A Voz da Girafa
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
terça-feira, 28 de novembro de 2023
O medo cria a marginalidade que cria o ódio que cria a revolta
Urgente contrariar os brutamontes de Israel
Como toda a gente que preza a dignidade humana e os valores humanitários, também Pedro Sánchez condenou o sanguinário Hamas pelo que fez em Israel naquele fatídico dia; todavia, tal como outra gente de relevo mundial, conhecedora das barbaridades que os palestinianos há tanto tempo vêm sofrendo por parte de Israel, deixou claro que os cidadãos da Palestina têm direito a manter-se em segurança na terra que lhes legaram os seus antepassados, não podendo ficar eternamente sujeitos às arbitrariedades do seu prepotente vizinho.
Como já tinha feito com Guterres, o grotesco governo israelita acusou o chefe do governo espanhol de conivência com os terroristas, atitude que a Direita espanhola dita moderada tem secundado, defendendo a “consagrada” hipocrisia nestas situações, e atacando a correcta tomada de posição de Sánchez em defesa da dignidade do povo da Palestina, dizendo que ninguém pode ir convidado à casa de um amigo para aí o insultar, como Sánchez fez da forma mais irresponsável, ao que o líder socialista replicou, num encontro com apoiantes, que o que disse na Palestina e no Egipto, nada tem a ver com ideologia, mas com humanidade...
Amândio G. Martins
Fartos de alternância, exigimos alternativas
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
Indigência
A gente que tem governado o país nos últimos anos cometeu erros, mas não ignora que os cometeu, sabendo que, em grande parte por eles, não conseguiu cumprir o mandato para o que tinha todas as condições; todavia, o saldo que deixa é largamente positivo, o que até permite ao putativo candidato a primeiro-ministro a promessa de gordos aumentos nas pensões e aproximar as mínimas dos mil euros, trocando o estafado discurso da bancarrota e deixando subliminarmente claro, porque nunca o explicitaria, um grande elogio à governação prestes a saír, que até lhe permite o luxo de poder oferecer “bacalhau a pataco”.
Não se pode esconder que há muita coisa que não está bem, mas ponho-me a pensar como estaríamos e no que diria essa gente que agora chama lixo a tudo o que foi feito, se tivesse governado na situação dos que agora saem, tendo atravessado uma pandemia que durou mais de dois anos e uma guerra que vai entrar no terceiro ano de destruição de um povo inteiro e com duros reflexos no nosso continente.
Do que li no JN acerca do que foi dito pelo líder e por altas figuras do partido inebriado pelo cheiro a poder, a que nem faltou a relíquia da velha múmia, aflige-me o baixíssimo nível de quem lidera aquele grémio, incapaz de dizer alguma coisa que faça pensar que tem alguma ideia do que seja governar, além do penacho; de facto, para lá do panfletário, nada dali parece poder vir que dê à gente alguma tranquilidade...
Amândio G. Martins
sábado, 25 de novembro de 2023
IUC depois do governo cair
Incompreensível
Se compararmos o número de mulheres mortas violentamente no nosso país com igual situação no país vizinho, verificaremos que, em Portugal, a selvajaria é infinitamente pior; de facto, segundo a UMAR, desde o princípio do ano até ao momento, foram assassinadas na terra portuguesa vinte e cinco mulheres, enquanto em Espanha, no mesmo período, foram cinquenta e duas as que perderam a vida da mesma forma.
Tendo em conta a população dos dois países, com a espanhola mais de quatro vezes superior à nossa, a que acresce um número impressionante de gente flutuante e refugiados das mais diversas nacionalidades, fácil é constatar quão mais vergonhosa é a situação por cá; igual nos dois países parece ser a displicência com que são apreciados os avisos de perigo que as mulheres vão fazendo chegar às autoridades policiais e à justiça, que parece darem sempre ao agressor o benefício da dúvida, até que este acaba por concluír as repetidas ameaças...
Amândio G. Martins
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
Regredindo
INEXORÁVEL
Meter as palavras certas num verso
Como assentar as pedras num muro
Também pode ser um trabalho duro
Se a mente não acompanha o processo.
Quando sentimos sinais de regresso
Confundindo o passado com futuro
Meio perdidos num buraco escuro
Torna-se impossível qualquer progresso.
Cada dia de vida é recompensa
Se alheios problemas a não põem tensa
Impedindo o merecido sossego;
Mas como acontece a quase todos
Muitos por quem não pouparam esforços
Não sentem por eles nenhum apego.
Amândio G. Martins
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS PARA UM PRIMEIRO MINISTRO
No ponto em que vai esta “procissão” já vai é possível tirar algumas ilações. E a primeira é muito simples: o PM aplicou a si próprio um rigor demissionário que não quis infligir aos membros do seu governo que, por qualquer motivo, deixaram de ser impolutos aos olhos dos portugueses. E reparem que não digo oposição, porque essa faz o seu papel dramatizando tudo, às vezes de forma ridícula. Porque um PM pode pedir um certificado de registo criminal à entrada da porta do governo mas não está na sua mão controlar as asneiras que cada um faz depois. Mas pode atalha-las de forma rigorosa quando delas tem conhecimento. Até pode despedir um membro do governo impoluto por se ter revelado uma má escolha, qual é o drama? Porque os portugueses de bom senso preferem sempre a estabilidade parlamentar, que lhes foi inopinadamente tirada numa série de precipitações, tanto do PM como do PR, cujo legado, para além das “selfies”, será sem dúvida, o ter conseguido dissolver uma AR com uma maioria parlamentar unipartidária a meio da legislatura.
O guloso e o desejoso
Sou dos que valorizam a capacidade de cada um rir de si próprio, de não ser ele a encarecer os seus feitos, quando o que conseguiu, por merecedor de elogios que possa ser, não deixa de ser apenas o cumprimento daquilo a que estava obrigado por lhe terem dado as condições e acreditado nele para essa tarefa; daí que me pareça ridículo alguém que se lamenta de nunca ter recebido uma condecoração pública, ou tendo-a recebido, a ache pequena para a sua grandeza, querendo fazer crer que outros, por muito menos, ostentam o peito cheio de comendas e realçando a “falta” de quem está em dívida consigo.
E foi o que vi há pouco fazer um canoista de topo, com o que desceu uns bons degraus no meu conceito, não sendo impedimento para isso o facto de até ser meu conterrâneo, tanto mais que se trata de um rapaz com razoável instrução, tendo por isso obrigação de saber distinguir o que é ou não aceitável, e tendo sempre presente que, sendo uma “figura pública”, tem mais obrigação de controlar o que lhe sai pela boca, tanto mais importante quanto se sinta um vencedor; é verdade que matizou a exigência, acrescentando que o treinador também merecia ser condecorado, o que me fez recordar o que dizia a minha avó Custódia Maria, sempre que algum dos netos lhe pedia alguma coisa para um irmão ou primo, sabendo que, se satisfizesse o pedido, se via constrangida a dar a todos: “Pede o guloso para o desejoso”...
Amândio G. Martins
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Estranha sintonia
Antecipando a vitória nas próximas eleições, os partidos da Direita, com a conveniente ajuda da Esqerda aventureira, andam empenhados em impedir o governo em funções de decidir o que tinha programado, querendo que fique o tempo que lhe resta a fazer “figura de corpo presente”; de facto, o que agora lhes importa é que tudo pare para, na certeza de que vão saír vitoriosos, se aproveitarem do trabalho feito e tomarem eles as decisões mais sonantes, como no caso do aeroporto, de que até adivinho a proclamação do papagaio do PSD: “Foi preciso chegar um governo do nosso partido para, finalmente, ser tomada a importante decisão de pôr em marcha a construção dum aeroporto que tanta falta faz para o nosso desenvolvimento”.
O mesmo tipo de gente, no país aqui ao lado, também tinha tanta certeza que iria assumir o poder que não tomou nenhumas cautelas, fazendo uma campanha escabrosa contra o Partido Socialista, chamando ao seu líder “Perro Sánchez” e “sanchismo” à sua governação, sequer lhes ocorrendo estar a usar os métodos de combate político do parceiro à sua direita, desmentindo o que sempre diziam ser, que eram o partido da moderação; mais uma vez afastados pela capacidade negociadora dos socialistas, que conseguiram para a investidura os apoios mais improváveis, Feijóo não esconde o rancor contra Sánchez, acusando de tudo quanto lhe vem à cebeça o socialista, que só por se mostrar normalmente sorridente sofre, diz o lider popular, de tiques de autoritarismo patológico, devendo ser submetido a um exame psiquiátrico, secundando o que há muito diz Abascal, quando vê Sánchez desfazer em cacos as suas acusações no Parlamento...
Amândio G. Martins
terça-feira, 21 de novembro de 2023
HIPOCRISIA E LEI DA SELVA
A revolução técnico-científica tem feito maravilhas em todos os campos. Tem facilitado tanto a vida que, através da medicina, até a tem prolongado. Mas, por outro lado, a fome, a falta de água potável, de saneamento básico e a morte causada por doenças curáveis tem aumentado exponencialmente. Muitos milhões de seres humanos, vivem em condições absolutamente intoleráveis porque nunca houve tanta possibilidade de se produzirem alimentos.
Mas a sede de lucro das multinacionais, fala mais alto. E é essa sede de lucro que leva à degradação do ambiente e às alterações climáticas. Por exemplo, através de extensíssimas e cada vez mais numerosas explorações agrícolas intensivas.
Onde se tem avançado também imenso, é na indústria do armamento, da morte.
Onde não se tem avançado nada, até se tem regredido, é no humanismo. Nas relações entre as pessoas. Sobretudo, entre os povos representados por Estados.
Aí, impera a hipocrisia, a sede de domínio, a lei da selva.
Não precisamos repetir exemplos passados como o que deu origem às duas guerras mundiais, à do Vietname, Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria. Basta analisarmos mesmo resumidamente a da Ucrânia e o que se passa na Palestina, sobretudo na Faixa de Gaza. Que, ao contrário da primeira, aquilo não é uma guerra. É mais um massacre, um genocídio, uma limpeza étnica que visa matar ou correr com aquele povo. E na Cisjordânia, através dos colonos israelitas.
Segundo as autoridades palestinianas, só nos primeiros 30 dias de bombardeamentos, as forças ocupantes que denominam pelo eufemismo de Forças de Defesa de Israel, lançaram contra a Faixa de Gaza à volta de 30 mil toneladas de bombas, 82 toneladas por quilómetro quadrado. 5O% dos edifícios foram danificados, 10% ficaram totalmente destruídos e dos 2,3 milhões de habitantes, 1,6 milhões (70%) foram obrigados a sair das suas casas. Depois foi a imensa vergonha do ataque a hospitais. Dos 10 mil mortos até então, 4000 eram crianças e 2550 mulheres.
Claro que todas as vítimas são condenáveis! Mas lembrar o que disse António Guterres: “o crime contra civis israelitas, não veio do nada”. Veio de 75 anos de ocupação, de mortes, de prisões, de humilhação. Os Hamas, formam-se assim.
Quanto à guerra na Ucrânia, lembrar só que a sua origem, esteve na recusa da vontade da população russófona do Donbass pelo direito à autodeterminação, afogada num banho de sangue e depois com a recusa dos Acordos de Minsk.
O conflito na Ucrânia e o genocídio na Palestina, contam com o apoio dos hipocritamente arvorados defensores da democracia e dos direitos humanos, os EUA, e com a submissa União Europeia, atrelada.
Ao vergonhoso genocídio de Gaza, Netanyahu, com as costas quentes pelos referidos aliados, continua a fazer ouvidos de mercador aos apelos do Secretário-Geral da ONU, das resoluções da sua Assembleia Geral, da Organização Mundial da Saúde, do Papa, dos milhões que se manifestam por todo o mundo. O que conta é a lei do mais forte. A lei da selva.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal "O SETUBALENSE"
Procurando a saída
MEDITANDO
Se não é com rimas ou dissonâncias
Que se pode levar água ao moinho
Mostrar ao que anda confuso um caminho
Dar ao desesperado esperanças...
Poder-se-á crer em tais circunstâncias
Que não se pode moldar um “destino”
Deixar lá bem atrás quanto é mesquinho
Para nada serve querer mudanças...
Mas se ao que andar aturdido se mostrar
Uma forma de poder aliviar
O peso que o traz sobrecarregado;
Irá ver que nem tudo é péssimo
Que pode deixar o analgésico
Olhando para o lado iluminado...
Amândio G. Martins
O 25 de Novembro não foi a reposição do 25 de Abril
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
CHORA POR TI ARGENTINA
A Argentina é um colosso. O segundo maior país da América Latina (45 milhões de habitantes) com imensas potencialidades na agricultura, criação de gado e minérios diversos. Mas um gigante acossado por uma inflação altíssima, enormes assimetrias sociais, elevados índices de desemprego, pobreza extrema. Fruto da descaracterização do peronismo, da corrupção, enfim, dos tradicionais males do centrão “social-democrata/democrata-cristão” tão conhecido também entre nós.
Portanto, um gigante num atoleiro.
Agora, o eleito vendedor de banha da cobra neofascista, o que propõe é a dissolução do Banco Central, a privatização de ministérios e de todo o Ensino, a liberalização da venda de armas e até o possível comércio de órgãos humanos. Além de outras soluções deste género. Ou seja, enterrar o país no referido atoleiro.
Para grandes males, grandes remédios, para bem do país das pampas, do tango, de Piazzolla, de Gardel, para bem da América Latina e do mundo, esperemos que também o seu povo, ainda mais acossado, se levante e encontre bem mais dignas e justas soluções.
Francisco Ramalho
"Ivenção da Esquerda"
A justiça social é uma invenção da Esquerda para castigar e expropriar quem está bem de vida, para o dar a quem nada tem porque nada quer fazer, disse há pouco tempo a presidente da espanhola comunidade de Madrid, e figura ruidosa do Partido Popular, Isabel Diaz Ayuso, justificando ter baixado os impostos às grandes fortunas, decisão que depois se reflectiu na falta de meios para apoiar a escola e saúde púbicas, com o que acusa o governo central, perante as manifestações de protesto, de lhe faltar com a contribuição a que tem direito; e estes disparates, que constam da cartilha de todos os ditos liberais, dos “nossos” também, são seguidos em todas as regiões onde o referido partido governa, porque os extremistas com quem se aliou para tirar o poder à Esquerda exigem para si as pastas mais sensíveis, como assistência social, educação, cultura e saúde.
Se por cá não tivermos isto presente, agora que se aproximam eleições e há o perigo de alianças desse tipo para formar governo, tamanha é a fome de mando dos promitentes “salvadores,” que há muito deixaram de se reivindicar de “social-democratas” para passarem a autodesignar-se de “centro-direita”, depressa sentiremos nas nossas vidas o efeito daquilo que pretendem levar a cabo na sociedade, bem patente nos factos acima apontados, que para os nossos “génios” não deixarão de ser um farol de boa governação, já que a originalidade nunca foi o seu forte...
Amândio G. Martins