UM TRISTE NATAL
Cá pelo burgo, este natal não vai ser melhor que os anteriores. Os ordenados e pensões de reforma não acompanham o aumento do custo de vida, a assistência na saúde não melhorou. Antes pelo contrário. O Serviço Nacional de Saúde continua a degradar-se a favor dos privados, e quem não tem possibilidade de recorrer a eles, o que é a grande maioria dos portugueses, vê a sua saúde, tal como o SNS, degradar-se.
A caridade, o peditório do Banco Alimentar Contra a Fome e outras instituições do ramo, continua a substituir-se à Segurança Social e ao Estado para encanar a perna à rã à pobreza, pelo menos agora nesta quadra.
Temos até uma inovação. Uma triste inovação. Essa chaga social que é a violência doméstica, segundo o mais recente relatório da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) que o jornal Púbico do dia 11 deste mês dá grande destaque, aumentou mesmo contra os homens e acontece em casais heterossexuais.
Os pedidos de ajuda de homens vítimas de várias formas de violência atingiram 6545 casos em dois anos. As mulheres representam 75% do total de pedidos de ajuda.
Por cada pedido de ajuda de uma vítima homem, a APAV acredita que existem outros dois casos desconhecidos das estatísticas.
Na APAV, os pedidos de apoio por parte de homens cresceram 17% entre 2022 e 2023. No ano anterior, tinham aumentado 15%.
Houve ainda 2176 pedidos de ajuda de crianças e jovens que já estão ou irão estar com processos aberto nas comissões de proteção de crianças e jovens (CPCI).
A aumentar, está também a violência acima dos 65 anos. Nestes casos, não chegam do próprio ou de familiares- que são muitas vezes quem os maltrata- mas de juntas de freguesia, entidades de ação social ou polícias. Quem violenta o homem idoso, por se encontrar numa situação de dependência, são filho, filha, neto ou neta. O que leva a isso? “Dinheiro, não permitir a pessoa tomar decisões, o controlo, a manipulação, a colocação do idoso em lar contra a sua vontade, a que chamamos sequestro em lar acontece muitas vezes”, expõe o responsável da APAV.
Se é este o triste quadro nacional que a APAV divulga e que transcrevemos do Público, que dizer lá fora! Não bastavam as guerras na Ucrânia, no Médio Oriente e o genocídio em Gaza, agora, mais um país, tal como a Líbia, o Iraque ou o Afeganistão, a caminho do caos; a Síria. É o culminar de anos de sanções e ingerências na Republica Árabe Síria pelos EUA, Israel e Turquia. E ataques de grupos terroristas por eles apoiados, com ligações à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (e a Irmandade Muçulmana) apresentados agora pelos moralistas do Ocidente como moderados opositores ao então regime daquele país de grande importância estratégica e rico em recursos petrolíferos, mas que não pactuava com eles. Essa é sempre a verdadeira razão da ingerência.
Portanto, caros leitores, não lhes posso desejar um feliz Natal. Mas desejo-lhes o melhor possível. Saúde e disposição para, de qualquer forma, contribuirmos para um país e um mundo melhores e mais justos.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O SETUBALENSE
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