Daqui a quase dois anos, haverá eleições “intercalares” nos EUA, e começo a ver muita gente mergulhada na esperança de que a vivência deste tempo com Trump na liderança talvez possa ser suficiente para lhe retirar algumas maiorias, sobretudo no Congresso ou no Senado. Duvido que tal venha a acontecer e, para os que o esperam, é dever lembrar que a esmagadora maioria dos votos que obteve nas últimas eleições lhe foi dada por quem já sabe do que “a casa gasta” (e de que parece gostar), não falando de a História nos ensinar que, em casos como este, quando o povo “cai em si”, normalmente já é demasiado tarde. A eficácia das fake news, bem sei, pode não ser eterna, mas 2026 parece-me perto de mais para que o esclarecimento das mentes permita o desmascaramento total. Receio maior tenho quanto à “saúde” dos badaladíssimos checks and balances que poderão correr risco fatal. E, a partir daí, tudo pode acontecer, mesmo depois da morte física de Trump.
A Voz da Girafa
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Adenda ao discurso de André Ventura
Serena e contundente
Foi lindo de ver e ouvir, numa cerimónia religiosa a que assistiu com a comandita toda, esperando talvez ser servilmente enaltecido daquele púlpito, como o grosso dos predicadores daquela congregação fazem, a celebrante dizer no focinho do pretenso cristão e salvador da América, serena e respeitosamente, aquilo que não deve deixar de ser-lhe lembrado constantemente, que a América se construíu e constrói com imigrantes, que são eles que levantam as suas casas, que apoiam os americanos nos mais diversos serviços, que semeiam os seus campos e fazem as colheitas, não podendo ser ofendidos como criminosos só por serem imigrantes, assim como lésbicas e gays, transversais nas familias americanas, republicanas ou democratas.
Claro que ninguém esperaria daquela grotesca figura, que foi ali apenas para se exibir como cristão, a humildade de agradecer à bispa que presidiu a cerimónia as palavras que lhe dirigiu, muito menos que dissesse que foram palavras inspiradoras, porque o “ todo lo pode e todo lo manda” não recebe lições de ninguém; de facto, o retrato da figura é mesmo aquele que deixou expresso na sua plataforma pessoal, a que chama “verdade”, insultando a senhora ao seu verdadeiro estilo, por não ter sido capaz de suportar a verdade...
Amândio G. Martins
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Trump & Cia., os novos donos do Mundo
O PROMETIDO MUNDO NOVO
Com o desmoronamento da URSS e regimes análogos do leste da Europa, os beneficiários do capitalismo, “sem a ameaça do comunismo”, prometeram-nos um mundo novo. E melhor, claro! Depois, foi o que se viu. Guerras; Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Líbano, Ucrânia e o genocídio em Gaza. Todas com participação direta ou indireta do mentor e principal beneficiário dos despojos (controlo geoestratégico e matérias-primas), os EUA, concentração do capital e aumento das assimetrias sociais e regionais.
Mas o que melhor define o carácter dos que tutelam o imperialismo norte-americano e os seus aliados, é o cobarde e cruel genocídio na Faixa de Gaza que dura há mais de ano, que só tem paralelo com o holocausto nazi e que, para além da destruição quase total dos edifícios e infraestruturas, já causou mais cerca de 50 mil mortos e muitos mais feridos e estropiados. Mesmo agora depois do anunciado cessar-fogo, continuaram os bombardeamentos onde as pessoas já celebravam a mais que desejada e merecida paz, causando mais mortos (60) e feridos.
Na altura que escrevo, sexta-feira à tarde, o referido cessar-fogo, ainda não foi ratificado pelo Executivo da potência agressora, Israel. E mesmo que seja, será por quanto tempo? E a paz? A paz definitiva. Alguém acredita nela com esta gente a liderar aquele país, os que os apoiam, os EUA e os que indignamente nem tugem nem mugem, a UE? Sim, porque a paz definitiva, presumiria a existência de dois Estados, as reparações de guerra, a devolução dos colonatos em Gaza e na Cisjordânia à Palestina e a condenação dos responsáveis sionistas pelos muitos e mais que confirmados crimes de guerra. Quem acredita nisso com gente desta estatura política e moral no poder em Israel e, sobretudo, nos EUA?
Portanto, é este o mundo que os beneficiário do capitalismo, os que estavam e estão no poder, cá deste lado do mundo, no ocidente. Aliás, tão bem definidos agora, por um deles! O cessante inquilino da Casa Branca, Joe Biden, ao afirmar que o seu país está nas mãos de uma oligarquia com o dinheiro e o poder cada vez mais concentrados e a imprensa livre a desaparecer, ficando assim, a própria democracia em causa. E é verdade! Além da imprensa que está quase controlada pela referida oligarquia, está também essa que é a sua grande concorrente, a Internet. Mais concretamente, as suas redes sociais.
Mas Biden podia ter dito mais! Compreende-se que não o tenha feito, devido à sua responsabilidade e do governo que liderou no apoio à critica situação no Médio Oriente, Líbano, Síria e o vergonhoso genocídio na Faixa de Gaza. E também não falou, na cumplicidade do seu país no golpe de 2014 em Kiev que foi a base e deu origem à atual guerra contra a Rússia, por interposto país, a Ucrânia.
É este, afinal, o tal mundo que o denominado “mundo livre” nos prometeu. E que urge, os povos mudarem. Onde a luta pela paz é absolutamente indispensável.
Com certeza, no passado sábado, teve uma bela demonstração em Lisboa.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Telhados de vidro
Quando alguma figura dos governos de António Costa via o seu nome apontado por envolvimento nalguma coisa menos clara, logo apareciam elementos do partido que agora lidera a governação, quase sempre o seu líder, a exigir ao então chefe do governo explicações, quando não a demissão imediata do elemento em causa, com o argumento de que o país precisa de gente impoluta nas suas instituições, o que é sempre bonito de se ouvir, quando o pregador é algo mais que uma espécie de frei Tomás.
Todavia, a actual governação ainda está a meses de completar um ano e a única coisa vistosa que realmente se lhe conhece tem sido a substituição atrabiliária de gente nos mais variados postos de direcção, tanto quanto se sabe sem qualquer exigência de competência profissional e idoneidade ética, parecendo ser o cartão partidário garantia suficiente para atestar o valor da pessoa; assim, é inexorável que os casos comecem por ir aparecendo, e ainda a procissão vai no adro...
Amândio G. Martins
domingo, 19 de janeiro de 2025
A SIC-NOTÍCIAS MENTIU OU FOI INCOMPETENTE
Das diversas manifestações contra a guerra, pela paz, que o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) em conjunto com o Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), outras organizações e com o apoio da CGTP e do PCP, tem organizado em Lisboa (a última das quais frente a embaixada de Israel que a comunicação social dominante olimpicamente ignorou) e noutros pontos do país, a de ontem, em Lisboa, talvez tenha sido a maior. Foi ininterrupta e compacta desde o Cais do Sodré ao Rossio. Portanto, foram milhares de pessoas. Dezenas de milhar.
Pois bem, a SIC-Notícias, numa lamentável atitude, achou que foram centenas. Portanto, desmentida por quem lá esteve e pela RTP3 que noticiou “milhares”.
Confirmei presencialmente e com a ajuda de um amigo que quando a cabeça da manif. chegava ao Rossio, a cauda saía do Cais do Sodré.
Assim, o referido canal televisivo, mentiu conscientemente ou foi incompetente porque devia confirmar a dimensão do protesto.
Dizer ainda que este é apenas um exemplo de como esta questão de importância fundamental a guerra, e do vergonhoso genocídio em Gaza que só tem paralelo com o holocausto nazi, é tratado aqui, e não só, claro, pela grande maioria dos media. Dizer ainda que a nível político-partidário, desde o PS até à direita mais extrema, a indiferença sobre o assunto, é total. O que, no fundo, significa apoio. Quem cala...consente!
Francisco Ramalho
Los Angeles é do Planeta A
sábado, 18 de janeiro de 2025
Gloria Eterna ao enorme Miguel Torga!
sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
TODOS JUNTOS PELA PAZ !
Realiza-se no próximo sábado, dia 18, em Lisboa, a manifestação «É urgente pôr fim à guerra! Todos juntos pela Paz!», às 15 horas no Cais do Sodré, donde seguirá para a Praça do Rossio. Mais de 70 organizações estão associadas à sua convocatória, nomeadamente sindicais, culturais, estudantis, juvenis e de outos diversos sectores. Existem transportes organizados para a participação em regiões fora de Lisboa, destacando-se o Comboio da Paz que sairá do Norte.
É
preocupante o desenvolvimento no plano internacional e é urgente acabar com os
dramáticos sofrimentos que estão a ser impostos a milhões de pessoas, para além
dos muitos milhares de mortes já provocadas, dos feridos, dos deslocados e da
destruição de infra-estruturas necessárias a uma vida normal. É necessário
acabar com confrontações e corridas aos armamentos, procurando a solução
política de conflitos e evitando desenvolvimentos que ameacem o próprio futuro
da humanidade.
A imagem é
da UNI Global Union, e da mensagem da sua secretária-geral: «SUBINDO JUNTOS EM
2025 - Com os olhos postos em 2025, na Uni desejamos o melhor para si e sua
família. Que o novo ano traga alegria, reflexão e esperança para o que está
para vir Hoje e todos os dias, sintamos a força de saber que estamos unidos no
nosso compromisso duradouro com a paz e a justiça social. Desejamos um feliz e
saudável novo ano.» Christ Holfman, secretária-geral da UNI Global Union, onde
se encontram filiadas organizações sindicais portuguesas.
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Vou aprender russo
Ampliar o saber é um objectivo que qualquer um de nós, sem ostentações espúrias, deve prosseguir, o que me impele sem grande resistência a acatar o conselho do indescritível (ainda mais do que Stoltenberg?) actual secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Por isso, e porque não me passa pela cabeça ir agora para a Nova Zelândia, anseio por começar as aulas de aprendizagem do russo, pelo menos até ao ponto de ler e compreender Dostoievski como se fosse o Eça. Não vai ser muito fácil, atendendo à minha idade e ao que consta de que “burro velho não aprende línguas”. Talvez Rutte também não consiga aprender russo, e não será pela idade…
Explicando o sentido da minha decisão na escolha das alternativas que Rutte, um funcionário não-eleito de uma organização “atlantista”, imperativamente nos dá, contraproponho aos meus conterrâneos e aliados ocidentais que passemos a gastar mais, isso sim, em diplomacia. Que é feito dos grandes negociadores que houve no passado? Abdicaram todos em favor dos “galos” de crista erecta? O Rutte que disponha do dinheiro dele como entender, mas que não mexa no que é meu, ok?
Dizer o que deve ser dito
Capicua escreve uma vez por semana na página dois do JN, e é uma daquelas passoas que, como Carvalho da Silva aos sábados, ainda vale bem o espaço que ocupa e dá gosto ler, como no texto de ontem, jan. 14, em que comentava a “moderação” que o chefe do Governo atribuíu a si próprio e ao seu partido, na comparação que fez entre neonazis e antifascistas, metendo-os no mesmo saco extremista; de facto, Montenegro não se cansa de justificar constantemente aquela operação policial afrontosa da dignidade das pessoas, ao mesmo tempo que deixa escapar que também não gostou de ver aquela imagem.
Mas do que parece não ter gostado mesmo nada foi ver aquela multidão que condenava um governo que instrumentaliza as forças policiais para tentar esvaziar um adversário que lhe faz sombra, combatendo-o com processos indignos de um país realmente democrático; é que aquela manifestação, multicultural e multirracial, espelha o sentimento verdadeiramente humanista da maior parte dos portugueses, em contraponto ao grotesco grupelho que salpicou de negro a Praça da Figueira, cujo líder, descabelando-se por só ter ali uma pequena amostra da escória que lhe tem dado força, gritava estar farto deste país...
Amândio G. Martins
O chefe do desgoverno é extremista!
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
VOLTEMOS A FALAR DO TEMPO
Já lá vai o tempo em que por esta altura do ano, mesmo no Alentejo, os rios, ribeiras e barrancos (no Alentejo não se usava a designação de ribeiros) iam cheios. Até lá havia peixe; pardelhas, bordalos, enguias. Agora, por exemplo aqui na zona onde moro, Corroios, desde a última vez que tinha chovido e que já nem me lembro, talvez na primavera, choveu agora apenas três dias durante umas duas ou três horas e chuva fraca.
É a segunda vez que escrevo aqui n`O SETUBALENSE sobre este assunto. A primeira foi em 4/4/23 “ Falemos do Tempo”. “Depois das fortes chuvadas de fins de dezembro e janeiro que até provocaram inundações, nunca mais choveu coisa que se visse. Têm caído apenas uns borrifos. Portanto, em pleno inverno, quase dois meses sem chover a sério, agora já com temperaturas a rondar os 30 graus e a previsão de chuva é zero”. Dizia ainda que a maioria das barragens a sul do Tejo estavam abaixo de 50% do seu nível máximo. E fazia referência a um anúncio do Governo de então no Dia Mundial da Água, à construção de uma futura central de dessalinização na costa algarvia. Anúncio que, suponho, não passou disso mesmo.
Foi há quase dois anos, mas o problema, como sabemos, assim como o gradual aumento da temperatura, tem muitos mais. E tem a ver, evidentemente, com as famigeradas alterações climáticas. Basta estarmos minimamente atentos para nos apercebermos delas mesmo junto de nós. Nem sequer é preciso evocarmos as grandes catástrofes relacionadas com chuvas torrenciais, secas, ciclones, degelos e as suas terríveis consequências. Mas convém, e muito, que tenhamos consciência que elas existem, porque é que existem, que contribuamos para minimizá-las ou para que não existam e denunciemos quem não o faz. Sobretudo, entidades coletivas ou pessoas que pelo poder que exerçam são determinantes positiva ou negativamente. Como é o que se trata, no segundo caso, do negacionista confesso, Donald Trump. E outros responsáveis políticos de extrema direita.
Altas instâncias como o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Papa Francisco e grande parte da comunidade cientifica, têm feito avisos e apelos dramáticos no sentido de se conterem as causas que as originam; a continuada exploração e utilização de combustíveis fósseis, a poluição terrestre, de rios e mares, o uso intensivo de explorações agrícolas, a destruição de florestas para esses fins ou para outros que visam apenas o lucro.
As consequências são diversas e gravíssimas quase todas. Já com milhões de vítimas de tantas espécies, incluindo da nossa. Ainda recentemente um relatório do Observatório Português da Saúde e Ambiente, concluiu que 8% das mortes em Portugal estão relacionadas com fatores ambientais. E acrescenta que políticas no nosso país negligenciam o impacto das alterações climáticas.
A terminar, mais outro exemplo que todos podemos verificar; a drástica diminuição de aves migratórias. São ciclos da Natureza com milhões de anos que se quebram. E isso é gravíssimo.
Francisco Ramalho
Publicado hoje também no jornal O SETUBALENSE