quinta-feira, 28 de março de 2024

GANHAR NA SECRETARIA

No rescaldo das eleições há uma miríade de perspectivas pelas quais se podem analisar. E se podemos unanimemente dizer que o Chega teve um grande resultado eleitoral, o CDS fez….um grande negócio!! Para o que concorreu uma conjuntura a que foi completamente alheio que voltou a por na AR um partido destinado a irrelevância política. Isto porque o PSD entendeu ressuscitar a AD e para isso era necessário recuperar o triunvirato onde se incluía o CDS e o PPM. Chama-se a isto ganhar na secretaria, bastou assinar um papel para arranjar um grupo parlamentar e, quiçá, um lugar no próximo governo da República. Grande jogada. E convocaram os jornalistas para irem ao gabinete esconso que lhes calhou no edifício da AR afixar a placa do partido que tão zelosamente tinham guardado neste período  em que não fizeram falta nenhuma ao País. E tiveram o desplante de vir dizer que fizeram imensa falta à AD nesta vitória de Pirro. E que se tratou de um interregno sem exemplo passado ou futuro. A ver vamos.

 

quarta-feira, 27 de março de 2024

A criação renega o criador

 v

INCORRIGÍVEL

 (Génesis 6.6)

 

Deus já lamentava ter feito o homem

Que não saíu à sua semelhança

Recusando-se a ser sua ordenança

Não se acomodando a cumprir ordem.

 

Na sua tendência para a desordem

Tratava o criador com arrogância

Trocando-o por deuses de circunstância

Com cultos que ainha hoje o consomem.

 

E Deus afogou tudo num dilúvio

Mandando Noé fazer um refúgio

Para recomeçar tudo de novo;

 

Mas não saindo bem a encomenda

Viu a humanidade sem emenda

Mais rude a ingratidão do seu povo...

 

Amândio G. Martins

 

 

terça-feira, 26 de março de 2024

repressão do governo da AD no 1.º de Maio de 1982

 


Em 1982 foi derrotada a tentativa, brutal e sangrenta do governo/AD de retirar a baixa da cidade do Porto (Praça da Liberdade, Av. dos Aliados, Praça General Humberto Delgado) aos trabalhadores nas comemorações do 1.º de Maio. Verificou-se uma madrugada sangrenta com 2 trabalhadores mortos pela polícia e centenas de feridos. Na tarde do 1.º de Maio, mais de 100 mil trabalhadores estiveram na baixa da cidade do Porto e participaram na jornada de luta do 1.º de Maio.

Em 1982, o governo era da AD(PSD/CDS), com maioria absoluta na Assembleia da República, o 1.º Ministro era Pinto Balsemão, o Ministro da Administração Interna era Ângelo Correia, mais directamente responsável pela repressão e carga policial sobre os trabalhadores no 1.º de Maio. Marcelo Rebelo de Sousa foi o Ministro dos Assuntos Parlamentares.

Em 12 de Fevereiro de 1982, realizou-se a primeira greve geral depois do 25 de Abril, tendo como objectivo «por uma nova política, uma só solução, AD fora do governo», verificando-se uma participação de cerca de 1 milhão e 400 mil trabalhadores. Contra a violenta acção repressiva governamental no 1.º de Maio no Porto, foi realizada uma greve geral a 11 de Maio, exigindo a imediata demissão do governo. Em Dezembro de 1982, o 1.º Ministro Pinto Balsemão, apresentaria a sua demissão, realizando-se eleições legislativas em Abril de 1983.

 

A CEREJA NO TOPO DA DESGRAÇA


50 anos anos depois de Abril, e um partido de extrema direita, praticamente unipessoal, elege 50 deputados. Os últimos dois, num total de quatro, provenientes da emigração. Foi a cereja no topo da desgraça.

É conhecida a aversão destes partidos xenófobos, aos emigrantes. Aliás, um excelente exemplo, é o deputado que foi eleito por este partido pelo circulo da Europa. Emigrante em França há muitos anos, tendo sido expulso por ilegalidade, mas voltou até que regularizou essa situação. Se a lei naquele país fosse igual ao que o partido em foi eleito propõe, só lá poderia regressar passados 5 anos.

Portanto, mais esta contradição, esta ignorância, este analfabetismo político. Um país de onde partiram (e partem) milhões de filhos seus na demanda de melhores condições de vida ou até fugindo à opressão da ditadura. Agora repudiam os que pelas mesmas razões nos seus países, procuram o nosso à busca do seu pão e que para além contribuierem para a nossa economia, contribuem também para o sistema da Segurança Social.

A grande maioria dos emigrantes que demandam o nosso país e muitos outros da Europa, vêm de outros que a mesma Europa e a América, exploram. Extraindo combustíveis, minérios, madeiras e diversos produtos agrícolas, a preços que eles próprios estabelecem, estando-se nas tintas para os desenvolverem em benefício dos seus habitantes. E se não for assim, pela força das armas colocam ou tentam colocar lá governos que sirvam os seus interesses. Daí as guerras que proliferam principalmente em África e na Ásia, provocando a fome e milhões de refugiados. Tantos deles, como sabemos, encontrando a morte no Mediterrâneo, nas costas de África ou nos desertos.

Portanto, é uma tristeza vermos os nossos emigrantes votarem maciçamente num partido que tanto hostiliza quem procura pão e paz e que contribui para o nosso desenvolvimento e da restante Europa.

Guerra Junqueiro definia-nos como “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio”.Mas também dizia, na sua obra “Pátria” de 1896 (1ª edição), “...um povo enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.”

Tantos de nós, mudámos alguma coisa? Emigrantes e não só.

50 anos depois do 25 de Abril de 1974, estamos a retroceder. Estamos a fazer coisas que, ao contrário de outras que fizemos, nada nos engrandecem, nem contribuem para termos um país mais justo de que nos orgulhemos e que seja um exemplo para o mundo. Mas nós somos assim. Capazes do pior e do melhor. Já nos fizemos ao mar em “cascas de nozes” e demos novos mundo ao mundo, corremos com quem ocupou a nossa Pátria, os castelhanos, levantámo-nos por outro povo, o de Timor, fizemos 0 25 de Abril, e havemos de fazer outras coisas nobres. Distribuir melhor o que podemos produzir, evitando assim que continuemos a ser um país de emigrantes e contribuirmos para a paz no mundo, como prevê a nossa Constituição.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal O SETULALENSE


segunda-feira, 25 de março de 2024

 

MATARAM O PIANISTA


Mataram o pianista, só porque ele era suspeito. Usava barba grande, era amigo de Vinicius de Morais, Caetano Veloso, Gilberto Gil, José Gilberto, Paulo Moura e de outros monstros sagrados da Música Popular Brasileira (MPB), dos criadores da Bossa Nova.

Prenderam-no, interrogaram-no, torturam-no. E mesmo sabendo que não tinha qualquer ligação com a política do seu país, Brasil, muito menos com a da Argentina, mas como depois iria contar os métodos dos esbirros de Videla, da tenebrosa Escola de Mecânica da Armada (ESMA), para onde o levaram. Depois de o torturarem, deram-lhe um tiro na cabeça, meteram-no num saco e atiraram-no ao mar e passou a ser mais um DESAPARECIDO, como muitos milhares de vítimas da cruel ditadura Argentina.

Era um brilhantíssimo jovem pianista. Uma das maiores promessas da música brasileira.

O Governo do seu país foi informado, mas não levantou qualquer problema. Vigorava lá também outra ditadura. Como no Chile, no Uruguai, no Paraguai, nas Onduras, na Nicarágua e noutros países da América Latina. Todas apoiadas sabem por quem? Isso mesmo! Pelos que a consideravam como o seu quintal das traseiras. Os que estão por detrás ou mesmo às claras de quase todas as guerras. Os que têm apoiado o genocídio em Gaza, na Palestina. Os “amigos” da Ucrânia.

O Pianista chamava-se Tenório Júnior. E, tal como eu, podem ver tudo isto através do filme com o mesmo nome que está aí em exibição nos cinemas.

Já tinha dado origem a um livro escrito por um grande jornalista e melómano norte-americano, Jeff Goldblum. Evidentemente, como em todo o lado, também lá há boa gente.

Francisco Ramalho



sexta-feira, 22 de março de 2024

Ajuste de contas com a Democracia

 

Foi o que disse o chefe dos cinquenta pro-nazis que vão passar a conspurcar ainda com mais ruído o Parlamento português, honra lhe seja feita, que não engana ninguém quanto aos seus desígnios de “limpeza” de Portugal; de facto, como também tinha dito, num comício de campanha, uma tal Rita Matias, eles são superiores em tudo, pelo que a imensa massa de inferiores que constitui a população portuguesa que se cuide, a começar pelos plumitivos que, desde o início, sempre relativizaram o seu linguajar arruaceiro, porque Imprensa livre e liberdade de opinião só para os que tiverem a mesma que eles.

Isto porque, quando aquele “elemento” afirma, numa entrevista à RTP, que o crescimento do seu partido, somando cinquenta assentos no Parlamento, justamente nos cinquenta anos do 25-A, é um ajuste de contas com a história está a dizer, à cidade e ao mundo, que vão a passos largos a caminho de repor o anterior regime; enquanto isto, aqueles que já se arrogaram a condição de “muralha de aço” da revolução democrática caminham avante para o fundo do poço, sem se vislumbrar ali uma cabeça que diga alguma coisa que faça sentido, não conseguindo nada mais construtivo que ameaçar com uma “moção de censura”, sem a mínima noção do ridículo, algo que ainda nem sequer existe, quando o que vai ser preciso é que as forças a quem a democracia diz tudo, se realmente querem defendê-la, façam menos disparates...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

quarta-feira, 20 de março de 2024

O voto dos emigrantes é de 2ª categoria

«Este país é um desatino, tá tudo grosso, tá tudo fino», cantava a notável actriz, Ivone Silva. A governança está «bipolar(!)»: O presidente da República ouviu os partidos para indigitar o primeiro-ministro sem se saber o resultado dos votos da diáspora - Europa e o resto do Mundo. Estes votos são de 2ª categoria. O secretário-geral do PS, logo após o resultado nacional, autoproclama-se chefe da oposição e o cabeça de lista da AD considera-se primeiro-ministro, tudo isto com o beneplácito de Marcelo(!). Mais uma vez é passado um atestado de menoridade mental ao povo, que só interessa para os respaldar no poder. Urge respeitar os nossos emigrantes, heróis, que tiveram de procurar o pão no estrangeiro, porque neste sistema capitalista não o obtiveram. Aqueles deixam nos bancos milhões de euros, como convém.... Haja respeito!

Perigo escondido com rabo de fora


Conturbado como anda, cá dentro como lá fora, este nosso mundo favorece a cultura dos comentadores, que nascem como cogumelos nas estufas das televisões. Não será de admirar que esta proliferação propicie concomitantemente uma outra cultura, a do disparate e da incoerência. São já vários analistas que tenho presenciado a defender, durante o mesmo discurso, às vezes em frases quase consecutivas, ideias que, tomadas individualmente, apenas revelam uma inclinação perfeitamente legítima. Se proferidas no mesmo contexto, perturbam o meu entendimento. É o caso, por exemplo, da incontornável guerra da Ucrânia, apreciada sob diversos ângulos, e a partir de pontos de vista predeterminados, envolvendo, por vezes, processos de intenção como aquele que é frequentemente apontado a Putin no que toca aos seus intuitos expansionistas. Como conjugar a ideia de que o ditador das estepes planeie avançar militarmente por essa Europa adentro quando, imediatamente antes ou depois, se desvaloriza o potencial militar da Federação Russa, considerando que, em plena Ucrânia, não consegue progredir e, mais, que se encontra nos limites do seu poderio? Alguma coisa vai mal em certas estruturas mentais, ou então, sob interesses pouco claros, querem apenas moldar-nos o pensamento.


terça-feira, 19 de março de 2024

 

O 25 DE ABRIL NÃO MERECE ISTO


O resultado destas eleições é uma afronta ao 25 de Abril. Este acontecimento maior da nossa história recente, foi conseguido à custa de muito sofrimento e de muita heroicidade de milhares de portugueses e portuguesas. Foram 48 anos de perseguições, prisões, torturas atrozes, humilhações e de mortes. Culminando gloriosamente, com o golpe dos Capitães de abril. O Movimento das Forças Armadas (MFA).

Sabemos que o resultado do partido da extrema direita, contrário aos ideais do 25 de Abril, supomos, ninguém previa de tal dimensão, é fruto principalmente do descontentamento, da crescente desilusão, com as políticas dos governos do PSD e dos mais recentes do PS. Aliás, o crescimento dos partidos congéneres por essa Europa fora e não só, o principal motivo , é o mesmo. A desilusão com os partidos do centrão, ditos socialistas, social democratas ou democratas cristãos, subordinados ao grande capital. Mas depois a resposta, no nosso caso concreto que evidentemente é o que conhecemos melhor, fruto da manipulação dos principais media e da ignorância, foi a pior possível. O partido que se diz contra o sistema mas cujo líder é filho dele (ex militante do PSD), agrava-o e torna-o ainda mais injusto ao subir de 12 para 48 deputados enquanto o principal partido (coligação) da oposição, passa de 6 para 4.

Além disso, os mais de 1 milhão tinham ainda outras hipóteses; o BE, o PAN, o Livre, ou até a abstenção. Mas não, votaram contra eles próprios, contra o povo. Queriam muito justamente melhores condições de vida e estabilidade, vão, vamos, ter ainda mais injustiças e instabilidade.

Claro que as condições para termos uma sociedade bem mais justa, estão agora mais difíceis, mas os democratas, as forças progressistas, não vão cruzar os braços e a luta vai continuar.

As comemorações do 50º aniversário do 25 de Abrir e do próximo 1º de Maio, irão demonstrar que os trabalhadores e o povo em geral, estão com os ideais progressistas daquela data libertadora.

Um passo atrás, não significa que o caminho do futuro seja adiado. Viemos da escravatura, passámos ao feudalismo, e o capitalismo também será ultrapassado, rumo ao socialismo. O autêntico. Não o que os partidos com essa designação, socialistas ou trabalhistas, têm feito. Daí a desilusão dos povos e o aparecimento oportunista de partidos populistas, xenófobos e racistas com o Chega.

Só o esclarecimento e a luta determinarão esse futuro. Muitos dos que votaram agora erradamente, que foram atrás do canto de sereia, juntar-se-ão aos que continuam a bater-se por ele.

O futuro será de mais justiça social e de paz. Os ideais do 25 de Abril, cumprir-se-ão.

Que outro caminho nos aponta a dignidade, a justiça social e a paz?

A unidade e a força do povo sempre foram e continuarão a ser o motor da história. O progresso, a história da libertação dos povos, tem avanços e recuos. Pode ser lento, mas é irreversível.

Como disse Ary, “Ninguém mais cerra as portas que Abril abriu.”

Nada de desânimos.

A luta continua!

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal O Setubalense



Marcelo, um presidente de fação

«Serei o presidente de todos os portugueses», disse o presidente da República após ter vencido as duas eleições. Nunca foi nem é. Durante o primeiro mandato pareceu um malabarista/contorcionista dando uma no cravo e outra na ferradura, já que, o governo do PS, apesar de contrário à sua cor política, estava a roubar o programa político do seu, PSD. Esperou sempre uma oportunidade para entregar o poder à direita. Fê-lo com competência e até se substituiu à sua fação como oposição, muitas vezes. Teve dois pesos e duas medidas para o mesmo problema. Cá dissolveu a Assembleia da República, em nome do «Povo é quem mais ordena», (na prática não manda nada!), dizendo que era para «clarificar» e para «estabilizar»... a estabilização é para os seus correligionários e para os interesses económicos, que representam. Na Madeira, uma situação idêntica, porque o presidente do governo regional da Madeira é PSD, fez vista grossa. Na ânsia de colocar o seu PSD, no poder abriu portas à extrema-direita, ficando ligado ao avanço do Chega fascista! A História não o absolverá!

segunda-feira, 18 de março de 2024

GOVERNO DO PS COM MAIORIA ABSOLUTA


 A partir de Março de 2005, tivemos o primeiro governo do PS chefiado por José Sócrates, com maioria absoluta na Assembleia da República, com 121 deputados, que cumpriria a legislatura até 2009. O Ministro dos Negócios Estrangeiros era Freitas do Amaral, fundador do CDS. O Ministro do Trabalho foi Vieira da Silva, que desenvolveu favoravelmente ao patronato, nomeadamente com a introdução da caducidade na contratação colectiva, o código do trabalho criado em 2003 por Bagão Félix, ministro do governo do PSD/CDS. De Janeiro a Junho de 2005 venderam-se 1600 carros descapotáveis, mais 10% do que no mesmo período de 2004. A nível internacional, morreu o Papa João Paulo II e o projecto de constituição europeia é rejeitado em referendo na Holanda.

sábado, 16 de março de 2024

Maravilhas do Lima

 

 

AVENIDA DOS PLÁTANOS

 

Não tem carros este belo “boulevard”

A que dá mais encanto o rio Lima

Com canoas abaixo e acima

Deslizando com atletas a treinar.

 

Quem há por aí que possa não gostar

Desta luxuriante maravilha

Local de repouso da nossa vila

Para quem queira a beleza desfrutar...

 

E mesmo que lhe ponham outros nomes

Este que lhe ficou pelos costumes

É o que define o que a gente sente;

 

Avenida dos Plátanos se mantém

E se alguém disser que não lhe fica bem

É só para contrariar a gente...

 

Amândio G. Martins

 

sexta-feira, 15 de março de 2024

Paulo Rangel e o "bota-abaixo

 

Vi respigos de uma entrevista do histriónico Rangel à RTP, no dia seguinte à mesma ter acontecido, e não me surpreendeu nada a desfaçatez do sujeito, quando se referiu ao próximo líder da Oposição, dizendo que esperava de Pedro Nuno Santos que não enveredasse por um processo de bota-abaixo; na verdade, eu também concordo com esse princípio, que um líder da Oposição, até para ganhar o respeito da gente, deve cumprir a sua função com responsabilidade, apoiando o que estiver bem e denunciando e propondo soluções no que lhe pareça contrário ao bem-estar geral, só que não foi nada disso que o partido de Rangel fez com os governos de António Costa, classificando abaixo de zero o que foi um trabalho notável, se for tido em conta o  complexo contexto em que governou.

 

De facto, tamanha era a fome de poder, que toda e qualquer notícia, por mais especulativa que aparentasse ser, se lhes pudesse dar  alguns argumentos para atacar o governo, era logo cavalgada por Rangel, toda a liderança e deputados, para pedir a demissão imediata da figura apontada como alvo de investigação - ignorando os seus próprios telhados de vidro -  sem dar tempo para a pessoa se defender, nem esperar para ver se haveria ou não motivos para tal; mas agora, embora nunca o tenham sido, já apelam a uma oposição responsável, sabendo que terão de trabalhar, se conseguirem formar governo, em cima de um braseiro permanente...

 

Amândio G. Martins

quinta-feira, 14 de março de 2024

Viva a justíssima greve das(os) Jornalistas

Felisbela Lopes, há tempo, escreveu um livro: 'JORNALISTA - profissão ameaçada', com chancela da ALETHEIA EDITORES, cujo título é elucidativo. Escrita feliz e bela, a ler, pois claro! Há 42 anos, os Jornalistas não faziam greve. De então para cá esteve tudo bem? Não... A luta contra a precariedade, a pressão exercida nas redações que conduz ao esgotamento sem apoio psicológico, (excepto um título), o trabalho a sobrepor-se avassaladoramente à vida privada e familiar, a má remuneração e ausência dela nas horas extras e, por aí fora fazem desta justíssima greve a exigência de tudo o que é dos Jornalistas - por direito próprio. Sei do que escrevo, por relatos de camaradas Jornalistas, por ter presenciado num jornal regional, onde dei milhares de carateres, e não havendo dinheiro para quem fazia o semanário, ocorre-me, um antigo Jornalista comer pão com dentes por estar há meses sem receber salário(!), mas houve sempre dinheiro para distribuir pelos acionistas... e, ainda: estando no Jornal de Notícias, há anos, pelo despedimento de Jornalistas, comovi-me. As minhas íris banharam-se com as águas do Douro. Uma camarada Jornalista aflita abeirou-se: - sente-se mal?! Vou buscar um copo com água. - Espere p.f., despedimentos porquê? - Não há dinheiro. Retorqui: Também vão «despedir» os acionistas? O meu amor pelas palavras, que são estrelas, é imensurável, daí... Aos imperadores do papel e do papel moeda, detentores dos títulos da imprensa - não matem o Jornalismo! Caminhamos para «amanhã» não haver professores... e os jovens estudantes pré-académicos, que futuro lhes quererão dar? Auscultação larga neste segmento refutam ser futuros Jornalistas... A grave crise na Global Média teve o condão de fazer espoletar estas justas manifestações\reivindicações de quem faz jornais\revistas. Quanto mais os agentes fautores da imprensa estiverem satisfeito no geral, mais os jornais ganham.... E mais vendem! Um jornalismo quer-se livre, independente e de qualidade, como se lê nos Editoriais, não é compaginável com os graves défices, que os Jornalistas sublinham. Esta profissão tem de voltar a ser nobre, respeitada e credível. Viva a imprensa!

 

UM CONTEXTO DIFÍCIL E MUITO PERIGOSO


Embora os resultados eleitorais, a reação dos principais protagonistas e as potenciais consequências desestabilizadoras do disparo do partido da extrema direita, estejam ainda na ordem do dia, não me pronunciarei ainda pormenorizadamente sobre o assunto.

Vou tentar resumir o contexto em que se realizaram e as perspetivas que, Como se sabe, não são nada animadoras.

No plano nacional, direi apenas, creio ser consensual, a incerteza e a preocupação são patentes. Mas também a certeza de que os democratas, as forças progressistas, saberão entender-se e rechaçar os efeitos da demagogia, do populismo, da regressão civilizacional que representa o referido partido.

Internacionalmente, a situação é ainda mais preocupante. Com destaque para as guerras da Palestina e da Ucrânia.

A primeira,cuja origem tem mais de 50 anos, transformou-se numa horrorosa catástrofe. Num massacre impensável depois do holocausto nazi. Aliás, como a comparou, e bem, Lula da Silva. Um exemplo entre os seus pares social-democratas. Catástrofe, diga-se, que atingiu a barbaridade e dimensão que atingiu, devido ao apoio que tem tido dos EUA e da benevolência da UE.

Em relação à da Ucrânia, a preocupação não é menor. Antes pelo contrário. A Ucrânia é o campo de batalha, e o seu povo, principalmente as forças armadas, carne para canhão. E para a comunicação social dominante do Ocidente, manipulando a opinião pública e justificando a guerra e a sua previsível intensificação e persistência, Putin e a Rússia, são os únicos culpados.

Omite as promessas feitas depois da queda da União Soviética e da dissolução do Pacto de Varsóvia, que a NATO não avançaria para junto das suas fronteiras, omite o comportamento do Governo da Ucrânia na dissolução de todos os partidos da oposição (11) e de sindicatos, omitiu e omite, os ataques contra eles, como o incêndio à casa dos Sindicatos de Odessa em que morreram queimados ou em fuga, cerca de 50 de sindicalistas, omite os ataques do exército ucraniano à população do Bonbass por reclamar o direito à sua língua (russo), cultura, e ao desejo de autodeterminação, omite o não cumprimento dos Acordos de Minsk que solucionavam o que restava resolver. Recorde-se que Ângela Merkel, confessou mesmo que o seu protelamento servia para que a Ucrânia se armasse. A armassem.

Ou seja, não lhes bastou a dissolução da União Soviética e o regresso do capitalismo. O que lhes convinha e convém mesmo, seria, será, retalhá-la, como fizeram com a Jugoslávia, ou colocar lá um governo “colaborador”. Colaboracionista. Como o da Ucrânia. Daí, a corrida aos armamentos e a continuação da guerra.

Imperioso é a paz. E relações normais entre todos os países da Europa e não só, incluindo, evidentemente, a Rússia. Só isso interessa aos povos. A guerra interessa aos que visam a hegemonia mundial, e ao complexo militar-industrial do armamento. Esta, entre potências nucleares, pode ter um fim trágico não só para a Europa, também para grande parte da humanidade.

Francisco Ramalho


Publicado, quarta, 13, no jornal O Setubalense