Fala-se cada vez menos do 25 de Novembro de 1975 e no entanto é essa a única e verdadeira data da fundação do regime actual. Se quem nos governa fosse capaz de dar a cara - festejaria, em vez do 25 de Abril, o golpe militar de Novembro e reconheceria que nesse dia, não saiu o povo à rua, mas reinou o silêncio do estado de sítio. Fascistas e magnates rejubilaram, os militares fiéis ao povo foram enclausurados e os pobres entenderam que chegara ao fim o seu tempo de liberdade. Contra-revolução, essa é a marca deste regime, por mais que pretendam esconder as suas origens e adornar-se com as flores de Abril, porque a verdade vai emergindo da teia das invenções em que tentam afogá-la. Quando, a partir do 25 de Novembro, se quis «repor a normalidade democrática» e «acabar com a bagunça», o que se visava não era criar uma situação de tranquilidade e equilíbrio benéfica para todos, mas arrancar aos trabalhadores tudo o que tinham obtido nesses dezanove meses: Reforma Agrária, controlo operário, plenários, comissões e assembleias, acesso à comunicação social - tudo foi suprimido, porque assim o exigiu os interesses do capital! Em seu lugar reinam as verdadeiras bandeiras desta democracia - abismo entre pobres e ricos, corrupção, leis do trabalho pró patronais, precariedade, capitalismo de casino. Depressão para os mais débeis. E a coroar o desalento da imensa massa humana, as promessas dum futuro radioso servidas por demagogos profissionais.
Amigo Vítor: tenho uma visão bem diferente dos acontecimentos. Participei ativamente em ambos e não me arrependo.
ResponderEliminarPouco tempo após o glorioso 25 de Abril, começou a notar-se forte influência do Partido Comunista. Tão forte que, ràpidamente descambou em abusos intoleráveis. Bastante mais do que excepções, ou casos isolados. Ficou claro que a prometida Democracia iria ter o "nosso povo" como único beneficiário. É indiscutível que também os pequenos partidos da esquerda radical foram igualmente, de alguma forma culpados.
Mário Soares foi sempre quem mais lutou para pôr cobro àquela situação anacrónica. Estive com ele em diversos comícios gigantescos, por sinal, porque albergavam tudo. Sou testemunha de que havia ali, de tudo. Desde socialistas a pêpêdês até salazaristas. Quem quizesse apoiar, que apoiasse, pois claro.
E agora? Agora há um certo desencanto, sim. Não era isto que pretendíamos. Mas, estamos em Democracia. Temos a liberdade de escolher quem dirija os nossos destinos. Antes assim do que uma nova ditadura.
Prezado José Valdigem: grato pelo comentário. A minha visão\participação activa (pré e) no 25 de Abril e durante os 19 meses que se lhe seguiram foi com aqueles que até aí eram só ''gado para trabalho''. Quem não gostou deste processo, não gostou do 25 de Abril! «A forte influência do Partido Comunista(...) rapidamente descambou em abusos intoleráveis», escreves. Sou político e apartidário. Mas, era preciso ''acabar com a bagunça'', daí, os «abusos intoleráveis» foi a ocupação de terras incultas por quem comia pão com dentes? Foi a ocupação de fábricas, muitas delas com patrões fugidos para o Brasil, e que durante a sua vigência, ao mínimo movimento dos operários, ou eram despedidos, ou a PIDE era chamada para prendê-los? E por aí adiante... Não se combatem criminosas injustiças sociais, sem políticas radicais.
ResponderEliminarMário So-ares de socialismo, agiu como uma marionete articulada pela CIA de Carlucci e pelos interesses estratégicos e económicos dos EUA, aqui. Com a ajuda de salazaristas e bombistas... Aquele lutou? Não! Foi política de vende-pátrias. Dos maiores insultos e afrontas que nos podem fazer é chamar-lhe «pai» da democracia(!). Pai, foi ele, dos patronais contratos a prazo em Portugal, que descambaram na actual, miserável e criminosa precariedade instalada! No seguimento, seria esclarecedor, qual a origem dos suicídios... «estamos em Democracia», escreves. Com d maiúsculo(!). Helás! Não, estamos numa democradura em versão português suave, com liberdade vigiada/securatizada, condicionada e muito respeitinho... Temos a 'liberdade' de escolher quem nos oprime de várias formas e só somos lembrados quando há eleições...
Quando a prostituição do 25 de Abril atinge as raias do grotesco e aqueles que liquidaram as suas conquistas nos aconselham a venerar a ordem vigente é apropriado perguntar: era inevitável que as grandes esperanças de 1974\75 viessem desaguar neste pântano? Era. Porque faltou ao movimento popular a determinação de derrotar os seus inimigos. Só assim teríamos conseguido arrastar a maioria receosa, apática ou vacilante e consolidar conquistas. Essa é a lição do 25 de Abril que se tenta esconder.