domingo, 30 de novembro de 2014

Justiça e vingança

Caros confrades,
Dou à estampa o teor de um correio electrónico acabado de chegar à minha caixa postal, e cujo conteúdo terá sido da autoria de António Marinho e Pinto, pelo que achei oportuno dá-lo a conhecer, a fim de tirarem as vossas próprias conclusões. 

José Amaral


Justiça e vingança

A detenção do antigo primeiro-ministro José Sócrates levanta questões de ordem política, de ordem jurídica e de cidadania. Mais do que a politização da justiça, ela alerta-nos para a judicialização da política que está em curso no nosso país.

José Sócrates acabou, enquanto primeiro-ministro, com alguns dos mais chocantes privilégios que havia na sociedade portuguesa, sobretudo na política e na justiça. Isso valeu-lhe ódios de morte. Foi ele quem, por exemplo, impediu o atual Presidente da República de acumular as pensões de reforma com o vencimento de presidente.

A raiva com que alguns dirigentes sindicais dos juízes e dos procuradores se referiam ao primeiro-ministro José Sócrates evidenciava uma coisa: a de que, se um dia, ele caísse nas malhas da justiça iria pagar caro as suas audácias. Por isso, tenho muitas dúvidas de que o antigo primeiro-ministro esteja a ser alvo de um tratamento proporcional e adequado aos fins constitucionais da justiça num estado civilizado.

É mesmo necessário deter um cidadão, fora de flagrante delito e sem haver perigo de fuga, para ser interrogado sobre os indícios dos crimes económicos de que é suspeito? É mesmo necessário que ele, depois de detido, esteja um, dois, três ou mais dias a aguardar a realização desse interrogatório?

Dir-me-ão que é assim que todos os cidadãos são tratados pela justiça. Porém, mesmo que fosse verdade, isso só ampliava o número de vítimas da humilhação. Mas não é verdade. Há, em Portugal, cidadãos que nunca poderão ser humilhados pela justiça como está a ser José Sócrates: os magistrados. Desde logo porque juízes e procuradores nunca podem ser detidos fora de flagrante delito.

Em Portugal, poucos, como eu, têm denunciado a corrupção. Mas, até por isso, pergunto: seria assim tão escandaloso que um antigo primeiro-ministro de Portugal tivesse garantias iguais às de um juiz ou de um procurador? Ou será que estes, sim, pertencem a uma casta de privilegiados acima das leis que implacavelmente aplicam aos outros cidadãos?

A justiça não é vingança e a vingança não é justiça. Acredito que um dia, em Portugal, a justiça penal irá ser administrada sem deixar quaisquer margens para essa terrível suspeita.

Carlos Alexandre - Está há vários anos no Tribunal Central de Instrução Criminal e por lá ficará o tempo que quiser, pois os juízes são inamovíveis. Tempos houve em que um juiz não podia permanecer num tribunal mais do que seis anos (era a regra do sexénio) e, por isso, recebia um subsídio para a habitação. Porém, desses tempos, só resta, hoje, o dito subsídio, bem superior, aliás, ao salário mínimo nacional e totalmente isento de impostos.

Duarte Marques - Este deputado do PSD veio manifestar publicamente júbilo pela detenção e humilhação pública de Sócrates, com o célebre ‘aleluia’. Era evitável a primária manifestação de ódio quando até a ministra da Justiça nos poupou ao habitual oportunismo político. Talvez mais cedo do que tarde se cumpra a sentença de Ezequiel: "Os humildes serão exaltados, e os exaltados serão humilhados.

António Marinho e Pinto

24-11-14













Andava eu sozinho

Andava eu sozinho ‘no meio da multidão’ que já está a adensar-se, prenúncio de mais um natal comercializado até para lá do limite das nossas bolsas, quando ‘caí’ no meio de ‘muitas vozes encadernadas, em gritos, exclamações, interrogações, sentimentos, desamores e outras emoções’ – os livros – que voltam à vida narrada quando os manuseamos e lemos.
E, pronto, olho à volta e zás, deito a mão ao um ‘calhamaço’ muito bem composto em envergadura. Tinha setecentas e tais folhas.
Virei-o. E, na contracapa, assim rezava: 'este volume reúne os contos escritos por Gabriel García Márquez desde os finais dos anos 1940, até meados dos anos 1990. Um conjunto de 41 histórias que nos permite desfrutar de todo o encanto e mestria do genial escritor colombiano, e que nos leva a um mundo inesquecível cuja realidade se expressa mediante fórmulas mágicas e lendárias'.
E, apesar deste vulto da escrita ter sido Prémio Nobel de Literatura, em 1982, e o carácter universal da sua obra o colocar entre os maiores escritores de sempre, eu fico-me com o belo livro de contos – onze ao todo – O Fogo e as Cinzas – do saudoso escritor Manuel da Fonseca, com quem tive o enorme prazer de conversar aquando de uma sessão de autógrafos levada a efeito na cidade do Porto, em 23-4-1985.

Nota - texto publicado na íntegra pelo PÚBLICO, em 3/12

José Amaral

sábado, 29 de novembro de 2014

Se ..

Se eu soubesse que podia mudar o mundo para melhor, não o faria, porque regressaria ao homem primitivo. Seria o herdeiro directo do ancestral homem das cavernas, que apenas matava para comer. E que nada desperdiçava, pois se o fizesse punha em causa a sua própria subsistência e perigava a sua existência.
Assim, hipocritamente, quero viver o ‘meu’ tempo, no conforto tão apregoado que as ditas ‘almofadas sociais’ e as novas tecnologias propiciam, em conluio vicioso e até criminoso, em manobras de corrupção ou de qualquer outra letal ‘diversão’ existencial.
Assim, morrerei ‘sastifeito’, como qualquer frango do aviário, sem saber como tal lhe/me sucedeu.


José Amaral

A Justiça Portuguesa já está a funcionar, e também já ninguém está acima da Lei?


Os paladinos da dignidade humana – mormente os defensores acérrimos de alguns concidadãos com ‘muito’ assento nas escadas do poder, mormente nos actuais mais altos cargos do Estado e da Nação, e de entre alguma delituosa elite financeira e de malabaristas de alto coturno – com a detenção folclórica e de amesquinhamento do ex-primeiro ministro José Sócrates – atirando-nos com ‘areia para os olhos’-  tentam branquear anteriores e conluiados crimes – já julgados - de todo o tipo de corrupção, branqueamento de capitais, ocultação ou destruição de provas.
E, o mais assombroso de todo este Estado de Direito é vermos tais culpados e julgados ficarem â solta, após condenação de prisão efectiva e pagamento de milhões de euros que arrebanharam ilicitamente.
Portanto, agora, há que abater ‘exemplarmente’ o mediático Sócrates, seja culpado ou não, para que tudo continue com dantes, ou não estivéssemos no limiar da próxima campanha eleitoral.
E, finalizando, questiono o seguinte: por que será que tantos arautos da ‘pureza estabelecida’ dizem sempre acreditar na Lei e na Justiça e, depois, se condenados, fazem precisamente o contrário, recorrendo – porque o dinheiro abunda - para todas as instâncias possíveis e inimagináveis?


José Amaral

A QUEDA DE UM MITO

Fã de José Cid (JC), custou-me imenso ler a entrevista que deu à Revista NM pois cheguei à conclusão que o conhecia apenas por fora. Autentica overdose de vaidade, desde a sua origem da nobreza que representa até dizer que achava alguma piada ao Sá Carneiro. O rol é enorme e a inveja é tal, que mesmo quando diz bem de algum(a) colega, não resiste a apontar um lado negativo, por exemplo fulana(o) canta bem mas não canta o que devia cantar ou esta: sicranos cantam bem, mas estão pesados. Amália invejava-o pois vendia mais discos que ela. O que seria de Rui Veloso sem Carlos Tê ou Elton John sem Taupin, pois a ele basta o seu alter-ego. Quando cantou em espanhol com Júlio Iglésias, coitadinho, pregou-lhe com 5 – 0. Marcelo Caetano não receava Ary dos Santos pois quem o regime temia mesmo era JC, esse sim, o verdadeiro perigo. Enfim, considera-se o maior, o melhor, o único e chegado a certa altura da entrevista divulga que sua avó, quando ia a Paris, ficava em casa de Eiffel. Quando cheguei a este ponto, lembrei-me dos que ficavam no "bidonville". Desconheço se foi o que aconteceu aos pais de Tony Carreira (TC), pessoa humilde e que tem em cada fã um amigo sendo estimado pelo público mas por quem JC nutre grande inveja como demonstrou nessa entrevista em que usou a ironia para poder dizer mal do colega de profissão que é incapaz de ofender e dizer dum colega o que JC disse dele o dos outros. Onde está o autor de "Amar como Jesus amou"?. Ou não teria sido sentido? Jorge Morais


Publicada (resumida) no JN de 29.11.2014

 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Partiram definitivamente

Infortunadamente, duas figuras incontornáveis da nossa memória colectiva e televisiva deixaram-nos definitivamente no curto espaço de dez dias.
O primeiro foi o consagrado meteorologista Anthímio de Azevedo, que faleceu em 17/11, com 88 anos, o qual ficará sempre recordado como um ícone dos televisivos boletins meteorológicos dos finais do século passado.
O segundo foi o engenheiro agrónomo Sousa Veloso, o apresentador de televisão que ficou célebre pela condução, apresentação e realização do programa semanal TV Rural, o programa que mais tempo esteve – 31 anos – nas pantalhas televisivas do país e da Europa.
Partiu a 27/11, também com 88 anos, e da sua longa vida televisiva, apresentando o referido programa rural, destaco um caricato e saboroso episódio quando, na Feira Nacional da Agricultura de Santarém, a dada altura anunciou: ‘reparem senhores telespectadores neste avantajado bovino de raça charolesa’, quando, afinal, as imagens mostradas eram do então Presidente da República Américo Thomaz, que oficialmente também visitava a referida feira.
E, por hoje, ‘senhores telespectadores despeço-me com amizade até ao próximo programa’, em que novamente vos voltarei a escrever.

Nota: texto publicado na íntegra pelo PÚBLICO, em 29/11

José Amaral

O Cante Alentejano

Após o fado – a canção congregadora do nosso sentimento colectivo – se ter tornado Património Imaterial e Cultural da Humanidade, agora, chegou a vez do Cante Alentejano – o Hino do Alentejo, a brisa humana tangida pelos sóis da planície – a granjear igual galardão, para orgulho das suas gentes e fama de Portugal.
O Cante Alentejano, ausente de qualquer instrumento musical, leva-nos para lá dos tempos imemoriais da nossa portugalidade.
Viva, pois, o Cante Alentejano!


José Amaral

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

HEDY LAMARR: UMA ATRIZ DE ESTONTEANTE BELEZA QUE REVOLUCIONOU A COMUNICAÇÃO NO MUNDO

Neste mês de novembro de 2014 ( para alguns, 2015), comemora-se o centenário  de nascimento  da bela Hedy Lamarr, nome artístico de  Hedwig Eva Maria Kiesler, de origem judaica, atriz e inventora nascida na Áustria e naturalizada  norte-americana.
Desde menina já  se notava ser ela portadora de invulgar beleza, com  fortes tendências artísticas e de uma queda natural  para ciências exatas, caracterizada por uma aguçada  capacidade de observação e de intensa curiosidade aos fatos científicos.
Com 19 anos, já considerada a mulher mais bela da Europa, foi atriz principal no filme tcheco  Ecstasy, filmado em Praga, que a deixou famosa por aparecer nua, correndo por entre folhagens, mergulhando em um lago e simulando um ato sexual com direito a closes do orgasmo, sendo considerado o primeiro filme não pornográfico em que uma atriz, além de aparecer nua, se contorce diante da até então hipocritamente censurada imagem do orgasmo feminino.
Casada com um rico empresário alemão, fabricante de armas, estudou detalhadamente o funcionamento dos torpedos fabricados pelo marido, sempre se preocupando pela pouca confiabilidade desta arma em atingir o alvo, em face da variação da frequência das ondas eletromagnéticas, nativa ou alterada por potenciais inimigos; Começando aí o seu interesse por este tipo de ondas radiantes.
Um fato muito comentado na época foi o marido ter comprado quase todas as cópias do filme em que ela aparece nua, movido por um avançado estado patológico de ciúme e paixão.
Premida pelo ciúme doentio do marido e percebendo a vida difícil que os descendentes de judeus iriam enfrentar na então era nazista na Alemanha, que estava se iniciando, fugiu para Paris de posse de todas as valiosas joias lhe dadas de presente pelo seu apaixonado companheiro e com os manuscritos de seus estudos referentes à frequência das ondas eletromagnéticas. Ao antever que o futuro domínio nazista poderia alcançar toda a Europa, emigrou para os Estados Unidos, após pequena passagem por Londres.
Em Hollywood foi protagonista de vários filmes, entre eles o que mais ficou marcado, onde ela aparece com a sua exuberante beleza, foi na película Sansão e Dalila, ao lado do então badalado ator Victor Mature, um filme épico realizado por Cecil B. DeMille, cujos cenários até hoje impressionam por sua suntuosidade.
Relatos deixados pelos seus colegas artistas da época confirmam que nos intervalos das filmagens, onde todos aproveitavam para rever os textos das próximas cenas, ela sempre se isolava em algum canto absorvida por intensos cálculos científicos.
Em plena 2ª guerra mundial, ela conjuntamente com o compositor George Antheil, em frente a um piano, brincavam de dueto. Hedy (eximia pianista desde criança), repetindo em outra escala as notas que ele tocava, conseguiram o controle e sincronização dos instrumentos, chegando a conclusão de que sempre haverá comunicação mudando frequentemente o canal de transmissão, bastando que façam isso simultaneamente.
Com a conclusão acima e com os conhecimentos que tinha das ondas eletromagnéticas, ela idealizou e patenteou um sistema, cuja versão inicial consistia na troca de 88 frequências e era feito inicialmente para despistar radares. Entretanto, o Departamento de Guerra norte-americano recusou a ideia, alegando dificuldade na sua execução.
Esta magnifica ideia somente foi concretizada bem mais tarde, principalmente quando a patente já tinha caducado, sendo hoje considerada a base de todo padrão  de comunicação sem fio existente: CDMA ( telemóvel, rastreamento via satélite GPS e os populares prefixos tecnológicos G);Wi-Fi (redes sem fio de comunicação  genérica); Bluetooth( redes sem fio restrita, pessoal).
Podemos dizer que Lamarr, além de ser considerada a mãe do telemóvel com todas as tecnologias agregadas a este importante e popular invento, pôs por terra os dois antigos, conhecidos e difundidos mitos machistas: “mulheres são incapazes de produzirem tecnologias”; “ a beleza feminina é inimiga da inteligência” .
O tema sobre o papel crucial e muitas vezes esquecido, que as mulheres tiveram nos históricos avanços da tecnologia, foi um dos assuntos bem tratado no excelente livro biográfico da revolução digital, recentemente lançado no Brasil, sob o título “OS INOVADORES” do autor Walter Isaacson, escritor conhecido em  todo o mundo por ter sido biógrafo do saudoso Steve Jobs.
É dela a polêmica frase: “É fácil para qualquer mulher ser glamorosa: basta ficar quieta e fazer ar de estúpida”, o que demonstra que ela além de todos os seus conhecidos predicados, também conhecia profundamente a arte da sensualidade feminina.


PUBLICADO NO JORNAL BRASILEIRO- DIÁRIO DA MANHÃ- NO DIA 27/11/2014- CADERNO OPINIÃO PÚBLICA, PG. 7 .
SITE DO JORNAL: http://www.dm.com.br/




quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O AR PURO DA PLANÍCIE ALENTEJANA




Está um lindo dia de chuva. 

Estou com vontade de dar um passeio. Quando a minha aprimoradíssima enfermeira chegar, peço-lhe que mude a fralda e me componha para sairmos. Devemos avisar o motorista que ateste o depósito do mercedes, que eu não a pago e posso ir onde quiser e muito bem me apetecer.

Vou visitar um amigo que se mudou agora para Évora, e eu bem compreendo as suas razões: a vida nas grandes cidades é muito agitada, sempre num frenesim. Não temos tempo para nada, nem para estar com os amigos.

Viver numa grande cidade não é qualidade de vida, quem disser o contrário mente, e eu odeio mentiras.

Ele sábio que é, optou pela tranquilidade bucólica do campo, numa casa que já me disseram apalaçada, cheia de quartos e salas, com as janelas a olharem para a planície.

Escolheu o recolhimento e a leitura e faz bem.

É um grande homem este meu amigo. Estuda filosofia. Haverá tema mais belo e profundo para se estudar?

Vou lá passar o dia com ele, e quem sabe, se me convidar ainda fico por uma temporada.


Fazia-me bem o ar do campo 

O lotado cemitério da nossa violência doméstica


No passado dia 25/11 celebrou-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
E, o mais tenebroso de tal violência exercida gratuitamente sobre as nossas mães, as nossas esposas, as nossas filhas, as nossas irmãs, as nossas namoradas, provém do sexo oposto que é mais próximo das indefesas vítimas.
Portanto, como os ‘santos de ao pé da porta não fazem milagres’, melhor é a mulher ter em conta que pode coabitar, não com verdadeiros amantes ou com quem a ame de verdade, mas sim com potenciais exterminadores.
E, no que toca ao que diariamente vai acontecendo no nosso país, em que o povo é dito de ‘brandos costumes’ e muito temente a Deus, a situação é deveras aterradora.
Só na última década – segundo li numa revista semanal idónea, a NM – houve 398 mulheres mortas pelos seus desnaturados companheiros.
Não me admira nada que, qualquer dia, as mulheres comecem a fugir dos homens como o ‘diabo a fugir da cruz’.
Se assim acontecer a Humanidade correrá o risco de acabar, porque o homem matou o seu último reprodutor e amor – a Mulher.


José Amaral

A PROPÓSITO DE UMA VISITA A ÉVORA

Estava eu placidamente almoçando quando me aparece no écran da televisão uma visão dantesca  que me fez ficar boquiaberta, entre o estarrecida e o enojada .

Então não é que  o “vice-rei” daqui deste cantinho que ainda se chama Portugal ( resta saber durante quanto mais tempo ), Mário Soares teve um ataque de histeria em directo e os jornalistas em vez de chamarem o INEM ou lhe colocarem um Victan debaixo da língua, não senhor, deixaram o pobre do homem  ali prestes a enfartar e nem se dignaram a socorrê-lo.

Ora ele gritou, ele esbracejou ele difamou toda a gente e mais umas botas em defesa do seu amigo do peito José Sócrates e à boa maneira dos regimes “esclavagistas”, os “pretos” ( leia-se os jornalistas” ) deram-lhe o tempo de antena que a criatura se dignou a querer utilizar para ter o seu ataque ao vivo e a cores e em directo, para todo o “reino “ assistir.

Sinceramente meus amigos e amigas, na minha modesta opinião, cenas destas, para além da componente surreal que já não me surpreende, apenas servem para continuar a dilapidar a já hiper mega ( oh pra mim tão fashion ) frágil credibilidade do nosso sistema político e só por isso me entristecem. Mas a incredulidade teve outros contornos que não apenas o surreal da coisa.

Ora digam-me lá se souberem, porque carga de água é que o cidadão José Sócrates pode ser obsequiado por visitantes “ilustres” ( para alguns, não para mim, com toda a frontalidade o assumo ) durante a sua prisão preventiva, fora dos dias estipulados para tal e apenas porque sim? Ou melhor, não digam porque a “própria da múmia” durante o “êxtase do palco” deu a resposta quando lhe perguntaram se ia “ajudar o amigo” e ele respondeu imediatamente e sem gaguejar,  “obviamente que sim”.

Pois claro que obviamente que sim, pois nós, humildes plebeus , mas pensantes e atentos até sabemos que o “rapaz” sabe mover-se e puxar os cordelinhos certos, porque se assim não fosse não teria a vida regalada que tem, paga por todos nós e certamente vai fazer um excelente trabalho.

Agora confesso que entre o monte de barbaridades mal articuladas e sem nexo que o homem disse, houve duas que me fizeram engasgar completamente e me obrigaram a parar de comer, sob pena de me dar alguma coisinha má – primeira , fiquei a saber que o moço Sócrates é um “ homem digno e não merece ser tratado de qualquer maneira” – bem, ele . Não sei se o velhote senil se estava a referir à palhaçada mediática, à forma como os 3 dias antes da decisão fizeram parar o país ou ao facto do Sr. Eng ter sido obrigado a comer cozido à portuguesa ( pois claro que um estômago habituado a cozinha gourmet ressente-se destas alterações bruscas )e não ter tido água quente para o banho no apartamento de Évora.

 Confesso que fiquei baralhada, mas não pondo sequer em causa a dignidade do sr. Eng, atrevo-me a dizer a este velho senil que dignos somos nós, os portugueses que há décadas aturam políticos como ele e a pandilha dele e dos amigos cuja cor vai alternando entre o fúchsia e o salmão; dignos são os que vêem o esforço do seu trabalho ser espoliado para alimentar Fundações como a dele.

O Eng. Sócrates até pode estar inocente, não questiono e aguardo serenamente o desfecho deste e doutros casos, com a convicção que a tradição ainda é o que era em matéria de justiça e portanto é melhor arranjar um sofázinho cómodo para ir envelhecendo e acompanhando a coisa, mas quem é o Dr. Soares para difamar daquela forma tudo e todos que directa ou indirectamente estão ligados a este caso? É que não escapou ninguém …foi tudo a eito e nem os sorrisos benevolentes de alguns jornalistas lhe fizeram ver a figura ridícula que se dispôs a fazer.

Vou dar o benefício da dúvida porque o discurso desconexo e absurdo do senhor faz-me crer que ele estaria dopado, porque a levar a sério tudo as “obscenidades” que proferiu o caso, para além da cobertura mediática que teve, deveria ser de outro tipo de intervenção – é que a provecta idade e o “magnífico” percurso político do senhor não o legitimam para poder dizer da boca para fora tudo o que lhe apetece, ficar impune a ainda ter a publicidade que tem.

Dir-me-ão alguns… e que tu também alimentas com esta opinião. Absolutamente verdade, tenho que admitir, mas o direito à indignação por enquanto ainda é constitucional neste país e porque não me revejo nas suas palavras quando ele afirma que “ toda a gente sabe que isto é uma malandrice” ( a minha segunda incredulidade, porque vivendo num país onde os malandros abundam e saindo a frase da boca de um dos mais refinados que conheço, não consegui conter uma intrépida gargalhada… ), aqui deixo a minha opinião , que , à semelhança de outras que já manifestei sobre diversas matérias, vale o que vale, mas é a minha.

E vou parar por aqui porque se começar a dissertar sobre malandrices, ainda se me puxa o dedo para outros "quês" e a coisa engrossa.

Bem meninos e meninas…até breve, que a novela ainda agora começou e outras estão para estrear, eventualmente – é que num país de malandros todos os dias são dias de “festa”.

Graça Costa




Pelas crianças

Só seremos Felizes quando a cada Criança faltar apenas uma flôr!


Sem querer ...


Sem querer ‘bater mais no ceguinho’, nem ‘chorar sobre o leite derramado’, que tanto pode atrair rato ou gato, o certo é que forte ‘cheiro a esturro’ já há muito que pairava no ar, à mercê de apurados olfactos, que tudo faziam e fizeram para saber de onde provinha tal torrefacção.
E, por mais que o ‘quinteto de cordas’ actuasse em surdina, os hieróglifos da pauta, meticulosamente engendrados e ‘engenheiradamente’ elaborados em locais onde o tom do diapasão era abafado, foram descodificados, pelo que o lamiré veio ao de cima e o ‘caldo entornou-se’ e o ‘concerto’ finou-se.
Agora, resta apurar toda a verdade para que a borrasca termine de vez, para que os alvores da verdade sejam promissores e perenes, pois não quero também chegar a duvidar de mim próprio – ‘comprando-me’ por ‘tuta-e-meia’.


José Amaral

DN 25.11.2014


A nossa destruição rápida do “ser” (COM OUTRO TITULO)

Por certo que esta crise económica e financeira que estamos a viver, sem fim à vista, é muito mais abrangente que “unicamente” a estas duas áreas.

Ou seja, trata-se de um aglomerado de crises, de tal forma intensas que mesmo com pequeníssimos e possivelmente inconsistentes sinais de recuperação, tudo o resto continua em total degradação.

“Este” estarmos a viver na espuma dos dias, tudo muito superficialmente, sem conteúdo, demasiado no imediato, aumenta o vazio que tanto nos rodeia.

Ao continuarmos a perder valores, a cada dia que passa, achados indignos para esta segunda metade do século XXI, como o respeito por nós e pelos outros, educação, cidadania, princípios e comportamentos em sociedade, dignos de Pessoas que ainda somos, vamos cavando e prolongando um tempo vazio, sem consistência, demasiado descartável.

Como seres humanos, apesar de parecer que andamos por cá há pouco tempo, temos séculos e séculos de presença, de nossos iguais, menos desenvolvidos nuns sentidos e talvez mais, noutros, se bem que em épocas distintas. Com erros e situações também muito positivas e evolutivas, para aqui chegarmos como estamos em alguns aspectos civilizacionais e até de muito progresso.

Mas, como é deselegante, não é “fixe”, hoje, pensar - caiu em desuso “pensar”, - ler, defender Cultura e “isto” são banalidade, não temos memória e obrigam-nos a esquecer a História que não seja no máximo a do mês passado. E vamos vivendo no imediatismo, no superficial, mas onde “parece” ser o que está a dar, o “fixe”.

Algo que por muito que custe a muitos tem imensa influência neste estado a que chegamos é a Justiça. Já Impérios fortes e antigos se derreteram quando a Justiça deixou de funcionar, quando a Justiça caiu na ruína, quando a Justiça deixou de ser tomada com a máxima seriedade, independência e respeito, e estamos outra vez, a viver esses tempos. E não é necessário apontar um único exemplo para isso entendermos, ou até já o termos sentido.

Quantos de nós, nos andamos a tincar, a trucidar, a desconjuntar e a mais desconstruir, iremos desesperada e descaradamente bater na parede, e já esteve mais longe a parede para a qual nos dirigimos em grande velocidade, todos, mesmo os que para tal não tenhamos contribuído activamente.

Não haveria necessidade de sempre ter que baixar, tanto, para depois iniciar a lenta subida. Mas será uma vez mais, está visto esse o percurso, face a este declínio sem paragem!

Augusto Küttner de Magalhães

EFEMÉRIDE - 65 ANOS DO JORNAL DESPORTIVO RECORD



Faz hoje precisamente 65 anos que foi publicado mais propriamente a 26 de Novembro de 1949, o primeiro número do jornal diário desportivo RECORD. Passou, entretanto por várias periodicidades, voltando a publicar-se novamente todos os dias, a partir de 1 de Março de 1995. 
Um dos principais fundadores, deste jornal, foi o antigo atleta campeão de Crosse, Fundo e Meio-fundo, que representou o Sporting Clube de Portugal e Sport Lisboa e Benfica
Foi vendedor de jornais de profissão, de nome Manuel Dias, nascido a 13 de Março de 1904, que foi posteriormente um dos fundadores do jornal RECORD, aproveitando o facto de ter ganho algum dinheiro na lotaria.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Sócrates e os escandalizados

Há por aí muita gente escandalizada pelo facto de Sócrates, finalmente, ter ido parar ao chilindró. Finalmente, porque tanta vez vai a cantarinha à fonte, até que lá deixa a asa. Em relação às outras idas à fonte; Face Oculta, Free Port de Alcochete, Lusófona, Cova da Beira, etc. safou-se sempre. Safou-se, que é como quem diz! Lembram-se das escutas telefónicas oportunamente destruídas?... Escandalizados, como se o ex líder do PS, ex primeiro-ministro e autor dos famoso Pécs percursores das troicas, fosse virgem nestes caldinhos. Portanto, agora trata-se de um mero caso de polícia. Serão os tribunais a julgá-lo. O seu passado e o seu partido que nunca lhe retirou o apoio político, é um caso de política. Os juízes, serão os eleitores.


Francisco Ramalho

Declaração

Eu, José Bernardo Mendes de Carvalho Amaral, portador do BI1602683, cidadão português, em pleno uso de direitos e garantias e de obrigações legais e morais, venho publicamente confessar que me sinto muito envergonhado com tudo de mau que ultimamente tem acontecido nos meandros da política, na banca, em lugares de destaque e no topo da governação do país, em que se tem desvirtuado as  boas práticas de isenção, lisura e honradez moral e cívica, pondo até em risco a soberania da nação lusíada, a caminho de nove séculos de existência.
E mais acrescento, declarando que não concordo de todo com aquelas figuras públicas, ‘cheias de sapiência’, que nos mimoseiam de que ‘política é da política e que justiça é da justiça’, quando não são indissociáveis, pelo que dou um exemplo que agora me ocorreu: o que diriam tais figuras públicas se num hipotético país houvesse apenas um cirurgião, que à noite esfaqueava pessoas para no dia seguinte as operar!

Nota: texto publicado na íntegra pelo PÚBLICO, em 27/11

José Amaral

a detenção de sócrates e a justiça

Ontem José Sócrates foi preventivamente preso , aguardando, por isso, julgamento na cadeia de Évora. Os crimes que lhe são apontados são graves: corrupção, branqueamento de capitais e lavagem de dinheiro. O que me importa, no entanto, destacar aqui não tem a ver com a suposta culpa ou inocência do agora detido. Qualquer um de nós, sendo acusado do que quer que seja, afigura-se como inocente até prova em contrário. É um princípio sagrado de um estado de direito democrático. Acontece que todo o processo relativamete a este caso, desde a detenção na manga do avião, até a este processo mediático de interrogatório, enviabiliza determinantemente a presunção da inocência e até, se formos imparciais, a presunção da competência do juíz de instrução. Vivemos um período conturbado, com forte inclinação para um tipo de justicialismo popular e radical. Os exemplos recentes são, infelizmente, notórios, desde os quatro dias de interrogatório a um suspeito sobre o caso dos vistos gold, até às aparentementes excessivas penas de dezassete anos de prisão a um sucateiro e de cinco anos a outros arguidos do mesmo processo, passando pela estranheza da inevitável mediatização de outras detenções de inúmeras personalidades públicas.
O povo gosta destas coisas. Até que enfim, dizem. Infelizmente, não se percebem que este não é o caminho que leva Portugal para os cumes civilizacionais. Estou triste. Triste porque acho tudo excessivo; triste porque via (e vejo, até prova em contrário) em Sócrates um patriota; triste porque acredito nas pessoas; finalmente, triste porque gostaria de acreditar na justiça do meu país.

SOMOS TODOS CULPADOS?


O País está em choque com a prisão de um ex-Primeiro Ministro, que até há pouco era um dos homens mais poderosos de Portugal. Uma parte dos Portugueses, que nunca nele votaram, nos quais modestamente me incluo, apesar de sentirem que a Justiça funcionou, e que somos todos iguais perante a Lei, ficaram chocados também, porque isto é uma vergonha nacional que nos afectará por muitos anos nas nossas relações internacionais. Não adianta nivelarmo-nos por baixo, invocando que haverá outros casos de delinquência semelhante por essa Europa fora, e que ainda não foram sancionados como nós estamos a fazer. Isto foi mau, muito mau. Outra parte dos portugueses, que nele sempre votou, ou apreciou a sua obra como governante, então estarão devastados, imagino eu. Uns, poucos, sentir-se-ão enganados e reagirão positivamente à medida aplicada pela Justiça, mas a grande maioria, acredito irá criticar a decisão judicial. Vão dizer que a medida de prisão é injusta, e desnecessária, como o seu advogado logo afirmou à partida, outros irão embarcar na habitual cabala do governo contra o seu grande adversário, outros ainda que é uma vingança da justiça, dadas as anteriores investigações frustradas, que sobre José Sócrates (JS) foram feitas. Culpados somos todos um pouco. JS em primeiro lugar, porque terá prevaricado. Em segundo lugar, os que nele votaram ou o apoiaram, contra ventos e marés. Em terceiro lugar, os chamados agentes da Justiça, porque ao longo de vários anos e de "casos" com o nome de JS (desde que ele foi Secretário de Estado) nunca conseguiram sequer interrogá-lo sobre as suspeições levantadas, inclusive por procuradores da República. Em quarto e último lugar, os que, como eu próprio me confesso, não saíram à rua, como fazem os comunistas e a CGTP, manifestando, berrando e protestando contra a passividade da Justiça, não só no caso em apreço, como muitos outros, em que a Justiça não tem sido eficiente nem atempada. Acho por isso, em conclusão, que como Nação, somos todos, uns mais que outros, claro, culpados pela triste situação a que chegámos. Vamos virar a página e começar tudo de novo?

O que mais irá acontecer? Ou vai tudo rebentar? (DN 24.11.2014 – com outro título)


Quando todas as semanas acontece “algo” que desacredita uma “qualquer” instituição, pública ou privada que afecta os interesses de todos nós portugueses, poder-se-á pensar que o País está a entrar num abismo? Que democraticamente será impossível ganharmos rumo? Que “a bem não vamos lá”?

Por certo todos já nos perguntámos se o controle da banca, pago pelos nossos impostos já não deveria ter funcionado muito melhor, no caso dos dois primeiros bancos que “rebentaram” e então neste caso mais recente, ainda muitíssimo melhor. E se hoje, já não deveria haver - em tatos outros casos -  “responsáveis que dessem o exemplo da sua responsabilidade”, quer sendo exemplarmente punidos, quer pagando com tudo o que pudessem os prejuízos que nos estão a causar, ao País, como um todo.

E poderíamos pensar, porque não são devidamente esclarecidos todos e quaisquer casos de suspeitas de fraudes nas autarquias, nas regiões autónomas, e não só, se existiram, ou não, mas havendo certezas, sem dúvidas, quanto ao passado recente?

E fica/ficou tudo aclarado, ou tal como o caso dos submarinos emerge e imerge ao som de qualquer coisa, que nós comum dos portugueses, não conseguimos entender, e nem nos explicam em condições.

E as comissões e mais comissões que são criadas no Parlamento, terão algum efeito práctico? Alguém pode ser responsabilizado através de “algo” que seja apurado, se o for, numa destas Comissões? Ou será mais tempo de antena para tantos e tantos e tantos, e depois fecha-se o dossier, para mais tarde outro ser aberto, e assim sucessivamente.

Nestes anos, últimos, talvez 20, já tivemos conhecimento de alguém que tenha causado sérios danos públicos que tenha ressarcido o Estado, do que fez? Alguém pagou? O quê? Quanto? Quando? Como?

Não será de nos perguntarmos, que mais terá que acontecer, para de facto sentirmos que em democracia conseguimos viver, mas sem privilégios de uns poucos perante a maioria, qual ditadura?

E tudo teria que ser transparente, tudo teria que nos ser explicado ao detalhe, dado que estamos em total descrédito quanto a “tanta coisa”, neste nosso País. E o País é nosso, não é dos políticos sejam eles de esquerda, direita, ou centro. E ninguém tomou “possessão” mesmo em democracia, do País.

E ninguém pode achar que é alternativa, ao que parece já não ter conserto, quando se seguem caminhos que não são límpidos, compreensíveis, e quando andam sempre os mesmos de todos os lados, tal como os submarinos a emergir e imergir, conforme uns caem, outros se levantam, de todos os lados.

Parece que se perdeu o respeito pela população, pelo país, e que vale tudo, e uns quantos podem fazer tudo com toda a naturalidade, que a maioria – nós população - aguente, e aguenta. Não aguenta, não pode aguentar até ao precipício, sem um vislumbre de ar renomado, dado que se está a achegar ao ponto que não há em quem se possa sequer acreditar, e chegados a este ponto, tudo pode acontecer. Logo, tudo podendo acontecer,  é muitíssimo triste e ainda mais grave.

Augusto Küttner de Magalhães

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

TEM SIDO UM OUTONO MUITO CHUVOSO

E húmido.

As alterações climatéricas nas últimas décadas habituaram a um clima mais ameno, apesar de um que outro pico tempestuoso inesperado.

Antes as estações estavam no sítio – tudo tinha um sítio - a época certa para cada uma, e na sua época todos sabiam com antecedência as manifestações de tempo que iriam acontecer, facilitando em muito as arrumações dos roupeiros.

Era uma monotonia,  porque sempre previsível, mas era assim.

Ultimamente com as mudanças bruscas, ficou-se sem saber o que vestir, no entanto as pessoas nem se queixaram, pelo contrário, têm andado muito mais felizes dada a já referida complacência dos calores, dos dias mais solarengos, puxando a sair de casa e flanar por aí.

E a felicidade rondaria não fora o facto dos fenómenos inesperados, que alteraram na última década o nosso microclima.

Este ano então -  as condições têm-se agravado e muito – está a ser um verdadeiro vendaval de temperaturas amenas, uma enxurrada de episódios sem anúncio prévio nem controlo.

De tal forma que já não se confia na proteção das telhas dos telhados, ou pelo menos dos telhados de alguns.

A chuva e a humidade das águas em catadupa, assenhoram-se dos corpos e deixam as pessoas indispostas, desarmadas pelo achaques nos ossos e nas articulações que tolhem os movimentos e a sua plasticidade.

Baralham-se as ideias, fica-se sorumbático e triste: sem acção ou reacção.

Um tempo assim não é nada bom,  dizem que vai continuar  por todo o inverno, sem garantias de Primavera ou um verão quente e escaldante.

Quando chegar o próximo Outono logo se verá se volta a vontade de sair à rua, se o reumático deixa pegar na caneta como deve ser, e escrever como é devido.

Caso as condições adversas se mantenham, ficará muito papel em branco, desperdiçado inutilmente.


O que seria uma pena.

Quem é que tem vivido acima das suas possibilidades? E quem é que tem 'pago as favas ao dono'?


Respondendo às questões acima epigrafadas, abaixo vamos sucintamente responder, começando pela primeira.
Assim, conforme um estudo do Centro de Estudos Sociais – CES –  da Universidade de Coimbra, os custo intermédios, vulgo ‘gorduras do Estado’, cresceram mil milhões de euros, tendo em conta as previsões do orçamento para 2015.
Também soubemos que o orçamento para 2012 para manter em funcionamento a ‘frugal’ AR teve um desvio para mais de 680 mil euros, para, em 2013, tal desvio orçamental ter sido escandalosamente de dez vezes mais do que o descalabro anterior, atingindo o montante de 6,1 milhões de euros.
Também soubemos que, por ano, os antigos chefes de Estado, que agora ainda são três, custam ao país a ‘módica’ quantia de um milhão de euros.
Também acabamos de saber de mais uma tentativa de reactivação das famigeradas subvenções vitalícias a ex-políticos, perpetrada pelos compadres PSD – PS.
Também sabemos dos sangramentos financeiros e monetários de milhões e milhões engendrados criminosamente na Banca, nomeadamente no BPP, no BPN e recentemente no BES.
Agora, respondendo à segunda questão que é – ‘E quem é que tem ‘pago as favas ao dono’? -,  todos sabemos que temos sido todos nós, vulgares cidadãos, pequenos empresários, trabalhadores no activo, reformados, desempregados, emigrantes, cidadãos sem futuro e sem nada, numa brutal deriva, entregues ao seu destino e à madrasta da vida, engendrados pelas mentes e pelas más acções das personagens e entidades da primeira questão, que temos pago como língua de palmo todo o mal que nos causaram, para depois, candidamente, tais vampiros acusarem que foi o povo que viveu acima das suas possibilidades.

José Amaral


Lisboa é turismo... o resto é paisagem




Portugueses e estrangeiros dispensam bem mais impostos, mesmo que lhes chamem taxas. Pelo que naturalmente não é de apoiar a taxa turística que António Costa pretende criar em Lisboa (1€ por desembarcar + 1€ por dormir).
Mas a grande insensibilidade é o conceito centralista que continua a persistir, de que Lisboa é o turismo… o resto é paisagem.

Não se percebe que alguém que vá para Sintra, Cascais, Coimbra, Santarém, Setúbal, Évora, etc., tenha que pagar um euro à câmara municipal de Lisboa, só porque a infraestrutura nacional utilizada (aeroporto e porto) ali se encontra situada.

Também é contraditório, o facto de tal taxa não se aplicar a quem opte por transporte rodoviário ou ferroviário, bem como na dormida, ser igual ir para hotel de 5 estrelas ou uma pensão.

IVA de 23% e taxa de aeroporto em crescendo (agravada com privatização da ANA), já preocupam seriamente o sector turístico.


No entanto, não será descabido que para infra-estruturas, os municípios possam beneficiar de parte dos impostos que o Estado já arrecada com o turismo, nomeadamente com uma parte do IVA gerado na respectiva área geográfica, embora introduzindo factores que corrijam o desequilíbrio provocado por centralismo e desertificação do interior.

Labirinto(s)

Depois da Operação Labirinto a descredibilização da classe politica vigente, no nosso país, deverá crescer imensuravelmente. Como um mal nunca vem só, e como os acontecimentos se atropelam, a detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates veio, certamente, preocupar os que estavam mais otimistas. Este ciclo de detenções, que não tem precedentes, provoca uma situação invulgar na classe política de que não há memória na nossa democracia. Contudo, não nos devemos intimidar pelo turbilhar dos acontecimentos. Depois da tempestade vem a bonança.

Público 24.11.2014


 

Subvenções vitalícias aos ex-políticos!

 

Só terem pensado na ideia e ter sido expressa pública e publicadamente de voltarem a ser repostas as subvenções vitalícias aos ex-políticos, fez arrepiar todo o país que não foi, não é, e espera nunca ser “político”.

E isto pela simples razão de que todos nós, “não-políticos”, estamos a sofrer na pele cortes em tudo, a começar pela decadência do país, e se podemos ser culpados por “passividade” excessiva, nunca o seremos por actividade demasiada, dado “isso” competir a todos os políticos que por lá andam, andaram e se calhar, se nada mudar, andarão.

E não há que ter medo de dizer que só a ideia de “isto” ser possível acontecer, esta reposição acontecer, deveria fazer corar todo e qualquer político. Mais que não fosse, por continuarem a não entender qual é a sua função, e como a não estão a cumprir.

Não estão, por o país ir de mal a pior, a cada dia que passa. Não estão, por não terem conseguido/ sabido passar uma imagem de credibilidade das políticas e dos próprios políticos. Não estão, por não terem dado, nunca, justificações exactas, em tempo certo, do que se estava a passar, de facto, com o nosso país, e por terem, sempre ou quase, usado a táctica de nunca, nunca assumirem culpas próprias, de as atirarem preferencialmente para todos os outros políticos. (...)

De facto, enquanto assim quiserem continuar, o país não se vai levantar, não vamos melhorar, não vamos “dar a volta por cima”, e a cada dia vamos menos acreditar em política e em políticos. (...)

 

Augusto Küttner de Magalhães,

Porto

domingo, 23 de novembro de 2014

a detenção de sócrates

Não há, de facto, nesta altura (nem em outra, presumo), muito a dizer sobre a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates. Somente se deve constatar a presunção: da inocência, de um lado; da competência e imparcialidade, do outro. Daí que o modus operandi da polícia, ao deter Sócrates à saída do avião, me seja tenuemente indiferente. Mas o mesmo já não posso afirmar relativamente aos jornais e comentadores de algumas televisões. Sócrates está a ser vítima, neste aspeto, de um linchamento público inadmissível e deplorável num país que se julga civilizado. Porém, o mal não reside nas patetices destes senhores e destas senhoras, coitados. Onde se encontra o enviesamento noticioso é quem supostamente deveria tutelar, deontologicamente, esta gente. Falo, por exemplo, na ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Neste caso, a designação diz tudo: ou é reguladora ou não é. Tem é que se definir.

Labirinto dos labirintos


Este fim-de-semana ficou marcado pela detenção do concidadão José Sócrates, que fora primeiro-ministro de Portugal, anterior ao actual Pedro Passos Coelho.
E o inédito de tal detenção foi ser à chegada do visado ao Aeroporto da Portela, não esperando, as autoridades, pela sua chegada à sua residência, em Lisboa, pelo que se infere que a fuga era, parece-me, quase nula. Assim, a ‘bomba’ teve mais destaque e deslumbramento em toda a sua explosão noticiosa.
E, para regalo premonitório de quem gosta de ler algo que venha a propósito, dei comigo a ler o texto Labirinto com que me/nos brindou Ana Bacalhau em 23/11 na revista dominical comum aos DN/JN.
Fala-nos de um dos seus contos favoritos – A Ovelha Negra, de Ítalo Calvino –, em que todos os habitantes de um país saíam à noite para roubar, até que um dia tal cadeia de roubar oficialmente, pois o Governo também fazia o mesmo, foi quebrada, porque apareceu um homem honesto e honrado que não saía para roubar.
A partir daí, todas as noites, havia alguém que ficava a perder. E, assim, sucedendo, as assimetrias foram crescendo: começaram uns a ficar mais ricos que outros. E tudo por causa do honesto cidadão que, talvez com um ‘visto de latão’ começou a encravar o processo instituído: a corrupção e o poder dos ricos sobre os pobres.
Isto é, a virtude e honradez até podem ser mutiladoras e destruidoras de sistemas políticos, a menos que só nos reste um país de ladrões para vivermos.

NOTA: texto publicado na integra pelo PÚBLICO, em 25/11

José Amaral