quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Quando os vestidos invadem os despidos

 

Como sou mais do monte, a praia nunca me seduziu por aí além, pelo que só enquanto tive filhos pequenos me obrigava a ir, porque eles adoravam andar por lá a chapinhar o dia todo, e apanhado mexilhões quando a maré lhes permitia o acesso seguro às pedras, enquanto eu fica na tenda a ler jornais e a mãe os vigiava; todavia, conforme foram crescendo, assim me foram deixando livre daquele encargo, dispensando a minha “muleta”, mas quando íamos todos era normalmente para o Mindelo, que era a que ficava mais “à mão” para quem residia em Santo Tirso, e eu gostava dessa praia pela extensão do areal para caminhar, que dava para um lado até Vila do Conde, e para outro até Matosinhos.

 

Essa praia tinha dois concessionários, que era o Pinhal, zona de residências exclusivas de gente endinheirada, sobretudo do Porto, que as usava mais para veraneio e ou fins-de-semana, e o Mindelo propriamente dito, mas ambas tinham espaço de sobra para toda a gente, mesmo nos dias de folga  porque, como não havia transporte público para lá dirigido, só para ali ia quem tivesse transporte próprio, e ainda não eram muitos os que o possuíam.

 

O biquini já se tinha há muito popularizado, sobretudo entre as mais moças, que as entradotas ainda não se “atreviam” tanto, principalmente se tinham o corpo já “deformado”, e essas duas reduzidas peças atraíam para lá bastantes velhotes que, completamente vestidos, se postavam sentados no topo da duna e ali ficavam horas a “deliciar-se”, mas comentando uns com os outros, em tom crítico, “ ao quisto chegou”, que alguns deles nunca se terão atrevido a ver nua a própria mulher.

 

Ainda não se falava em praias exclusivas para os chamados “naturistas”, que se despiam às escondidas naquelas praias menos frequentadas, e só mais tarde foram surgindo, embora timidamente, que tanto afastavam delas os “vestidos” como atraíam os tarados mirones; hoje abundam esses lugares reservados a naturistas, mas com a sobrelotação dos espaços aonde vai toda a gente em roupa de banho, começam a ser invadidos os lugares exclusivos para o nudismo, que são mais fluidos, e na Catalunha queixam-se de que os “invasores” não se limitam a usufruír da praia, mas fotografam os corpos nus e fazem comentários desprimorosos àqueles mais idosos cujos corpos já não são o que foram, estragando o ambiente aos que tinham a exclusividade daqueles lugares...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

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