A arqueologia é sempre uma caixinha de surpresas, como o prova o texto de Lucinda Canelas, no PÚBLICO da passada sexta-feira. Nem sempre agradáveis, mas o saber que se ganha é recompensa bastante para os frequentes desgostos que nos são aportados.
A estupefacção que, certamente, atinge os corajosos investigadores que vêm desbravando as cercanias do parque de minigolfe em Lagos, será comparável àquela que sentirão outros que, daqui a cinco séculos, se ainda a Humanidade por cá andar, revolverem as “catacumbas” de uma “paradisíaca” região que, adivinho, se projecta para um futuro não muito distante: Riviera-Gaza. Que instantâneos, não fotográficos, mas reais, serão trazidos à tona, como em Pompeia ou, agora, em Lagos? Mães com bebés ao colo, novos e velhos com pratos vazios nas mãos, surpreendidos por (mais) um bombardeamento israelita? O horror de pensarmos que, no século XVI se atiravam pessoas para o lixo, poderá repetir-se quando se descobrirem os destroços da desumanidade que mata, alegre e impunemente, tantos “semelhantes”, os tais que “alguém” que por ali também andou há vinte séculos, aconselhou a que amássemos como a nós próprios. O orgulho e a maldade de alguns, acompanhados da indiferença de outros, levam a estas “heranças” de que, estou certo, os arqueólogos do futuro gostariam de se ver livres.
Público - 29.07.2025