MANIPULAR PARA CONDICIONAR E REINAR
Vou com frequência
a Lisboa de comboio que em horas de ponta, anda à cunha. Há um
pormenor que salta à vista. Com certeza, será comum a outros
transportes coletivos e não só; é muito raro ver-se uma pessoa a
ler um jornal. E livros, embora mais vulgar, mas também muito pouco.
“Ler jornais é
saber mais”. Lembram-se do slogan? Claro que era publicidade aos
jornais, mas é verdade. Portanto, agora que quase não se lê,
sabe-se menos. Também podem ser lidos na Internet. Mas também aí,
não será uma reduzida minoria que o faz?
A
informação/formação é fundamental para a democracia. Daí, os
(dois) partidos que se alternam sucessivamente no poder. Daí, a
desilusão que dá ouvidos à demagogia e ao populismo de outras
versões desses partidos. Sobretudo a pior delas; a da extrema
direita.
A televisão e a
rádio, não substituem os jornais. Muito menos as redes sociais onde
abunda a palha e o lixo.
Quem ganha com isso
são os beneficiários do sistema. A minoria que condiciona a
esmagadora maioria. Que a manipula através dos órgãos de
(des)informação que controla.
Os exemplos são
mais que muitos. Ainda no meu penúltimo artigo de opinião dei um
sobre a manifestação da CGTP ininterrupta do Cais do Sodré ao
Rossio. A Renascença e a SIC-Notícias, disseram que foram mais de
mil pessoas. É verdade! Mas a ideia com que se fica com mais de mil,
é que seriam mil e tal, mil e poucas. Foi essa ideia que quiseram
transmitir para desvalorizar, para lhe retirar importância. Outro
exemplo recente: no programa “Consulta Pública” da Anyena1 de
quarta-feira passada sobre a guerra na Ucrânia, os cinco convidados
disseram resumidamente todos a mesma coisa: que Putin é o mau da
fita, que invadiu a Ucrânia e que tem de lá sair a bem ou a mal. Se
não sair a bem, a guerra tem de prosseguir.
Qualquer órgão de informação, ainda por cima público, deve ter um mínimo de isenção
e pluralismo. Numa matéria tão importante, não houve minimamente
essa preocupação. Os ouvintes ficam apenas com uma opinião. E isto
é condicioná-los. Manipulá-los.
Não houve antecedentes? Não havia já 15 mil mortos? O aliado dos EUA, da NATO,
da UE, o democrata dos quatros costados que ilegalizou todos os
partidos ucranianos com exceção do seu e outro da extrema direita,
o aliado dos que podiam ter evitado a guerra ou que já podiam ter
acabado com ela diplomaticamente, por exemplo, através dos Acordos
de Minsk, não impediu, pela força, a justa reclamação da
população do Donbass à sua autodeterminação através de um
referendo?
Não é para
condicionar, manipular, que não convidam outras personalidades? Por
exemplo, ex militares de alta patente bem informados e até com
experiência no terreno, ou civis! Gente também com muita informação
e formação. Há diversos. Como exemplo, por ser bem conhecido dos
leitores deste jornal (e a nível nacional) até porque já foi
diretor convidado dele, Viriato Soromenho-Marques, que tem insistido
nos perigos deste conflito se não acabar como deve ser;
diplomaticamente.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE