quarta-feira, 29 de maio de 2019


Vidas curtocircuitadas...


Como pode isto acontecer, com esta dimensão, num tempo que não é  propriamente de trevas, ultrapassa a minha capacidade de entendimento, porque não há forma de um ser racional, no pleno uso das suas faculdades, poder justificar a desgraça que constitui a enorme quantidade de crianças violadas no seio da própria família, com a agravante de ser um problema transversal a toda a sociedade, segundo é frequentemente dito.

Diz a notícia do JN que a APAV sinalizou, só em 2018, 1504 crimes sexuais envolvendo vítimas menores, o que me leva a pensar que até poderão ser muitos mais, dado a maioria destas enormidades ocorrerem no seio da própria família da criança, com os pais no topo da estatística, mas envolvendo padrastos, avôs, tios e irmãos.

Quando se lê que 91% dos violadores de crianças são os próprios pais, a pergunta que ocorre é que valores serão os desta gente, como se a família humana não passasse duma “coelheira”, em que todos os membros copulam com todos...

Nos casos que chegam a tribunal, as justificações dadas por alguns dos bichos que violaram filhas, publicadas pela comunicação social, não são fáceis de digerir; dizia um que não andou a criar uma filha linda para depois virem outros “usufruir” dela; outro dizia que não teve culpa, que foi ela que o seduziu a ele, enfim, não encontro mais palavras para isto...


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Inominável, abominável, e outros adjectivos na mesma linha... é só que me ocorre !

    Estou a ler este livro ( uma falha na minha formação básica, admito🤔) e lembrei-me deste trecho que li ontem:

    “ Creio que a primeira e indispensável condição ética é a de estarmos decididos a não viver de qualquer maneira: estarmos convencidos que nem tudo vem dar no mesmo, embora, mais tarde ou mais cedo, tenhamos de morrer.
    ... talvez o busílis da questão não esteja em submetermo-nos a um código ou em contrariar o estabelecido ( o que também é submetermo-nos a um código, só que às avessas) , mas em tentar compreender. Compreender porque é que certos comportamentos nos convêm e outros não, compreender o que é a vida e o que é que pode fazê-la “ boa” para nós, seres humanos.”

    In “ Ética para um jovem”
    Fernando Savater
    Ed. D. Quixote

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  2. É nestes momentos que mais me socorro da "Lei Moral" de Kant. E me interrogo sobre civilização. Ambas para me "segurar" no pensamento, por muito que isso me angustie mas me estruture. O ser humano é totipotente, os seres humanos também, a razão não é meramente instrumental, a civilização é, imensas vezes, uma luta contra as "inclinações naturais". Temos é que lutar, de várias maneiras, pessoais e de organização da sociedade, para continuarmos. Termino: fiz um esforço para escrever o que escrevi, pois só me apetecia gritar convosco uma indignação, um "uivo lamentoso" (litost), mas... a razão moral é (para mim) o que é... Está denunciado, vai ser estudado e julgado e.... vai melhorar, sem ser totalmento anulado.

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