terça-feira, 3 de outubro de 2023

 QUE SERÁ PRECISO MAIS?


Tenho andado para escrever sobre as consequências do dilúvio que se abateu sobre a Líbia, ampliadas pelo outro dilúvio de metralha com que os senhores da guerra, os “senhores” que se armam em moralistas do mundo, que já a tinham destruído. Ainda não o fiz porque a atualidade regional e nacional se tem imposto, mas hei-de fazê-lo.

Hoje referimos alguns tristes e relevantes acontecimentos mais ou menos recentes, ocorridos cá pelo Burgo. Quem esteve minimamente atento aos noticiários do penúltimo fim-de-semana, deve ter notado o que aconteceu nas urgências dos serviços de neonatologia, vulgo maternidades, dos principais hospitais da grande Lisboa. Se estão lembrados, no Beatriz Ângelo em Loures, no Garcia de Orta em Almada e no de Santa Maria em Lisboa (este por motivo de obras), esses serviços estiveram fechados. Nestas unidades do Serviço Nacional de Saúde, apenas houve possibilidade de atendimento a grávidas em trabalhos de parto ou consultas da especialidade, no Hospital São Francisco Xavier. Que, evidentemente, não chegou para as encomendas.

A par da situação, por motivos óbvios, imagine-se a aflição das senhoras na iminência de dar à luz e respetivas famílias. Nomeadamente, as menos abonadas para recorrerem aos privados.

Outro triste facto que também não deixa nada bem na fotografia os governantes a nível do poder central, mas também muitos do local e mais ou menos todos nós, é o número crescente de acidentes rodoviários provocados por animais selvagens, sobretudo javalis, e ainda mais, mais do dobro, pelos domésticos; cães e gatos.

Segundo o Jornal de Notícias de 25/9, dados da GNR, nos últimos quatro anos, aconteceram mais de 11mil desses acidentes de que resultaram dois mortos, 15 feridos graves e centenas de ligeiros. Só o ano passado, registaram-se 3157. Mas no primeiro semestre deste ano, já se verificaram 1418, quase metade de 2022.

Em declarações ao JN, a provedora do animal, Laurentina Pedroso, disse o óbvio. Disse que tem aumentado progressivamente o abandono destes nossos tão afetuosos companheiros e que depois a superlotação dos centros de recolha e das associações de animais, implica uma maior probabilidade dos animais não serem recolhidos. O que conduz a reproduções indesejadas e à proliferação.

Quanto aos javalis, é o controlo da espécie que não é feito e tem a ver também com o abandono das terras, do interior. Em relação ao abandono de cães e gatos, as dificuldades económicas para alimentação e cuidados veterinários, terão importância. Mas deve-se sobretudo à irresponsabilidade, à crueldade e à impunidade.

Conclusão, nesta matéria, como noutras, o poder central mas também o local, refletem a prática da grande maioria, do povo: há uma minoria que protege os animais, que os trata como devem e merecem, há outra minoria que os maltrata, e a grande maioria que se está nas tintas, que lhe é indiferente. Uma tristeza que nos deveria envergonhar a todos.

Que será preciso mais, para que haja decência e as coisas mudem?

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE


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