Marco Aurélio, que foi imperador de Roma na segunda metade do segundo século do primeiro milénio da nossa era, deixou dito que o homem recto e virtuoso se assemelha àquele que tresanda dos sovacos, de tal forma que quem dele se aproxima o sente logo, quer queira quer não; todavia, se fosse hoje, com a capacidade de dissimulação que algumas pessoas desenvolvem, aquele pensador não estaria tão seguro.
Pedro Olavo Simões, jornalista do JN, escreveu na página dois deste jornal um texto sobre jornalismo que muito me gradou ler: “Sempre me fez comichões – escreve Pedro Olavo – ouvir outros jornalistas, perante interlocutores incomodados, dizer que o seu mester é fazer perguntas. Isso é quase como dizer que pode perguntar tudo – e pode, mesmo que faça má figura, lembrando aqueles tipos que param o camião no meio da rua, e, quando alguém protesta, gritam do alto da burra: “Que é que queres? Estou a trabalhar”! (...) “Acredito que o papel do jornalista não é fazer perguntas, mas obter respostas. São coisas substancialmente diferentes”.
E eu, que nunca fui jornalista, irrito-me bastante mais que o senhor que venho a citar, quando vejo alguns perguntadores/as em acção, encavalitando-se uns nos outros, disparando perguntas sobre perguntas, não dando ao perguntado tempo de responder a nenhuma, parecendo mais que procuram provocar uma resposta desabrida, interpretando-a depois como a confirmação do que pretendiam, porque o inquirido, irritando-se, acusou o toque...
Amândio G. Martins
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