Este blogue foi criado em Janeiro de 2013, com o objectivo de reunir o maior número possível de leitores-escritores de cartas para jornais (cidadãos que enviam as suas cartas para os diferentes Espaços do Leitor). Ao visitante deste blogue, ainda não credenciado, que pretenda publicar aqui os seus textos, convidamo-lo a manifestar essa vontade em e-mail para: rodriguess.vozdagirafa@gmail.com. A resposta será rápida.
domingo, 20 de janeiro de 2013
O brilho da Lua de Março é diferente
Não foi à escola. Aprendeu a escrever o nome porque o seu irmão queria que ela fosse a sua madrinha de casamento. Copiou várias vezes até ser legível. É isso que sabe escrever. Assim, aprendeu a escrever o seu nome aos 21 anos. Tem o seu B.I. e o cartão de Eleitor assinados.
Não foi à escola porque teve que tomar conta dos irmãos mais novos.
Ditava frases para a menina que tomava conta e para a própria filha: “O pão é um alimento que aparece na mesa de toda a gente. O pão é feito de milho, trigo e até de cevada”; “ O amor de mãe encerra tudo quanto pode haver de generosidade e sacrifício. A mãe é santa que nos adormece, embalando-nos com ternura nos passos vacilantes de criança”.
As contas que sabe fazer são só as de somar.
Nunca comprou fiado; “não tinha dinheiro, não comprava”. Nunca quis «esmola». Diz que sempre fez um controlo do dinheiro. Não gasta se não o tiver. Não compra fiado, repetia-me.
Antes de ter o segundo filho não tinha nem uma cadeira. Comprou-a para que a parteira se pudesse sentar.
Conta que teve que vender porcos de forma a conseguir dinheiro para poder visitar o marido que esteve 2 meses internado no Porto com um enfarte (perdeu um pouco da visão). “Aguentei muito; não recebíamos fundo de desemprego… Generosa foi e é uma mulher do campo, mas sentiu necessidade de angariar dinheiro, fazendo serviço de mulher a dias. Desta forma, conseguiu o abono para os filhos.
Adora andar no campo (mas dá prejuízo, repara). Dá-lhe prazer apanhar os produtos da terra, debulhar o milho à mão...
Gosta muito de passear e conhecer sítios diferentes. Fez referência a Monção, onde visitou uma capela de uma quinta: nessa capela, os empregados ficavam separados dos patrões por uma parede. Mas não pretende fazer mais passeios, pelo menos para breve: tem que ajudar o filho de 48 anos que se encontra desempregado e não recebe qualquer subsídio.
Terça-feira é dia de folga, porque quer ir à missa com boa disposição.
Não gosta de estar em casa o dia todo. Não pára.
Perguntei a Generosa o que de mais importante ensina aos seus netos: "Que trabalhem e que poupem, porque, talvez, ainda vão viver pior que nós".
Não deixa de ter as coisas, apesar das dificuldades: sabe escolher, seleccionar e procura fazer o máximo de coisas em casa, evitando comprar.
“Temos que guardar para ter… Fazer uma vida económica”.
"Fale-me das fases da Lua… gosto de a ouvir…", pedi. «O Senhor morre na lua cheia de Março e nasce na lua Nova como nascem os animais e as meninas. Os homens nascem na Lua Velha».
Generosa disse que às vezes se põe a olhar para a Lua, que tem outro brilho na altura da Páscoa (para iluminar o Senhor).
Generosa tinha o sonho de ser cozinheira profissional. Deixou perder a oportunidade de fazer um curso em idade adulta porque teve vergonha de se dizer analfabeta.
Não vai à cabeleireira. Foi apenas uma vez, mas sentiu-se mal depois. Pintava o cabelo sozinha, mas agora é a filha que a ajuda e lhe compra os produtos.
Serviu-me um chá de cidreira com as folhas que ela própria apanhou e colocou a secar. Um sabor único … (na casa da minha avó?)
Esteve sempre com um sorriso nos lábios, feliz, durante todo o tempo que durou o nosso encontro nesta véspera de Natal.
1 comentário:
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Rogério Gonçalves
ResponderEliminarApesar da crise e dos constantes cortes ao dinheiro do povo que tenta sobreviver, vamos assistindo todas as semanas muitos dos casos que envolvem milhares de euros e fraudes e nada acontece, ou vivêssemos em Portugal. Agora falam muito nas exportações e a necessidade que temos em vender os nosso produtos no estrangeiro, para equilibrar a nossa balança comercial. Mas continuamos a ver os nossos políticos com as mesmas mordomias como se nada de grave acontecesse no Pais, pois só povo é que paga a brincadeira destes senhores. O famoso e imprescindível submarino que foi o sr.Paulo Portas que comprou com se fosse uma grande prioridade Nacional, pois veio relatado na imprensa que o mesmo se encontra parado para poupar combustível...ahahah apetece-me sorrir, estou na Maia.
Mas eu sei a razão porque as nossas exportações estão em queda:
Só exportamos o Durão Barroso e o Vitior Constâncio!!!
Mas fica aqui o alerta para as entidades da U.E., que podem levar mais 500 políticos que oferecemos outros tantos de borla...
Seja como o fogo…saiba aquecer quem precisa, e queimar quem merece!