Nelson
Monteiro e a sua dramática história foram aqui evocados, no passado dia 28, em
post de Amândio G. Martins.
Numa altura
em que os panegíricos fúnebres, que os portugueses tanto gostam de fazer, vão
(já estão a) inundar tudo o que é comunicação social, salientando o mínimo
detalhe como grande qualidade de Belmiro de Azevedo, não consigo deixar de
associar-lhes a crónica de Rui Cardoso Martins, no JN, citada no referido post.
Tenho a
certeza de que, pessoalmente, nem Belmiro nem os chefes máximos da Sonae têm
culpas directas no assunto. Provavelmente, nem dele saberiam, pelo menos até à
publicação daquela crónica. E não esqueço que, no caso, pode ter havido
aproveitamentos abusivos da situação, óptima para branquear pecados de outros,
mesmo que longe do cume da hierarquia.
Mas, a
verdade é que tudo se passou numa instituição que a família Azevedo domina com
mão de ferro, ao que dizem, e que, mesmo que assim não fosse, não retiraria
qualquer responsabilidade aos seus máximos dirigentes pelo que se passa dentro
de portas.
Não pretendo
denegrir a imagem de Belmiro, nem sequer passar uma esponja sobre muita coisa
boa que fez. A começar pelo “Público”, a quem tanto deve a sociedade
portuguesa. Reconhecendo-lhe altíssimas capacidades de trabalho, organização e
liderança, venho lembrar que a economia portuguesa algo lhe deve, mas, em meu
entender, nada que se possa comparar ao que o próprio Belmiro ficou a dever a
essa mesma economia. Trabalhou muito e, quase do nada – ponho-me sempre de pé
atrás quando vejo um rico que começou do zero! - , construiu um grande império.
Que era seu, só seu, não do país. Os dividendos foram recolhidos pelo próprio e
por mais ninguém. Mas ele não trabalhou para a economia, antes pô-la a
trabalhar para si.
Para os
portugueses (só?), os mortos nunca foram maus, só foram bons. Ninguém ousa
duvidar das qualidades de quem “já foi”. Sempre me recusei a fazer parte dessa
maioria e penso que justiça é lembrar tudo e não só o agradável.
Segundo
dizem, o maior empregador do país contribuiu para criar muito emprego. Sem
dúvida, mas há que reflectir sobre a qualidade do mesmo. Conheço alguns dos
seus empregados (quem não conhece?) e basta perguntar-lhes pelas condições de
trabalho que lhes são “oferecidas”. Em caso de dúvida, poderíamos perguntar a
Nelson Monteiro se compreendeu o voto contra do PCP e as abstenções do Bloco e
dos Verdes na apreciação do voto de pesar da Assembleia da República.
Nota: por
razões óbvias, e ao contrário do habitual, não vou enviar este texto com
proposta de publicação aos jornais que leio, o Público e o Expresso.