quarta-feira, 29 de novembro de 2023

De milagres está o inferno cheio

Não é este o texto que eu gostaria de escrever. Nos tempos que correm, olho para o mundo e sinto-o tão irresponsável e criminoso como nunca. Como escreveu Pacheco Pereira aqui no PÚBLICO, em 04.11.2023, “de pouco valem as palavras”, pelo que “a tentação de ficar calado é grande”. Não basta já de guerras e dos seus mandantes? Preferiria espraiar-me sobre a afirmação de Paul Krugman de que “Portugal é uma espécie de milagre económico”. O problema é que se o Prémio Nobel só compreende a nossa realidade económica com recurso à mistificação sobrenatural, eu não vejo onde é que está o “milagre”. Admito que lhe era impossível conhecer o artigo da jornalista Patrícia Carvalho, que nos divulgou, na edição do passado dia 28 do PÚBLICO, o “Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, 2018-2023”, do Instituto Nacional de Estatística. Se o conhecesse, Krugman, inteirando-se de que “a taxa de risco de pobreza em Portugal voltou a subir”, “o peso das transferências do Estado desceu”, e as “desigualdades aumentaram”, talvez compreendesse, à luz da ciência terrena, com que “boas intenções” se conseguem os resultados que tanto o impressionaram. Para não sair do panorama devoto, oxalá todos os “santinhos” nos livrem da areia que prestidigitadores como Milei e Wilders eficazmente lançaram para os olhos dos seus eleitores. É que também temos por cá “mágicos” desses, mas os objectivos deles só são compatíveis com o agravamento dos problemas que se comprometem a resolver. Público - 30.11.2023

1 comentário:

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