Na sua crónica de segunda-feira, Rui Tavares incita à revolta global que leve os políticos a agir contra “este estado de coisas”, tão propício aos offshores. Não são ilegais, o que equivale a dizer que as leis que os permitem são imperfeitas. Se o não fossem, como seriam toleradas as actividades que desenvolvem, em prejuízo atroz para toda a Humanidade? Aos legisladores não escasseia a força e a vontade para imporem ao resto dos mortais as obrigações que (quase) todos repudiam, desde obrigá-los a pagar os desvarios do sector financeiro (como vai acontecer com a Evergrande e já aconteceu com o Lehman) ou a aceitarem sorridentemente todo o tipo de limitações nas liberdades individuais. Falecem, coitados, quando se lhes exige que impeçam alguns milhares de individualidades, demencialmente gananciosas, de se dedicarem a roubar todos os outros em benefício próprio. Recorrentemente, ouvimos personalidades da finança dizerem-nos que não há dinheiro para distribuir melhor a riqueza, mas cada vez se torna mais evidente que ele existe, e em tal medida que, se quisermos, podemos acabar com a pobreza e com a ignomínia de sabermos que há quem morra de fome. Há que ter a coragem de tornar ilegal o que é danoso para toda a gente, ou então não perder a noção de que as sementes da revolta podem germinar mais depressa do que as margaridas ao sol.
Público - 07.10.2021
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