Se eu calçasse os sapatos de Julian Assange, que poderia dizer da minha própria situação actual? Poderia admitir que o meu estilo pessoal é inchado de arrogância, vaidade ou narcisismo. Poderia concordar com alguns que me imputam métodos pouco deontológicos e até alguma criticável parcialidade nas minhas preferências entre o “mundo” a que pertenço, o Ocidente, e o dos “bárbaros” russo-chineses. Face a provas “irrefutáveis”, talvez devesse anuir às acusações de que as fontes de financiamento do WikiLeaks são duvidosas, incluindo algumas próximas do Kremlin. Com tantos actos de contrição, deveria concordar também com a privação de liberdade de que sofro há já 12 anos, com a espada da justiça americana à espera de que me extraditem para os EUA, onde o melhor que me pode acontecer é apanhar prisão perpétua?
Num regime detestável como o que Putin vem impondo aos russos, tudo o que me fazem seria “banal”. “Aquilo” é uma autocracia, e nós, aqui no Ocidente, vivemos em democracia respeitadora dos direitos humanos. Por isso é que, aqui no Ocidente, as televisões nos “torturaram” com as iniquidades que os russos praticaram sobre Alexei Navalny (mas apoucaram as de que fui alvo). Por isso é que “eles” são uns facínoras.
Expresso - 31.05.2024 (truncado do último parágrafo) e com o título alterado para "No lugar de Assange".
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