A Voz da Girafa
Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Alvorada: Deficitária e embusteira
Ressuscitem a diplomacia
Assertivo como sempre, e acertado como quase sempre, o “Escrito na Pedra” do PÚBLICO de hoje, 19 de Novembro, consignado a Diderot (“Há muito tempo que o papel de sensato é perigoso entre os doidos”), fez-me lembrar o Papa Francisco. Entre os dirigentes do mundo actual, parece ser o único com a sageza e a sensatez suficientes para se aperceber de que os nossos valores não têm de ser coincidentes com os valores de todos os outros, nem, por outro lado, lhes são “superiores”. “Sacar” da arma, à maneira dos cow-boys, parece ser a única forma que esses dirigentes conseguem articular nas suas pequeninas mentes para liderar as comunidades.
Depois de tudo o que aprendemos com as tragédias mundiais que o século XX nos “ofereceu”, talvez já convenientemente esquecido por muitos dos que “mandam”, pasma-se que estes não consigam balbuciar mais do que ameaças e contra-ameaças, no (des)concerto planetário, sem qualquer recurso ao diálogo. Para gáudio dos belicistas, muitos deles sem suspeitarem de que o são, proliferam as guerras, todas “justas” à vista dos seus exclusivos interesses. É tempo de “sacar” do humanismo, sem medos de quaisquer acusações de colaboracionismo, traição ou mesmo cobardia, e bradar: Abaixo as armas, viva a diplomacia.
Das anedotas da Justiça
Diz a notícia do JN que uma senhora, avisada de que em cima do telhado de uma sua propriedade andava um homem desconhecido, foi ao local e retirou a escada usada pelo intruso até que chegasse a GNR, que entretanto chamara; o sujeito, que deu como justificação ter subido para limpar o telhado, sem que a proprietária ou quem quer que fosse lhe tivesse encomendado tal sermão, acusou a senhora de o ter sequestrado e apresentou queixa, tendo o tribunal absolvido a acusada.
Todavia, demonstrando não ter limites para a sua falta de vergonha, e como também não há limites para o absurdo, o indivíduo recorreu daquela sentença e foi-lhe dada razão em segunda instância, para descrédito da Justiça; perante esta inacreditável sentença, a senhora também recorreu, tendo voltado a ser absolvida e reposta alguma dignidade no imbrógio, porque a notícia não diz se o intruso foi condenado por litigância de má-fe, que é o que me pareceria mais decente, ou se porventura ainda irá recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem...
Amândio G. Martins
O grau menos zero do desgoverno
terça-feira, 19 de novembro de 2024
A GRANDE MANIFESTAÇÃO DA CGTP E A COMUNICAÇÃO SOCIAL
A CGTP-IN realizou no passado dia 9 em Lisboa (e no Porto), uma grande manifestação pelo aumento dos salários e pensões, pela defesa dos serviços públicos e das funções sociais do Estado. Pela sua dimensão, supomos que surpreendeu muita gente. Mas surpreendeu quem lá esteve! Quem não esteve, não teve essa impressão. A comunicação social dominante, como habitualmente, não quis que tivesse.
Para se ter uma ideia, quando acabou de sair do Cais do Sodré, já os primeiros manifestantes chegavam ao Rossio.
Não sabemos bem como foi tratada pela generalidade dos media, mas sabemos por alguns: Antena1, Rádio Renascença e SIC-Notícias, que não deve ter sido muito diferente dos outros.
Disse a rádio pública: foram “milhares de pessoas”. Não sendo objetiva, mesmo assim, dos três, foi a mais fidedigna. A estação de televisão e a de rádio, avaliaram em “mais de mil pessoas”. Uma tristeza! Para não usar um merecido termo bem mais forte. Mais de mil, podiam ser mil e uma, ou 40, 50 ou mesmo 60 mil, que foi o que aconteceu.
Deveriam referir, pelo menos, dezenas de milhar.
É mais um exemplo de como os media, os donos deles, disto tudo, tratam a maior central sindical deste país e as forças mais consequentes da oposição. Para manipular e desanimar o povo, contribuindo assim, para esta democracia condicionada.
Do discurso do secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, que focou os principais problemas que afetam os trabalhadores e o país, apenas uns respigos. E teriam muito para dizer!
Por exemplo: “ A real situação é a continuação do empobrecimento de quem trabalha ou de quem trabalhou. Não é justo que tenhamos no nosso país 2,7 milhões de trabalhadores que ganham menos de 1000 euros brutos por mês(…) Não é justo que 850 mil trabalhadores recebam apenas o SMN. Como não é justo que na Administração Pública, dos 750 mil trabalhadores que a compõem, 160 mil ganhem o salário mínimo. Os argumentos são sempre os mesmos: a economia não aguenta, o país não aguenta. Logo, não pode haver aumentos salariais. Mas, enquanto dizem isto, 19 grupos económicos lucraram, no primeiro semestre de 2024, por dia, 33 milhões de euros.”
Sobre outro assunto fundamental, a produção nacional : “Não é aceitável que o país abdique de setores industriais fundamentais e se reduza a economia à dependência do turismo. (…) Tínhamos a Sorefame, fazíamos os nossos próprios comboios. Desapareceu. Tínhamos Estaleiros Navais. Deram um grande grande rombo na nossa industria naval. Temos a TAP, mas pelos vistos não serve para o Estado, mas serve para o setor privado do capital transnacional. Tínhamos a EFACEC, mas também foi passada para grupos multinacionais.”
Abordou outros problemas da responsabilidade de quem nos tem (des)governado há décadas. Como o descalabro no Serviço Nacional de Saúde ou o OE para 2025. E terminou: “Vamos intensificar a ação reivindicativa e a luta, nas empresas e nas ruas, na oposição à política que está no Orçamento e que virá para além dele.”
Francisco Ramalho
Publicado hoje também no jornal O SETUBALENSE
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Troca-tintas
ARTIFÍCIOS
Não tendo o dom da palavra inspirada
Garatujo sobre o que vejo e sinto
No desumanizado labirinto
Donde a decência se viu arredada.
Porque a tanta pobreza envergonhada
O que prometem tem sabor de absinto
Travo de fel na boca do faminto
Da gente que sempre é ludibriada.
Crendo que o povo tudo lhes consente
Para seguirem com a sua agenda
Atiram uns amendoins à gente;
Cabe-nos denunciar artifícios
E a aliciadora lengalenga
Que sempre termina em mais sacrifícios...
Amândio G. Martins
Carris Metropolitana/Alvorada deficitárias
domingo, 17 de novembro de 2024
O complexo da ministra
sábado, 16 de novembro de 2024
Bota Alta e a Fadista
No último mês de outubro de 2024, fui ao
Restaurante e Casa de Fados Bota Alta, na cidade de Évora, Patrimônio da
Humanidade, no Alentejo, em Portugal. Esse ambiente típico, com um acervo
decorativo inestimável, está localizado no coração do circuito fortificado e é
frequentado por portugueses e estrangeiros; por isso, representa um espaço
primordial onde o fado e a gastronomia alentejana se fazem presentes na
experiência das pessoas, turistas ou não, de diferentes lugares do mundo.
Ao longo desse percurso viajante, entre as
muralhas de Évora, mobilizei minhas palavras com a voz da fadista Inês
Villa-Lobos, a qual se fez no silêncio, nas palavras cantadas, nos sentimentos e
na emoção do público presente. No caso dessa geografia e da minha percepção,
não há como desassociar a casa Bota Alta da musicalidade e viola de fados de
Inês, como inspiração e arte de um mesmo movimento.
Entre vários momentos marcantes dessa noite no
outono alentejano, registro a interpretação da fadista com “Saudades do Brasil
em Portugal”, tema
de Vinicius de Moraes. Foi um encontro inesperado com a poesia conhecida por
nós em um destino repleto de saudades que nos carrega por outros cantos. A ocupação
do espaço pela marcante voz de Inês Villa-Lobos e a poesia brasileira incidiram
positivamente na viagem, na música e em nossos sonhos.
Presente em uma noite fria de reencontro com o
fado, a viola e a guitarra, pude perceber as potencialidades dessa música que
atravessa grandes mares em pleno processo de mundialização. Em meio a um
contexto de observação da experiência vivida, me torno incapaz de pensar em
Évora apenas pelos seus monumentos, casas pintadas de branco, cafés ou todas as ruas que terminam na
Praça do Giraldo.
De fato, esse tempo efêmero proporcionou a
contemplação, o conhecimento, a envolvência e a certeza da descoberta de um
lugar incomparável, capaz de proporcionar prazeres inigualáveis e experiências que
terminam apenas quando deixamos essa estação chamada vida. Também tive a
impressão de que a viagem interior é intangível, mas devemos continuar com a
celebração das vozes e casas de fados.
Antes de acrescentar o ponto-final neste texto, destaco outro ápice da visita: o agasalho da lareira e a recepção da Senhora Esperança, também cantadeira e proprietária da casa, que nos acolheu com extrema gentileza e atenção. Foi uma noite memorável, saborosa e emocionante entre as muralhas de Évora. Recomendo o lugar e voltarei com certeza!
Texto publicado no Jornal Mundo Lusíada (São Paulo, Brasil): https://www.mundolusiada.com.br/bota-alta-e-a-fadista/
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
CHAMA-LHE FILHA, CHAMA-LHE…
Esta história das falhas do INEM que já provocaram mais de uma dezenas de mortes, dá pano para mangas. E é, evidentemente, pelas já graves consequências e não só, de uma tristeza completa.
O último episódio, Montenegro acusa o Governo anterior do alternante PS, de desvio de verbas do orçamento do INEM para outras funções. E Medina desmente. Faz lembrar aquele tão conhecido ditado popularucho e rasca; “Chama-lhe, filha, chama-lhe puta, antes que ela chame a ti!”
Diria que é difícil saber quem é que tem mais culpa no lamentável estado em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde onde o Instituto Nacional de Emergência Médica se insere. Mas não digo. Digo que tem ainda mais culpa por se reclamar de socialista e por ter mais tempo no Governo, o PS.
Mas a tristeza não se fica por aqui. O que já não era nada pouco! É a saúde e a vida dos portugueses que está em causa. Sobretudo, evidentemente, dos mais pobres. A esmagadora maioria, o povo. Ela torna-se ainda mais triste, a tristeza, passe o pleonasmo, porque é esse mesmo povo que sistematicamente coloca os alternantes no poder.
Como se não houvesse alternativa. Mas há! E se não houvesse, o povo que a criasse.
Sadismo? Não. Imbecilidade. Mas não sou eu que o diz! (Embora concorde) foi Guerra Junqueiro : “Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio”.
Não se manterá atual?
Francisco Ramalho
Assim nos tratam da saúde
Tendo entrado de tamancos no Ministério da Saúde, menorizando, ofendendo e desqualificando toda a gente que estava, atribuindo-lhe os seus próprios defeitos, a figura que Montenegro escolheu para tão sensível e delicada função vem demonstrando, em todas as suas decisões e declarações, que está longe de ser a pessoa que o Serviço Nacional de Saúde anseia; de facto, a pesporrente senhora não tem revelado a menor competência empática para proporcionar à diversidade de profissionais daquela específica área a paz de espírito necessária para se devotarem a tratar da saúde das pessoas que a eles acorrem.
Custa a crer que o líder do Governo não tenha podido encontrar, na gente da sua área política, alguém com mais capacidade para tão importante função, e chego a pensar que escolheu precisamente aquela pessoa por ela se ter desentendido com o então director de SNS; todavia, se foi esse o critério, podia ter optado pelo anterior Bastonário dos médicos, que foi sempre muito exigente com a anterior governação, e até aceitou ser deputado...
Amândio G. Martins
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Cansaço
CANTIGAS DE EMBALAR
Prometem que um dia tudo vai estar bem
Mas entretanto a gente fenece
Farta da vida entre o choro e a prece
Esperando algo que nunca mais vem.
Dando o seu voto a quem a entretém
Com tanta propaganda que entorpece
Pergunta por que nada a favorece
E ouve que é do meio de onde provém.
Já não falta tudo para progredir
Garantem-lhe que o bem-estar há-de surgir
Mas será prudente esperar sentada;
Vale-lhe a sua idiossincrasia
Que a leva a encarar com bonomia
As patranhas que a mantêm sequestrada...
Amândio G. Martins
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
AUMENTAR SALÁRIOS E PENSÕES
Realizou-se no dia
09.11.2024 uma manifestação nacional promovida pela Confederação Geral dos
Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), durante a manhã,
no Porto e de tarde, em Lisboa.
Os objectivos da manifestação,
em que participaram milhares de trabalhadores, foram a luta por aumento de
salários e pensões, defesa dos serviços públicos e funções sociais do Estado,
resolução dos problemas do País.
O IMPERIALISMO, OS VASSALOS E O PAPÃO RUSSO
Com a eleição de Trump que se deveu à manipulação mediática e à desilusão com as políticas do governo Biden/Kamala, o papão russo, corporizado em Putin, voltou a ser ainda mais agitado, devido ao pavor dos vassalos à propalada desproteção do guarda chuva de segurança norte-americano à Europa do lado de cá.
Ângela Merkel e Macron, já tinham publicamente confessado que a discussão dos Acordos de Minsk (que podiam ter evitado a continuação e intensificação da guerra na Ucrânia) serviram apenas para ganhar tempo e armar o regime de Zelensky. E em conjunto com as inúmeras sanções, fazer a maior mossa possível, à Rússia. Com a mesma intenção se deveu, ao contrário do que tinham prometido, a expansão da NATO para leste, como confessou também recente e publicamente, o seu anterior secretário-geral, Stoltenberg. Mas depois, os vassalos do império, colocaram e colocam a coisa ao contrário: “Se Putin não é detido, não se ficará só pela Ucrânia.” Virá por aí abaixo e só pára no Samouco. Para meter água. Portanto, há que abrir os cordões à bolsa e investir em força na “segurança coletiva da Europa”, e pedir a todos os santinhos para que Trump não concretize as ameaças de descurar o financiamento à NATO.
Pode custar-nos ainda muito mais caro esta subserviência ao imperialismo norte-americano que com democratas ou republicanos, visa a confrontação com a Rússia, com a China e com quem se lhe opor à velha pretensão de hegemonia global. Estando-se nas tintas para o Direito Internacional e Direitos Humanos, como prova o total apoio de ambos os partidos à guerra no Médio Oriente e a essa imensa vergonha que é o genocídio, o extermínio, em Gaza. Em relação à Ucrânia, apesar das fanfarronices de Trump, veremos.
Voltando às eleições nos EUA, ao contrário do que diz a imprensa de lá e a domesticada de cá, não existiam apenas os candidatos dos partidos democrata e republicano. Para além de outros, por exemplo, Jill Stein do Green Party of the United States ou Claudia de la Cruz do Party for Socialism and Liberation, também foram candidatos mas praticamente silenciados. Ambos se opõem ao genocídio em Gaza e ao apoio a Israel. Um dos lemas De la Cruz, é mesmo este: “Acabar com o capitalismo antes que ele acabe connosco”. Jill Stein, defende a dissolução da NATO, a educação pública e gratuita e a nacionalização da banca.
A vitória do boçal e prepotente candidato da extrema direita, deveu-se fundamentalmente às políticas antissociais e de proteção dos lobies do armamento, da banca, dos grandes grupos económicos e judaicos que financiam as campanhas dos candidatos destes dois partidos. Obviamente, ao contrário da tradicional demagogia e populismo do partido de Trump e seus congéneres, como o Chega, o seu futuro governo não vai resolver o grave problema de um dos países com maiores desigualdades do mundo. 40 milhões de pobres, 700 mil pessoas a viverem na rua e sem assistência universal de saúde e segurança social, onde o fosso entre estes, e os multimilionários, cresce incessantemente. Assim como permanece, a ameaça à paz mundial.
Francisco Ramalho
Embaucadores
ATREVIMENTOS
Bem menos lúcidos que alucinados
Tudo lhes parece estar ao alcance
É só saber aproveitar a chance
Que surge aos que se apresentam ousados
Convencidos de estar bem preparados
Jogam decididamente o seu lance
Não tendo reparado na nuance
Que pode dar os cálculos errados.
Quando tudo lhes parece correr bem
Com caminho aberto para ir além
Por não se vislumbrar nada que impeça;
É quando por sentirem-se à vontade
Lhes vai surgir a contrariedade
O mais inesperado se atravessa...
Amândio G. Martins