A ENTREVISTA
A entrevista de José Rodrigues dos Santos ao secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, para além de indignar tanta gente mesmo fora do espectro político-ideológico comunista, foi o expoente máximo da tentativa de condicionamento dos telespectadores devido à posição deste partido em relação à guerra na Ucrânia. Valeu tudo. Valeu até ser a única matéria com que JRS confrontou sistemática e repetidamente o entrevistado, quando o principal assunto dos dirigentes partidários que vão àquelas entrevistas na RTP, serem as eleições antecipadas e as propostas que têm para apresentar ao país.
Na ânsia de tentar baralhar ou que o entrevistado caísse nalguma contradição para daí tirar dividendos, o conhecido jornalista, deu um péssimo exemplo do que deve ser a sua profissão. E o efeito, cremos, foi o contrário do que pretendia, ou de quem lhe encomendou que o fizesse. Aliás, logo a seguir à entrevista, uma das convidadas para analisar a mesma, a sua colega de profissão, Luísa Meireles, diretora de informação da agência Lusa, muito justamente, criticou-o ao dizer que é conhecida a posição do PCP desde sempre, sobre a matéria, e que havia outras questões que deveriam ter sido colocadas a PR. O outro convidado, David Pontes, diretor do jornal Público, reconhecendo a influência que o PCP tem no sindicalismo e não só, disse que era pena ter a posição que tem sobre a única matéria abordada na entrevista.
O PCP sempre se manifestou contra a guerra na Ucrânia. Portanto, muito antes da intervenção russa. E contra todos os desmandos e ataques à democracia naquele país. Desde o ataque por forças neo-nazis a sindicalistas e opositores ao Governo e com a ilegalização de todos os partidos da oposição, onze, e às populações russófonas de regiões do país como o Donbass onde já havia cerca de 15 mil mortos por reclamarem, em referendo, a sua autodeterminação.
Por tudo isto, evidentemente que os representantes do PCP na AR, coerentemente, não aplaudiram a representação ucraniana.
Se a RTP, o Publico e a maioria da comunicação social tivesse reportado, informado, como devia, a história daquele país pelo menos nos últimos 20 anos, se tivesse sido, como lhe compete, isenta, já não assistiríamos a esta lamentável entrevista de JRS a tentar fazer com que PR metesse os pés pelas mãos ou se desdizesse, porque o nosso povo, assim como outros, estava esclarecido. Mas PR manteve-se sereno, lúcido e digno, provando o essencial que o seu partido, desde os tempos mais negros do fascismo sempre se bateu e continua a bater-se pelos direitos dos trabalhadores, do povo, da democracia e da paz. Custe isso o que custar. Já custou perseguição, prisão, tortura e até morte, agora pode custar, por vezes, perda de votos, mas o PCP não abdica dos seus princípios. Se o fizesse, aí sim, satisfazia os Josés Rodrigues dos Santos deste mundo e os seus patronos. Os que vivem à grande à conta das dificuldades e das guerras que impõem ao povo para satisfação das suas ambições financeiras e de domínio.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE