A Voz da Girafa
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
sexta-feira, 26 de julho de 2024
Estupidez orçamental
Quando as perguntas ofendem
Marco Aurélio, que foi imperador de Roma na segunda metade do segundo século do primeiro milénio da nossa era, deixou dito que o homem recto e virtuoso se assemelha àquele que tresanda dos sovacos, de tal forma que quem dele se aproxima o sente logo, quer queira quer não; todavia, se fosse hoje, com a capacidade de dissimulação que algumas pessoas desenvolvem, aquele pensador não estaria tão seguro.
Pedro Olavo Simões, jornalista do JN, escreveu na página dois deste jornal um texto sobre jornalismo que muito me gradou ler: “Sempre me fez comichões – escreve Pedro Olavo – ouvir outros jornalistas, perante interlocutores incomodados, dizer que o seu mester é fazer perguntas. Isso é quase como dizer que pode perguntar tudo – e pode, mesmo que faça má figura, lembrando aqueles tipos que param o camião no meio da rua, e, quando alguém protesta, gritam do alto da burra: “Que é que queres? Estou a trabalhar”! (...) “Acredito que o papel do jornalista não é fazer perguntas, mas obter respostas. São coisas substancialmente diferentes”.
E eu, que nunca fui jornalista, irrito-me bastante mais que o senhor que venho a citar, quando vejo alguns perguntadores/as em acção, encavalitando-se uns nos outros, disparando perguntas sobre perguntas, não dando ao perguntado tempo de responder a nenhuma, parecendo mais que procuram provocar uma resposta desabrida, interpretando-a depois como a confirmação do que pretendiam, porque o inquirido, irritando-se, acusou o toque...
Amândio G. Martins
Amigos prováveis, mas incorrigíveis
Em 16 de Agosto de 2021, tive o gosto de ver publicada no PÚBLICO uma carta que intitulei “Tanto mar”, em que me declarei eternamente grato a Biden por nos ter livrado de Trump, mas sem esquecer o que os norte-americanos, sob o seu comando, tinham acabado de fazer a milhares de afegãos a quem tinham jurado protecção, depois de os aliciarem para a sua causa. A ter de repetir o agradecimento, será a outra pessoa, e oxalá venha a ser Kamala Harris, a provável candidata democrata à presidência dos EUA, que desejo ver a humilhar retumbantemente Trump, “esmagando-o” no campo da misoginia, do racismo e da decência.
Tratando-se dos EUA, já estamos habituados a ver frustradas as nossas ilusões, pelo que não ficarei admirado por Kamala, se eleita, continuar a dar apoio “incondicional” a Netanayhau. Este “magarefe” conseguiu a proeza de, mais uma vez, ser ouvido nas mais altas instâncias norte-americanas, com honras de Estado, não se coibindo de agradecer todo o apoio (em armas e não só) a Biden, mas também a Trump. A ausência de Kamala na sessão é de aplaudir, mas nada de bom garante aos palestinianos.
Público - 26.07.2024
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Caminho espinhoso
DECADÊNCIA
Produzem-se coisas desnecessárias
Criando a sua necessidade
A uma parte da sociedade
Na outra agrava as condições precárias.
Que leva a situações incendiárias
Que os instalados dizem ser maldade
Duma populaça que nada sabe
Aumentando as complicações diárias.
É que os que têm dinheiro para tudo
Abusam do seu conforto seguro
Desprezando os servidores que protestam;
Mas estes que têm vindo sempre perder
Só lhes resta fazer tremer o poder
Usando os poderes que ainda lhes restam.
Amândio G. Martins
quarta-feira, 24 de julho de 2024
Estafada rotina
BANHA DE COBRA
Ceca e Meca e Olivais de Santarém
Batem tudo a enganar a gente
A desqualificar o oponente
Dizendo mal feito o que pode estar bem.
Mas o que a gente mais precisa é de alguém
Que faça uma política diferente
Para execução eficiente
E de que possa fazer parte também.
Mas acontece que uma vez eleitos
A imensa parte destes sujeitos
Não pensa mais em quem lhe deu o voto;
E só os do clubismo partidário
Votam num seu correlegionário
Vendo sempre direito o que está torto...
Amândio G. Martins
terça-feira, 23 de julho de 2024
A LUTA PELO HOSPITAL DO SEIXAL CONTINUA
A Caminhada e Corrida pela construção do Novo Hospital no Seixal realizada pela Câmara Municipal, Comissão de Utentes da Saúde e população no passado dia 13 que juntou, segundo os organizadores, 7 mil pessoas, foi mais um dos inúmeros protestos já com décadas.
A velha e mais que justificada aspiração, deve-se ao facto do Hospital Garcia de Orta em Almada que foi construido para servir uma população de 150 mil habitantes dos concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra, ter hoje já 450 mil. São conhecidas as insuficiências de diversos serviços com os imensos transtornos daí decorrentes causados às populações. Assim como a exiguidade e a falta de médicos e enfermeiros nos centros de saúde da região. Daí que, pela evidência dos factos e, sobretudo, pela persistente luta, já tenha havido promessas no sentido da construção do mesmo. Nomeadamente, uma resolução aprovada na Assembleia da República com votos favoráveis do PS, BE, PCP, PEV, PAN e abstenção do PSD e do CDS-PP pela construção do hospital, na sequência de uma petição pública entregue pela Plataforma Juntos pelo Hospital no Concelho do Seixal.
Ainda mais relevante e incompreensível, é a promessa feita pelo Sr ex Ministro Manuel Pizarro do Governo/PS aquando da sua visita ao Centro de Saúde de Corroios no âmbito de um projeto que denominavam “Governo mais Próximo”.
“Tivemos finalmente uma sentença do Supremo Tribunal Administrativo que nos permitiu contratar o projeto. O projetista está a trabalhar no projeto que nos será entregue no segundo semestre desta ano. Diria que entre o último trimestre de 2023 e o primeiro de 2024 vamos finalmente pôr a concurso a obra do novo Hospital do Seixal, que desta vez vai passar do papel para a realidade e que bem necessário é.”
Agora, no passado dia 15, veio a sua sucessora, a Srª Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, ao mesmo local inaugurar formalmente a nova Unidade de Saúde Familiar, INOVAR, que já se encontra em funcionamento desde 2 de maio e que informou o seguinte: “Da pasta do Governo do Partido Socialista nada encontramos sobre as promessas feitas pelo anterior ministro Manuel Pizarro. Nem projeto, nem rubrica, nem candidatura a fundos do PRR.” E disse mais; “ o anterior Governo não deixou preparada a abertura de concurso para a construção do Hospital do Seixal.”
Aqui fica à consideração dos nossos leitores.
A nova ministra deixou a promessa de aprofundar com a CM do Seixal, em reunião urgente a acordar, a análise e revisão do projeto.
São conhecidos os problemas no setor da Saúde, fruto do desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde. Por exemplo, o número de utentes sem médico de família continua a aumentar. Sendo já de 1 milhão e seiscentos mil. 41 mil só no concelho do Seixal.
Não há dinheiro para este e outros setores fundamentais, mas há centenas de milhões para a guerra? Guerra que podia e devia ter sido evitada, mas que EUA, NATO e UE nada fizeram para isso, antes pelo contrário, e nada fazem para acabar com ela.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE
Despudorados pudores
PERSEGUIDA
Courbet chamou-lhe “A origem do mundo”
À parte da mulher mais escondida
A que algumas chamam “a perseguida”
Que não podem descuidar um segundo.
A Natureza dotou-as no fundo
Do sinal que mais as identifica
Tão igual na pobre como na rica
Onde guardam o sublime e profundo.
E Gustave Courbet pô-lo na arte
Pintando aquela tão íntima parte
Que uma foto não mostrava mais real;
Se ao tempo escandalizou a gente
Ainda hoje não é diferente
Para os que no que está bem só vêem mal...
Amândio G. Martins
segunda-feira, 22 de julho de 2024
Há falta de creches
Do ofício de viver
OBEDIÊNCIA
Nunca me foi difícil ser mandado
Por quem tivesse legitimidade
Não abusasse da autoridade
E soubesse fazer-se respeitado.
Que se revelasse bem preparado
Tratando os mandados com equidade
E respeitando-lhes a dignidade
Não impondo o que não foi contratado.
Todos obedecemos e mandamos
Conforme a situação em que estamos
Aqui mandar e além obedecer;
Quem tem dificuldade em ser mandado
Sujeita-se a ser mais discriminado
Sem alternativa para bem viver.
Amândio G. Martins
domingo, 21 de julho de 2024
PARA AMANHÃ, MAIS 11 GRAUS…
Segundo o IPMA, que não costuma falhar, a temperatura na faixa litoral centro, vai aumentar substancialmente. Mais 11 graus, concretamente na região da grande Lisboa. Mantém-se até quinta feira.
Dirão os indiferentes, para não dizer os ignorantes, e então!? Não estamos no verão? No tempo do calor?
Pois estamos! Mas esta intensa subida brusca era habitual? E é normal?
Portanto, é apenas mais um sinal das alterações climáticas.
Alterações essas, como se sabe, provocadas pelas emissões de gases com efeito de estufa que originam o aquecimento da atmosfera. E também devido à poluição.
Assunto vital para a vida, mas vou ser breve.
Dois exemplos: os organismos oficias que tutelam a matéria, dizem que a circulação automóvel tem aumentado exponencialmente. Basta sairmos à rua principalmente em hora de ponta e ver as filas cada vez maiores.
Ou seja, mais dióxido de carbono para a saturada atmosfera.
Outro exemplo: já repararam nas bermas das estradas e caminhos? Raparem! O lixo, principalmente garrafas e outros embalagens de plástico, aumentaram muito. E são zonas onde as autarquias, até porque a mão-de-obra e as verbas são limitadas, menos visadas.
Ou seja, a javardice, a falta de civismo e de respeito pela Natureza e por todos nós, mesmo perante catastróficos resultados, aumenta.
E depois para agravar tudo isto, temos as guerras. Cujas perspetivas, são maravilhosas! Mas, sobre isto, agora não digo mesmo mais nada…
Termino apenas com isto: a ganância, a ignorância e a indiferença , são os principais causadores das AC. AC que já provocaram milhões de mortes. E que, em conjunto com a guerra (potencialmente nuclear) imaginem o que podem provocar?
Francisco Ramalho
Traficâncias de sempre
PARAISO PRIVADO
Produzem-se remédios eficazes
Para os mais raros tipos de doença
Mas os magnatas donos da licença
Negam vender a preços razoáveis.
Os investigadores já são capazes
De responder a muita emergência
Mas o que é do traficante pertença
Ele só solta com lucros alarves.
Usam de razoáveis argumentos
Acerca dos grandes investimentos
Que foram precisos para ali chegar;
Mas muito tempo após recuperado
Esse investimento realizado
A ganância continua a especular...
Amândio G. Martins
sábado, 20 de julho de 2024
Combater a "lei do funil"
EQUIDADE
Nada de mais não fazer mal a ninguém
Como nunca de ninguém dizer mal
Porque isso é o que deve ser normal
O que desejamos para nós também.
Não olharmos só ao que mais nos convém
Por mais que isso até pareça natural
Nem querermos tratamento especial
Daqueles a quem olhamos com desdém.
Ninguém precisa ser santo para ver
Que a melhor premissa para bem viver
É tratar toda a gente com respeito;
Esses pretensamente superiores
Querendo impor os seus próprios valores
Separa-os da gente um grande defeito.
Amândio G. Martins
quinta-feira, 18 de julho de 2024
Provar do próprio veneno
Curvo-me perante a memória daquele moço americano que foi abatido por tentar livrar o mundo de uma aberração, ao mesmo tempo que lamento que os figurões do “national rifle”, de que o indivíduo alvejado tem sido um dos grandes apoiantes, não tenham podido experimentar o próprio veneno, seguro de que não será mais esta cena que os demoverá de defender e promover a venda de armas como se fossem bens inofensivos e de primeira necessidade.
Ouvi alguns colegas de escola do rapaz, e todos falaram bem dele, que era um moço pacato, respeitador, inteligente e estudioso, que se isolava um pouco porque era acossado pelos broncos que não gostam de gente como ele; e deixou-me a ideia de ser alguém corajoso, que pensava, que não fazia as coisas à toa, ou teria feito como tantos outros que, para se vingarem do ambiente hostil a que os sujeitavam, entraram na escola a disparar a eito. Que em paz descanse...
Amândio G. Martins
quarta-feira, 17 de julho de 2024
Empedernidos
SEM EMENDA
Querem ver os pobres no chão arrastar
Mantendo humildes as suas sementes
Querendo impedir tempos diferentes
Desses que sempre puderam dominar.
Nos milénios que levam a enganar
Tiveram doutrinas convenientes
Criadas para dominar as gentes
E a prepotência se perpectuar.
São contra ver a gente esclarecida
Mas sempre eternamente agradecida
Das sobras que ao rico caiam da mesa;
Mesmo com algumas leis do seu lado
O fraco continua dominado
A pobre gente mantém-se indefesa.
Amândio G. Martins
terça-feira, 16 de julho de 2024
UMA BONITA CERIMÓNIA E UM DRAMÁTICO AVISO
Qualquer dos assuntos aqui abordados, merecia todo este artigo de opinião. Mas, por uma questão de importância e atualidade, resumo os dois. Começo pelo agradável. Agradável, e importante! O outro, como diz Viriato Soromenho-Marques, é um pesadelo.
No passado dia 29 (feriado municipal), organizada pela Câmara Municipal do Seixal,realizou-se na zona ribeirinha de Amora, frente à majestosa baía do seixal, a cerimónia do Dia Municipal do Bombeiro.
Perante muitos convidados e público em geral, garbosos, desfilaram os bombeiros das duas corporações do concelho; a Associação Humanitária dos Bombeiros Mistos de Amora e a Associação Humanitária de Bombeiros Mistos do Concelho do Seixal.
Em parada, ouviram as intervenções dos seus comandantes, de representantes da Federação dos Bombeiros do Distrito de Setúbal, da Liga dos Bombeiros Portugueses, da Proteção Civil, do Presidente da Junta de Freguesia de Amora, do Presidente da Assembleia Municipal do Seixal e do Presidente da Câmara Municipal do Seixal.
Os primeiros, referiram o apoio fundamental da autarquia. E Nelson Ramos e Paulo Silva, respetivamente presidentes da JF de Amora e da CM do Seixal, reiteraram a continuação desse apoio.
A propósito, afirmou Paulo Silva: “Apesar de toda a importância do trabalho dos bombeiros, estes continuam a ser negligenciados pelo governo em matéria de financiamentos, substituindo-se a autarquia ao poder central no apoio aos mesmos.”
E depois de uma visita às viaturas que prestam socorro às populações em exposição, seguiu-se um animado convívio e almoço na Sociedade Filarmónica Operária Amorense.
O outro assunto, é sobre o dramático aviso que faz o nosso ilustre conterrâneo, Viriato Soromenho-Marques; “ O Que Pensa a Rússia”, DN 29/06/24, cuja leitura na íntegra (Internet) sugiro vivamente.
“Estamos cada vez mais próximos de uma guerra frontal entre a NATO e a Rússia. E que fazem os nossos governos? Exercícios de pensamento mágico e de reescrita da história! Em vez de falarem com a Rússia para evitar a hecatombe, encenam uma sinistra “celebração” do dia D, transformando a Rússia, que foi o país chave da derrota do nazismo, num ausente saco de boxe. Depois simulam uma “cimeira da paz”, em que a intervenção decisiva, foi a do presidente polaco, Andrzej Duda, ao revelar o verdadeiro objetivo do conclave: “descolonizar” a Rússia, parti-la em pequenos Estados independentes, como ocorreu na URSS...”
Refere a promessa feita a Gorbachev de que a NATO não avançaria para leste e o patrocínio da UE ao golpe de 2014. “O Ocidente violou uma regra básica das relações internacionais: não se humilha um potencial inimigo, se não o queremos enfrentar(…) Na verdade, a mesma liderança medíocre que vai arruinar a zona euro, talvez acabe por deixar mergulhar a Europa num mar de ferro e fogo”.
E termina: “Quanto mais próxima a NATO estiver da vitória, mais certa será a destruição mútua assegurada num inferno nuclear. O tempo escasseia para evitar este pesadelo.”
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE