Se o êxito de um encontro se medisse apenas pela satisfação que deixa em nós, eu não teria qualquer prurido em classificar como um tremendo sucesso o encontro de leitores, o 6º em edição, ocorrido ontem nas instalações da Unicepe, no Porto.
Para a conversa animadíssima que se construiu, muito concorreram as sucessivas intervenções de um inesperado participante, o mais activo de todos, uma individualidade que já conta 98 anos de idade, sabedoria e memória, de nome João Manuel Borges Antão, mais conhecido apenas por João Manuel. Pouco dirá aos mais novos, mas quem se pode lembrar dos primeiros anos da segunda metade do século passado, sobretudo sendo do Norte, facilmente identificará “A Voz dos Ridículos” (na altura, ainda não havia girafas…), um programa de rádio que, nessa época, causou furor e alcançou imenso prestígio nas camadas populares portuenses, perdurando no éter, através de inúmeros percalços e mudanças, até 2013.
João Manuel foi seu director, autor e intérprete durante mais de 60 anos e, pelo que se viu, está aí “para as curvas”. Sempre em tom de conversa e proximidade, como se conhecesse os demais há longos anos, deliciou os presentes com inúmeras revelações e memórias de um passado que não pode ter sido menos do que rico de peripécias e aventuras.
João Manuel mostrou-se, aos restantes, como um exemplo de participação que nos tocou bem fundo. Tendo tido conhecimento do nosso encontro nas páginas do JN (que, diz ele, lê diariamente há 92 anos), não hesitou em marcar a sua presença neste encontro de leitores. E que bom foi, para nós, tê-lo feito.
O encontro, como se previa, foi parco de participantes. Além da presença do homem que animou a manhã, juntaram-se em cavaqueira a Maria do Céu Mota, o José Valdigem e eu próprio. Perante o “deserto”, que dá que pensar, como repetiu a Céu, não pudemos deixar de concluir que as “queixas”, que tantas vezes ouvimos sobre a exiguidade do espaço que nos é concedido pela maioria dos jornais para a publicação das nossas cartas, não têm sequência no plano da acção. Pois se tanto nos queixamos e, na hora da verdade, não comparecemos à chamada, teremos mesmo direito à queixa? E isto, depois da divulgação - talvez insuficiente - no JN, no Público, numa curta entrevista na TSF na manhã de ontem, e repetidos “anúncios” aqui nas páginas do blogue. Não deixa de ser frustrante, mas é o que há. E não será por isso que quem gosta de escrever e dar a conhecer o que escreve vai parar. Fomos, é certo, pouquinhos, mas gostámos muito, enriquecemo-nos e divertimo-nos. Virão (ou não…) dias melhores.
Não quereria terminar este texto sem fazer uma citação de João Manuel, quando invectivado a definir o espaço que os jornais conferem a gente como nós, que insiste em divulgar as suas opiniões e a intervir civicamente nesses sítios de opinião: “são mares de água doce onde navega um barco de justiça e amor, na procura de alguém”.