domingo, 19 de maio de 2019


Manias e vícios alimentares...


A minha sobrinha Marta, filha de mãe lisboeta e pai minhoto, mas ela mesma “alfacinha de gema”, adorava passar parte das férias no Norte, em minha casa com os primos, durante os primeiros anos de adolescentes; da primeira vez, e nos primeiros dias, passou um mau bocado porque vinha cheia de manias com a comida, não gostava disto, não gostava daquilo, tão “estragada” estava por ter sido criada quase só pelos avós, que faziam à menina todas as vontades, com ambos os pais empregados.

Só que a minha mulher, que não tinha a mínima pachorra para aturar manias à mesa, depressa lhe fez ver que se não comesse do que era servido para todos, então teríamos de a mandar de volta para casa, pois ali não havia comida especial para satisfazer “apetites” particulares; essa firmeza e ver a todos comer sem reclamar foi “remédio santo”.

Terminadas as férias e regressada a casa, a mãe quase não reconhecia a miúda que, além do “sotaque” que dizia ter apanhado, já não reclamava nada, querendo saber o que tínhamos feito com ela, que lha tínhamos devolvido muito mais mansa; claro que, nos anos seguintes, já não se pôs tal problema.

Vem isto a propósito do que se diz no JN acerca da obesidade, com a qual os afectados gastam fortunas, tendo a venda de fármacos específicos crescido exponencialmente e lamentando-se que tais medicamentos não sejam comparticipados, quer dizer, que todos pagássemos o mau comportamento de alguns.

É que tirando aqueles casos genéticos e psicossomáticos, a maioria desses problemas deve-se a erros alimentares perefeitamente evitáveis, como gulodice, ignorância na confecção dos alimentos, quer por laxismo na educação das crianças, a quem é dado a comer todo o tipo de lixo alimentar, só porque é o que elas exigem e mais gostam...


Amândio G. Martins




10 comentários:

  1. Posso enviar os meus doentes ( e respectivos pais !) para fazer uns estágios em sua casa? 🙂

    É que Todas as semanas encontro crianças cada vez mais doentes ( a obesidade é uma doença que os portadores e os adultos não valorizam! ) é só ouço barbaridades que o último parágrafo do seu texto resumem na perfeição !

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  2. ... e porque lhes é "oferecido" a toda a hora e em todo o lugar....É o "sistema"!...

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  3. Na generalidade, não posso estar mais de acordo com o seu texto. Passando à especialidade, há um ponto que eu não votaria a favor. Uma ligeira referência, ténue e não totalmente expressa (apenas “sussurrada”), de que o SNS deveria ser retirado, em parte ou no todo, aos doentes por erros comportamentais. Às vezes, é assim que se começa com a implantação e divulgação de ideias que podem desembocar em mais totalitarismos.
    Declaração de interesses: sou fumador. Na sequência de um erro comportamental que, no “meu tempo”, atingiu tantos de nós. Não é desculpa, mas, como diria o Fernando Rodrigues, na altura era o “sistema”.
    Digo ainda que não gostaria de viver numa sociedade em que a eugenia tivesse sido imposta. Nela, tudo seria muito saudável… excepto a própria sociedade.

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    1. Uau! É sempre bom um contraponto, bem oportuno!

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    2. Mas o SNS tem consultas hospitalares de referência quer para obesidade, quer para ajudar os fumadores. Até em alguns centros de saúde há consultas para os fumadores !
      Essa de postura de “ se pôr de fora “ é das seguradoras e dos sistemas que se baseiam em seguros ...
      Mas também é do conhecimento geral que é mais fácil ( e muito mais barato!) prevenir do que tratar ...

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    3. Toda a razão para a Lúcia neste ponto. O que eu referia, no que ao comentário do José diz respeito ( e o comentário dele era muito mais sobre "sociedades utópicas"....) era também sobre "assépsia" social.

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    4. Entre haver medidas de informação / prevenção sobre comportamentos prejudiciais à saúde ( nomeadamente espaços livres de fumo, porque prejudicam não só o próprio como os outros ) e “ assepsia social “ vai um intervalo relativamente amplo que eu chamaria de bom senso, liberdade individual e escolhas INFORMADAS . Considero, por exemplo a “ lei do croquete “ como eu lhe chamo, de proibir certos alimentos nos bares hospitalares portugueses um rematado disparate!
      A minha visão de “ sociedade utópica “ não é nada assim - já sei que o Dr. Fernando Rodrigues tem uma “ alergia” à palavra utopia, parece-me que por lhe atribuir uma carga negativa . Utopia para mim é uma “ tendência “ , uma busca de melhoria constante , respeitando os direitos individuais e colectivos da humanidade...

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  4. Isto de nos metermos a discutir - com médicos - temas ligados à Medicina dá nisto. Mas fico contente, porque resultou numa bela polémica. E não tenho argumentos - nem quero tê-los - para discordar da Lúcia e do Fernando. Entre utopias e assepsias, deixem-me ir vivendo, contribuindo para e consumindo do SNS (hoje, uma realidade gloriosa, mas antes, uma “utopia” inatingível) sem me obrigarem a comportamentos violadores da minha personalidade. Que, obviamente, está longe de ser perfeita, e que, dentro do possível, procura corrigir-se.

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    1. A conversa já vai longa e, metodologicamente, é até um pouco "feio" vir aqui quando o Amândio já lhe pôs "fim". Mas, pedindo desculpa, deixem-me reafirmar ao José que não estou tão em desacordo com ele pois prefiro SEMPRE uma sociedade humana imperfeita a uma "perfeição", felizmente..."utópica". Coisa que o SNS nunca foi, também felizmente. Ficaria "entalado" se não o reafirmasse. Foi um prazer debater convosco.

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  5. Obrigado a todos pelo contributo; quanto ao "pedido" da Drª Lúcia, desconfio que, se atendê-lo fosse viável, os papás nunca aceitariam tal "crueldade" com as criancinhas, coitadinhas...

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