sábado, 3 de outubro de 2020

AS GUERRAS RELIGIOSAS DAS CRUZADAS



 

     As guerras causadas por fanatismo religioso, muitas delas incentivadas por interesses de espoliação dos vencidos, deram origem a um grande número de vítimas nessa sofrida humanidade terrestre, que, devido ao seu atraso espiritual, ainda não pôde experimentar uma verdadeira paz, mas apenas uma trégua entre tantos outros conflitos que envolvem as nações.

Sob o pretexto de libertar um túmulo vazio deixado por Jesus, que incorporou o Cristo Divino, criaram-se as cruzadas, de triste memória, interpretando mal suas palavras (Mateus 10.34), “não vim trazer a paz, mas a espada”. Os cristãos não entenderam simbolicamente tal instrumento como uma luta quem deve ser travada contra suas próprias imperfeições, mas no sentido de fazer guerra contra os adversários de credo religioso que dominaram a chamada terra santa.

Os cruzados, sob as bênçãos de autoridades religiosos, praticaram muitas atrocidades no Médio Oriente. Grandes foram as pilhagens contra os povos locais, após sangrentas batalhas. Exceção se faça ao virtuoso rei Luís IX da França, canonizado como santo pela Igreja Católica Romana, que comandou a 7ª e 8ª cruzadas, com grande idealismo de pura e simplesmente combater a intransigência muçulmana contra os cristãos e acabou falecendo em Túnis (1270), vitimado por uma epidemia que assolou o norte da África.

Uma grande ordem religiosa resultou de combatentes que, primeiramente, eram chamados de “cavaleiros pobres de Cristo”, e mais tarde, se tornaram conhecidos como “Os Templários”, contemplados que foram pelo rei Balduíno II de Jerusalém com um palácio próximo ao antigo templo de Salomão. Essa ordem se tornou poderosa não só com os saques que empreendeu, como também pelas avantajadas doações que recebia, tornando-se uma primitiva organização bancária, o que despertou a ambição do rei francês Felipe IV “o belo”, violento e inescrupuloso, que não herdou as virtudes de seu avô São Luís.

E assim, o referido monarca pressionou o papa Clemente V, de naturalidade francesa, para extinguir a ordem, sob os auspícios do tribunal do Santo Ofício da Inquisição, acusando-a de heresia. O último grão-mestre Jaques De Molay foi barbaramente torturado para confessar algo que não aconteceu, ou seja, ter cuspido na cruz e por causa dessa inverídica acusação morreu queimado na fogueira, mas, não sem antes, dizer que o rei e o supremo pontífice teriam que prestar contas perante Deus.

Lamentavelmente, a bula papal de 03 de abril de 1312 respaldava o decreto do Concilio de Viena que extinguia a Ordem e entregava seus bens aos religiosos Hospitalares, mas, na realidade, quem se beneficiava era o monarca assassino, enquanto o papa amargava a dor do remorso já antecipada pelas suas palavras ao assinar o documento, quando disse que agia com grande amargura em seu coração – “non sine cordis amaritudine et dolore”, ao contrário de seu confrade Clemente XIV que, ao extinguir a Companhia de Jesus no século 18, afirmou que o fazia de plena consciência, mesmo admitindo que poderia estar assinando a sua própria sentença de morte.

A Companhia de Jesus combatia apenas intelectualmente os hereges cristãos, mas se envolvia muito em questões políticas, inclusive é tida como participante no atentado contra o rei lusitano D. José I, de quem Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, era primeiro ministro, daí a perseguição deste contra os jesuítas que no Brasil foram muito importantes, haja vista as figuras extraordinárias de Pe. Anchieta, o nosso grande apóstolo, e Pe. Manoel da Nóbrega, fundadores da cidade de São Paulo, a maior metrópole da América Latina.

Segundo consta dos arquivos da Biblioteca Nacional Brasileira, um dos motivos da perturbação mental da rainha D. Maria I foi a ideia fixa de enxergar o pai, Dom José I, incinerado no inferno, devido ao seu comprometimento com a perseguição aos jesuítas.

O livro espírita “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, admite que a causa do processo obsessivo foi urdida na esfera espiritual, para que D. João, como príncipe regente, viesse para o Brasil acelerar sua independência.     

A Companhia de Jesus foi restaurada, mas a Ordem dos Templários, com grandes religiosos iniciados nas profundezas da cultura espiritualista, desapareceu para sempre, e, segundo o escritor Adelino de Figueiredo Lima, isso foi uma “tragédia que criou nos povos latinos a verdadeira consciência da luta pela liberdade”.

Em Portugal, o então rei D. Diniz transformou a Ordem do Templo em Cavaleiros do Cristo e não permitiu que o acervo dos bens fosse entregue à Ordem dos Hospitalares e impediu que caísse nas mãos do cruel monarca francês, que se arrogava de ser, mesmo fora de seus domínios, o executor da bula papal.

E por falar em bula papal, nos seus tempos de acadêmico de Direito, eu costumava redigir algumas excomungando colegas, em tom de humorística brincadeira, e por isso quase fui indiciado em inquérito durante o regime ditatorial militar.

3 comentários:

  1. É extraordinário que, tendo falado de jesuítas, se tenha esquecido do padre António Vieira...

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    1. Prezado Gogias - obrigado pelo se comentário
      Muito bem lembrado: foi uma lamentável omissão, tendo em vista ter sido o Pe. Vieira uma grande expressão em nossas letras e um exímio orador, além das suas qualidades religiosas.

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  2. Obrigado lhe fico eu pela sua atençao...

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