A antiga seca do bacalhau, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, junto ao Cabedelo, transformou-se num grande conjunto habitacional.
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
A antiga seca do bacalhau, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, junto ao Cabedelo, transformou-se num grande conjunto habitacional.
JUSTIÇA DE CÁCA
Três miseráveis, com armadilhas de arame de aço, mataram seis lobos, no Parque Nacional da Peneda Gerês. Os animais morriam por asfixia, e um deles, dizem, foi morto à paulada.
Como se sabe, esta espécie se não está em vias de extinção, para lá caminha. Não sei mais pormenores, parece até que era a única alcateia na região.
Pois bem, estes energúmenos foram condenados com penas de prisão. Mas, vejam só, suspensa!
Mesmo assim, dizem que já foi uma condenação exemplar. Até aqui, a impunidade era quase total.
Que rica justiça para quem dizima espécies em vias de extinção! Alterando assim ecossistemas e a própria Natureza.
Francisco Ramalho
FACÍNORAS
São incontáveis os crimes de guerra
Espezinhando leis reconhecidas
Passam por cima das Nações Unidas
Quem se bate pela paz desespera.
Os que sonharam uma nova era
Lembrando as desgraças ocorridas
Não vêem nenhumas regras cumpridas
O que podia ser bom degenera.
Ingoram que ao degradar se degradam
Sendo disso lembrados não abrandam
O que é uma programada ocupação;
Tudo tem de ser como eles querem
Não ouvem quem pede que se moderem
Nada lhes sensibiliza o coração...
Amândio G. Martins
Agora já não é, passámos definitivamente de nível neste jogo hediondo em que Netanyahu nunca devia ter sido admitido. Não sabemos quem virá a seguir ao Hezbollah, actual inimigo mortal de Israel, se os Houthis, no Iémen, ou outra milícia qualquer, da Síria ou do Iraque, não falando do Irão, que é de outro calibre. Para Netanyahu, pouco importa, porque, ao que parece, ele descobriu a fórmula mágica para os exterminar: destrói toda a população e, com a maior naturalidade, dirigentes e militantes desses movimentos, mais mulheres, crianças, médicos, jornalistas e tutti quanti, irão na enxurrada, todos em direcção ao Inferno. Esta simplicidade de processos tem um custo evidente: semeia o ódio que adubará, no futuro, a repulsa dos vizinhos para com Israel, que, é bom lembrar, deveria ter direito a viver na região, mas com serenidade. Poderemos discutir sempre o “pecado original” com que o estado de Israel foi concebido, mas, passadas oito décadas, já deveria ser impossível cair nestas práticas próprias de um Hitler. Arafat ainda o quis, mas Israel nunca ajudou. E bem que o podia ter feito.
O Expresso de 4/10 desvenda-nos o indisfarçável desalento da provedora de Justiça Europeia, Emily O’Reilly, em final de mandato, no que respeita à falta de transparência da Comissão Europeia, ao perigo das portas giratórias tão tentadoras para diversos comissários, e até de má administração do executivo. Quer isto dizer que, não obstante as chorudas remunerações que auferem, os dirigentes da União Europeia, estarão a ser pouco zelosos no cumprimento das suas funções, em manifesto prejuízo dos interesses do comum dos europeus?
Está agora a Comissão Europeia a preparar o próximo quadro financeiro plurianual, e já se vai sabendo que este dissimula um relaxamento na Política de Coesão, cujo futuro poderá estar em risco, pelo menos na opinião que Vasco Cordeiro, presidente do Comité das Regiões, confiou ao “Público”. A Comissão Europeia, naturalmente, é composta de pessoas, e, como tal, falível e imperfeita. Mas será que não é possível encontrar melhores para o desempenho de cargos com tantos poderes? Ir a correr/voar, ao som da primeira sirene em Kiev ou Telavive, não chega. Os cidadãos europeus exigem mais e melhor.
FINALMENTE TIRARAM A MÁSCARA
A grave situação que se verifica no Médio Oriente tem origem no comportamento de Israel em relação ao povo palestiniano que durante décadas tem agredido, prendido, humilhado e ocupado as suas terras com colonatos. Roubando assim a sua subsistência e o direito de viver em paz e liberdade. Tal comportamento, naturalmente, provoca justificada resistência mas também ódios e desejos de vingança, cuja última manifestação foi o ataque de 7 de outubro de 2023 que provocou um elevado número de mortos e reféns israelitas.
Condenável, evidentemente!Mas não será devido ao referido comportamento que não respeita nada nem ninguém? Incluindo dezenas de resolução da ONU. E que dizer da resposta? Do brutal genocídio que em menos de um ano, já provocou, só na Faixa de Gaza, 40.000 mortos e 92.000 feridos. Sendo a maioria mulheres e, sobretudo, crianças.
Com o seu poderio bélico que, como se sabe, inclui armas nucleares, os sucessivos Governos de Israel, sobretudo este último, sempre rejeitaram uma natural e sã convivência com os seus vizinhos. E nunca admitiram, à Palestina, um Estado independente e soberano conforme resolução da ONU.
É também conhecida a responsabilidade dos EUA. Para além do apoio militar, nunca condenaram o comportamento despótico e desrespeitador das normas da ONU e do direito internacional de Israel.
Em relação à Palestina, mas também a outros Estados; Síria, Irão, Líbano.
Agora, além de declararem o nosso compatriota António Guterres persona non grata por se ter limitado a cumprir a sua função de secretário-geral da ONU, a última façanha (acabo de ouvir na Antena1, sexta-feira de manhã) que bombardearam a estrada que liga o Líbano à Síria. Encurralando assim, sadicamente, milhares de cidadãos que fogem dos bombardeamentos, especialmente a Beirute. Como noutras ações semelhantes ou piores, trata-se de puro terrorismo de Estado.
O seu grande aliado do outro lado do Atlântico, em relação à criação dos dois Estados, até se tem dito favorável mas sem nunca dar passos concretos nesse sentido acompanhando tantos outros Estados. E mesmo em relação a outros crimes e desmandos de Israel, como a criação de colonatos, nunca propriamente foi ao ponto de os apoiar publicamente. Mas agora, depois da resposta do Irão a todas estas agressões e crimes, incluindo destacadas personalidades do seu país e em território iraniano, Joe Biden e Kamala Harris, tiraram finalmente a máscara e reiteraram com toda a veemência o seu apoio incondicional ao Governo de Natanyahu. Trump, não necessitou de a tirar porque nunca a usou. Sempre declarou esse apoio incondicional acrescentando até que o Governo de Israel é que determina o seu comportamento e o dos EUA, só tem de o apoiar.
À semelhança de outras organizações pelo mundo fora, faz bem o Conselho Português para a Paz e Cooperação, organizar uma jornada nacional de solidariedade com o povo palestiniano e pela paz no Médio Oriente de 2 a 12 de Outubro em vários pontos do país. Em Lisboa será dia 12.
Francisco Ramalho
Publicado hoje também no jornal O SETUBALENSE
LIVRE ARBÍTRIO
É-nos intrínseco o livre arbítrio
Mas sempre controlam como o usamos
E se esse controlo não aceitamos
Não faltará quem nos queira em suplício.
Mesmo fazendo bem desde o princípio
Pode acontecer de nos descuidarmos
E se não há com que nos apoiarmos
Há logo quem queira ter benefício.
A falsidade está por todo o lado
Ninguém pode andar despreocupado
Pensando que tem como dela escapar;
Quando o desonesto procura um alvo
Ninguém pode pensar estar a salvo
Sendo mais seguro não se descuidar...
Amândio G. Martins
VORAGEM DOS DIAS
O ALERTA ESQUECIDO DE EINSTEIN E HANNAH ARENDT
Depois de meses a ser desafiado, o Irão atacou alvos militares em Israel. A resposta de Telavive pode iniciar uma reação bélica em cadeia. Como chegámos a este absurdo de parte do nosso futuro coletivo depender de uma figura tão hedionda como Netanyahu?
Em 04 12 1948, o New York Times publicou uma Carta aos Editores assinada por 27 personalidades judaicas de relevo, incluindo o físico Albert Einstein e a filósofa
Hannah Arendt. Desde 1947 que a violência entre árabes e judeus marcava o cenário político na
Palestina. Os subscritores da carta, muitos deles cidadãos dos EUA, escreveram, não para apoiar Israel, independente desde 14 de maio desse ano, mas para lançar um alerta em relação a uma visita considerada perigosa para o mundo inteiro: Menachem Begin (1913-1992). O teor dessa missiva, ignorado como as
profecias de Cassandra, explica-nos como foram
criminosas as décadas de cumplicidade dos EUA e da Europa com os abusos de Israel. Do apartheid passámos ao genocídio, e agora a uma possível conflagração global.
Os autores da carta denunciavam a visita de Begin aos EUA, pouco antes das primeiras eleições israelitas (25
01 1949). Para os subscritores, o passado “fascista” de Begin estava a ser branqueado, enganando todos aqueles que até 1945 tinham travado uma longa guerra
contra o nazi-fascismo. A carta recorda que o Partido da Liberdade (Tnuat Haherut) de Begin é “muito semelhante, na sua organização, métodos, filosofia política e apelo social, aos partidos nazi e fascista.” Begin formara em 1943 uma organização terrorista contra a administração britânica na Palestina, o Irgun, que em 1946 fez explodir o Hotel Rei David em Jerusalém, matando 91 pessoas. Prossegue a carta: “as declarações públicas do partido de Begin (…) hoje
falam de liberdade, democracia e anti-imperialismo,
quando até há pouco tempo pregavam abertamente a doutrina do Estado fascista.” Exemplificam com o massacre, em 9 de abril desse ano, da aldeia árabe de Deir Yassin. Quase todos os 240 habitantes foram assassinados. Com orgulho, os terroristas do Irgun convidaram os correspondentes estrangeiros a fotografar os cadáveres nos destroços da aldeia,
enquanto os “sobreviventes desfilaram como cativos pelas ruas de Jerusalém”. O partido de Begin é ainda acusado de “no seio da comunidade judaica pregar uma mistura de ultranacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial.”
Corretamente, a carta define o fascismo e o nazismo pelo método e não pela etnia. Confirmam que a organização política de Begin tem “a marca inconfundível de um partido fascista para o qual o terrorismo (contra judeus, árabes e britânicos) e a deturpação são meios, e um ‘Estado Líder’ é o objetivo.”
Nas eleições de 1949, o partido de Begin teria apenas 14 dos 120 assentos do Knesset. Só em 1977, depois de oito eleições consecutivas, Begin e o seu novo partido, Likud, (onde hoje campeia Netanyahu) chegariam ao poder, quebrando três décadas de hegemonia trabalhista. Foi com Begin que se aceleraram os colonatos em Gaza e na Cisjordânia, tendo também sido ele o primeiro a invadir o Líbano, em 1982. Mas o pesadelo, vaticinado na carta dos
judeus antifascistas de 1948, só atingiria a plenitude com Netanyahu, ainda mais brutal que Begin. O atual PM israelita desempenhou o cargo, intermitentemente, durante quase 20 anos, sempre pronto a aliar-se a
formações ainda mais racistas e fanáticas do que o Likud. O canal Al Jazzera publicou em abril um trabalho com vídeos colocados nas redes sociais por soldados
israelitas. É doloroso visionar a alienante bestialidade em que homens e mulheres comuns (o IDF é um exército de cidadãos) se deixaram afundar, intoxicados no ódio racial. A fúria homicida de Netanyahu, cuja raiz foi denunciada na carta de Einstein e Arendt em 1948, hipnotizou o Congresso dos EUA, esse gigante sem cabeça, colocando ao serviço da sua pulsão de morte todo o poderio militar de Washington e a servil cumplicidade da UE.
Viriato Soromenho-Marques, 5 Outubro/24
No momento em que escrevo esta carta, aguardo com ansiedade a contraproposta do PS à contraproposta (irrecusável) do Governo. Com maior ansiedade, aguardo ainda a reacção de Israel à reacção do Irão. Por muito importantes que sejam, não vou perorar aqui sobre aqueles dois temas. Interessa-me mais, de momento, assinalar uma espécie de paralelo entre dois artigos do PÚBLICO, o primeiro, em 2/10, da autoria de Maria João Marques (M.J.M.), e o segundo, no dia seguinte, de Manuel Carvalho (M.C.). O tom de M.C. não possui o acinte destilado por M.J.M., mas nenhum dos autores esconde alguma animosidade relativamente a Pedro Nuno Santos (P.N.S.).
Ao contrário de M.C., não deixaria de considerar uma evidente quebra de princípios se o PS contemporizasse, ainda que em nome da governabilidade do país (que, na opinião de muitos, não ficará beliscada, caso tenhamos de viver em duodécimos), com as “exigências” de abaixamento do IRC e, sobretudo, da aplicação das regras que o PSD entendia no tocante ao IRS Jovem. Não acompanho M.C. na ideia de que seria um acto de “humildade democrática” P.N.S. propor-se aguardar até ser Governo para corrigir os erros de outros. Antes me parece que seria uma entorse na verticalidade do seu partido.
Público - 06.10.2024
O espantoso espectáculo que o primeiro-ministro deu no Parlamento, esgrimindo lealdade perante um adversário político, ao mesmo tempo que demonstrava todo o contrário do que pressupõe lealdade, mostrou um Montenegro igual a si próprio, na sua estafada dialética de demagogo barato, a que o seu característico sotaque de cana-rachada dá ainda mais realce; e ficou claro que a prometida proposta que não podia ser recusada não era mais que um arremedo do estilo mafioso de “Dom Vito Corleone”, interpretado por Marlon Brando, no célebre filme “O Padrinho”.
E se Pedro Nuno conseguir resistir às tais pressões, e mantiver a firmeza prometida na defesa dos princípios, terá prestado à regeneração da política um meritório serviço, e feito uma rara demonstração de que não vale tudo na procura de poder, até porque já há estudos de entidades insuspeitas e suficientemente credíveis que demonstram que o que defende é muito mais do que um mero capricho para criar problemas à governação de Direita...
Amândio G. Martins
À luz da experiência e da luta dos trabalhadores em 1 de Outubro de 1970 é criada a Intersindical. Em 25 de Abril de 1974 aparece a Intersindical como polo dinamizador e coordenador dum forte e unido movimento sindical, assumiu a responsabilidade de organizar as primeiras comemorações em liberdade do 1.º de Maio e consegue que o Dia Mundial do Trabalhador seja feriado nacional.
Em 2024, são 54 anos de luta constante pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores portugueses, pela democracia, pelas liberdades, por um futuro melhor e de paz. Luta que assumiu hoje na concertação social, ao considerar que não existe uma suficiente e necessária valorização do salário mínimo e do salário médio, são agravadas as desigualdades, não são eliminadas as normas gravosas da legislação laboral, nomeadamente a caducidade da contratação colectiva e o tratamento mais favorável, e que por via dos impostos corresponde aos interesses dos grupos económicos e financeiros e ao aumento dos seus lucros em prejuízo dos interesses e condições de vida da população, dos trabalhadores e reformados.