Crónica de um dia de verão – I
Sabemos e soubemos que muitos casais trocam de parceiro em
busca da ‘arca perdida’, para, no fim, ser a perda total, uma vez que a vida de
entre eles não voltará a ser igual, dado que ninguém confiará em ninguém, pois
nada é verdadeiro, uma vez que não é com sofismas que se alicerça algo mais
positivo e sólido, mas, isso sim, com a degradação total do ser enquanto se
considerar humano, pois, assim, só a besta chegará.
Entretanto, soubemos também que mais uma vez a mama pública
vai dar de mamar ao ensino privado, no montante astronómico de 53 milhões de
euros.
E o que dizem as forças políticas opositoras acerca deste
regabofe?
Eu também gostaria de ser comensal diário do Restaurante
Tavares Rico, todavia, quando como fora, vou à tasca do lado que me faz muito
mais barato e não obrigo os meus vizinhos a pagarem-me outros luxos.
Irra, que já estou com corrosivos refluxos gástricos, por
causa destes e de outros descaramentos que vou sabendo e alimentando.
Crónica de um dia de verão – II
Dei comigo a pensar – mais uma vez – em que esta nossa
sociedade se tornou: uma sociedade de desenfreado consumo, com desejos poucos
saudáveis e desperdícios que raiam um crime humanitário e planetário.
Dizem-nos que nesta sociedade se passa fome – e passa –, mas
não são aquelas criaturas que aparecem em ‘manifestações espontâneas’, às horas
dos telejornais, que de tal desgraça padecem.
Há sim fome naquela pobreza envergonhada que não tem
holofotes televisivos, nem filantropos bastantes para extinguir tal flagelo.
Num antigamente muito recente, a fome era tanta, que até
essa maldita fome se alimentava do pouco colesterol e das banhas das poucas
barrigas com pneu. Era quase tudo pele e osso.
Hoje em dia, o desperdício pecaminoso dava para manter mais
bocas carentes de pão do que nesses idos tempos. Todavia, muita
subsidiodependência olha para tal como um direito adquirido negativista,
enquanto os maus políticos jogam com esse pau de dois bicos, uma vez que cada
voto popular vale 3,5 euros.
É pois na ambiguidade e na ignorância que está o ganho para
os políticos, e a desgraça colectiva para aqueles que neles acreditam e votam.
Crónica de um dia de verão – III
Dizem os doutores, os sábios e outros senhores que a Terra,
que nos foi entregue de mão beijada para a habitarmos até ao fim das nossas
materiais vidas, está a chegar ao fim dos tempos, preste a ‘dar o corpo ao
manifesto’.
E, de facto, parece que assim é: os desmandos do homem
contra a Natureza têm sido por de mais nas últimas décadas.
Agora, quer ‘dar o salto’ até ao ‘planeta gémeo’ que ora
descobriu – o Kepler.
Mas, como lá chegar? As uvas não estarão ainda verdes, como
na fábula da manhosa raposa?
É de ‘arrebimba o
malho’
Os programas
televisivos
De cariz popular
São momentos festivos
Para o povo se
alegrar.
São ‘O Verão Total’
E o ‘Portugal em
Festa’,
Com ‘Somos Portugal’,
Outro qualquer não
presta.
É música d’arrebimba
o malho’
E mais pimbalhadas
mil,
Como ‘O bacalhau quer
alho’,
Tudo rimas do baril.
E as chamadas
telefónicas
Dos sessenta cêntimos
mais Iva?
São ligações
antagónicas
De múltipla
tentativa,
De ao povinho tudo
sacar,
Com os mesmos
sempr’engordar.
José Amaral