Depois de meses e meses de discussões mais ou menos estéreis sobre os contornos da invasão da Ucrânia, julgo que, um pouco à semelhança de alguns arsenais bélicos, o stock de argumentos se vai rarefazendo. Não há qualquer “novo” argumento que eu possa ouvir dos “especialistas” que não tenha ouvido já. As posições encontram-se mais do que consolidadas e, na esmagadora maioria dos casos, resumem-se a duas: pró ou contra Putin.
Nunca nutri especial afeição pela NATO. Alguns dos episódios da sua história deixaram-me marcas que nunca esquecerei. Por outro lado, Putin encarna tudo o que um amante da paz, respeitador dos direitos alheios, abomina. Como é que se equilibram estes sentimentos se somos obrigados a entrar numa das fileiras? Porquê impedir uma terceira via que, não escamoteando os interesses e as personalidades em presença, pudesse trazer à colação alguma temperança nas relações? Dar gás ao ódio a Putin não é fazer “justiça” sobre a população russa, é fomentar a guerra e fazer vingar pela força, e não pela razão, as posições do poderoso Ocidente, sem se olhar a meios e, sobretudo, a consequências.
Não me façam ter saudades da segurança que, apesar de tudo, se sentia nos tempos da guerra fria. Falta pouco para que a Razão se perca nos torvelinhos da Loucura. Leiam o Erasmo!