Notícia. "Um homem matou o vizinho por este estar a fazer barulho às tantas da noite". O barulho incomoda sem dúvida. Quem labora de noite precisa de descansar de dia e quem trabalha de dia necessita descansar de noite. Um homem não é de ferro. Mas quem nada faz, ou só está folgado para festas e noitadas, dispensa-se de pensar nos outros. Os que produzem no campo e na fábrica, para ele poder andar à grande e à francesa, entre o baile e a bebedeira. Para estes gaiteiros, não há velhos doentes, não existem crianças de berço com a mãe à cabeceira a medir o febre, nem em idade escolar, nem os que padecem novos e velhos com preocupações de por os cabelos em pé, e operários que regressam a casa para descansar na paz do sono merecido. Há culpados, apesar de haver legislação que define locais e horas para produzir balbúrdia. Leis ocas e incumpridas. Agentes da autoridade, também eles sob fadiga, fazem de conta que não ouvem, e só actuam quando chamados a intervir, ou dominados pelo edital. Casos que originam violência, em família, no prédio, ou em espectáculo, por efeitos da acumulação do ruído imprudente que endoidece. É o pai que não aguenta, é o polícia que se impacienta, e perdem ambos os limites da tolerância do comportamento aconselhado. Os tempos vão de feição aos que nada fazem, mas a quem tudo é permitido. Entre os culpados e promotores de tal violência são as autarquias, que licenciam festivais da treta, dias de forró para tudo e mais alguma coisa. Eles querem é movida nocturna. Ora é o dia das motas, seguido dos carros antigos, ora o das noites brancas, da t-shirt molhada, dos emigrantes, do avós, dos santos populares segundo o calendário vasto, da prova dos vinhos e da francesinha. etc. não faltando o respectivo foguetório que dura até ao último estouro do derradeiro segundo, já a noite se faz dia e a última nota do folclore emudece no ar. Autarquias geridas por personagens que não são nem vivem na localidade, e se afastam para longe de tais palcos. Paraquedistas, alguns. Os residentes e indígenas que se amanhem, e se não estão bem que arranjem acampamento mais ao largo, sem festa. Descuram a violência que rebenta a qualquer momento e em qualquer lugar, que originam lamentos ridículos a seguir, tais como, "ninguém esperava uma coisa destas". Pois é. Mas acontecem dessas coisas e piores desavenças. Há governos que precisam com urgência de uma Administração Interna activa, que regulamente estes abusos, que se arrogam de modernos e que, julgam, fazem felizes a gente acomodada e incapaz de se levantar e mandar calar o bico a quem só sabe parasitar e viver entre o pagode. Notícia - "um homem cansado, talvez doente, não aguentou mais o barulho repetido, e matou quem lhe roubava a paz e o pão, que ele trazia para casa, fruto do seu trabalho". Reprovável? Talvez sim. Perguntem aos presidentes como evitar tais tragédias. Eles habitam no sossego e têm resposta ponderada e calma, com certeza!*
-*(in "JN" crtdo:14/08)
-*(in "JN" crtdo:14/08)