quarta-feira, 27 de outubro de 2021

E o vencedor é...


Escrevo no rescaldo imediato do chumbo à proposta de Orçamento, e a primeira coisa que vejo é a enorme e multilateral vitória de António Costa (A.C.). Aparentemente, não conseguiu que o “seu” Orçamento passasse, mas estaria ele verdadeiramente interessado em patrocinar aquele instrumento, mesmo conhecendo-se a sua tendência para governar com ministros das Finanças apaixonados pelas cativações? A extrema habilidade político-negocial de A.C. baseia-se nas suas conjecturas, tantas vezes confirmadas. Se acertar desta vez, averba um estrondoso triunfo, habilmente mascarado de derrota.

A.C. mostra-se inocente por não haver Orçamento, não hesitando em apontar o dedo acusador à esquerda, que terá muito trabalho para deixar vincado que, em casos de obstinações, nunca há só um teimoso. Rejeitando a demissão, como que “entala” o Presidente da República, ao insinuar que a via de eleições antecipadas não é uma inevitabilidade. À direita, ainda impante de júbilo pela morte da “geringonça”, apanha-a de surpresa, enredada em disputas internas e com uma insuspeitada tarefa ciclópica de conseguir pacificar-se e organizar-se para a disputa eleitoral. A extrema-direita, para já, não assusta A.C., que deverá julgar não perder eleitores naturais para essas paragens. 

A.C. foi para onde quis, e vai jogar tudo na maioria absoluta. Não se esqueça ele, contudo, que já a tentou. E falhou.


Expresso - 30.10.2021

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