Estou a falar de como vejo as coisas, ou melhor, de como tento vê-las, não embarcando num maniqueísmo em que um certo atavismo me atira para o negrume, logo seguido duma desculpabilização beata ou pelo hiperbólico negativismo acusatório. Pelo meio fica o "vazio" a que temos horror, mas que habitualmente contem uma lucidez muito mais consentânea com a "sopa de letras" que realmente somos como espécie.
Vem isto a propósito da morte do ucraniano Ihor Homenyuk pelo SEF ( Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e pela acusação feita agora feita pelo IGAI ( Inspecção Geral da Administração Interna) onde avulta a triste e acutilante frase " postura generalizada de desinteresse pela condição humana" (sic). Pretendo "equivaler" o assassinato praticado pelo SEF à posição da IGAI? Nem pensar! O que digo é que no tal "vazio" (que é bem prenhe!) coexistem o bem e o mal e que, assim é o Mundo. Mas, num sistema de "pesos e contrapesos", há uma moral kantiana que tende a "acreditar"que os "IGAIS" deste planeta, que os seres humanos foram construindo a pulso, tenderão a prevalecer. E senão, vejam, o SEF e o IGAI até coincidem dentro mesmo Estado....
Termino, portanto, dizendo que não concordo com Amílcar Correia, no editorial do Público de hoje, ao assumir como "nossa vergonha colectiva" (sic) o crime hediondo cometido, mas antes como uma vergonha ( terão?) dos inspectores do SEF.... logo corrigida pelo IGAI. Poderia continuar, trazendo à colação a "responsabilidade individual" tão oportunamente elogiada por Pacheco Pereira (PP), igualmente no mesmo jornal de hoje mas fica para outro momento... Somente direi, com PP, que ela me parece um núcleo central da nossa evolução como espécie.
Fernando Cardoso Rodrigues