domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Insensibilidade reinante

O país está cheio de comentadores que pululam nos órgãos de comunicação, uns mais profissionais que outros, mas aos quais são atribuídos méritos e conhecimentos que o povo comum não possui. Suportados por títulos e diplomas que credenciam as suas opiniões, preenchem os tempos de antena ou os espaços da comunicação escrita, alguns já há bastantes anos, numa repetição de argumentos, que não trazem inovação em função da rápida alteração dos comportamentos sociais e mais propriamente da relação entre pessoas e instituições. Muitos vivem num mundo que está desfasado das realidades e, porque delas distantes, falta-lhe a sensibilidade necessária para os problemas das pessoas, porque defendem causas, números, ideologias onde as pessoas são assessórios e por isso não tratam das coisas mesquinhas.

Dou dois ou três exemplos de acontecimentos importantes que não despertaram a atenção dos formadores de opinião.

Duas mulheres foram barbaramente maltratadas num armazém de bebidas, em Angola, porque, segundo informação, tentaram roubar um sabonete e duas garrafas de vinho. A forma cruel como foram martirizadas é inconcebível de imaginar para qualquer ser humano normal. Para lá das referências feitas nas TVs e jornais, não encontrei quaisquer posições tomadas pelos tais educadores do povo.

Na Índia jovens mulheres foram violadas por grupos de marginais, sendo num dos casos dentro de um transporte público e tendo o motorista do autocarro feito parte do grupo dos agressores. Na outra situação, de barbaridade idêntica, a vítima ficou tão maltratada que não resistiu e acabou por falecer. As autoridades respectivas prenderam os agressores, que serão julgados, e a opinião pública indiana pede a pena de Talião. Mas isto nada diz aos nossos comentadores. Eu penso que há uma dose de insensibilidade que perpassa as mentalidades destes homens e mulheres inteligentes, que faz com que não estejam para aí virados, porque, na verdade, estas situações desumanas, por regra, sucedem sempre com as camadas mais pobres, a que felizmente não pertencem. Falo de casos concretos e, por favor, não apodam isto de demagogia, porque não pertenço a grupos aos quais esta, às vezes, serve os seus fins.

Como português, e é isso apenas que me resta da minha efémera passagem pela vida, não posso aceitar a forma como algumas notícias que referem o nosso país são redigidas, especialmente quando tratam de números e de finanças. Assim, vejamos:

Um jornal de grande tiragem, referindo-se a uma avaliação de uma agência de rating, dizia; “Portugal mantém nível de lixo”. Todo o mundo leu, ninguém comentou a ofensa, nem o jornalista que, de forma autoflagelante, redigiu a notícia, se incomodou. Portugal não é algo inexpressivo. Portugal são as pessoas. E as pessoas nunca são lixo, mesmo que não possam pagar as dívidas. E tudo isto é consequência da insensibilidade que reina no dia-a-dia, que foi crescendo aos poucos, e que hoje é dominante.

Joaquim Carreira Tapadinhas

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