A HISTÓRIA REPETE-SE
Os filmes “A zona
de Interesse” e “Pássaro Branco”, documentam com grande
realismo, embora de forma muito diferente, o que foi o horror do
nazi-fascismo alemão.
O primeiro,
realizado por Jonathan Glazer, baseado no livro homónimo de Martin
Amis, mostra a contradição da vida do oficial alemão comandante do
campo de extermínio de Auschwitz com a sua esposa, filhos e um cão,
numa confortável vivenda com um extenso e belo jardim, mesmo junto
às instalações onde todos os dias eram mortas centenas de pessoas
por gaseamento.
O segundo, do
realizador Marc Forster, passa-se na França ocupada, e relata uma
história lindíssima entre dois jovens. Ela, judia, e ele, por ser
deficiente de uma perna, era, em grande parte, marginalizado pelos
seus colegas de liceu. Mas com uma alma grande.
A perseguição aos
judeus, não poupava ninguém. Nem adolescentes e jovens estudantes.
O referido jovem, correndo sérios riscos, ele e a sua família,
protegeu a colega escondendo-a num palheiro. O que lhe valeu, mais
tarde, ser preso, e tentando fugir, ser morto a tiro.
Portanto, dois
filmes que retratam o que foi a bestialidade nazi na perseguição, e
nos hediondos crimes praticados sobre os povos que tentaram
escravizar. Recorde-se que só no denominado holocausto, foram
assassinadas 4 milhões de pessoas. A maioria, judeus, mas também
muitos comunistas, ciganos, homossexuais, deficientes.
Pensava-se que nunca
mais ocorreriam tão hediondos crimes. Puro engano! O que se passa
hoje na Palestina, será assim tão diferente? Só se for pela
extensão!
Há consideração
por alguém? Não se matam crianças, mulheres, homens, tenham eles
as funções que tiverem? Médicos, jornalistas, socorristas
diversos, funcionários da ONU e de outras organizações pacifistas.
Não se arrasam hospitais e escolas? Não se mata à metralha,
debaixo de escombros, por falta de assistência médica, à fome e à
sede? Qual a diferença entre a crueldade e frieza deste holocausto e
do outro?
O chefe da
diplomacia da UE, Josep Borrel, disse que Israel financiou o Hamas
para enfraquecer a Autoridade Palestiniana e inviabilizar a solução
de dois estados.
O deputado do
Massachusetts luso-americano, Tony Cabral, entrevistado na Antena1,
afirmou que por influência da comunidade judaica, independentemente
do presidente ser democrata ou republicano, os EUA sempre manterão
um firme apoio a Israel. E a UE, apesar das declarações,
pertinentes, de Borrel, nas recentes conversações do Egito, ao
contrário deste país, não propõe um cessar-fogo, mas sim “pausas
humanitárias”. Ou seja, a continuação do massacre com
intervalos.
O holocausto nazi
foi unanimemente condenado. Este, é apoiado.
Claro que o mundo
não assiste, como o casal Hoss, impávido e sereno à matança de
milhares de inocentes. Há indignação e manifestações de revolta,
mas também há muita indiferença. E esta, mesmo que inconsciente,
acaba por ser conivente.
É imperioso que nos
manifestemos contra a barbárie em curso. Enquanto ela durar,
cobrimo-nos todos de vergonha.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O Setubalense