quarta-feira, 30 de abril de 2014

Viva o 1º de Maio, sempre

Os bravos do 1º de Maio
São os trabalhadores
Não precisam do lacaio
Para serem cumpridores.
Sendo bem dirigidos
Produzem o quanto baste
Não devem ser conduzidos
Por quem não passa de traste.
Estejam, pois, mui atentos
Aos sabotadores do pão
Denunciem os intentos
Dos maus filhos da nação.
Maio maduro, Maio
De forte maturação
Vamos todos para as ruas
Engrossar a multidão.
Este dia que é nosso
Que o sangue conquistou
Seja sempre o primeiro
Na luta que irradiou.
Perante afrontas mil
Elevemos nossa voz
Pró capital não ser vil
Nem carrasco tão feroz.
Os tempos mudaram
E muitas regras também;
O estômago sendo o mesmo
Sem ter pão … fome tem!
Os trabalhadores são guerreiros
Transformando armas em pão
São os únicos timoneiros
Que sustentam a nação!
Rebentemos as fronteiras
Que nos têm agrilhoado:
Não queremos mais asneiras
Do mau poder alcandorado!



José Amaral

Uma sardinha para três!



UMA SARDINHA PARA TRÊS!
Na década de quarenta do século passado, sob uma ditadura imperava a fome em Portugal! Faltavam géneros de primeira necessidade, distribuídos mediante senhas de racionamento. Eram tempos de uma sardinha para três pessoas! Num Portugal rural e atrasado, as razões, em parte, eram devidas à situação de guerra de 1939/45. Virado o século vinte a Ditadura continuou, subordinada aos interesses da guerra fria entre, USA e URSS!
Com a progressiva descolonização, feita pelas grandes potências, Portugal foi ficando isolado, dando origem à revolução do 25 de Abril! Depois da Revolução não tivemos guerras, tivemos liberdade e democracia, mas, hoje, com tudo isso; sem guerras, com liberdade, com democracia, com governos cheios de doutores, milhões de portugueses estão a passar fome, regressando aos tempos da sardinha para três, apesar de biliões de euros, a fundo perdido, recebidos para se fazer um país desenvolvido.
Infelizmente, Portugal continua muito pobre de mente, desenvolvido só na irresponsabilidade dos governantes, a darem os piores exemplos de má governação a favor do povo! Nem vou explicar. Basta só mencionar BPN, caso dos submarinos, Freeport, entre outros, e a enorme e conveniente ineficácia da Justiça para meter na choldra corruptos de milhões!  
O pessoal está farto da política tipo frei Tomás; olha para o que ele diz mas não ao que faz!
 Até os partidos da oposição, não concordantes com a política de austeridade, parecem que são diferentes, mas não! Pasmem que, nestes tempos difíceis, quando o exemplo devia vir de cima, eis que os nossos queridos deputados, ditos representantes do Povo, aprovaram, pasmem, por unanimidade, um aumento global de 4,99% para os seus vencimentos de 2014! Para o povo é que é sempre a cortar, para os seus representantes sempre a aumentar, e por unanimidade!
Em democracia temos o direito de exercer o direito de voto. Desde sempre o exerci. Embora de ideais socialistas, mas não seguidista partidário, não me resta outra hipótese, perante este exemplo e outros, que corporizam o pensamento popular sobre os políticos: ” São todos iguais”, de engrossar as fileiras dos descrentes nos políticos, perante esta insensibilidade ética do olha para o que eu digo mas não para o que faço. Que me interessa votar para o Parlamento Europeu? Acreditar em quem? Qual a diferença entre os candidatos se na hora H, unanimemente, lixam sempre o “Zé-Povo”?
Não. Desta vez vou votar em todos os partidos. Todos merecem. São todos iguais. Todos vão ter, no boletim de voto, uma cruz, que, bem pesada, deviam carregar, pela via-sacra da hipocrisia, alimentados a uma sardinha para três, por podia!
………………………xxxxxxxxxxxxxxx…………………………
Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
Gondomar

Admirável Mundo Novo!



Sabes meu Amigo, não me vejo a maltratar as palavras. Como poderia fazê-lo se as tenho pela nossa melhor invenção!

E não é só porque me dão todo o jeito para conhecer-te diferente. É mais ainda  porque são minhas amigas incondicionais. Agitam a alma,  empurram a minha timidez de dizer-me aos outros.

Por essa razão fundamental e maior, jamais as utilizo como balas penetrantes e mortíferas, de afastamentos.

 Não me imagino a fazer discursos mollotof - todas e muitas na mesma garrafa incendiária – e gerar o pânico, o desconcerto, o desentendimento à volta de mim.

Como é possível usá-las sem estarem polidas, maduras, apetecíveis, e arremessa-las sem outras explicações , contra as multidões desprevenidas?

Tantas, ao mesmo tempo e que não dizem nada? Só para confundir, achincalhar quem as recebe, na frustração de que não entendeu nada?

Infelizmente há quem faça disso a sua profissão de fé.

Quem nos (des)governa, na esperteza possidónia dos rodriguinhos que compôs em formações académicas nas estruturas partidárias -  que alguém achou graça e deu a mão - violenta-nos agora com discursos sem conteúdo nem sentido no propósito único e perverso de nos confundir, agastar, levar à desistência.

O que eles dizem não diz nada. Absolutamente nada.

Somos um País de políticos info-excluídos.

Vivemos na pior das ditaduras, quando achamos ter  liberdade de escolha, mas ao mesmo tempo preenchemo-nos momentaneamente de felicidade quando amanhã, dia 1 de Maio temos cinquenta por cento de desconto em bens de necessidade, na superfície mais perto de nós.

Desculpem lá, mas quero lá saber que o IVA passe de 23% para 23,25% - décimas ridículas – quando tenho a possibilidade de levar para casa 150 rolos de papel higiénico, que ainda por cima vão contribuir para o fundo de pensões do Estado.


Admirável Mundo Novo!

Luis Robalo
www.luizrobalo.blogspot.pt

O PARADOXO DA EUROPA - ou melhor...mais um!!!



Eu sei que por estes dias as redes sociais e afins vão estar "infestadas" de publicações da mais variada proveniência sobre o 25 de Abril, a Revolução, os sonhos, as desilusões .
Não vou tecer considerações sobre isso, nem que fazer quaisquer juízos de valor, em primeiro lugar porque não tenho esse direito e em segundo lugar porque o que verdadeiramente me preocupa não é esta súbita febre democrática que vai durar dois dias e como as viroses dos miúdos, ao fim do terceiro dia está curada, esquecida e arrumada.

O que verdadeiramente me preocupa é saber que esta Europa onde estamos inseridos, conseguiu a proeza de em dois anos, fazer aparecer 35 milhões de novos pobres.

Sabiam?
E o que me inquieta mesmo é a noção clara que tenho, cristalina como agua de ribeiro em plena serra, que o aumento desmesurado das desigualdades e a democracia são antagónicos e a Europa tem que rapidamente decidir o que pretende - ser pobre, ou investir verdadeiramente nos valores que fazem as democracias nascerem, crescerem e progredirem.

Esses valores são simples - justiça social, igualdade de oportunidade, criação de riqueza, solidariedade ( não caridade ), ou se quiser ser curta e grossa, que as Pessoas sejam tratadas como Pessoas, que sejam consideradas a maior riqueza dos países e não um NIF, como são atualmente e que a Dignidade tenha níveis equilibrados abaixo dos quais não podemos permitir que se viva.

Enquanto forem as questões económicas e não as pessoas a prioridade dos países europeus, a democracia, na sua essência estará condenada.
Enquanto as Pessoas valerem menos que o lucro e os jogos das economias, estaremos a assistir a uma total inversão dos valores que estiveram na base da revolução de Abril.

Sem falar directamente de Abril e dos 40 anos que amanhã se comemoram, acabei por lá parar.
Não direi que foram 40 anos perdidos, mas foram 40 anos muito desperdiçados e o resultado está à vista - aumento da pobreza, aumento das assimetrias sociais, aumento da hipocrisia, liberdade, apenas de pensamento e de expressão e mesmo assim, vamos ver até quando...
Provavelmente até nos deixarmos...

Apesar de tudo, vale a pena recordar Abril, aprender Abril, interiorizar Abril e mais importante que tudo Viver Abril... sempre e não apenas 2 dias por ano

Opinião Pública procura-se


Pensando sobre o espaço para a opinião pública, ocorre-me:

Em casa com os amigos, nas redes sociais, na rua, e nos meios de comunicação.

Em casa com os amigos, a opinião, a ideia, a proposta, funcionam como um desabafo entre pessoas, que mesmo pensando diferente, têm uma identidade comum: a amizade. Podemos fazer a catarse do que atormenta a alma, mas não mudamos o mundo, porque o mundo dos nossos amigos é o nosso mundo.

Nas redes sociais, alargamos o desabafo aos amigos e aos amigos dos amigos e a simples conhecidos que por circunstância, aceitámos na rede. Os tormentos da alma esbatem-se, porque nas redes já se misturam muitos interesses pessoais e objectivos de utilização e presença com fins muito diversos. Por aí não me parece que mudemos o mundo. Ficamos mais expostos a mal-entendidos e eventualmente colecionamos umas dezenas de “likes” o que pelo menos reconforta o ego.

Na rua, podemos gritar, podemos pintar a cara, mostrar cartazes com frases que julgamos magníficas , redondas, a  abarrotar de significado e força, mas temos que ser muitos e muitos e estarmos todos juntos e ao mesmo tempo, para que o ruído dos carros não se sobreponha.

AMBIENTE DE PAZ COMO HÁ MUITO NÃO SE VIA

Já há muitos anos, quando das deslocações, em especial, do Benfica à cidade Invicta, para defrontar o seu rival de sempre, o FC Porto, acontecem sempre desacatos, não só entre os adeptos como com os autocarros que são muitas vezes vandalizados (o mesmo acontece nas deslocações do FC Porto à capital). Felizmente desta vez, na sua visita para defrontar o FC Porto no jogo referente à meia--final da Taça da Liga, assistiu--se, quer à chegada como à partida da sua comitiva, a um ambiente pacífico, ordeiro e civilizado como há muito não acontecia. Belo exemplo dado pelas gentes do Norte, o que infelizmente é raro acontecer. Oxalá que em próximas deslocações que o FC Porto faça à capital a receção seja igual e de uma vez por todas haja paz no futebol e que as rivalidades entre as claques não passe disse mesmo, para bem não só do próprio futebol como dos cidadãos, que se deslocam respectivamente ao Porto e a Lisboa, para apoiarem as suas equipas.


Amo-te

Anda, vá, vem comigo dançar uma valsa muito mais que “a mille temps”, o quê? Não queres? Não te apetece? Tudo bem, desde que existas para mim está sempre tudo bem, sabes quero-te como nunca quis nada nem ninguém, estive tanto tempo sem ti que quando apareceste fiquei perfeitamente deslumbrado já te tinha entrevisto algumas vezes quando na Lisboa de há muito tempo, calcorreávamos a noite feitos andarilhos e cantores de ti, não te conhecia como já te disse apenas te tinha entrevisto, talvez até um leve sopro de ti em mim mas sabes como sou, o importante passa-me quase sempre ao lado, sou aquilo que se diz um despassarado mas mesmo sem te ter saboreado tantas e tantas noites foram passadas a escrever teu nome, eu que não te conhecia já estava apaixonado por ti, eras nessa altura apenas uma premonição, um desejo adiado que em sonhos desfrutava, um beijo no pescoço sentido sem saber que eras tu, todos os meus momentos de alegria foram passados sempre que estavas presente, e eu não te via que troucha, dizem-me agora, é uma fada pequenina que guardo também dentro de mim e me costuma sussurrar segredos ao ouvido, que quando saíamos para cantar aquelas canções que nos eram escondidas estavas sempre presente e eu que sem saber, já te amava só que estava distraído, ausente, diz-me a fada que num dia 16 de Março quase nos encontrámos, foi pena, tinha-te agarrado como agora te agarro, beijado como agora te beijo, ficado perfeitamente perdido de amor como agora estou, sabes essas canções que nos eram escondidas agora e graças a ti já as cantamos, cantamos e ouvimos sempre que nos apetece, agora por exemplo não estou a ouvir nenhuma delas, estou a ouvir a Verónica Mortensen, e sabe-me bem, sabe-me quase tão bem como viver de braço dado contigo, quero-te tanto, tanto, tanto que esta folha não chega para escrever o quanto te quero mas tu sabes isso e sei que o teu sentimento por mim, aqui este mim pretende ser plural, é perfeita e totalmente correspondido, já não escrevo/mos o teu nome pela calada da noite, desfruto-te como quem respira, entre mim e ti a palavra separação não existe, somos unos, fundimo-nos, não posso viver sem ti, viver sem ti era como se de súbito tivesse uma fatal crise de asma que me levasse nas asas esbaforidas do vento, sou teu, integralmente teu como tu és minha, não sei conceber a vida sem ti a dar-me a mão ao meu lado ou de braço dado num qualquer jardim florido de muitas Primaveras, 40 para ser preciso, sim desde que me apareceste na vida que te conto como quem conta Primaveras, talvez porque o primeiro e real encontro se tivesse dado numa chuvosa manhã de Abril, vi-te, os teus cabelos esvoaçavam, a boca sorria-me, estendeste-me pela primeira vez as mãos que sôfrego, agarrei, e nunca mais larguei, nem mesmo quando naquele tórrido Verão te quiseram raptar ou mesmo matar, eu estava a teu lado tu estavas a meu lado e juntos conseguimos a façanha de ficares, tentam obstaculizar a nossa marcha, que nos importa podem vir todos os lobos travestidos de cordeiros que juntos o caminho é e será sempre nosso, sabes e eu sei que sabes que muitos cantam teu nome mas eu não tenho ciúmes, quantos mais te cantarem mais feliz serei, oh que disparate, lembras o que atrás disse? Que era um despassarado, que passo quase sempre ao lado do que é importante, reparo agora que ainda não disse teu nome mas para parecer culto e que graças a ti até leio todos os livros que me apetece e ensinas vou dizê-lo em francês e citando um amigo meu, o Boris, Boris Vian, “Ma Liberté longtemps je tais gardé”, sim é este o teu nome em francês mas o resto é mentira, sabes bem que não te guardei, não tenho espírito de carcereiro, foram os homens maus que durante longos 48 anos te mantiveram aprisionada, fazendo da tua a nossa prisão mas rompemos portas e janelas, libertámo-nos e libertámos-te, e nunca mas mesmo nunca deixaremos que esses seres tenebrosos voltem e te nos roubem porque com a tua partida partiriam também os sorrisos no rosto, o rir às escancaras, o futuro, tudo, tudo, porque sem ti nada é possível. P.S. – Amo-te

A bola (de cristal)

Santana-Maia Leonardo - DN de 23-4-2014
Acaba de ser publicado um estudo a UEFA sobre as principais ligas europeias que conclui o seguinte relativamente a Portugal: que a nossa Liga consegue ter menos gente nos estádios do que as competições secundárias da Alemanha e da Inglaterra e que o Benfica é o clube europeu que concentra a maior percentagem de adeptos no seu país, mais precisamente 47%.
O que é que uma coisa tem a ver com a outra? Tem tudo a ver. É precisamente pela razão oposta que a Inglaterra é o país com mais gente nos estádios. Em Inglaterra, por exemplo, o Manchester United reúne apenas 15% de preferências e, em Espanha, Real Madrid e Barcelona juntos reúnem apenas 33%. 
Não é preciso ser muito inteligente para perceber que um campeonato de futebol a sério necessita, antes de mais, de clubes em número suficiente, sendo certo que um clube de futebol da I ou da II Liga pressupõe forçosamente uma massa fiel de adeptos (e não adeptos de segundo amor) capaz de, no mínimo, encher o estádio.
Ora, em Portugal existem apenas três clubes que monopolizam mais de 98% dos adeptos, número manifestamente insuficiente para poder organizar um campeonato não só competitivo dentro do campo como também que dê garantias de isenção e imparcialidade fora dele, tendo em conta que a paixão clubística tem o condão de transformar em seres irracionais até pessoas com dois dedos de testa.
Com efeito, a organização de um campeonato onde só existem verdadeiramente três clubes e um deles tem 47% dos adeptos fica automaticamente inquinada à partida porque das duas uma: ou esse clube tem naturalmente a maioria em todos os poderes de decisão fora e dentro de campo (árbitros, presidentes de clubes, dirigentes associativos, delegados aos jogos, jornalistas desportivos, políticos, etc.) ou os outros dois clubes têm de trabalhar no subterrâneo para impedir que isso aconteça. Ora, qualquer das duas alternativas é perversa e corrompe necessariamente a verdade desportiva. Aliás, o que se passa em Portugal é muito semelhante ao que se passaria na Catalunha, se se tornar num Estado independente e quiser organizar o seu próprio campeonato de futebol, face ao peso desmesurado do Barcelona relativamente aos outros clubes catalães.
Em todo o caso, o futebol é sempre o espelho de um país. E um país macrocéfalo, pouco competitivo, corrupto e cheio de subterrâneos e de empresas de "faz de conta" como o nosso não podia aspirar a ter um futebol diferente.
Não adianta, por isso, o Sporting andar a apresentar medidas em nome da verdade desportiva porque um país com três clubes e onde um deles tem metade dos adeptos não está em condições objectivas de organizar um campeonato de futebol profissional.
Se Benfica, Sporting e Porto querem participar, efectivamente, num campeonato de futebol profissional a sério, a Federação Portuguesa de Futebol devia propor à sua congénere espanhola que estes três clubes participassem na Liga espanhola, passando esta a chamar-se Liga Ibérica. Não há outra forma de termos campeonatos competitivos e estádios cheios.

Outono silencioso

*Cristiane Lisita


Outono silencioso. Onde estão os galos de outrora? Por que não cantam neste quintal? Abandonaram-se às tempestades da ventania, sucumbindo o dourado do arrozal? E o céu soçobrando no cinéreo das nuvens, petúnias se despetalando além dos troncos caídos. Onde estão os galos de outrora?  Quiçá em seus poleiros onde as sombras se agigantam sob a luz soturna caiada neste momento.

Outono silencioso. Nos musgos serpenteando as entranhas do muro e das penas, demudando em frangalhos seus corações de galos.   Onde foi o albor desse solo fecundo? Quiçá nesta travessia infindável, desta hora consternada, na dualidade do voejo e do salto e o arrebate das asas, agora, cortadas.   Onde estão os galos de outrora? Que já não ostentam o vermelho escarlate das suas cristas, alcançado nas batalhas históricas a sobrestarem noites quase sem termo.

Outono silencioso. Num cucuritar percorrendo veias e centelhas da alma. Um esporão agudo, uma excrecência óssea almejando se alçar, daquelas proas verdejantes e o prenúncio de algo a abalroar.  Onde estão os galos de outrora? Cujos bicos afiados e emudecidos denunciam as brechas num outro costado.

Outono silencioso. Escavacado num relampejar de fé. Um insólito estalido raiando lá fora.  Onde estão os galos de outrora? Quiçá sob os olhares da raposa que espreita e não esmaece, aceirando taciturna. Desconhece ela os galos que jazem naqueles territórios. Não hão de se abater, nem se confinar. Quiçá um galo desperte e  comece a clarinar. “Mas, um galo sozinho não tece um amanhã”.

 Cantaria o poeta João Cabral de Melo Neto: “Ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito e o lance a outro; de outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que o amanhecer, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos”. Outono silencioso.


(Cristiane Lisita:  jornalista, advogada, escritora)














terça-feira, 29 de abril de 2014

Ainda sobre o 40º aniversário do 25 de Abril

Tenho andado muito atarefado com tudo que se tem falado, escutado e visto acerca do 40º aniversário do glorioso 25 de ABRIL, em que muitos representantes do povo olham/olharam para o cravo vermelho como se ele fosse um carcinoma.
Bom, e de busca em busca, como muitos jornais da época que guardo religiosamente, assim os deixei ainda guardando a história desses dias mais calmos ou mais quentes, para deitar o olhar a um pedaço de papel, muito recente, de um e-mail recebido, que espelha bem o que não deveria acontecer connosco passados que foram estas últimas quatro décadas, pois não foi para isso que houve o dealbar da leda madrugada libertadora para por fim há longa noite que nos castrou.
Assim, aqui vai a divulgação do referido correio electrónico:
‘O POVO PORTUGUÊS NÃO TEM CAPACIDADE PARA CRIAR RIQUEZA SUFICIENTE PARA ALIMENTAR ESTA CORJA DE GATUNOS.
É POR ESTAS E POR OUTRAS QUE PORTUGAL É  O PAÍS DA EUROPA EM QUE SIMULTANEAMENTE SE VERIFICAM OS SALÁRIOS MAIS ALTOS A NÍVEL DE GESTORES/ADMINISTRADORES E O SALÁRIO MÍNIMO MAIS BAIXO PARA OS HABITUAIS ESCRAVIZADOS.
ISTO É ABOMINÁVEL!
ACORDA, POVO! ESTAS, SIM, É QUE SÃO AS GORDURAS QUE TÊM DE SER ELIMINADAS E NÃO AS DE QUE O GOVERNA FALA E EXECUTA.
Faz o que te compete: DIVULGA.’

José Amaral

INSÓLITOS...OU TALVEZ NÃO.



O que tem de comum o 25 de Abril, o Quem quer ser Milionário e o 5 para a meia noite ?

Aparentemente nada...mas o dia de ontem foi tão fértil em "anedotas" que se não fossem trágicas até eram cómicas, pelo que não resisto em partilhá-las convosco.

Às anedotas protagonizadas pelos nossos excelso políticos não vou dedicar muito tempo porque elas são apenas e só uma repetição apenas um pouco mais cínica daquilo que já fazem nos restantes dias do ano, acrescentando um cravo na lapela, como se isso os tornasse democratas.
Continuam a revelar uma enorme incapacidade em perceber o país real e só por isso são um paradigma quase patológico de falta de cultura cívica, democrática e de cidadania.

Falando em cultura...ontem o concurso Quem quer ser Milionário teve um momento apoteótico de como Cultura, erudição e inteligência podem andar de costas voltadas neste Portugal que andamos a construir há 40 anos e tanto deixa a desejar.
Senão vejamos : devemos admitir ( sem ser apenas no plano do ridículo ) que um cientista / investigador em Física não consiga responder a uma pergunta de 50 euros sobre o que comem os bichos da seda ?

Pois não foi anedota...aconteceu mesmo ontem, o senhor não sabia, pediu a ajuda do publico que acertou em 92% na resposta correcta - folhas de amoreira , obviamente. Mas o mais absurdo, por incrível que pareça , nem é a criatura ( Exmo Sr. Prof. ) não saber que os bichos da seda comem folhas de amoreira e não cogumelos (credo !), couve flor ( credo ao quadrado ! ) ou couve roxa ( credo ao cubo !) ; o absurdo é a justificação da criatura ( "nunca tive bichos da seda!!!!" ), como se isso fosse argumento aceitável para uma pessoa Doutorada em Física.

Hello...que os bichos da seda comem folhas de amoreira é coisa de senso comum para qualquer miúdo de 10 anos, tenha ou não bichos da seda, é Cultura...ring a bell ?

São coisas destas que não só me desgostam, como me fazem ser muito critica em relação à educação em Portugal - muita tentativa de erudição, pouco sucedida mas tentada e cada vez menos senso comum...ou bom senso, atrevo-me a dizer.
O Físico não ficou muito preocupado pela sua ignorância e isso só contribui para aumentar a minha apreensão em relação aos "intelectuais" da nossa praça.

Finalmente e para acabar o dia em beleza ponho-me a ver o 5...e dou comigo, de novo estupefacta, a ver o Nilton a tentar, sem sucesso, que umas jovens lhe respondam quem foi Salgueiro Maia e em que zona de Lisboa se deu a parte mais emblemática da Revolução de 74.

Caramba, de facto entre ser-se inteligente e ser-se culto, por vezes existe um oceano de distância.
O dia foi fértil em exemplos, mas por mim, à terceira, foi mesmo de vez - desliguei a televisão e dei comigo a pensar que o mundo está cada vez mais cheio de inteligentes muito "burros" e como isso é triste, preocupante e perigoso.

É que a ignorância é muito atrevida e em breve será esta gente a governar o mundo
Felizmente já não devo estar cá para ver, mas os meus filhos que coleccionaram bichos da seda, sabem quem foi Salgueiro Maia, sabem o significado do Quartel do Carmo e o que lá se passou na manhã de 25 de Abril de 74, provavelmente serão uns proscritos porque andaram a "perder" tempo a aprender coisas que não servem para nada.

Coisa mais triste...

Graça Costa

( filhos...por favor não mudem !!! )

ASPIRANTES A DITADORES

Abril não pode morrer, como querem fazer crer, antes continua a manter bem viva a chama da liberdade e da democracia, que tanto custaram a conquistar a tantos intervenientes, tantos lutadores que, ao longo de quase meio século de luta, conseguiram que fazer com que tivéssemos hoje um país mais livre.
Por isso, e não só, acho que os capitães de Abril deviam ter sido autorizados a discursar no Parlamento no 25 de Abril.
Porém, como cidadão, fiquei deveras preocupado e assustado com a atitude da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, que não autorizou a intervenção daqueles heróis.
Com esta atitude de Assunção Esteves, começa a cheirar-me que, lenta e sorrateiramente, este Governo procura voltar ao tempo da "outra senhora".
Mas Abril jamais poderá morrer. E nós, povo, não podemos ficar indiferentes aos gestos destes "aspirantes a ditadores".

(Texto-opinião publicado na edição do Jornal de Notícias no dia: 29/Abril/2014)


Mário da Silva Jesus