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terça-feira, 29 de julho de 2025

Os (futuros) escombros de Riviera-Gaza

 


A arqueologia é sempre uma caixinha de surpresas, como o prova o texto de Lucinda Canelas, no PÚBLICO da passada sexta-feira. Nem sempre agradáveis, mas o saber que se ganha é recompensa bastante para os frequentes desgostos que nos são aportados.

A estupefacção que, certamente, atinge os corajosos investigadores que vêm desbravando as cercanias do parque de minigolfe em Lagos, será comparável àquela que sentirão outros que, daqui a cinco séculos, se ainda a Humanidade por cá andar, revolverem as “catacumbas” de uma “paradisíaca” região que, adivinho, se projecta para um futuro não muito distante: Riviera-Gaza. Que instantâneos, não fotográficos, mas reais, serão trazidos à tona, como em Pompeia ou, agora, em Lagos? Mães com bebés ao colo, novos e velhos com pratos vazios nas mãos, surpreendidos por (mais) um bombardeamento israelita? O horror de pensarmos que, no século XVI se atiravam pessoas para o lixo, poderá repetir-se quando se descobrirem os destroços da desumanidade que mata, alegre e impunemente, tantos “semelhantes”, os tais que “alguém” que por ali também andou há vinte séculos, aconselhou a que amássemos como a nós próprios. O orgulho e a maldade de alguns, acompanhados da indiferença de outros, levam a estas “heranças” de que, estou certo, os arqueólogos do futuro gostariam de se ver livres.   


Público - 29.07.2025


sexta-feira, 11 de julho de 2025

A teia



Aprendi no PÚBLICO de 9/7 que a humanidade não deveria nutrir o medo habitual pelas aranhas. Elas são úteis a diversos níveis, mais ou menos impensáveis. Curiosamente, na mesma edição, fiquei informado de que o ex-primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, foi contratado pela Goldman Sachs como “assessor sénior”. Nada de surpreendente, mais um nome da governança que “desliza” para o sector financeiro. Poderia ter sido em sentido inverso, pouco importa, mas, desta vez, Sunak imitou Durão Barroso, o que só lhe “fica bem”, pelo menos pensando nas suas finanças pessoais. Contudo, há um pensamento que não pára de me atormentar (concedendo, à partida, que sou um ingénuo inveterado), e que é o de que quem se propõe exercer cargos públicos determinantes para o Mundo, deveria privilegiar o interesse comum, abdicando das benesses pessoais. Hoje, encontra-se perfeitamente “normalizada” a ideia de que o desempenho pessoal legitima comportamentos como estes. Ou como os de Tony Blair, outro ex-primeiro-ministro britânico, que se dedica a desenvolver planos tenebrosos para a faixa de Gaza. 

Proponho que os aracnídeos sejam ilibados, ao mesmo tempo que se inventem as melhores formas de impedir a construção de teias como as que estes ex-políticos urdem para nos apanhar. 


Público - 11.07.2025


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Parar para pensar



A turbulência que Trump trouxe ao mundo deveria ser contrariada por um arrefecimento de cabeças que, infelizmente, não se adivinha para breve. Li com muito interesse o artigo de Francisco Sousa Fialho, no PÚBLICO do passado sábado. Os factos e conclusões que aduz não estão na moda entre as autoridades europeias. A “febre” do rearmamento, compreensível na mente interesseira de Trump, desejoso de facturar mais uns “trillions” aos ingénuos do costume, não deveria aquecer tanto os corações europeus. Que é feito de palavras como desarmamento, pacificação, diplomacia, temperança?

A NATO estava em “morte cerebral” pouco antes do tónico que Putin lhe inoculou com a questão ucraniana, e não foi por isso que a Europa deixou de viver em normalidade. “Países como a Irlanda ou a  Suíça não são membros da NATO e, ao que consta, não vêem vantagem em entrar no clube”. A questão é, pois, pertinente: “tem Portugal interesse em permanecer membro da NATO?”. Do outro lado do “espelho”, no calor febril dos “retiros”, os dirigentes europeus estudam as melhores formas de apaziguar Trump, dispondo-se placidamente a entortar as “sagradas” regras básicas do funcionamento financeiro da União, de modo a acomodar “legalmente” as exigências do americano. 


Público - 11.02.2025


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Ressuscitem a diplomacia



Assertivo como sempre, e acertado como quase sempre, o “Escrito na Pedra” do PÚBLICO de hoje, 19 de Novembro, consignado a Diderot (“Há muito tempo que o papel de sensato é perigoso entre os doidos”), fez-me lembrar o Papa Francisco. Entre os dirigentes do mundo actual, parece ser o único com a sageza e a sensatez suficientes para se aperceber de que os nossos valores não têm de ser coincidentes com os valores de todos os outros, nem, por outro lado, lhes são “superiores”. “Sacar” da arma, à maneira dos cow-boys, parece ser a única forma que esses dirigentes conseguem articular nas suas pequeninas mentes para liderar as comunidades.

Depois de tudo o que aprendemos com as tragédias mundiais que o século XX nos “ofereceu”, talvez já convenientemente esquecido por muitos dos que “mandam”, pasma-se que estes não consigam balbuciar mais do que ameaças e contra-ameaças, no (des)concerto planetário, sem qualquer recurso ao diálogo. Para gáudio dos belicistas, muitos deles sem suspeitarem de que o são, proliferam as guerras, todas “justas” à vista dos seus exclusivos interesses. É tempo de “sacar” do humanismo, sem medos de quaisquer acusações de colaboracionismo, traição ou mesmo cobardia, e bradar: Abaixo as armas, viva a diplomacia. 


Público - 20.11.2024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Olfactos tendenciosos



Tenho a esperança, não muito secreta, de que Maria João Marques (M.J.M.), no seu próximo artigo semanal, virá retractar-se do que escreveu no PÚBLICO do passado dia 6, designadamente quanto ao ataque feroz ao chefe do governo espanhol, a par da “limpeza” da imagem do governo autonómico de Valência, que até engloba o Vox. M.J.M. tem todo o direito de se situar politicamente onde quiser, e de apoiar, ou atacar, quem quiser, mas a verdade é que a mensagem subliminar do seu artigo só acontece porque o visado lhe “cheira” a esquerda, mesmo que soft. Não duvido de que Sánchez possa ter responsabilidades na insuficiência dos apoios decididos para a região. Já duvido de que tenha tantas quanto o presidente do governo autonómico, Carlos Mazón, que, valha a verdade, M.J.M. considera incompetente e responsável pela situação. M.J.M. não teria conhecimento do texto de Sofia Lorena, na mesma edição, publicada 11 páginas depois do seu próprio texto, mas, neste momento, já certamente o leu, motivo que nos encoraja a aguardar serenamente pela tal retractação.   


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A evidência histórica


Estou em crer que, no futuro, o objectivo fundamental que as governações dos povos terão de atingir será o esbatimento das desigualdades, que não páram de crescer. Veja-se o artigo de Isabel Lucas, no PÚBLICO de 29/10, que disseca circunstanciadamente o assunto, premente nos EUA, país que nasceu sob a bandeira da igualdade de oportunidades, mas onde bastaram pouco mais de dois séculos para se verificar que o sistema já “recuperou” do abalo. A narrativa neoliberal, mil vezes repetida, de que, ao lhes pouparmos impostos, os ricos são levados a investir mais, melhorando as condições de todos, não passa de uma “historinha” com happy end fabricado: andamos nisso há décadas - ou séculos - e os resultados estão à vista. Reduzir as desigualdades, não escamoteemos a questão, passa por retirar mais a quem mais tem, para poder redistribuir por quem menos tem. E como? Sobrecarregando impostos sobre os lucros, e não aliviando o IRC, como alguns pretendem. Não resisto a citar, ipsis verbis, o período final do artigo citado: “Sob a promessa de prosperidade a evidência é a da desigualdade enquanto concretização histórica.”


Público - 31.10.2024

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Não temos melhor(es)?



O Expresso de 4/10 desvenda-nos o indisfarçável desalento da provedora de Justiça Europeia, Emily O’Reilly, em final de mandato, no que respeita à falta de transparência da Comissão Europeia, ao perigo das portas giratórias tão tentadoras para diversos comissários, e até de má administração do executivo. Quer isto dizer que, não obstante as chorudas remunerações que auferem, os dirigentes da União Europeia, estarão a ser pouco zelosos no cumprimento das suas funções, em manifesto prejuízo dos interesses do comum dos europeus? 

Está agora a Comissão Europeia a preparar o próximo quadro financeiro plurianual, e já se vai sabendo que este dissimula um relaxamento na Política de Coesão, cujo futuro poderá estar em risco, pelo menos na opinião que Vasco Cordeiro, presidente do Comité das Regiões, confiou ao “Público”. A Comissão Europeia, naturalmente, é composta de pessoas, e, como tal, falível e imperfeita. Mas será que não é possível encontrar melhores para o desempenho de cargos com tantos poderes? Ir a correr/voar, ao som da primeira sirene em Kiev ou Telavive, não chega. Os cidadãos europeus exigem mais e melhor.


Expresso - 11.10.2024

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Parada e resposta



No momento em que escrevo esta carta, aguardo com ansiedade a contraproposta do PS à contraproposta (irrecusável) do Governo. Com maior ansiedade, aguardo ainda a reacção de Israel à reacção do Irão. Por muito importantes que sejam, não vou perorar aqui sobre aqueles dois temas. Interessa-me mais, de momento, assinalar uma espécie de paralelo entre dois artigos do PÚBLICO, o primeiro, em 2/10, da autoria de Maria João Marques (M.J.M.), e o segundo, no dia seguinte, de Manuel Carvalho (M.C.). O tom de M.C. não possui o acinte destilado por M.J.M., mas nenhum dos autores esconde alguma animosidade relativamente a Pedro Nuno Santos (P.N.S.).

Ao contrário de M.C., não deixaria de considerar uma evidente quebra de princípios se o PS contemporizasse, ainda que em nome da governabilidade do país (que, na opinião de muitos, não ficará beliscada, caso tenhamos de viver em duodécimos), com as “exigências” de abaixamento do IRC e, sobretudo, da aplicação das regras que o PSD entendia no tocante ao IRS Jovem. Não acompanho M.C. na ideia de que seria um acto de “humildade democrática” P.N.S. propor-se aguardar até ser Governo para corrigir os erros de outros. Antes me parece que seria uma entorse na verticalidade do seu partido.


Público - 06.10.2024

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Restrições, contradições e regressões



Não tenho os pergaminhos necessários, e ainda menos os suficientes, para argumentar, no seu campo predilecto, com o senhor professor doutor Aníbal Cavaco Silva, a propósito do texto que publicou no PÚBLICO da passada quinta-feira sobre a “restrição orçamental”. Mas ser-me-á permitida uma dúvida que me conduz às perguntas seguintes: se é legítimo afastar liminarmente o argumento de que “as portagens são um factor determinante do investimento no interior do país e que daí resultará mais crescimento económico no futuro”, é igualmente legítimo afastar a ideia de que a descida do IRC poderá ser um factor com efeitos semelhantes na economia? É que este parece ser o argumento fundamental dos defensores dessa medida, designadamente entre os habituais correligionários do senhor professor. Por que razões não havemos de concluir que, da mesma maneira que “a eliminação das portagens é uma medida regressiva”, a baixa da taxa de IRC não é também regressiva, uma vez que parece óbvio que os “grupos ganhadores directos” são as grandes empresas?

O “senhor Silva” (a designação não é minha, foi “inventada” há uns bons anos por Alberto João Jardim), definitivamente, não me convence.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

E se votássemos todos?



Por alturas das campanhas para as presidenciais dos EUA, muitos vêm recordar que, atendendo às consequências globais que o desfecho das mesmas normalmente acarreta, muitos outros cidadãos do mundo também deveriam ser eleitores. No caso presente, congratulo-me por não ter de exercer esse voto. Compreendendo perfeitamente as razões aduzidas por João Miguel Tavares (PÚBLICO de 20/8), concluindo que, caso fosse americano, “votaria de caras em Kamala Harris”, não sei se, a imitá-lo, eu não ficaria com um amargo de boca semelhante ao que se tem quando se engolem sapos (sei do que falo: em 1986, votei em Soares). Por muito simpática que seja Kamala, e é, ninguém tenha dúvidas de que, sob a sua batuta, os EUA prosseguirão as geopolíticas habituais, a começar pelo tratamento desigual e cruel dado a israelitas e palestinianos, e nunca deixando de se intrometer, muitas vezes sem serem chamados, nas “questiúnculas” regionais.

Mas, está claro, como em Trump nem morto eu votaria, talvez tapasse a cara da Kamala Harris e pusesse lá a cruzinha. Se ao menos o Rato Mickey se tivesse candidatado… 


domingo, 4 de agosto de 2024

Os ricos são a crise



Quem o diz é António Rodrigues (A.R.), na sua quadri-crónica postada entre “4 esquinas”, no PÚBLICO do passado dia 2. Certeiramente, A.R. constata que, se há quem sonegue impostos devidos aos Estados, são exactamente os ricos, e que é pornografia a postura de autoridades que tentam demonstrar ser desnecessário e indesejável que se consiga a “difícil” coordenação internacional para chegar a um entendimento no sentido de tributar, com um imposto global, as grandes fortunas mundiais. Saúdam-se tais constatações, sobretudo em tempos de glorificação das “verdades” neoliberais (menos Estado e mais iniciativa privada) que nos trouxeram a este estado.

Entretanto, como os únicos impostos “legítimos” são os que incidem sobre os rendimentos, em especial os do trabalho, os detentores das fortunas sonantes (a quem é difícil “chegar”), beneficiando de tributação tão complacente, vão “comendo” o planeta como se fosse só deles, com cada vez mais aviões privados e outros luxos poluidores. Mais ou menos como os dirigentes mundiais, a quem deveria ser lembrado amiúde que existem uns “aparelhómetros” corriqueiros que, facilmente, permitem video-conferências, sem necessidade de constantes deslocações aéreas de um lado para o outro.


Público - 05.08.2024 (truncado do último período).

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Amigos prováveis, mas incorrigíveis



Em 16 de Agosto de 2021, tive o gosto de ver publicada no PÚBLICO uma carta que intitulei “Tanto mar”, em que me declarei eternamente grato a Biden por nos ter livrado de Trump, mas sem esquecer o que os norte-americanos, sob o seu comando, tinham acabado de fazer a milhares de afegãos a quem tinham jurado protecção, depois de os aliciarem para a sua causa. A ter de repetir o agradecimento, será a outra pessoa, e oxalá venha a ser Kamala Harris, a provável candidata democrata à presidência dos EUA, que desejo ver a humilhar retumbantemente Trump, “esmagando-o” no campo da misoginia, do racismo e da decência. 

Tratando-se dos EUA, já estamos habituados a ver frustradas as nossas ilusões, pelo que não ficarei admirado por Kamala, se eleita, continuar a dar apoio “incondicional” a Netanayhau. Este “magarefe” conseguiu a proeza de, mais uma vez, ser ouvido nas mais altas instâncias norte-americanas, com honras de Estado, não se coibindo de agradecer todo o apoio (em armas e não só) a Biden, mas também a Trump. A ausência de Kamala na sessão é de aplaudir, mas nada de bom garante aos palestinianos.


Público - 26.07.2024


segunda-feira, 15 de julho de 2024

A NATO arrisca(-nos) muito



Somos todos frequentemente lembrados do teor do artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, ao contrário do que nos acontece quanto ao artigo seguinte, o 6º. É bom parar para pensar, e a leitura do trabalho de José Pedro Teixeira Fernandes, publicado na edição do PÚBLICO do passado domingo, convida-nos a um salutar exercício de reflexão. A NATO, organização defensiva por definição, “faz” a guerra sem que algum dos seus membros a declare constitucionalmente. Como cidadão de um país integrante daquela Aliança, interrogo-me da racionalidade/legalidade destas actuações que, obviamente, põem em perigo todos os membros. Fazer a guerra a esmo, só porque, estrategicamente, isso convém aos EUA, que entendem que o “inimigo principal” é a Rússia, não me parece prudente, já não falando do paulatino e supremo menosprezo que se confere ao potencial bélico do oponente, que não é despiciendo. Putin será (e é…) um patife declarado que merece punição, e não só por ter invadido a Ucrânia. É razão suficiente para nos arvorarmos, sobretudo os europeus, em justiceiros globais, arriscando a nossa sobrevivência só porque a correlação de forças no mundo se alterou e os actuais (ainda) “patrões” pretendem manter o usufruto dos benefícios de que gozam? Nem na antiguidade um chefe militar eficaz se lançava na guerra sem avaliar as forças do inimigo, mas, neste nosso mundo, parece que o poder tolda as mentes. Um pouco de racionalidade calhava bem.


Público - 16.07.2024 (truncado da parte sublinhada).

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

À roda do mafarrico


No seu estilo habitual, Maria João Marques (M.J.M.) brindou-nos com um texto “diabólico”, no passado dia 10. Dá para confirmar (está lá tudo) o que já muitos adivinham sobre o teor das campanhas eleitorais por parte das direitas. Foi-lhes fácil encontrar o fio condutor que, desta vez, dispensa os protagonistas de anunciarem aos eleitores os respectivos programas de trabalho. Ao que parece, e pelo menos até ver, a mensagem resume-se a apontar o dedo aos “erros” do PS, detentor do poder executivo nos últimos anos. É certo que M.J.M., em alguns dos exemplos que apresenta, até tem razão, embora eu suspeite que a “coisa” ainda estaria ainda pior se tivéssemos sido governados pelos seus mentores. Ademais, estou certo de que M.J.M., na sua lição sobre como deve ser o debate entre os políticos, não se deu conta de que os pecadilhos que atribuiu ao PS são corriqueiros nas intervenções das direitas.

Mas se o problema para M.J.M. é o uso do “diabo” no despique, fácil será, ao PS e outros, adoptarem símbolo alternativo àquele que, “por acaso”, até foi inventado por Passos Coelho. Proponho “mafarrico”, soa bem.


Público - 12.01.2024

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Piratas à solta


Não que me admire, mas orgulho-me da posição que o PÚBLICO tem tomado na defesa de órgãos da comunicação social que, à partida, são seus concorrentes directos. É mais do que provável que este jornal, em termos imediatos, e puramente financeiros, pudesse vir a lucrar com o desaparecimento de alguns dos títulos detidos pela Global Media, pelo que a sua postura é uma lição para todos quantos só percebem a ganância.

Não falando dos outros órgãos afectados, quem, entre nós, portugueses de boa-fé, não se sente diminuído por deixar de contar com a presença do JN, do DN e da TSF? Pois se a única salvação destas entidades fulcrais para todos é ir o Estado socorrê-las, de que se está à espera? Da anuência dos liberais? Deixemo-los pregar no deserto que merecem, repetindo ad nauseam que o Estado só atrapalha, e que os privados, munidos da sua infinita eficiência, resolvem tudo através de um mercado “santificado”. Estou de alma e coração com o apelo/exigência de Ana Sá Lopes, na sua Anacrónica de domingo: privatizemos JÁ aqueles órgãos de comunicação social! E se os liberais quiserem ir queixar-se a Bruxelas ou ao diabo, lembremos-lhes que andam cheios de sorte por não lhes movermos nenhuma acção judicial pelo que andam a fazer. Será preciso mais do que este caso exemplar da Global Media para os mandar para os quintos do inferno?


Público - 09.01.2024

domingo, 24 de dezembro de 2023

IL - “Incoerência” Liberal…


… ou de como a “Iniciativa” degenera em “Incoerência”.

É no mínimo estranho que um partido formado há tão pouco tempo, com o desígnio de vir a mudar todos os paradigmas a que estamos habituados no panorama partidário, tão rapidamente tenha absorvido alguns dos piores vícios dos outros. Já Bárbara Reis deu conta, aqui no PÚBLICO, no seu Coffee break de 25/11, das suas dúvidas sobre a convicção da IL de que ia ser um partido diferente. E, pelos vistos, tinha toda a razão, pelo que se vê passar-se dentro de portas do partido. Internamente, alguns dos seus membros mimoseiam-se com acusações e epítetos que fazem lembrar, não só pela extensão, o rol de roupa suja para a lavadeira de Woody Allen, não se ensaiando nada em desterrar quem não diz que sim. Dá para pensar que a “rapaziada” tem iniciativa, sobretudo em afastamento de correligionários, mas de liberal… só se for no nome.


Público - 26.12.2023

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Quem te avisa…


Fiquei há dias a saber pelo PÚBLICO que a Administração Biden enviou a Portugal a sua emissária Sarah Morgenthau para nos “alertar” dos perigos em que incorreremos caso venhamos a adquirir um novo scanner da marca chinesa Nuctech, destinado ao Porto de Lisboa. Disse a senhora que os EUA não vão interferir no processo de decisão, que cabe inteiramente a Portugal. Pode ser…

É muito provável que os chineses exerçam espionagem por essa via, o que muito me incomoda. Mas mais me incomoda o atestado de infantilidade que os americanos, mais uma vez, nos estão a passar. Espero que esse atestado não esteja a encobrir uma ordem…


Público - 22.12.2023

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Bocas da reacção

 

A leitura do artigo sobre as “contas certas” que Cavaco Silva publicou no PÚBLICO trouxe-me à memória uma expressão que, nos anos do PREC e seguintes, se vulgarizou, alargando-se o significado inicial e com aplicação a propósito de tudo ou de nada. Fui buscá-la para dar título a este texto.

Não sou ninguém para discutir finanças públicas com o “mestre”. Ele sabe tudo, nunca se engana e raramente tem dúvidas. Sempre assim foi e será. Do que não tenho dúvidas (neste campo, porque, ao contrário do “professor”, dúvidas sobre tudo, cada vez tenho mais…) é que Cavaco não engana ninguém, querendo parecer que está a dar uma aula, quando, na realidade, se aproveita da sua notoriedade para, exercendo um direito legítimo, fazer campanha partidária, eivado do costumado azedume anti-PS.

Numa coisa, pelo menos, Cavaco falhou rotundamente: esqueceu-se de nos dizer quem deveria nomear o “comité de especialistas” a que repetidamente alude no artigo. Mas eu julgo saber que esse comité, no pensamento de Cavaco, só poderia ser constituído por ele próprio, uma vez que, à face da Terra, não existe mais ninguém com a clarividência necessária. Essa foi a sua “armadilha”.


Público - 05.12.2023

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

De milagres está o inferno cheio

Não é este o texto que eu gostaria de escrever. Nos tempos que correm, olho para o mundo e sinto-o tão irresponsável e criminoso como nunca. Como escreveu Pacheco Pereira aqui no PÚBLICO, em 04.11.2023, “de pouco valem as palavras”, pelo que “a tentação de ficar calado é grande”. Não basta já de guerras e dos seus mandantes? Preferiria espraiar-me sobre a afirmação de Paul Krugman de que “Portugal é uma espécie de milagre económico”. O problema é que se o Prémio Nobel só compreende a nossa realidade económica com recurso à mistificação sobrenatural, eu não vejo onde é que está o “milagre”. Admito que lhe era impossível conhecer o artigo da jornalista Patrícia Carvalho, que nos divulgou, na edição do passado dia 28 do PÚBLICO, o “Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, 2018-2023”, do Instituto Nacional de Estatística. Se o conhecesse, Krugman, inteirando-se de que “a taxa de risco de pobreza em Portugal voltou a subir”, “o peso das transferências do Estado desceu”, e as “desigualdades aumentaram”, talvez compreendesse, à luz da ciência terrena, com que “boas intenções” se conseguem os resultados que tanto o impressionaram. Para não sair do panorama devoto, oxalá todos os “santinhos” nos livrem da areia que prestidigitadores como Milei e Wilders eficazmente lançaram para os olhos dos seus eleitores. É que também temos por cá “mágicos” desses, mas os objectivos deles só são compatíveis com o agravamento dos problemas que se comprometem a resolver. Público - 30.11.2023

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Minudências esmagadoras


Posso estar enganado, mas, tanto quanto sei, Antony Blinken não “esteve em Telavive para dizer aos israelitas que têm ‘o direito e o dever’ de responder a este ataque”, ao contrário do que escreveu Teresa de Sousa na sua crónica dominical Sem (?) fronteiras. Citando o PÚBLICO de 13 de Outubro, o que o secretário de Estado norte-americano afirmou foi que “Israel tem o direito, na verdade o dever, de se defender”. Não são afirmações equivalentes, e o que torna perigosas estas confusões é que permitem que se instale o sentimento de que a retaliação pura e simples, a vingança sem limites, é o que mais importa em toda esta desgraçada situação. Talvez seja este o profundo pensamento de Netanyahu, cioso dos seus interesses pessoais mesquinhos, mas ele não é, seguramente, o que mais interessa aos israelitas, aos palestinianos e ao Mundo em geral.