Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
sexta-feira, 31 de março de 2023
"Uma pouca vergonha"
Viajava de carro, manhã cedo, para a sede do Concelho, e ouvi na rádio pedaços da entrevista que Ana Maria Caetano tinha dado a uma jornalista da casa; lembrando episódios vividos antes e após a revolução, a senhora, que era quem sempre acompanhava o pai, que era viuvo, descreveu como horrível a viagem a Londres, onde foram recebidos por manifestações e cartazes que denunciavam a carnificina que militares portugueses tinham provocado em Moçambique, classificando agora o massacre de civis indefesos como normal em qualquer guerra.
É provável que, naquela data, a filha de Marcelo Caetano não soubesse o que realmente tinha acontecido, embora o pai já estivesse informado, só que acreditou no que lhe foi dito por altas patentes da hierarquia militar a quem pediu esclarecimentos, que aquilo tinha sido uma montagem dos inimigos de Portugal, com a colaboração de missionários ao seu serviço, para comprometer o regime; mas se desconhecia naquela altura, não é hoje aceitável, com a informação disponível, que a senhora minimize um crime daquela gravidade.
Reconheceu Ana Maria que o pai não era um democrata, pelo que a sua “primavera” nunca poderia evoluír para uma democracia, mas o actual sistema também não é democracia nenhuma; e aqui concordo um bom bocado com a senhora, quando classifica de “pouca vergonha” o regime actual; de facto, se a um partido que ganha eleições com vantagem suficiente para poder governar, corresponde uma oposição cuja única função é desacreditar, um a um, cada membro do governo e a sua acção, dentro e fora do Parlamento, para o derrubar o antes possível, convocando os governantes a participar em “espectáculos” degradantes, em vez de se ocuparem a trabalhar, que para isso foram eleitos, esta “democracia” merece cada vez menos crédito, porque o julgamento do bom ou mau de quem governa deveria caber aos eleitores no fim do mandato, não a cada momento por uns quantos “trovões de pataratas” para ganhar parangonas nos jornais...
Amândio G. Martins
quinta-feira, 30 de março de 2023
Dramas muito pessoais
No universo das mulheres que dizem engravidar “só de ver um homem”, sem ter a menor vontade disso, e as que desesperam para conseguir engravidar, existem dramas tais que só as protagonistas poderão contar. Ana Obregón é uma artista espanhola que, tendo perdido um filho adulto, que não venceu uma doença incurável, via-se desesperadamente solitária, sem saber que rumo dar à vida; até que, inesperadamente, surgem imagens suas a saír de um hospital americano com uma bebé aconchegada ao peito, como qualquer outra mamã orgulhosa de o ser, e a legenda “já nunca mais vou estar só”.
Mas esta aventura duma senhora com quase setenta anos levanta em Espanha uma série de questões, desde logo como legalizar a situação da criança - que foi claramente comprada, porque nos casos comuns de gestação sub-rogada o feto, sendo desenvolvido numa barriga alugada, foi gerado com “material” recolhido dos pais biológicos, coisa inviável no caso em apreço - e outras que preencheram os programas dos canais generalistas, querendo saber o que pensam os partidos políticos.
Sendo aquela prática ilegal ali, o partido “Ciudadanos” já tinha proposto que se lagalizasse desde que a barriga externa não fosse paga, só por altruísmo, o que pouquíssimos casos resolveria, dada a quantidade de gente que em Espanha recorre a esse método para ter filhos; dos restantes, o PP diz que deverá ser abordado o tema com cautela, o PSOE diz que “ni hablar”, que a dignidade da mulher nem se compra nem se vende, e os mais pequenos subscrevem a mesma postura, todos sabendo que é cada vez maior o número de casais que recorre a todo o lado onde seja possível alugar uma barriga, agora com o dobro do dispêndio desde que na Ucrânia deixou de ser seguro...
Amândio G. Martins
De palpite em palpite
Com tanto “falatório” sobre a descida do IVA em certos produtos, medida que já todos interiorizaram que não vai resolver nenhum problema a quem quer que seja, foi atirada definitivamente para o “rol do esquecimento” aquela velha reivindicação sobre a reposição da taxa de 6% nos consumos de electricidade e gás. O passar do tempo tem destas coisas inexoráveis, acabando por normalizar uma decisão que, relembremos, foi tomada em 2011 por Passos Coelho e Vítor Gaspar, “aquecidos” pelos calores da troika. Muito se barafustou, mas o “mal” ficou cá para sempre.
Nessa altura, acabrunhados pela acusação de termos andado a viver acima das nossas possibilidades, suportámos medidas em cima de medidas que, supostamente, nos puniam pelas veleidades cometidas antes. Hoje, “alunos bem comportados” e inocentes, enfrentamos estoicamente recorrentes crises, e contemplamos, embevecidos, as medidas que tantos especialistas, sábios e indecisos, debruçados sobre complicadíssimos estudos, engendraram para resolver a inflação, a pobreza, a habitação, os baixos salários e mais um infindável et cetera. Não duvido de que o Governo esteja a fazer o seu melhor. O problema é que, se calhar, esse “melhor” se resume a ziguezagueantes remendos e experiências que ninguém sabe, com certeza, se vão resultar.
Público - 31.03.2023
quarta-feira, 29 de março de 2023
Parem de enganar a gente
Finalmente começa a ouvir-se alguma coisa séria sobre as principais causas da inflação, que não se trava retirando ou reduzindo meios de subsistência àqueles que já vivem em apertos, mas apontando aos exploradores que os lucros obscenos que ao abrigo da inflacçao vêm abocanhando são a primeira causa; de facto, estava a fazer falta que alguém com autoridade pusesse o dedo nessa chaga, que são os escandalosos benefícios dos grandes potentados dos negócios, como ontem ouvi à primeira responsável pelo Banco Central Europeu e ao governador do Banco de Espanha.
Como podem insistir que já reduzem muito as suas margens de comercialização, não estando a provocar inflacçao nem a aproveitar-se dela, se periodicamente apresentam lucros tão discrepantes com o que afirmam, enquanto os consumidores de menor poder de compra pagam cada vez mais por cada vez menos... Haja quem desmonte este "milagre" e ponha em prática medidas eficazes para acabar com tão descarados e desonestos abusos...
Amândio G. Martins
terça-feira, 28 de março de 2023
Meu barquinho, meu barquinho
Já não sei quem é o verdadeiro “bazófias”. Se o Mondego,
como dizem coimbrões e futricas, se quem assegura que está em perfeitas
condições para navegar. Nem de empurrão, pega… Resta-lhe o “pronto-socorro”,
como a qualquer mortal.
Carris Metropolitana: o incumprimento continua
segunda-feira, 27 de março de 2023
Para enganar os distraídos
Emociono-me facilmente perante um animal faminto que me apareça por aqui à procura de comida, cheio de medo que, em vez de lha dar, o escorrace à vergastada, de tão “escaldado” que anda de ser assim recebido, mas é muito difícil que o discurso dum político me possa causar emoção; de facto, creio mesmo que, desde Luther King, que não era político, pelo menos comum, jamais uma perlenga política foi capaz de melhorar o meu cepticismo.
Mas ando emocionado, que só pode ser de revolta, com o que nos últimos dias tenho ouvido ao dito líder da Oposição, pela preocupação que vem manifestando com as dificuldades que os menos abonados de nós atravessam; um demagogo que, como líder parlamentar durante uma legislatura inteira, nunca opôs uma reticência que fosse às maiores patifarias que um governo já fez contra os mais fracos da nossa terra, enquanto os poderosos engordavam ainda mais a sua fortuna, justificando-se que se as pessoas não estavam bem, o país estava muito melhor.
Apoiante de um governo que parecia regozijar-se de castigar quem menos tinha, retirando e reduzindo apoios indispensáveis à sobrevivência de tantos, propalando que os socialistas não só não incentivam a criação de riqueza como potenciam bancarrotas, esta rocambolesca figura vem agora acusar de “forretas” os socialistas actualmente responsáveis pela governação, por não estarem a dar ao povo necessitado os apoios suficientes; todavia, diz-me a experiência que não são as dificuldades do povo que o afligem, mas ver fugirem-lhe por entre os dedos os argumentos de estimação que sempre usaram contra a Esquerda, de esbanjar o que eles “amealhavam”, deixando os cofres públicos a zero...
Amândio G. Martins
sexta-feira, 24 de março de 2023
Assim, mesmo sendo a última, morre mesmo...
POUCA ESPERANÇA
Mar e Terra atascados de imundice
Por acção da gananciosa gente
Cuja cabeça suja e prepotente
Enreda o mundo na vil intrujice.
Querem que desacreditem quem disse
Ter prova do que faz a Terra quente
Recusam-se a limpar a suja mente
Que os negócios não querem esquisitice...
Até assinam promessas bonitas
Para que aquelas gentes mais aflitas
Já não temam a vida ameaçada.
Mas passada a falsa solenidade
Onde foi dissimulada a verdade
Vê-se o acordo servir para nada!
Amândio G. Martins
Na Instrução deve haver igualdade de oortunidades
quinta-feira, 23 de março de 2023
"Velhos são os trapos"
A colaboração de Ramón Tamames na moção de censura de Vox, se não beneficiou nada este partido não foi por sua culpa; de facto, se a sua debilidade física lhe não permitia subir à tribuna, obrigando-o a manter-se permanentemente sentado no lugar que Santiago Abascal lhe cedeu para aquela tarefa, revelou uma agilidade mental que, pouco ou nada aproveitando ao partido da extrema-direita, divertiu muitos espanhóis, até pela oportunidade aproveitada por alguns artistas cómicos para imitarem a sua figura em programas televisivos.
Começando por uma intervenção de 75 minutos, em que enumerou as razões que justificavam a moção, teve de Sánchez uma réplica de uma hora e 45 minutos, no fim da qual Tamames pôs toda a gente a rir, Sánchez incluido, dizendo que com aquele tempo se podia escrever a história do Império Romano de uma ponta à outra; respondendo aos que o criticaram pelo despropósito que foi aceitar aquela tarefa, por um partido que nem os direitos das mulheres reconhece, defendendo a prepotência dos homens, não reconhecendo às mulheres capacidade de decisão e autodeterminação, negando-lhes empoderamento, Tamames continuou desconversando, respondendo que, quanto ao poder que é permitido às mulheres em Espanha, tinham aí o exemplo de Isabel a católica, que já no século XVI tinha mais poder que o próprio rei.
Pelos pedaços que durante dois dias foram passando nas televisões, embora normalmente escolham o mais sonante, o tom de Tamames foi sempre divertido, o que, para mim, não é pouca coisa em política, desde que não sirva para secundarizar o que é sério. O grande parlamentar da Esquerda Republicana catalã, Gabriel Rufián, lembrou a Tamames que aqueles que ali se propôs defender eram filhos e netos dos que o tinham encarcerado pelo seu activismo comunista, mas como isso já foi há muito tempo, o velho comunista não se mostrou perturbado, dizendo a Rufián que não percebia de que se queixavam os catalães contra a nação espanhola...
Amândio G. Martins
quarta-feira, 22 de março de 2023
CELIBATO E SEXUALIDADE
A Igreja Católica reconhece que o desejo pelo prazer sexual faz parte da natureza humana, mas através do celibato e alguns conceitos de castidade, contraria essa natureza, o que estará na origem de muitos dos abusos sexuais.
A sexualidade
faz parte da natureza e deve ser no mínimo respeitada, ao ser reprimida abre
mais possibilidades de se verificarem desmandos e comportamentos psicopáticos.
Ultimamente, o que tem estado na ordem do dia,
são os abusos sexuais considerados crimes pelo Código Civil, mas a violação às leis
eclesiásticas foi sempre muito para além disso durante muitos séculos,
nomeadamente com amantes e filhos ilegítimos, embora hoje mais atenuados ou
menos badalados esses desrespeitos das regras do celibato.
O celibato foi introduzido no século IV, embora
com avanços e recuos na sua aplicação, o que permitiu até a existência de papas
que foram casados, e foi imposto definitivamente no século XVI pelo concílio de
Trento, embora nas práticas comportamentais não existisse grande alteração,
sobretudo no clero com influência e poder material e social.
O choque entre o celibato e uma relação sexual
e mesmo sentimental, é retratado em obras literárias como o «O Crime do Padre
Amaro», do nosso Eça de Queirós e o «O Crime do Padre Mouret», do escritor
francês Émile Zola.
Com o desenvolvimento social e de mentalidades,
o celibato acaba por se transformar também num obstáculo ao recrutamento de
sacerdotes, sobretudo a partir de meados do século XX, obrigando a Igreja
Católica a medidas de recurso como uma maior actividade dos diáconos. É
previsível que exista uma evolução do celibato para a sua abolição.
terça-feira, 21 de março de 2023
Farsantes
Quando a União Soviética caíu de podre, porque mais iníqua e corrupta que o capitalismo a sua ideologia, os países vizinhos que a prepotência tinha amordaçado manifestaram vontade de liberdade, tendo recomeçado a caminhar pelo seu pé, embora alguns nunca conseguissem libertar-se completamente da cepa podre; no que concerne à Ucrânia, ficou estabelecido que este país devolveria à nova entidade russa todo o arsenal nuclear aí instalado e a Federação Russa comprometia-se a respeitar a soberania e integridade territorial da Ucrânia.
Só que tudo mudou rapidamente na estrutura dirigente russa; de facto, educados/viciados na falsidade e prepotência comunista, só respeitam qualquer tratado assinado enquanto lhes parecer favorável, e quando perceberam cada vez mais problemático manter fantoches na governação ucraniana, vai de inventar ameaças à sua soberania a partir da Ucrânia e invadir este país da forma mais selvática.
O ditador chinês, agora disfarçado de “pomba da paz”, atirando areia para os olhos do mundo democrático, onde a confiança na China anda pelas ruas da amargura, diz pretender uma “nova ordem” baseada no respeito pela lei e soberania dos povos, como se a selvática agressão russa, que nunca reconheceu como tal, porque lhe tem sido altamente favorável, estivesse escudada no respeito por seja que lei for, mas percebe-se bem que a tal “nova ordem” seria uma em que ele e o amigo russo ditassem as regras...
Amândio G. Martins
segunda-feira, 20 de março de 2023
Rui Nabeiro, um patrão de excepção
O "meu" empresário modelo
No exercício da minha actividade profissional tive oportunidade de contactar pessoalmente com os mais diversos tipos de empresários, mas não lembro um só cuja forma de proceder e ética empresarial se aproximasse da de Rui Nabeiro - de quem nunca sequer estive próximo mas fui conhecendo pelo que dele se dizia na Comunicação Social- realmente o “meu” empresário modelo, moldado na escola de que mais se orgulhava, a universidade da vida e a origem modesta de onde procedia.
Da maioria daqueles que conheci por contacto directo, impressionava-me a forma como lidavam com o pessoal que empregavam, não mostrando a menor consideração pela pessoa, com aquela sobranceria que lhes dava o desplante de não responder à saudação que lhes era dirigida pelos trabalhadores, mas estavam sempre prontos a interpelá-los de forma grosseira, na presença fosse de quem fosse, para os repreender por algo que lhes desagradasse.
De uma maneira geral, aqueles que já possuíam alguma graduação académica para as funções que desempenhavam, faziam questão de afirmar, porque era moda, que os trabalhadores eram o mais importante activo da empresa; todavia, mesmo possuindo “MBA” de prestigiadas escolas de negócios, nenhum deles me parecia sentir a necessidade de dispensar ao pessoal que os fazia ricos o tratamento correspondente à importância que diziam ter e realmente tinham, muito menos com as qualidades humanas de Manuel Rui Azinhais Nabeiro; pudesse o seu exemplo frutificar na classe empresarial e o capitalismo seria outra coisa bem mais decente...
Amândio G. Martins
A “ditadura” europeia
Bem audível, aí está a contestação generalizada perante a degradação das condições de vida da maioria dos portugueses. Para explicar os motivos dessa degradação, não faltam aos responsáveis os mais credíveis argumentos, como a pandemia, a inflação ou a guerra.
Numa entrevista que concedeu ao PÚBLICO (ver edição do passado sábado), Teresa Violante (T.V.), notável investigadora e constitucionalista, aprofundou a questão, desfiando acertadamente uma série de factos que ajudaram a que chegássemos a este inóspito “porto”. Antes de mais, o distanciamento, ou mesmo contradição, entre os desígnios constitucionais da UE e os de diversos Estados-membros. Por norma, as constituições dos países privilegiam os interesses sociais dos seus habitantes, enquanto as exigências europeias se subordinam à liberdade dos mercados, o que conduz “à dominação de quem tem mais poder”. É a valorização do consumidor sobre o cidadão, conceder o poder máximo à “santidade” dos mercados. Vale a pena reflectir sobre as razões que levam T.V. a considerar que o Pacto de Estabilidade e Crescimento nos impõe um “colete-de-forças” ou a associar tenebrosos adjectivos como “condicionada” ou “agrilhoada” à democracia que nos servem em baixela de lata. A UE está contra a verdadeira democracia e contra o Estado social?
domingo, 19 de março de 2023
"Dia da Pessoa Especial"
Pouco ou nada me dizem os “dias de...”, que todos para mim são iguais, embora não haja um só em que não se pretenda destacar qualquer coisa, algumas vezes de grande importância, como o “Dia da Sanita”, apetrecho doméstico que muitos milhões de criaturas humanas, para lá de não disporem dele, por falta de habitação condigna, sequer sabem o que seja; todavia, como tudo vai mudando constantemente, sobretudo no mundo consumista, é natural que o que se vai comemorando tome também“ “novas qualidades”.
Pelo menos nesta parte do mundo dá-se hoje relevância ao “Dia do Pai”, mas parece que a forma como este dia é designado se apressa a ter também os dias contados, tão irrelevante se vem tornando a velha figura para alguns movimentos, pela diversidade com que se assumem “paternidades e maternidades”; de facto, como quis demonstrar uma professora do ensino básico de um colégio espanhol, em Jerez de la Frontera, não faz nenhum sentido, e é mesmo prejudicial para a saúde mental de muitos meninos, comemorar uma figura que desconhecem, estabelecendo que, dali em diante, o antigo “Dia do Pai” passaria a chamar-se “Dia da Pessoa Especial”.
Por estranho que possa parecer até foi um artista, o cantor Bertín Osborne, o primeiro a manifestar-se contra, não achando graça nenhuma a esta inovação, tentando “incendiar” as redes com o grito de “cessem já com esta louca, quem julgará ela que é...”; todavia, pelo que me fui apercebendo, nos comentários televisivos, não serão muitos os que com ele concordam, para além dos petrificados de sempre...
Amândio G. Martins
sábado, 18 de março de 2023
Tragédia permanente
A “Sãonzinha do Quim da Burra”, como era conhecida na zona onde residia, na Maia, segundo o JN, não gostava de ver aproximar-se o ex-companheiro, por ser conflituoso e só aparecer para lhe criar problemas; já tinha sido referenciado por violência machista, mas a queixa acabou arquivada e continuou à vontade, até à hora em que a matou a tiro, proeza que tinha anunciado horas antes e ninguém levou a sério.
Noutro caso, passado em Arganil, um que tentou matar à catanada foi a julgamento, mas a douta juíza decidiu pela absolvição, com o argumento de que, para além de não ter chegado a matar a mulher, a catana é uma ferramenta agrícola, não uma arma, e os vizinhos da mulher, que na sua defesa ficaram feridos, provocaram eles as feridas ao tirarem ao agressor a catana.
Na minha agricultura “desportiva”, eu uso várias ferramentas que podem matar, entre elas as enxadas, e uma sacholada na cabeça já mandou para o “outro mundo” muita gente ao longo dos tempos; se “por desgracia” viesse a ser acusado duma coisa dessas, também podia alegar em minha defesa que aquilo não é uma arma, e que não bati com ela na cabeça da vítima, mas que tinha sido a sua cabeça que foi ao encontro da enxada...
Amândio G. Martins
sexta-feira, 17 de março de 2023
O ALMIRANTE, OS MARINHEIROS, EU E O SARGENTO
Disse o almirante Gouveia e Melo, chefe do Estado-Maior da Armada, que não é a guarnição do navio, quem sabe do estado de prontidão do mesmo. Disse ainda que a disciplina, é a cola das Forças Armadas. Disseram os membros da guarnição do patrulha que se recusaram ir para o mar, porque, entre outras deficiências, um dos dois motores principais do navio, estava inoperacional. Digo eu que, embora não tenha grande experiência do mar da Madeira e dos Açores, passei por lá quatro vezes, duas na Sagres e outras duas na fragata “Comandante João Belo”. Mas, é consenso geral de quem conhece aquele mar que, com frequência, não é para brincadeiras. Portanto, supúnhamos que debaixo de forte malagueiro (expressão muito usada na Briosa), se avariava o outro motor? Tendo o “Mondego” pouco calado e superstruturas bastante altas , ficando à deriva, que consequências haveria para o navio e respetiva guarnição? Provavelmente, seriam os marinheiros russos, a salvar os seus camaradas portugueses.
Diz o sargento Lima Coelho da Associação Nacional de Sargentos, que o senhor Almirante assim como os seus homólogos do Exército e da Força Aérea, se deveriam preocupar, primeiro que tudo, com o estado operacional dos equipamentos em que operam os seus camaradas, para que as missões que lhe são conferidas, ocorram em segurança e com eficácia.
E qual o papel do comandante do navio no meio disto tudo? Não devia ser determinante? Pelos vistos, não foi.
E volto eu a dizer, se não seria preferível e para bem de todos nós, que o dinheiro que o país gasta com a sua participação na guerra imperialista da Ucrânia, não fosse antes investido nos referidos equipamentos das FA? Nomeadamente , nos da Marinha que tem à sua responsabilidade a vigilância da nossa tão extensa Zona Económica Exclusiva Marítima.
Francisco Ramalho, ex marinheiro CM
De joelhos querem ver-te
CALMA, AMIGO
Que nem tudo é mal feito no país
Se reclamas da vida de servidão
Vão castigar-te com toda a perfeição
Não vás tu pensar que podes ser feliz.
Terás de fazer como o mandão te diz
Ou verás que te endurece a punição
Reduzindo mais à migalha de pão
Se não dobrares ainda mais a cerviz...
Não gostam de te ver descontraído
Temendo que fiques mais atrevido
E te lembres de fazer exigências;
Adoram ver a tua humildade
Que não penses noutra realidade
Que acabe a submissão a prepotências.
Amândio G. Martins
terça-feira, 14 de março de 2023
Como evoluímos...
OLHO POR OLHO...
Conta o velho “código de Hamurabi”
Penas que chamamos “barbaridade”
Mas para tantos mil anos de idade
Mais sensatas do que aqui já assisti.
Pior Babilónia encontra-se aqui
Com imensa falta de urbanidade
Quer o vadio o que dá na vontade
E se recusares quer dar cabo de ti.
Chamas “bárbara” à pena de talião
Mas medita nalguma comparação
Com o que hoje vemos constantemente;
Pessoa que até parece bondosa
Pronta a partir a dentadura toda
A quem por lapso lhe parta um dente...
Amândio G. Martins
segunda-feira, 13 de março de 2023
PARABÉNS PAPA FRANCISCO!
Cumprem-se hoje 10 anos com o Papa Francisco ao leme dessa velha barca que é a Igreja Católica Apostólica Romana (não vou agora discorrer sobre ela, porque o farei amanhã, a propósito da pedofilia no seu seio, no jornal “O Setubalense”).
O Papa Francisco, é um cristão. Coisa rara entre os seus pares. Refiro, especialmente, a alta hierarquia. Um homem que, ao contrário da maior parte dela, não deturpou a Mensagem de Cristo.
O Papa Francisco, critica a fome e a guerra.
Fala da “economia que mata”. Ou seja, do capitalismo predador. E na “NATO a ladrar às portas da Rússia”. Que é como quem diz, disse-o ele, a NATO junto das suas fronteiras. A cercá-la. O que é uma das causas da guerra. A outra, que os hipócritas que estão a ganhar com ela e que por isso a defendem, foi o massacre das populações russófonas do Donbass, que os mesmos, sistematicamente, omitem.
Portanto, o Papa Francisco é um pacifista e um humanista. Ou seja, um verdadeiro cristão. Por isso, o nosso aplauso.
Francisco Ramalho
Rabo escondido com o gato de fora
A desfaçatez dos senhores dos grandes potentados da distribuição quer agora fazer crer que os artigos de primeira necessidade em que foram descobertas margens de lucro de 50%, como assegura a fiscalização económica, custam caro aos consumidores porque o Governo não lhes quer baixar o IVA, como se fosse aquela pequena margem para o Estado a responsável por aumentos tão escabrosos para o bolso deles; este é um argumento que cai pela base quando, por força da lei, são compelidos a publicar os resultados do exercício, ficando toda a gente a perceber como conseguem o mesmo milagre dos banqueiros, com muitos dos restantes negócios enfrentando todo o tipo de entropias.
Além dos exemplos que há de que a redução do IVA pouco favorece os mais necessitados, para lá dos que não precisam beneficiarem por igual, os exploradores das situações que mais prejudicam a gente em período inflacionário até as eventuais baixas de IVA aproveitam para ganhar mais aquele, aumentando os produtos na mesma percentagem, ficando claro que a situação só poderá entrar nos eixos com um acompanhamento atento de toda a engrenagem porque, como sempre, os que produzem os bens são tão explorados como quem os consome...
Amândio G. Martins
domingo, 12 de março de 2023
MULHERES EM FORÇA NA LUTA
Respondendo ao apelo do Movimento Democrático de Mulheres (MDM), estiveram ontem em Lisboa, dos Restauradores ao Cais do Sodré, dezenas de milhar de mulheres, entoando palavras de ordem como esta: “PELA PAZ E PELO PÃO AS MULHERES CÁ ESTÃO!”. E estiveram. Vibrantes, determinadas, mas também animadas e contagiantes como só elas sabem ser. Não sei é se as televisões, as rádios e os jornais lá estiveram. É que já no passado dia 4, elas estiveram também na rua, no Porto, e não vi nem ouvi nada nos “pluralistas” media.
Foram, felizmente, muitos milhares delas que não calam esta vergonha que é meia dúzia de oportunistas, à pála da guerra, arrecadarem, aumentarem, brutalmente os lucros, enquanto milhões já passam por tão grandes dificuldades com os preços da alimentação e não só, a subirem todos os dias. E este governo “socialista” que não só não trava essa injustiça, como, em prol do privado, deixa degradar o SNS, o Ensino, e outros serviços essenciais. Este governo “socialista”, que apoia a guerra imperialista já de nove anos e não de 1, como dizem e que nos impingem a toda a hora a unica (dos seus donos) razão da sua causa, que está a pôr a Europa de joelhos, em vez de contribuir para que ela acabe.
Por isso, as mulheres estiveram na rua e estarão muitas mais, assim como os homens, para com elas dizerem, exigirem: PELA PAZ E PELO PÃO AS MULHERES E OS HOMENS CÁ ESTÃO!
Francisco Ramalho
Corroios, 12 de Março de 2023
As causas da guerra
Discorrendo sobre as problemáticas em torno das duas guerras mundiais do século XX, creio não existir nenhum historiador que ouse apontar como únicas causas, respectivamente, o assassinato do arquiduque Francisco Fernando e a invasão da Polónia por Hitler. Nas análises que serão feitas dentro de algumas décadas sobre a actual guerra da Ucrânia, nenhuma se ficará também por indicar isoladamente a criminosa invasão perpetrada por Putin, antes lhe acrescentando uma panóplia de circunstâncias que, indubitavelmente, se encontram na sua génese. Ao contrário, hoje, os analistas que nos entram em casa diariamente, pela informação em geral, mas em especial pela via televisiva, “abafam-nos”, monocórdica e monoliticamente, com a “única” causa da guerra, numa demonstração de alinhamento ideológico que não me parece nada enriquecedora, tanto mais que, com dispensável frequência, pontuada por sinalizações belicistas nada dissimuladas.
É de lamentar que sejamos encurralados nessa visão tão redutora. De lamentar ainda mais que quem se atreve a tentar conferir maior abrangência ao assunto raramente escapa a ser apodado de pró-Putin.
Expresso - 17.03.2023
sábado, 11 de março de 2023
Lavou a alma batendo no Costa e nos bispos
A Direita rejubila com a recente desbunda do “venerando chefe de Estado”; e com as “premissas” que ele deixou para fazer deflagrar a “bomba atómica”, são de esperar novas “descobertas cabeludas” para continuar a minar a acção do Governo, porque a fome de poder daqueles desvalidos é tanta que lhes faz perder a noção dos limites; e a preocupação do seu afeiçoado na presidência em lhes agradar foi tal que, quando lembrou as dificuldades que ao Costa se têm deparado, teve o cuidado de sublinhar que não o dizia para ilibar o primeiro-ministro, que daquela vez até nem lhe estava a pôr nada a mão por baixo.
Como ao fim de cada dia me sinto cansado, porque o meu dia é sempre muito cheio de tarefas, quando o homem falou já estava na cama, que me deito sempre cedo – não abrindo excepções nem que seja para ver o Sporting - porque também gosto de me levantar cedo, pelo que da tal entrevista só vi alguns pedaços no dia seguinte e a interpretação que dela fizeram os comentadores de serviço na Antena 1, com uma senhora a dizer que foi mais uma manifestação do egocentrismo do presidente, e um seu colega do lado a dizer o contrário.
Como sempre, os do copo meio-vazio dizem que vai tudo de mal a pior, e os do copo meio-cheio que continuamos no bom caminho; eu interrogo-me como estaria a situação se tivéssemos tido a Direita a governar nestes últimos anos, com as vicissitudes que ao Costa puseram os cabelos brancos, de que não havia como fugir, e a conclusão a que chego, conhecidos que são os métodos deles, é que estaríam muito pior os mesmos de sempre, e muito melhor os mesmos de sempre...
Amândio G. Martins
sexta-feira, 10 de março de 2023
"Santa Comba de Salazar"
A Câmara de Santa Comba Dão anunciou para breve a inauguração de um museu cuja finalidade, segundo afirma o seu presidente, é esclarecer o que foi o Estado Novo - criação dum filho daquela terra – obra que terá custado à autarquia 200 mil euros, justificando o autarca o investimento como sendo um atractivo para o concelho; sendo óbvio que a história não se apaga, como ele diz ao JN, o referido museu pode vir a ser importante para mostrar àquelas gentes do interior, e a quantos queiram visitar aquilo, o que foi realmente o tal “Estado Novo”, não tendo que ser visto como exaltação ao ditador, até porque os que o veneraram já devem ter morrido todos, e a maioria dos seus descendentes está noutra.
Mas ajudar as novas gerações a perceber o que foi a ditadura salazarista, como e porquê se manteve tanto tempo, qual o “caldo de cultura” que lhe deu origem, como chegou Salazar a ministro das Finanças e logo a presidente do conselho, quais os métodos a que recorreu para calar as vozes contrárias, parece-me importantíssimo, porque a memória dos povos é curta e os regimes democráticos, pela “licenciosidade” que é da sua natureza, estão cada vez mais fragilizados...
Amândio G. Martins
quinta-feira, 9 de março de 2023
O "exemplo" português
O autosuficiência das meninas do partido espanhol “Unidas Podemos” que são ministras no governo de coligação com o PSOE, Ione Belarra e Irene Montero, Assuntos Sociais e Igualdade, respectivemente, fez com que ficassem “solitas” na bancada azul do Governo, aquando da votação da nova lei que pretende corrigir a da autoria de Montero sobre violência sexual, que ficou “celebrizada” com o nome “solo si és si”, querendo significar que sempre que uma mulher não disser claramente que “sim” a uma abordagem de caracter sexual, o acto que noutras ciscunstâncias acontecer é violação.
A teimosia daquela ministra em não querer rever a lei, preferindo acusar sistematicamente os juízes de “machistas”, por com base nela estarem a reduzir penas e a libertar presos cuja pena estivesse maioritariamente cumprida, levou os socialistas a fazer discutir no Congresso uma nova lei com as necessárias correcções, em cuja preparação “Podemos” não colaborou nem votou a sua aprovação, mas que foi aprovada por larga maioria porque pôde contar com os votos da Direita PP.
Para a Oposição, a imagem daquelas duas senhoras isoladas na bancada do Governo, porque mais ninguém da equipa governamental compareceu, recorrendo ao voto telemático, foi a prova de que o actual Governo está moribundo, mas a cúpula dos dois pequenos partidos da coligação garante que é para continuar, que não irão dar à Oposição a satisfação de eleições antecipadas; e a explicação para que não façam desmoronar a coligação é dada pelos comentadores, afirmando que naqueles dois partidos mais esquerdistas está muito presente o que se passou em Portugal há cerca de um ano...
Amândio G. Martins
quarta-feira, 8 de março de 2023
Que não pensem que te compram
MULHER
Que ele perceba não estares à venda
Se intuiste que te quer ludibriar
Com prendas difíceis de justificar
A menos que pretenda a tua “prenda”...
Deixa claro de forma que ele entenda
Que não és menina fácil de enganar
Determinada a fazê-lo recuar
Sabendo que um predador não se emenda.
És para ti o ser mais importante
Que importa que te chamem arrogante
Porque mostras ser quem mais de ti gosta;
Perante as artimanhas dos aldrabões
Não descures cautelas e atenções
Para teres sempre a certeira resposta.
Amândio G. Martins
terça-feira, 7 de março de 2023
TEMPOS DIFÍCEIS E DE GRANDE APREENSÃO
Enquanto os grupos económicos aumentam exponencialmente os lucros, o nível de vida da esmagadora maioria dos portugueses baixa. O Serviço Nacional de Saúde continua a degradar-se e nos mais variados ramos de atividade; Ensino, Função Pública, transportes, comunicação social, agricultura e tantos outros, os trabalhadores reagem com manifestações e greves e todos sofrem os brutais aumentos de produtos alimentares e outros de primeira necessidade.
Lá fora, para além de catástrofes naturais e de erros humanos como na Grécia, mais um naufrágio no Mediterrâneo a ceifar vidas, incluindo crianças e até um bébé que findaram, com que sofrimento, as suas ainda curtíssimas. Fogem da destruição dos seus países, provocada pelos que no início calaram e sempre apoiaram a guerra na Ucrânia. A desgraça das desgraças. Primeiro, foi a pandemia, agora a guerra. Para Biden, Stoltenberg, Leyen e para o herói deles, Zelensky, só tem uma causa; a invasão da Rússia, e uma solução; a derrota dela.
Mas hoje, para “falar” desta guerra, recorro a um homem de pensamento próprio e reconhecidos méritos, o diretor convidado deste jornal pelo seu 166º aniversário, Viriato Soromenho-Marques, que no seu excelente artigo de opinião “Que Salvação do Povo Seja a Lei Suprema”, DN, 11/2/23, também condena a invasão, mas vai muito para além e antes disso. “Não temos qualquer obrigação militar perante a OTAN, pois o artigo 5º da “defesa mútua” não se aplica ao caso presente da Ucrânia, país que não pertence à organização do Atlântico Norte (…) Qualquer governo europeu, incluindo o português, deveria colocar como prioridade máxima a salvaguarda da sua população contra o risco de o seu território ser um alvo direto ou indireto (através do fallout radioativo resultante de explosões nucleares) (…) Na verdade, será nos limites da razão de Estado das duas potências que contam, os EUA e a Rússia, que será decidido ou o cessar das hostilidades ou a escalada para a autodestruição geral (…)
Esta guerra sem vitória possível e que poderia ter sido evitada diplomaticamente, se os países europeus, que partilham uma vizinhança histórica com a Rússia, tivessem tido maturidade e coragem para contrariar a obstinação dos EUA, nunca abandonada desde a cimeira de Bucareste em 2008, de integrar a Ucrânia na OTAN, apesar das reiteradas reservas e sucessivos alertas russos de que tal constituía uma inaceitável linha vermelha de segurança. Depois de iniciada a guerra, o que seria sensato seria travar diplomaticamente as hostilidades, garantindo o Estado ucraniano, deixando a questão territorial para negociações de segurança europeia posterior. O que interessa agora é estancar a escalada da violência, cessando as hostilidades. Há exemplos dessa espécie de paz imperfeita:recorde-se que ainda não existe um tratado de paz entre as duas Coreias, apesar do fim dos combates em 1953; os Montes Golã separa, desde 1973, dois países, Israel e Síria, tecnicamente ainda em estado de guerra.”
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal "O Setubalense"
Vingança não é justiça
Fazem para mim todo o sentido as cautelas reveladas pela hierarquia católica acerca do modo como deverá ser tratado o sério problema dos abusos cometidos por padres em exercício de funções, porque toda a gente tem direito à “presunção de inocência”, até que se prove que cometeu os crimes de que é suspeita; de tão habituados que estamos a ver condenações na praça pública, exigimos o “pelourinho” muito antes de se provar que as pessoas de que se suspeita cometeram realmente esses crimes, e quando se verifica que são inocentes já de popuco lhes serve, porque dificilmente recuperarão a imagem da dignidade que lhes foi roubada.
Aparecem às vezes, na Comunicação Social, relatos de casos de vingança no seio das famílias, quando aí surgem desavenças, em que um pai é acusado de abusar da própria filha, com esta a ser manipulada pela mãe para confirmar o que ela quer, só porque quer arranjar um pretexto para separar-se do marido, ou é ele que tem essa intenção, e deve ser terrível alguém ver-se assim acusado; é que até que se demonstre que tudo não passou de calúnia vingativa, a vítima vê-se olhada como se fosse mesmo culpada, e mesmo depois de ser ilibada pela Justiça vai continuar a sentir aquela nódoa na sua vida.
Portanto, parece-me razoável a postura cautelosa dos bispos, que para além da sua própria análise à lista que lhes foi entregue pela comissão independente, a deverão entregar às autoridades do Estado para investigação competente, para que ninguém seja condenado sem provas concludentes de ter cometido crimes, sendo dadas aos padres as mesmas possibilidades de defesa de qualquer outro cidadão...
Amândio G. Martins
O catolicismo apregoa compaixão mas não a pratica
segunda-feira, 6 de março de 2023
E "chic" não cumprir regras
Comecei a conduzir automóveis em 1971, tinha vinte e poucos anos, porque a actividade profissional que iniciava, após cumprir o serviço militar, implicava grande mobilidade; o número de automóveis em circulação era infinitamente menor do que o verificado hoje, mas as estradas eram uma verdadeira desgraça, a maior parte das viaturas não oferecia a mínima segurança, do cinto da dita ainda ninguém sequer falava, razão por que já se morria muito nas nossas estradas, havendo até um “horripilante” programa na televisão escancarando tudo o que tinha acontecido na semana anterior.
Assim como não havia cinto, também não se falava na “cadeirinha” para crianças, e quem as tinha, quando nos fins de semana viajava a família toda, desenvencilhava-se à sua maneira; só que, conforme iam crescendo, sendo mais que uma, transformavam o banco traseiro numa capoeira anárquica, interagindo com as que eventualmente viajassem nos carros de trás e da frente; e quando o pai condutor era pouco responsável, e decidia brincar às ultrapassagens, punha os seus rebentos em delírio e os que ficavam para trás frustrados, a incentivar os pais a fazer o mesmo.
Tinha um “casal”, e o rapaz gostava muito de viajar em pé, espreitando por entre os bancos da frente tudo que eu fazia; quando, num cruzamento ou “stop”, tinha de parar, ficava “furibundo” comigo: “chegas aqui e páras sempre, que parem eles!”; lá lhe fui explicando todas as regras que era obrigatório cumprir, e as consequências que resultavam do seu não cumprimento, mostrava-lhe os acidentes reportados pelo jornal e porque tinham contecido, e ele foi ganhando “juízo”, de tal forma que, aos dez anos, já conhecia as regras todas e dominava a condução, podendo andar na estrada se a lei o permitisse.
A hecatombe que se verifica nas nossas estradas resulta da falta de noção do perigo que comporta conduzir sem regras. Diz o presidente da Autoridade de Segurança Rodoviária que 30% das vítimas mortais autopsiadas pelo IML acusam álcool, e que o nossos jovens, se não estão a emigrar, estão a morrer nas estradas; é verdade que em todo o mundo se morre muito nas estradas, mas os latinos, pelo seu “feitio”, têm para isso mais tendência; um irmão meu que viveu nos USA muitos anos contou-me que, viajando com um amigo americano com quem residia, numa via de trânsito intenso e vagaroso, perante um tipo que, atrás deles, businava muito, o amigo o provocou dizendo que devia ser português, “ou americano”, respondeu o meu irmão; “ok, na tua língua, manda-o parar de fazer barulho”; o meu irmão correu o vidro e mandou o sujeito fazer chinfrim para a terra dele, ouvindo na resposta um chorrilho de insultos em português do Brasil, acabando os dois amigos à gargalhada...
Amândio G. Martins
domingo, 5 de março de 2023
A GENIALIDADE SUBLIME DE MOZART E A INVEJA PATOLÓGICA DE SALIERI
O realizador Milos Forman e o excelente elenco do seu filme “Amadeus”, com destaque para o ator F Murray Abraham no papel de Salieri e Martin Cavina no de Mozart, trouxeram para o grande écran, o relacionamento e as obras de Mozart e de Salieri.
Salieri, um vulgar compositor, mas com lugar de destaque na corte do imperador da Áustria, por inveja, fez a vida negra ao genial Mozart e tentou por todos os meios, rebaixá-lo. Mas, por cada tentativa, a imaginação torrencial e prodigiosa do autor de Dom Giovanni (ópera) e de tantas outras obras-primas, disparava.
O resultado, é que a obra de Wolfgang Amadeus Mozart, tornou-se imortal, e a de António Salieri, definhou. Tal como ele, ainda em vida, roído de inveja e até revoltado com Deus por não lhe ter concedido o dom que deu ao ainda por cima excêntrico Mozart, reconheceu.
Uma grande lição. Temos o direito de melhorarmos, mas devemos aceitar as capacidades que temos, reconhecer as dos outros, e aplaudir os que se destacam. A inveja pode tornar-se patológica, fonte de rancor e infelicidade, como aconteceu a Salieri.
Um filme absolutamente a não perder.
Francisco Ramalho
Porca medalha
Lê-se no JN que somos o segundo país a registar maior número de burlas com fundos europeus - tendo sido detectados cerca de 3 mil milhões só em 2022 - e esta calamidade passa por ser o normal no nosso desgraçado país; por um lado, ouvimos e lemos constantemente os empresários queixarem-se de que o dinheiro anunciado nunca chega a tempo e horas às empresas, e quando chega nunca é como esperavam; por outro, somos surpreendidos com choques tão brutais como o agora proporcionado por estes “empreendedores”.
E ao cidadão comum é legítimo perguntar como é possível que isto continue a ser assim, quem da parte das entidades que deverão controlar o bom andamento dos projectos financiados é conivente com esta sujeira, como é possível que se liberte tanto dinheiro sem acompanhamento rigoroso de como vai sendo aplicado; é que não é fácil acreditar que roubos de tal magnitude não tenham fortes cumplicidades em lugares-chave da administração pública!...
Amândio G. Martins
sábado, 4 de março de 2023
O ministro que se “antecipa”
PÚBLICO, sexta-feira, 03.03.2023 Augusto Küttner de Magalhães
Em democracia, mesmo que haja muito boas ideias, e possam parecer as mais acertadas em cada momento, há que cumprir a Constituição, e todas as hierarquias do Estado, até ser tomada uma decisão definitiva.
O actual ocupante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, alegadamente, terá convidado, e bem, o Presidente Lula a vir discursar na Assembleia da República Portuguesa.
Contudo, o Parlamento não está sob a sua jurisdição, pelo que antes de ser confirmada a presença do Presidente brasileiro deve a proposta ser colocada aos deputados, e a decisão é destes.
O mesmo ministro, quando estava na Defesa, quis suplantar os seus deveres, tentando, e muito mal, passar por cima dos poderes do Presidente da República, e evidentemente foi travado por este, ao tentar fazer uma troca rápida de um dos responsáveis de um dos ramos das Forças Armadas.
A democracia, os direitos e os deveres têm de ser cumpridos e respeitados por todos nós, mais ainda por membros do Governo, deputados, membros das autarquias, todos os que são pagos pelos nossos impostos para defesa do bem comum e de regras e princípios.
O exemplo vem de cima.
Sempre.
Augusto Küttner de Magalhães
Europa entalou entre EUA e China
A Guerra na Ucrânia, que neste momento já devia estar a caminho de Paz ,negociada com a Federação Russa, está, hoje, e daqui em diante, a ser utlizada como uma luta entre os dois fortes, EUA e China.
A Europa deixou-se entalar no meio.A Comissão Europeia está totalmente a favor da continuidade da Guerra, em vez de apostar, já, já na Paz.
A Ucrânia, por muita pena que tenhamos , já está mais que meio desfeita, e só não está totalmente, dado a Nato, e o Ocidente estarem a enviar , para combater a Rússia ,o melhor armamento que temos. E estamos a deixar de ter.
E nada obsta a total destruição da Ucrânia.
Este esforço, de Guerra, está-nos a criar muitos problemas, na Europa, económicos, financeiros e até de contestação social ,pela subida imparável do custo de vida. E sem nos apercebermos disso, medo do amanhã. Muito fortes, mas com muito medo. Nos mais diversos sentidos.
Os EUA estão lá longe, do outro lado do Atlântico. Não lhes afecta nada directamente.
Os EUA, estão em luta aberta com a China, para não perder a primeira posição a nível mundial.
Os EUA tinham esquecido a eventual causa, provocada pela China, do início do Covid-19 , agora, o FBI, mas nem todos os outros organismos americanos envolvidos nas pesquisas, estão de acordo, afirmam que foi fuga, mesmo que involuntária chinesa. Agora? Porquê agora? Só, agora?
A Europa está a ser o joguete dos EUA, no meio da luta de hegemonia mundial.
Os EUA têm muito a perder se a China fica número um. A Europa já está a perder, por se deixar entalar pelas decisões guerreiras dos EUA. A Europa deixou a sua indústria ir toda para a China, logo depende desta. Everything is Made in China ou RPC.
E nunca por nunca defendendo a loucura provocada por Putin, ao invadir a Ucrânia, mas, se, se Putin ficar em total desespero vai jogar a última cartada, e será em cima de nós Europa.
E a Europa está à espera????
Ou não ou não ou não ou não ou
A. Küttner
A lavagem dos lucros excessivos
Guerra aproxima Kiev e Ancara da União Europeia
JN 02.03.2023 . Quinta-feira A. KÜTTNER
A Turquia é um eterno candidato a Estado-membro da União Europeia, mas porque não cumpre várias regras de adesão , tem sido vetada.
A Ucrânia, segundo a presidente da Comissão Europeia , dentro de dois anos “mete os papéis” e rapidamente será o 28º elemento da Europa comunitária.
Sendo que, neste momento, Kiev estará menos apta do que Ancara para aderir à União ,a guerra que Putin lançou parece ser o único argumento para apressar a adesão ucraniana.
Ironicamente , a mesmíssima guerra tem permitido à Turquia , que vem mantendo um pé de cada lado do conflito, conseguir alguns resultados positivos para o Ocidente
A. KÜTTNER
Aprender até morrer
QUE SABEMOS...
Nada se cria e nada se perde
Tudo constantemente se transforma
Legado dum sábio que nos informa
Estimulando do saber a sede.
Travar o que nos quer lançar a rede
Convencido de que tudo contorna
Mas quando o seu abuso nos transtorna
Que saiba não ser do poder a Sede.
Um sábio grego disse nada saber
Aos que lhe pediam para descrever
Tudo quanto lhes constava que sabia;
Os sábios agora não são tão castos
Muitos dos seus inventos são nefastos
Podendo causar à vida uma razia...
Amândio G. Martins
sexta-feira, 3 de março de 2023
Do "patriotismo" nos negócios
Por muito que um governo tenha motivos para criticar certos procedimentos empresariais, os governantes moderados nunca ou raramente o fazem de forma contundente, a menos que haja razões muito fortes para o fazer, como irreparável prejuízo para o prestígio e interesse nacional, porque raramente a dinâmica específica das empresas se acomoda com a burocracia da máquina estatal.
Mas quando na composição heterogénea de um governo de coligação há ministros que do interesse nacional têm apenas a perspectiva do partido a que pertencem - o que leva a Oposição a chamar-lhe governo de colisão - como é o caso de Ione Belarra, de “Unidas Podemos”, ministra dos Assuntos Sociais, que não se inibe de hostilizar sistematicamente as empresas, não se deve estranhar que as que no tecido económico do país têm bastante peso e poder, o façam sentir a quem lhes é desagradável, porque não é igual chamar”machistas” aos juízes que reduzem penas e libertam agressores sexuais - acusando-os de culpar sempre as mulheres, "por no cerraren bién las piernas" - porque lhes puseram nas mãos uma lei que o permite, e chamar “capitalistas despiadados” aos empresários cujo empreendorismo proporciona emprego a milhões de pessoas.
E é assim que em Espanha a sua construtora multinacional “Ferrovial” acaba de anunciar ir mudar a sua sede fiscal para Holanda ou Estados Unidos – também já cá tivemos disso - argumentando fazê-lo por um melhor ambiente de negócios, segurança jurídica e maior possibilidade de financiamento; a ministra Nadia Calviño, que é também vice-presidente do Governo e um dos esteios do partido maioritário, disse na televisão que telefonou ao presidente da companhia, Rafael del Pino, para lhe mostrar a sua surpresa e desagrado, não revelando em que termos o terá feito, mas não hesitou em afirmar ali - em termos que a maioria dos comentadores entendeu como perfeitamente legítimos - que Ferrovial deve a Espanha tudo quanto é hoje, não sendo aceitável que mostre esta falta de compromisso com o seu país, tanto mais que se as condições que Espanha oferece aos investidores tem atraído capitais estrangeiros, por maioria de razão serão boas para as empresas espanholas...
Amândio G. Martins
quinta-feira, 2 de março de 2023
Tanta escuridão no nosso mundo
DA MISÉRIA PERPÉTUA
Ninguém protege a menina impúbere
Duma vida precocemente adulta
Da miséria que a isso catapulta
Ambiente desde sempre insalubre.
Haja quem acenda a luz que a ajude
Na escuridão em que se vê envolta
Dando à sua vida uma volta
Contra a submissão da falsa virtude.
Privadas das infantis brincadeiras
Tão cedo vendidas e prisioneiras
Esperam-nas obrigações indignas;
Impedidas de frequentar a escola
Bem cedo a prepotência as isola
No credo de religiões malignas.
Amândio G. Martins
quarta-feira, 1 de março de 2023
CONTROLAR PREÇOS, AUMENTAR SALÁRIOS E PENSÕES
Os bancos ganham milhões, enquanto as famílias
são estranguladas pelos aumentos exorbitantes das prestações bancárias.
A grande distribuição (Sonae, Jerónimo Martins,
etc.) ganham milhões, com os produtos alimentares a subirem mais do dobro da inflação
estatística, enquanto as famílias apertam o cinto e a pobreza cresce dia a dia.
É necessário parar a subida das prestações
bancárias das famílias que compraram a sua habitação e colocar os milhões de
lucros dos bancos a suportar o aumento das taxas de juros.
Defender só o aumento dos apoios sociais, como
fez o Presidente Marcelo, em vez do controlo e fixação de preços e o aumento de
salários e pensões, é continuar a encher os bolsos aos grupos económicos e
financeiros.