos ideais de liberdade e, menos ainda, dos da igualdade. Apesar disso, porque o ordenamento democrático lho permite, ninguém o incomodará por isso, podendo continuar a pensar-se anti-sistema. Coisa que o regime que lhe dá saudades não permitia. Pode votar em partidos que, sub-repticiamente, acusam a democracia de ser a razão de todos os males que afligem o país, que insinuam que “dantes” é que se vivia bem. É claro que não vêm lembrar-nos da miséria que grassava, do obscurantismo a que nos submeteram, do monolitismo intelectual a que nos obrigaram. Não vêm lembrar-nos da iniquidade que, “legalmente”, protegia os poderosos e oprimia os fracos.

Está tudo perfeito? Não, mas é bom podermos afirmá-lo sem medos. Afinal, se “dantes” tudo era “perfeito”, por que é que o sistema se fechava, nos obrigavam a ir ao café de mordaça na boca? Tinham medo de quê? Obviamente de perder privilégios que só se davam aos “amigos”, de perder os “doces” poderes que um autoritarismo feroz lhes permitia: explorar os pobres sem o perigo de que alguém os denunciasse, meter os insubmissos nas cadeias, concentrar nas mãos do mesmo todos os poderes, censurar os jornais com toda a “naturalidade”.

Não duvido da sua generosidade e grandeza de carácter. Não se deixe enganar. Há quem queira que o ovo da serpente termine a gestação. 


Público - 24.04.2024


quarta-feira, 24 de abril de 2024

Glória ao 25 de Abril!

O meu mestre-escola e notável jornalista, Viriato Dias, director do Jornal da Costa do Sol, relembrava-nos na nossa comemoração evocativa do 25 de Abril: ''Tudo o que escrevíamos tinha de ir à censura''. Criminosa. Muitas, muitas vezes o miserável censor lápis azul cortava tudo(!). Tinha de se reescrever, com toda a ginástica mental da imaginação para produzir a mesma ideia com outras palavras, com frequência nas entrelinhas... A autocensura ainda foi mais diabólica. A imprensa foi deveras vergastada, ofendida, mutilada e, jamais quereremos e lutaremos para que essas abjectas humilhações regressem. Mas, atenção!, o quadro político actual não está fácil... O célebre, Ferreira de Castro, autor duma obra-prima, 'A Selva', (a ler) foi obrigado a ser escritor porque não quis ser - censurado jornalista... O glorioso 25 de Abril, com um brilho nos propósitos, acabou com os exames prévios e mordaças e, a todos(as) os(as) que nos proporcionaram fazer da escrita criação, mensagem e megafone, neste caso, a minha maior gratidão!

terça-feira, 23 de abril de 2024

PORQUE O PR MARCELO ESCONDEU A CONDECORAÇÃO DE SPÍNOLA


 

Spínola nas suas funções e altos cargos desempenhados após o 25 de Abril de 1974, procurou sempre dificultar e impedir os objectivos e conquistas da Revolução de Abril, apoiando os que a atacaram. Tentou impedir a extinção da PIDE. Não pretendia que presos políticos fossem libertados. Foi contra a descolonização e opôs-se à independência dos novos países que resultaram das ex-colónias. Conspirou, organizou e apoiou as tentativas de golpe contra o 25 de Abri, em Julho de 1974 o golpe Palma Carlos e em 28 de Setembro de 1974 a chamada «maioria silenciosa». Já depois de afastado dos cargos que lhe tinham sido confiados, foi o principal responsável pela tentativa de golpe de 11 de Março de 1975. Foi ainda um dos fundadores do grupo terrorista MDLP, que efectuou atentados contra instalações e pessoas do PCP, outros partidos de esquerda e sindicatos, sobretudo no chamado verão quente de 1975.

Spínola nasceu em Abril de 1910 em Estremoz. De 1968 a 1973 foi governador da Guiné. Em Janeiro de 1973 foi assassinado Amílcar Cabral, líder do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Foi general desde 1969 e em 1980 foi-lhe atribuído o título de marechal.

E, se não houvesse o 25 de Abril?

Devemos perguntar: onde estavas, se não houvesse o 25 de Abril? Teria, como milhares de jovens, ido para as Colónias defender interesses de meia dúzia de abastados, usurpando território que há muito reclamava - justa independência! Muitos, muitos regressaram com sequelas, nomeadamente stress pós- traumático, obnubilados, estropiados e dentro dum caixão! Não foi só a irreversibilidade da morte dos mancebos (10 000 militares falecidos) foi a insanidade mental perene, como sucedeu ao meu tio, no Hospício do Telhal. (20 000 inválidos). Os exemplos são mais que muitos... Por dever teremos que homenagear os progressistas militares, os movimentos de libertação das ex-Colónias, a luta do sindicalismo e o Povo, que foram dos elos mais decisivos para o êxito do dia mais inteiro, mais limpo e mais radioso da nossa História - o 25 de Abril!

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Quem acreditou neste executivo, acredita no Pai Natal!

Quem gritou contra quem anunciou mais do mesmo desta gente, que diz que governa, foi uma certa imprensa orientada, associações patronais, um localizado bloco central de interesses, comentadores do óbvio e por aí adiante. Também são os mesmos políticos de sempre. Da direita extremada e da extrema-direita. Desde o PSD ao CDS, que os unem à IL e ao Chega, respectivamente! Faz sentido. Um dos resultados do desgoverno já está à vista: Um IRS mentiroso e uma benesse para as grandes empresas em sede de IRC - muito generosa. O estado de graça do executivo acabou, mais uma vez, a honestidade pelo cumprimento das promessas eleitorais não fazem parte do seu léxico político, daí já estarem a prazo.... Justificadamente!

sábado, 20 de abril de 2024

Bom casamento

 

RESTAURAÇÃO

 

Luisa de Gusmão era espanhola

Casada com o duque de Bragança

Os Filipes entraram por herança

Impondo a sua pior bitola.

 

Mas vendo que Portugal estiola

Uns patriotas cheios de pujança

Puseram nessa senhora a esperança

De pôr os opressores a dar à sola.

 

Para ver os parentes porta fora

Nem que fosse rainha uma hora

A duquesa nenhum medo mostrava;

 

Animando o temeroso marido

Este por fim mostrou-se decidido

A Nação de morrer recuperava...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Abril, onde já vais sonhos mil...

A ti, 25 de Abril, já tantos te querem invernil. Tantos mais dão-te energia primaveril, sempre! Através de dialéctica permanente. Abril, dos mil sonhos, contra já fascismos medonhos, defendo-te 'com' espingarda e palavras mil... ''Quem não gostou do PREC (Processo Revolucionário em Curso), do 25 de Abril a Novembro de 1975, não gostou do 25 de Abril!'' Esta tirada não é dum esquerdista, foi dita por um intelectual da direita dita democrática, José Pacheco Pereira. E esta hem! Podemos e devemos comemorar o 25 de Abril, porque foi até então, um pioneiro golpe militar progressista e libertador. O dia mais feliz de tantas, tantas vidas! Com o outonal 25 de Novembro de 1975 desaguámos, agora, num regime capitalista que mata! O carácter generoso em demasia dos militares de Abril, foi duma benevolência extrema a tratar os carrascos da PIDE/DGS. A Revolução não tinha nem podia ser florida, daí, no final do dia redentor, de dentro da sede daquela criminosa polícia politica rajadas de tiros fizeram 4 mortos(!). Cerca de 1500 pides estiveram presos entre 3 e 6 meses(!), e muitos fugiram para o estrangeiro... e, como se não bastasse, o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, recusou atribuir uma pensão a Salgueiro Maia, capitão fundamental para o êxito do 25 de Abril e, posteriormente a sua esposa já viúva, com uma filha, Catarina Salgueiro Maia. Como pior presidente da República, no 10 de Junho de 2009, depositou uma coroa de flores no túmulo daquele valente, generoso e corajoso militar(!). Anos depois, pasme-se!, atribuiu pensões a inspectores da DGS e, a um miserável pide, Óscar Cardoso, que esteve barricado na sede, na rua António Maria Cardoso, presumivelmente um dos quais que dispararam e mataram 4 concidadãos democratas. A História não absolverá o inqualificável, Cavaco. Hoje, indubitavelmente, faz mais sentido homenagear, rememoriar e comemorar o PREC! Apostila: I) Vi, li na internet um cartão da PIDE, dum jovem adulto. Quem era? Anibal Cavaco Silva.... Se não é fotomontagem, faz sentido. II) A seguir ao nascimento do meu filho e da minha filha, o dia mais Feliz da minha vida foi - o 25 de Abril de 1974!

25 de Abril, data maior da nossa História quase milenar!

A madrugada mais histórica, através dum golpe militar com contornos libertadores pioneiros no Mundo, foi desencadeado por bravos e corajosos progressistas, no 25 de Abril! Com o outonal Novembro de 1975 estamos, agora, num capitalismo que mata!

quinta-feira, 18 de abril de 2024

“Bendita” guerra


Perante o repúdio geral, ninguém se atreveria, alguma vez, explicitamente, a apontar algo de positivo no “fenómeno” da guerra, que, por definição, é negativo. A guerra destrói pessoas e bens, é certo, mas não deixa de enriquecer muitos. Há quem lucre desmesuradamente na construção e venda dos armamentos que, dado o nível de sofisticação tecnológica que atingiram, são produzidos com o recurso a vultuosos capitais, longe das capacidades financeiras das “fabriquetas” de outrora. 

Mas há outros “ganhadores” da guerra. Netanyahu, por exemplo, só sobrevive politicamente à custa dela. Abrindo uma nova frente com o Irão, desde logo abençoada pelo ocidente em geral, capitaliza em seu favor a hostilidade suscitada pelos ayatollahs extremistas, deixando cair no apagamento da memória, tudo quanto de cruel praticou e pratica em Gaza. Não será tão cedo que a abertura dos telejornais vai incidir sistematicamente no horror da Palestina que, à semelhança da Ucrânia, tenderá a diluir-se nos alinhamentos. Não que se deixe de falar do assunto, mas… 


Público - 19.04.2024

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Deslocados

 

 

GIOCONDA

 

Sendo tão semelhante à Mona Lisa

A Gioconda devia ser gémea

Meditava a visitante ingénua

No que ali à volta se discorria...

 

Ouvia o que falavam confundida

Se aquela gente estaria a ser séria

Ou aquilo que ouvia era pilhéria

De gente com aspecto de sabida.

 

Ouvindo alguém que falava em “Da Vinci”

Um novo-rico ofereceu trinta

Levando logo a mão à carteira;

 

Como se o museu fosse a galeria

Que ao traficante deixa a mais-valia

De algum artista sem eira nem beira...

 

Amândio G. Martins

 

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

O homem não se enxerga

Vi e ouvi na RTP 3, repescada de outro media, alguma da conversa estragada com que aquele Passos de má memória se quer a todo o custo manter vivo, qual múmia cavaquista, que também não perde nenhuma oportunidade para fazer crer que está vivo, quando toda a gente que lê, vê, ouve e pensa sabe que está morto e enterrado; de facto, aquele seu discípulo nunca recuperou do trauma de ter sido apeado do pedestal a que subiu inesperada e apressadamente, aproveitando a oportunidade que lhe deu a crise financeira mundial, que debilitou de morte o seu opositor em funções.

 

E ao contrário de muita gente de real valor, a quem as crises e derrotas pessoais fazem crescer, a este Coelho fizeram engordar, e quanto mais engorda mais disparates profere, decerto embalado pelas bojardas daquele outro a quem inspira, que já lançou para o espaço público a ideia de poder vir a ser o próximo presidente da República, somando-se ao outro da mesma área que há muito já atirou o barro à parede; e do que retive da tal conversa, este gordo Coelho lamenta que o actual primeiro-ministro, ao que a ele parece, esteja a renegar o seu legado...

 

Amândio G. Martins


segunda-feira, 15 de abril de 2024

ESPANTALHO


 Espantalho é um boneco feito com roupas velhas, enchidas com trapos, palha ou outros materiais, a que se coloca normalmente também um chapéu ou boné e que é colocado no meio de hortas e outras culturas, a imitar a presença duma pessoa, para afastar sobretudo aves, impedindo a danificação de sementes e plantas. O espantalho tradicional é por vezes substituído por elementos sonoros, face a uma certa habituação das aves à sua presença.

A existência de espantalhos terá uma origem de mais de cinco mil anos no Egipto, onde armações de madeira com rede eram colocados nas culturas de trigo das margens do rio Nilo, embora a forma de se parecer com um humano tenha sido adoptada mais tarde na Grécia antiga, há cerca de 2500 anos. O império romano espalharia o uso de espantalho um pouco por toda a parte.




domingo, 14 de abril de 2024

Citações e ironias


A propósito da discussão do programa do governo, vi coisas muito curiosas.
Vi o partido que boicotou Saramago a citar Saramago.
Vi o partido que nos quer trazer de volta a mocidade portuguesa e as mulheres p'rá cozinha
a citar Camões ( e cece tudo que a antiga musa canta).
Agora cito eu sem ironia António Aleixo.
P'ra mentira ser segura/ E atingir profundidade/ Tem que trazer à mistura / Qualquer coisa de verdade. 
Agora citando a minha avó (galinha gorda por pouco dinheiro, ou é choca ou foi roubada)
Eu até baseado no que me ensinou minha avó não comprei esta galinha, mas muitos compraram, agora aguentem-se.


Quintino Silva 

 

ERA PRECISO FAZER QUALQUER COISA...



Após mais de 2 meses de massacre e genocídio, era preciso fazer qualquer coisa para manter a credibilidade mesmo junto dos seus. Assim, bombardeia-se um consulado e, claro, espera-se pela retaliação. Depois faz-se de vítima e até se diz que os outros não querem acordo nenhum para libertar os seus prisioneiros. E dizem, já depois da retaliação, que irão continuar e que “não ficará pedra sobre pedra”. Ou seja, com as costas de novo, mais quentes, querem terminar o “trabalhinho”. O massacre.

Em conjunto, têm o maior arsenal convencional do mundo. Mas os outros também têm alguma coisa! E em relação ao nuclear, a coisa está mais ou menos equilibrada. De maneira que, o bailinho está armado. Esperemos que não dure muito e que não entremos todos na dança.

Mas sabemos quem é o mandador e os seus acólitos.

Há que desmascará-los.

PS- Já aqui tinha dito que soam mais alto os tambores da guerra…

Francisco Ramalho





sexta-feira, 12 de abril de 2024

LOGOTIPOS...

 


Apesar de tanta pressa, tanto espectáculo, tanta euforia na substituição do anterior logotipo governamental por parte do governo AD/Montenegro… e afinal a capa do programa do governo entregue na Assembleia da República acabou por repescar, de certa forma, alguns elementos gráficos do logotipo odiado, só com ausência de amarelo.

À espera de um génio

 

Terminada a festa eleitoralista, já vemos o Montenegro como ele é verdadeiramente, um malabarista cheio de truques, embora já com outro requinte, agora que conseguiu o supremo sonho de chegar a primeiro-ministro; de facto, já não tendo como poder usar mais a famigerada “bancarrota”, com que sempre apedrejavam os socialistas, tendo até invertido o mimo para “forreta”, porque viu no trabalho do antecessor uma situação única em democracia, com excedente orçamental e contas públicas controladas, por muito que o outro lado da moeda se tenha traduzido em enormes carências.

 

E são estas carências em muitos serviços públicos que lhe vão pôr à prova o génio para as resolver, para poder continuar na “cadeira de sonho” porque, com tanta gente à espera de ver satisfeitas as generosas promessas que fez em campanha, e com menos meios para as satisfazer, que é o que vai resultar da baixa de impostos para aqueles que os devem pagar, querendo/devendo também continuar a baixar a dívida pública, se for capaz disto tudo terá conseguido a chamada “quadratura do círculo”...

 

Amândio G. Martins

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Desapareceu-nos fisicamente Eugénio Lisboa. Permanece a sua obra

Eugénio Almeida Lisboa foi ensaísta e crítico literário, especialmente vocacionado em José Régio. Porventura o mais habilitado. Privou e cultivou uma amizade salutar no conhecimento com o ilustre, José Régio. Este tem um museu em Portalegre digno de ser amplamente visitado e estudado. Perdemos Lisboa, um dos nossos melhores. Foi lúcido, priorizava o rigor, a seriedade e a objectividade, sendo frontalmente sábio. Tive o grato privilégio e prazer de o ouvir algumas vezes em conferências sobre, Régio, no auditório do belo Museu Ferreira de Castro, em Sintra. Perguntávamo-nos: como é possível este escritor, poeta, declamador e estudioso ser uma enciclopédia ambulante? Sim, era possível. Lisboa foi! Amo a sua obra. A sua esposa, que conheci e simpática senhora e a seu filho, Joao Lisboa, jornalista e crítico musical, as minhas sentidas condolências. Até à Eternidade!

Ventura que se cuide


Passos Coelho (P.C.) aproveitou a oportunidade, dada por um conjunto de “pensadores” que editaram um livro em defesa, dizem eles, da Família e da Identidade (de quem?), para lançar a confusão e, sabe-se lá, o ódio entre os militantes do partido em que está inscrito. A troco de quê? Na sua ideia, provavelmente, para devolver ao PSD a linha “correta” de que, com a liderança de Montenegro, se afastou. De caminho, “purificado” o partido, assim expurgado de sacrilégios como a eutanásia, o aborto ou a ideologia de género, então sim, apoiaria o seu governo.

O raciocínio será simples: ao PSD faltará, para ter uma maioria inabalável, aquele milhão e tal de eleitores do Chega, logo, o dever é ir lá conquistá-los. Parece claro que P.C. está a ignorar os muitos militantes que se reviram no famoso “não é não”, o que poderá estar a enviesar-lhe o pensamento. Ou então, não o sabemos, poderá estar na estratégia “passiana” o que não passará pela cabeça de ninguém, pelo menos até ver: quererá P.C. riscar o PSD do mapa partidário, filiar-se no Chega e, desse posto, comandar a direita “toda, toda, toda”?


Expresso - 12.04.2024


terça-feira, 9 de abril de 2024

 

SOAM MAIS ALTO OS TAMBORES DA GUERRA


Com o desmoronamento da União Soviética, os teóricos e beneficiários do capitalismo, sem a “ameaça do comunismo”, prometeram um mundo de paz e felicidade. Depois tem sido o que se sabe. As guerras proliferam, e agora cresce o apelo ao aumento de verbas para a “defesa”, serviço militar obrigatório, e para o reforço da NATO que fez 75 anos. E Portugal, mesmo em ditadura, foi um dos seus fundadores.

Entretanto, a “ameaça do comunismo”, foi substituída pela “ameaça da Rússia”, mesmo capitalista. Putin é diabolizado e considerado um ditador com desejos expansionistas. Deste lado, são todos democratas dos quatro costados. Gente pacífica e sem ambições expansionistas.

A realidade, é um mundo cada vez mais injusto e perigoso.

Portanto, não são os motivos ideológicos que fazem ecoar mais alto os tambores da guerra. São ambições desmedidas. A rapina de matérias-primas, a conquista de posições geo-estratégicas, a sede de poder e de lucro, a hipocrisia e a insensibilidade perante a vida humana.

Os exemplos são mais que muitos. Desde o desmembramento à bomba, da Jugoslávia, à guerra no Afeganistão que deixou no poder os mesmos fanáticos religiosos, à invasão do Iraque baseada numa monumental mentira deixando o país destruído, destruída, ficou também a Líbia, a tentativa do mesmo na Síria. Tudo isto, causando milhões de mortos, estropiados e refugiados. Depois, o apoio aos “democratas” que mantêm no poder em Israel e na Ucrânia.

No primeiro caso, depois do holocausto nazi, o resultado é outra imensa vergonha. Só faltam os fornos crematórios. Um povo a ser dizimado à bomba, à fome e por falta de assistência médica. A grande maioria das vítimas são os mais fracos e indefesos; mulheres e crianças. Nem jornalistas, médicos, funcionários de agências da ONU, pessoal voluntário de organizações assistencialistas, escapam. E em vez de sanções como noutras situações com efeitos até de boomerang, aqui, continua é o fornecimento de mais armas. Nomeadamente, aviões de combate.

E é esta esta gente, com tal moral, que omite os antecedentes que deram pretexto à invasão e à intensificação da guerra na Ucrânia. O massacre da população russófona do Donbass, a quebra dos acordos (de Minsk) que poderiam resolver pacificamente a situação, e o avanço para leste da NATO.

Dos apelos à resolução pacífica do conflito e da paz, nomeadamente do Secretário-Geral da ONU, do Papa, do Presidente do Brasil, de diversas organizações pacificas como o Conselho Português para a Paz e Cooperação, e de milhões de pessoas por todo o mundo que o têm exigido em manifestações, os arvorados defensores da democracia e dos direitos humanos e seus aliados e os mesmos que mandam na NATO, dizem nada. O que os move, é a guerra. Mesmo estando em oposição as principais potências nucleares do mundo. Logo, a vida, a paz mundial.

Alinhando com os acima referidos, e até em oposição à nossa Constituição, Montenegro e depois Rangel, já se apressaram a assegurar a contribuição para a guerra.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal O Setubalense








segunda-feira, 8 de abril de 2024

o P A V Ã O

O pavão azul tem origem no subcontinente indiano e o pavão verde no sudoeste asiático. O pavão azul é o que existirá em maior número no nosso País. O pavão abre e exibe o seu leque de penas na cauda para cortejar as fêmeas. O seu peso é de cerca de 4 quilos e a altura de 80 centímetros, sendo as fêmeas mais pequenas, com menor peso e envergadura. Durante o dia os pavões andam sobretudo no chão e à noite empoleiram-se nas árvores. A sua criação, em viveiros, é efectuada essencialmente para ornamentação, embora a carne possa ser consumida e será saborosa nas aves mais jovens. O pavão é uma ave muito sociável. Os pavões viverão entre 25 e 30 anos, embora a idade média seja de 16 anos. Uma fêmea pode pôr cerca de 23 ovos.




domingo, 7 de abril de 2024

 


LISBOA CAPITAL DA SOLIDARIEDADE


Realizou-se em Lisboa uma grande manifestação pelo povo mártir da Palestina.

Da embaixada de Israel à Assembleia da Republica, milhares de pessoas empunhando cartazes e bandeiras e gritando palavras de ordem a propósito, durante horas, transformaram ontem Lisboa na capital da solidariedade.

Evidentemente que perante a monstruosidade que está a acontecer há já 6 meses, onde ninguém é poupado, onde para além dos bombardeamentos, se utiliza até a fome como arma de guerra, onde a maioria das vítimas são os mais fracos e indefesos; mulheres e crianças, milhares delas, mas até jornalistas, mais de 100, médicos, pessoal de agências da ONU e voluntários de organizações assistencialistas, onde já se contam quase 40 mil mortos, a manifestação devia ser ainda muito maior.

No final, frente à AR, usaram da palavra representantes das organizações promotoras da manif. O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), o Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente, a CGTP-IN e uma senhora palestiniana que falou em nome do seu povo e da sua pátria.

Evidentemente que todos apontaram o seu dedo acusador ao Estado sionista, mas também aos hipócritas que o apoiam às claras ou mais veladamente. Como é, respetivamente, os EUA (uma das palavras de ordem foi: “os Estados Unidos a Armar, Israel a Bombardear!) e os seus aliados e vassalos com destaque para a UE.

Já dissemos que foi uma grande manifestação mas que ainda devia ser muito maior. Um dos principais motivos porque não foi, é que a comunicação social dominante, como habitualmente, em obediência aos seus donos e/ou a quem a controla, também solidários com todas as guerras que os seus homens de mão concretizam, não a divulgou. 

Portanto, uma CSD, não isenta e pluralista, como devia ser.

Mas, apesar de tudo, como muitas vezes lá se gritou, e porque um povo só é vencido quando se rende;

A PALESTINA VENCERÁ!

Francisco Ramalho





Bem te conheço, ó máscara

 

LINGUAGEM

 

A nossa língua é cheia de armadilhas

Se não prestamos a devida atenção

Mas quando se escreve com o coração

Não há artimanhas nas entrelinhas.

 

Dizer o que se quer sem artimanhas

Faz a verdadeira comunicação

Ao contrário dos que fazem confusão

Para melhor passarem as patranhas.

 

Aqueles que se presumem espertos

Enganam os que andam menos despertos

Até ficarem a falar sozinhos;

 

Que quem à falsidade faz reparo

Destapa do aldrabão o descaro

Desmascarando os falsos pergaminhos.

 

Amândio G. Martins

 

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Falsários em maré alta

 

 INFORMAÇÃO

 

Há imensa gente mal informada

Que aceita por boa a falsa informação

Desde que a mentira dê satisfação

Apreciando ser desinformada...

 

Assim dão força à perigosa manada

Que põe na mentira a sua devoção

Tão facilitada fica a difusão

Ao serviço da gente mal formada.

 

Quando a mentira serve a política

E ninguém a tempo a rectifica

Pode levar ao poder os trafulhas;

 

E nem sempre quando fazem muito mal

Com a gente a querer saír do lodaçal

Fica fácil corrigir as agulhas...

 

Amândio G. Martins

 

quinta-feira, 4 de abril de 2024

 

PAZ SIM! NATO NÃO!


Embora tendo sido constituída antes do Pacto de Varsóvia, a NATO, segundo os seus criadores, era para se lhe opor, assim como à “ameaça do comunismo” que a União Soviética representava. Entretanto a US assim como PV foram dissolvidos, e a NATO não só o não foi também, como se reforçou. E muito!

O alegado principal inimigo, a Rússia, embora agora capitalista, é um inimigo fabricado, fictício.

Omitem completamente o que foi o pretexto para a invasão e intensificação da guerra na Ucrânia: o massacre das populações russófonas do Dombass, os acordos (de Minsk) não cumpridos que poderiam ter resolvido o conflito e as promessas também não cumpridas do não avanço da NATO para leste.

A NATO, que faz hoje 75 anos, não é uma organização defensiva, como dizem, mas sim ofensiva.

A prová-lo, entre outras, estão as suas intervenções bélicas no desmembramento da Jugoslávia, no Afeganistão, na Líbia e agora, por enquanto indiretamente, na Ucrânia.

A NATO é o braço armado do imperialismo norte-americano e dos seus aliados, uma ameaça à paz mundial. Como tal, deve ser dissolvida.

Francisco Ramalho


Um texto que dá gosto ler

 

Comentando o documentário sobre a célebre composição We are de World - “The greatest night in pop” - aquela noite em que um grupo de celebridades das mais diversas sensibilidades conseguiu unir-se para gravar uma música de solidariedade com a fome na Etiópia, música que depressa comoveu grande parte da humanidade, o escritor Afonso Reis Cabral escreveu ontem no JN um texto descritivo belíssimo, de como foi possível aquele milagre...

 

Amândio G. Martins

Os mortos não são todos iguais


Poucos dias depois de viabilizar a aprovação de uma resolução de cessar-fogo por parte do Conselho de Segurança da ONU, a administração norte-americana deu luz verde para o reforço significativo do fornecimento de armamento a Israel. Dir-se-á que é uma decisão que se enquadra na política externa tradicional dos EUA, que, mais coisa menos coisa, se mantém invariável mesmo quando muda o partido no poder. Poder-se-á sempre falar dos insaciáveis interesses da indústria de armamento americana, mas convém não esquecer o papel “evangelizador” dos EUA na expansão da liberdade e da democracia liberal pelo mundo fora. 

Comparando com a influência americana na guerra da Ucrânia, percebe-se que o argumento de base para o fornecimento de armas que combatam Putin é muito fácil de encontrar pelos ocidentais, “avisados” que estão, há décadas, para o “perigo” russo. Mais difícil será encontrar paralelo no “perigo” palestiniano. Nem Hamas, nem Hezbollah, nem mesmo o Irão, possuem, até ver, as ogivas nucleares de que dispõe a Rússia. Não bastaria aos EUA decretarem sanções económicas aos palestinianos? Eles devem ter com o que pagar, nem que seja com o corpo. 


quarta-feira, 3 de abril de 2024

CARTA A INÊS

Tive e tenho animais, cães na sua maioria, mas também, na fase infantil da vida dos meus filhos, pombos, periquitos, cágados, canários. Montei cavalos e sempre os tratei com a lealdade e respeito que mereciam. E todos retribuíram, cada um à sua maneira, o afecto que lhes dediquei e dedico. Numa relação homem animal que nunca questionei porque me parecia natural como o ar que respiro.
Até que apareceu um grupo de pessoas que veio complicar tudo isto. Apercebi-me delas quando os meus cães começaram a ser tratados no veterinário como pessoas, nomeados como o "menino ou a menina", numa infantilidade que me surpreendeu. E a ouvir lições de moral e ética que não tinha solicitado. Afinal, eu só ali estava a adquirir cuidados veterinários, nada mais.
Mas estas empresas veterinárias, que tratam o meu cão como se ele fosse meu filho (não é!!) mas na realidade se estão marimbando para ele, cavalgando a onda animalista que agora nos assola, trataram de subir os preços até valores incomportáveis, convertendo num bem de luxo a posse de animais de companhia. Criando, afinal, condições para que um número crescente de animais deixem de receber os cuidados veterinários mínimos que necessitam e engrossem os números do abandono. Alguém, ao balcão do veterinário onde estava, como eu, a ser extorquido, comentava "agora é mais caro olhar por um cão do que por uma criança!!" E começa a ser perigosamente verdade.

Fachadismo

 

Saberei logo pelo JN o que foi dito na tomada de posse do novo Governo, cuja cerimónia não tive a menor pachorra para ver, não porque a alternância em si mesma me incomode, mais faltava, mas porque aquela gente, a começar pelo “primeiro” e passando por um tal Nuno Melo, me provoca urticária; deste último, lembro o seu parente de Santo Tirso, Eurico de Melo, suponho que terá sido também seu padrinho, que, quando foi ministro da Defesa, fez com os americanos um negócio de compra de aviões-sucata para a Força Aérea que, se não caíram todos, devem ter escapado poucos, e quando questionado acerca do assunto, Eurico de Melo respondia que os americanos eram amigos, e os amigos entendem-se sempre.

 

De outro ministro do partido do Melo, o Portas, conhecemos o imbróglio dos submarinos, que na Alemanha deu condenações e aqui foi tudo estranhamente arquivado, decerto porque o dito cujo, ao aperceber-se que ia ser corrido, passou uma noite no ministério a queimar literalmente arquivo que o pudesse incriminar; tendo ouvido há dias o Melo referir-se ao seu anterior líder como tendo sido um grande ministro da defesa, temos conversado quanto ao que se poderá esperar dele.

 

No mais, também li que a primeira medida do novo Governo, “urgentíssima”, que a gente espera como pão para a boca, será mudar o símbolo da República; presumo que se seguirão as mesas e cadeiras das salas de trabalho, assim como os automóveis, que os novos senhores não poderão sentar-se nos mesmos bancos onde os anteriores se terão peidado...

 

Amândio G. Martins

terça-feira, 2 de abril de 2024

o peso dos salários no PIB

Desde a adesão ao euro, segundo indica o Eurostat, o peso ajustado dos salários no PIB (Produto Interno Buto), baixou de 60,1%, em 1998, para 52,9% em 2023, confirmando a perda de poder de compra dos trabalhadores nos últimos anos. Portugal foi dos 20 países da zona euro, um dos que aonde a quebra dos salários teve maior expressão. Esta realidade contraria e desmente todos que só vêm benefícios, privilégios e mordomias na U.E.

 

 

 

RESVALANDO PARA O ABISMO


O passado mês de fevereiro, foi o mais quente dos últimos 93 anos. Dia 21 do passado mês, a temperatura máxima registada em Braga, foi de 30 graus. Quatro dias depois, baixou para 11. As temperaturas têm-se mantido muito baixas, tem chovido bastante e nevado até no Alentejo (Serra de S Mamede) e Algarve(Serra de Monchique), e a previsão é que este anormal tempo para a época, continue.

Para além dos efeitos nocivos em culturas como o tomate, favas, ervilhas, batatas, feijão, etc., estes são apenas alguns exemplos mais que evidentes das alterações climáticas, cuja principal causa é a emissão de gases com efeito de estufa, sobretudo dióxido de carbono, que provocam o aquecimento global.

Há dias, fui à Quinta do Conde, e à tarde, vim pela estrada de Sesimbra. Apanhei uma fila quase compacta de Fernão Ferro a Corroios. Em todo o percurso, vi apenas três autocarros. Depois, outro dia de manhã, fui à Charneca de Caparica, regressei logo a seguir, com filas apenas um pouco mais fluentes. Mas, evidentemente, estes casos não são únicos na região da grande Lisboa e no país.

Segundo o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), o tráfego automóvel o ano passado em relação a 2022, aumentou 10%, e com tendência para continuar a aumentar.

Bem nos avisa António Guterres como Secretário-Geral da ONU, o Papa Francisco e diversos especialistas responsáveis, mas a cegueira, a irresponsabilidade, a loucura, continuam. Este lindíssimo planeta caminha para um tão elevado estado de degradação que num futuro mais ou menos próximo, se tornará inabitável. Ou, pelo menos, com uma drástica redução de todas as espécies. Tantas delas, já desaparecidas.

E, claro, para dar uma “ajudinha”, para contribuir para a poluição e antecipar uns milhares ou, quiçá, uns milhões de mortos, temos a outra loucura, que é a guerra. E, mais uma vez, devemos aplaudir de pé, o atual SG da ONU, o Papa Francisco e o Presidente Lula da Silva. As únicas personalidades mundiais, a apelarem à paz. Os outros, apelam à guerra. Principalmente os que se arvoram em guardiães da democracia e dos direitos humanos. Os exemplos são mais que muitos. Veja-se o caso do conflito Israel- Palestina. Mesmo depois de ter entrado no atual estado de genocídio por parte de Israel, depois do seu apoio de sempre e de terem rejeitado todas as propostas de cessar-fogo, apresentaram uma que não exigia cessar-fogo nenhum. Considerava-o um imperativo, condicionava-o à libertação de prisioneiros, mas apenas de um dos lados do conflito. E agora, perante o repúdio mundial sobre a prepotência do governo sionista e na iminência do genocídio atingir proporções dantescas, limitaram-se a absterem-se na resolução que efetivamente exige o cessar-fogo. Mesmo assim, já veio o seu porta-voz, Jonh Kirby, afirmar que a abstenção dos EUA “não significa uma mudança de rumo” e que “ a resolução não é vinculativa”

Portanto, é imperioso que mais vozes se juntem às de Bergoglio, Guterres e Lula, na defesa da paz e do planeta.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal O Setubalense



PS- Depois da edição deste artigo de opinião, sete voluntários humanitários de diversas nacionalidades, devidamente assinalados, foram mortos em Gaza e a embaixada do Irão na capital da Síria foi bombardeada provocando um número ainda indeterminado de vítimas.

Que país poderia ter um comportamento destes sem um clamor mundial?

Mas, meus amigos, este comportamento do país protagonista e dos seus aliados, não poderá ter consequências imprevisíveis também a nível mundial?




Remédios insuspeitos

 

ANTIDEPRESSIVOS

 

Substituir a medicação por livros

Para equilibrar a nossa saúde

Tem tudo para ser boa atitude

Para dispensar antidepressivos.

 

Os livros podem ser bem decisivos

Em vez da medicação amiúde

Embora quando a remédios se alude

Não os imaginemos tão precisos.

 

E são remédio que não vai fazer mal

Quando o consumo se torna habitual

Como acontece com os químicos;

 

Quando ganhamos a vontade de ler

Cresce o entusiasmo para o fazer

E deixamos de ser ciclotímicos.

 

Amândio G. Martins