domingo, 26 de maio de 2019


Os niilistas...


“No decurso da história houve sempre dois tipos de homens, de cultura, de mentalidade: os construtores e os destruidores. Quem lavrava o terreno, semeava-o, fazia a colheita, e os salteadores que chegavam para saquear. Os construtores das cidades e os nómadas que irrompiam das pradarias, ávidos e sanguinários.

Na Idade Média havia indivíduos e grupos que odiavam o bem-estar das grandes cidades mercantis como Veneza e Florença e teriam feito uma fogueira com as obras de arte. Era a mentalidade de Savonarola, de muitos inquisidores, que viam por toda a parte mal, artes demoníacas, corrupção, impureza.

No século dezanove Nietzsche identificou-os bem e chamou-lhes niilistas, do latim nihil, nada. Não por nada quererem, mas sim por não quererem que as coisas existam. Cheios de ressentimento, de rancor, são contra tudo o que funciona bem, o que é são, alegre, triunfante. Encontramo-los tanto à direita como à esquerda, entre os católicos, como entre os laicos, porque a sua mentalidade é estarem contra, poderem agarrar, destruír.Os niilistas da direita eram anti-semitas porque os judeus eram inteligentes, ricos e tinham êxito. Os niilistas da esquerda eram contra o capitalismo porque este produzia riqueza, abundância, bem-estar.

O niilista sente-se mal quando vê alguém satisfeito, contente, em paz. Adora o conflito, a guerra, a destruição. Tem prazer em pensar que a sociedade em que vive está em crise, à beira da catástrofe. Está sempre do lado dos seus inimigos, sejam eles quais forem.

A mentalidade destruidora, niilista, encontra-se no interior de todas as formações políticas, porque é uma forma de pensar.Tentem comparar atentamente os diversos comentadores. Os niilistas são aqueles que são incapazes de fazer um juízo positivo, de um elogio, de uma proposta construtiva. Mordem, ladram, indignam-se, exaltam-se na sua ferocidade. É nas revoluções, nos regimes totalitários, nas guerras, que as pessoas deste tipo têm as profissões que lhes são mais apropriadas. Na Igreja, o perseguidor e torturador dos hereges e das bruxas, durante o fascismo o espião da Ovra, na URRS o comissário político, que perseguia os dissidentes e os mandava para os campos de concentração.

Muitos dedicam-se à delinquência ou estão relacionados com ela. Outros encontram uma colunazinha num jornal onde atacam sadicamente escritores, intelectuais, artistas. Há alguns críticos deste género que destroem com as suas palavras, com os seus textos, qualquer obra que caia nas suas mãos. E quanto mais o outro tem valor, mais lhe batem, o insultam, o difamam.

Podem encontrar niilistas no vosso próprio ambiente, entre os vossos colegas, entre os vossos familiares, entre os vossos falsos amigos. O que os une é a mais total falta de respeito pelo vosso trabalho , por aquilo que construíram com muita dedicação. Eles varrem tudo com uma só palavra, de uma penada. E são felizes vendo-vos sofrer”.

Nota - Transcrito do livro anexo por Amândio G. Martins

1 comentário:

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