Mostrar mensagens com a etiqueta Bolsonaro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bolsonaro. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Do oitenta para o oito

 
Para quem se habituou, mesmo que em desacordo, a acatar as regras do confinamento e da distância social, a notícia de que, a partir de 1 de Junho, os aviões poderão circular sem limites de lotação para além daqueles que já existiam antes da pandemia, constitui um “golpe de asa” temerário. Se há alguma leviandade nesta decisão, a girar 180 graus em tudo o que foi dito ao (in)crédulo cidadão, não se pode deixar de pensar que, aquando da imposição das medidas restritivas, se cortou a direito e sem olhar a meios. Aí, os técnicos e funcionários foram “mais papistas do que o Papa”, mostrando serviço como só eles sabem fazer, ao perpetrarem o que poderíamos chamar de “golpe de Estado” de uma Direcção-Geral, que não enjeitou a oportunidade de nos aplicar uma panóplia de directrizes mais ou menos fundamentalistas em que, por vezes, a contradição era manifesta, e com contínuas mudanças do “pode” para o “não pode” e vice-versa. 
Tudo se resume, afinal, à constatação de que o mundo dos negócios tem muita força. Só é pena que os governantes não tivessem consciência disso no princípio, pois evitariam o ridículo destas recorrentes manobras de marcha-atrás. Muito se devem rir Trump e Bolsonaro.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Dizer é preciso


Nesta crise em que um vírus nos meteu, duas coisas não deveriam ter acontecido: ter-se permitido a disseminação da ideia, na maioria da população, de que quem era contagiado, morria; e ter-se propagado a percepção de que seria possível salvar toda a gente, com zero mortos, tal como os americanos, com drones e à distância, conseguem ganhar sem baixas as guerras em que se metem, escusando-se a pôr os pés nos teatros de operações. Nenhum político em funções governativas arrisca ser acusado de erros que envolvam morte de cidadãos, quanto mais não seja porque sabe que será escrutinado em eleições vindouras. O desconfinamento pode acarretar maior contaminação, “desastrosa” para a popularidade dos governantes, mas é inevitável, a menos que se prefira o caos económico e social, inimaginável ainda hoje, apesar do que já vivemos.   
Trump e Bolsonaro teimam em ignorar os motivos do confinamento. Mas não pelas melhores razões: eles estão apenas a defender os interesses dos grandes capitalistas e fazendeiros. Não é o mesmo que prevenir para a irremediável desgraça que vai desabar sobre as sempiternas vítimas, as classes média e baixa, e que será tanto maior quanto mais tempo durarem as limitações à actividade normal.

Público - 13.05.2020, expurgado das partes sublinhadas.
 
NOTA: Há momentos na vida em que dizer-se o que se pensa e o que se sente é muito difícil. Pressente-se que é impopular o que vamos dizer, que os outros prefeririam ouvir coisas diferentes, que vamos ao arrepio de uma concordância geral. Contudo, elas têm de ser ditas.


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Sabe o que é um terraplanista?

É alguém que acredita que a Terra é plana. Só no Brasil, há 14 milhões de crentes. Fora o Bolsonaro.

sábado, 23 de novembro de 2019

As vítimas

Deve haver mais, mas, de momento, bastam-me estas duas "vítimas": Trump e Netanyahu. Coitados, os "caçadores de bruxas" não os largam. Aguardo ansiosamente pelas próximas: Bolsonaro, Orbán, Erdogan, Duterte, Putín, André Ventura. Oxalá esteja para breve porque, quando eles se queixam, é porque foram mesmo agarrados pelos… cabelos.

sábado, 18 de maio de 2019

Quem é o burro?

O Brasil ouviu, atónito, um grito de revolta, não a favor da independência, mas da “inteligência”. Quem o deu foi Ipiranga? Não, Bolsonaro, evidentemente. Farto de gastar fortunas com uma cambada de “idiotas” que, vá lá, são “úteis”, e reconhecendo que o país, este mês, quase como a Venezuela, não tem dinheiro, tem de o “congelar”. Como? Não pagando 30% dos encargos para com as universidades e a investigação científica.  
De facto, para ele, as universidades e o conhecimento devem ser um perigo público. Algumas até descobrem coisas estapafúrdias, como as alterações climáticas. Lideradas, na sua maioria, por gente “marxista”, pensa ele, o melhor é abafá-las antes que impeçam o Governo de impor medidas e crenças várias, como aquela universal e bíblica no criacionismo, que o “papá” Trump vai tentando implementar lá na “fazenda” dele.
O Brasil devia ser como a Roma Imperial, que não pagava a traidores e, já agora, a imbecis perigosos: devia começar por cortar o salário deste Presidente, que acumula as duas qualidades. Apesar da inteligência e cultura que pensa possuir por saber quantos são 7x8, a fórmula da água e, se calhar, o que é o mastoideu. Público - 20.05.2019 - amputado do último parágrafo.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Bolsonaro cheio de “qualidades”


Parece uma fake new, mas não é. Bolsonaro não tem dúvidas de que o nazismo foi mesmo um movimento de esquerda. Até aqui, eu pensava que o homem era detestável, por prosseguir uma ideologia abominável e por defender o indefensável, ao arrepio de tudo o que é Humanismo.
Afinal, Bolsonaro “acumula”, pois, sem deixar de ser tudo o que eu já pensava, averba mais duas “qualidades": é louco e ignorante. Coitados dos brasileiros.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Os anticristos

Arredando daqui considerações de ordem religiosa ou mesmo da filosofia Nieztschiana, não posso deixar de pensar que há muito quem, em nome de interesses menos confessáveis, ofenda e contrarie os princípios humanos que fizeram do Mundo o que é hoje. Com muita asneira à mistura, mas também com muitos avanços civilizacionais.
Já houve o “viva la muerte”, lema falangista de Franco, já “tivemos” Hitler e Stalin, e não faltam exemplos de poderosos que, com escândalo de todos os outros, exaltam ideias agressivas e demolidoras para o próprio Homem como se fossem valores vitais. Hoje, temos Trump e Bolsonaro, não falando de outros “deuses” menores que, na História, apenas serão lembrados pelo lado mau das coisas. Com a maior desfaçatez, estes homens invertem a lógica das coisas e conseguem arranjar argumentos para defender, a contrario, o naturalmente indefensável.
Desta feita, ficamos boquiabertos com o topete de Bolsonaro em autorizar o Ministério da Defesa a comemorar a implantação da ditadura militar no Brasil, em 1964. Tal como Trump, proclama que a proliferação de armas pela população terá como efeito a diminuição de crimes. Enaltece Carlos Ustra, o torturador-mor, e chama-lhe “herói”. Orwell não diria melhor, só que em novilíngua. Falta apenas dizer que Cristo foi um criminoso.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Areia para os olhos


Haverá muito boa gente que possa pensar que a corrupção no Brasil entrará, mais ano, menos ano, no caminho da extinção. Não estou muito seguro disso, e nem será a prisão (preventiva) de Temer que me vai persuadir de que o combate à corrupção, em era de Bolsonaro, é para valer.
Já se sabia que Michel Temer, presidente do Brasil até há menos de três meses, era indiciado em variadíssimos casos de justiça que só não lhe causaram mossa porque ele manejou com maestria a inimputabilidade conferida por um cargo que, não menos ardilosamente, averbou na “secretaria” dos juízes brasileiros, por quem, aliás, pelas amostras visíveis e conhecidas, não nutro particular respeito. Temer era o vice de Dilma Roussef, não por questões de identidade partidária ou mesmo ideológica, mas graças às incríveis e mirabolantes alianças que os partidos brasileiros têm de fazer para dar alguma governabilidade ao país. Ela, chefe do PT de Lula, e ele, chefe do MDB, não propriamente fiel à herança do MDB de antigamente, dos anos 70, foram “forçados” à coligação para coabitarem no “Planalto”.
Bolsonaro e as suas hostes devem estar a esfregar as mãos de contentes por “demonstrarem” sine qua non que o regime que querem impor é “limpinho”. A mim, não me convenceram, e estou convicto de que é uma questão de esperar algum tempo para comprovar que a corrupção brasileira vai medrar.

sábado, 16 de março de 2019

Jacinda Ardern

Até há pouco mais de um ano, o nome Jacinda Ardern nada me dizia. Acabou por entrar no meu horizonte por ser uma jovem primeira-ministra que, em plenitude de funções governativas, levou a sua gravidez até ao fim, não sem cumprir a licença de maternidade a que qualquer mãe tem o respectivo direito-dever. Hoje, sei que chefia o Partido Trabalhista e o Governo da Nova Zelândia, se considera progressista e social-democrata, e que, perante o hediondo crime perpetrado em duas mesquitas da cidade neozelandesa de Ashburton, por um cidadão australiano, racista e de extrema-direita, declarou com firmeza que vai promover a alteração das leis de posse de armas no seu país, ponderando a proibição de armas semiautomáticas.
É bom sentir que existem dirigentes políticos que não pensam combater a criminalidade e a violência com a disseminação de armas pela população. Do alto das suas cátedras da ignorância e da brutalidade, Trump e Bolsonaro bem podiam ir aprendendo alguma coisa. Obviamente, não querem, tal como os fabricantes de armamento. Público - 18.03.2019

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Abriu a caça… na favela


Já tardava. Bolsonaro tomou posse há pouco mais de um mês e ainda não havia uma acção policial retumbante a apontar aos poderes instituídos. Pois ela aí está. A violência policial, acarinhada e encorajada pelo próprio Bolsonaro, por Sérgio Moro e pelo governador Wilson Witzel, mostrou-se em todo o esplendor no Fallet-Fogueteiro, uma favela do Rio de Janeiro. Houve treze vítimas mortais, jovens negros na maioria, alguns com sinais de tortura e de fuzilamento, com evidências de facadas, tiros pelas costas e à queima-roupa. Segundo os moradores, os fugitivos, suspeitos de tráfico de droga, ter-se-iam refugiado dentro de um prédio, mas queriam entregar-se à polícia. Como era de esperar, esta nega que tivesse havido tortura ou execuções.

Público - 20.02.2019

domingo, 27 de janeiro de 2019

Bolsonaro, Maduro e Guaidó


Anda por aí, na política portuguesa, um aspirante a Pessoa Importante (mas só I.P., não V.I.P.) a dizer que “não é o Bolsonaro português”. Bem sei o que ele quer, é que apareça algum incauto a contrariá-lo e a dizer “ai és, és”. Não serei eu, que nem sequer escrevo o nome dele, a fazer-lhe a vontade. Coitado.
Do outro lado do Atlântico, vemos um Maduro a averbar o apoio de Xi Jinping, Putín e Erdogán. Por sua vez, Guaidó conta com o apoio de Trump e Bolsonaro. Felizmente, não sou o diabo para ter de escolher entre os dois. Que venham eleições limpas, muito rapidamente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

É a desigualdade, pois!


Muito mais se falou da programação da TVI – e dos criminosos que entrevista – ou da da SIC – e de alguns “penetras” telefónicos - do que das palavras do Papa Francisco, proferidas durante a sua primeira mensagem de 2019. Naturalmente dirigidas aos católicos, as suas exortações revelam alguma incompreensão, para não dizer repúdio, da prática institucionalizada na comunidade que chefia, que acha suficiente inclinar-se no genuflexório e papaguear umas quantas ladainhas, julgando assim o dever cumprido. Francisco, no entanto, quer lembrar as origens cristãs, convidando os católicos à intervenção na vida económica, social ou política. Não deveriam tais palavras cair no saco roto de “primos” afastados, também cristãos, designadamente os que, sobretudo no lado de lá do Atlântico, evangelicamente se agarram à “palavra”, mesmo que enrodilhada, mas entoada pelos “devotos” Trump, Bolsonaro e apoiantes. Parece inevitável que os tempos continuarão a evidenciar que um problema aflitivo da Humanidade é o aprofundamento das desigualdades, sem que se veja saída airosa desse atoleiro, como em recente Expresso Curto avisava a jornalista Elisabete Miranda, citando o historiador Walter Scheidel. Há, contudo, quem declare, como Henrique Raposo, assumido liberal-conservador (com hífen, pois claro), que “o problema não é a desigualdade, mas o empobrecimento da maioria”. Está enganado, e bem se vê que, com a concentração do capital acumulado cada vez mais em menos mãos, uma coisa leva à outra.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Os mentirosos não podem triunfar

Estávamos habituados a considerar que o que a Der Spiegel publicasse era indesmentível. Que bom, tínhamos uma sólida âncora para agarrar, neste mundo de logro que tantos poderosos manipulam para levar a água ao moinho deles. Já tínhamos Trump, Bolsonaro e Putín e, não esqueçamos, Zuckerberg. Temos agora o escândalo de Claas Relotius que, em vez de colocar a sua inventiva ao serviço de uma brilhante carreira no campo da ficção literária, a usa para ganhar a vida e muitos prémios de jornalismo… enganando os leitores de uma prestigiada revista. Logo aquela, a Spiegel, conhecida por perscrutar, à lupa de isentos especialistas, tudo o que lá se publica.
Depois de a realidade nos ter forçado a virar a belíssima página em que acreditávamos na “bondade” das redes sociais - que tinham aparecido para desmascarar os mentirosos deste mundo - já todos tínhamos interiorizado que deveríamos confiar cegamente apenas na imprensa séria. Mas, alto lá! Cegamente, não, porque até ela pode ser ludibriada por um qualquer “sedutor”. Há que defendê-la acerrimamente, sim, no conforto de que, por ser séria, esta imprensa sabe reconhecer os erros que comete, como fez a Spiegel, que explicou o embuste em que caiu. E isso, pela sua própria natureza, nenhuma rede social há-de fazer.

Público - 05.01.2019 (expurgado das partes sublinhadas).

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Ódio, não


Fernando Henrique Cardoso (FHC) merece o meu maior respeito, bem como o de todos os democratas. O que não invalida que, como qualquer outro, esteja acima da crítica. O seu (quase) silêncio, durante a última campanha presidencial, foi penoso, e, que se saiba, ninguém o obrigou a assumir uma neutralidade funesta. Afinal, tratou Bolsonaro quase da mesma forma que usou com o PT, sem conseguir (?) distinguir entre um facínora - que não hesitou, a certo passo, em dizer que FHC deveria ter sido fuzilado -, e um partido, circunstancialmente representado por Haddad, que não tem nos seus genes intuitos declaradamente criminosos. O PT tem, certamente, muitos outros defeitos, aliás, repartidos por todas as forças políticas brasileiras, o que, obviamente, não lhe serve de desculpa. O Brasil tem inúmeras e legítimas razões de queixa do PT, e deve muito a FHC, mas merecia dele uma denúncia clara do erro que se estava a cometer. Há neutralidades que ofendem, e eu não quero acreditar que, subjacente à atitude de FHC, se encontre qualquer resquício de ódio. Este sentimento começa a invadir demasiadas mentes e ameaça envenenar o relacionamento entre os homens e entre os países.

sábado, 3 de novembro de 2018

WhatsApp


Esta aplicação informática também por cá anda. Recebi, há pouco, uma mensagem que vou reproduzir na íntegra:

“3º dia de DITADURA no Brasil:

è Gasolina caiu 6%;

è Diesel caiu 10%;

è Ibovespa sobe 3,7%;

è Dólar cai para R$3,71;

è Dono da Havan diz que vai investir 500 milhões de reais no Brasil e gerar 5 mil novos empregos;

è Toyota anuncia que vai investir 1 bilhão de reais aqui;

è Empresa Suiça anuncia investimento de R$ 150 milhões em Pouso Alegre

è Embaixador de Israel oferece Projeto ao Governo de Bolsonaro

è JUIZ SERGIO MORO PARA MINISTRO DA JUSTIÇA

ESTA MUITO DIFÍCIL LIDAR COM ESTAS NOTICIAS “RUINS””

Afinal, andávamos todos enganados. A felicidade é atingível, pelo menos no Brasil. Encontrava-se ali, mesmo ao virar da esquina.

Talvez merecesse a pena, mas não vou confirmar nenhuma das “notícias” citadas, que, claramente, cheiram a “fake”, embora alguma delas possa, infelizmente, ser verdadeira (é o caso do Sérgio Moro). De resto, é dos manuais que, para credibilizar algumas mentiras, convém dizer, à mistura, algumas verdades. Seja como for, o critério editorial do autor da mensagem é insuspeito: no Brasil, não se passa nada de mau?

Ficámos também muito felizes em constatar que a Havan, para lá de boicotar a “Folha de São Paulo” e empresas que lhe estejam ligadas (solidariedade capitalista?), também vai investir (ainda) mais. O retorno é garantido.

Por fim, já que a Bolsa sobe e o dólar desce, não deverá Trump assustar-se?
E isto, vejam lá, a dois meses da tomada de posse do Bolsonaro. O que não será depois?

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Moro sem pedras na mão


Sérgio Moro confirmou as suspeitas de que, para ele, tal como para Órban e muitos outros que por aí pululam, o princípio da separação entre o poder judicial e o político é letra morta. Deverão sê-lo, também, muitos outros princípios caros à democracia. Ao aceitar o convite de Bolsonaro para ocupar a pasta ministerial, Moro não deve ter hesitado muito tempo. Tudo parecia previsto, e este convite é a sequência natural do trabalho preparatório do “impoluto” juiz. A pergunta pode ser especulativa, mas não deixa de se justificar: seria Bolsonaro presidente do Brasil se esse “trabalho” não tivesse sido feito? Ora então aí está a paga. Esperemos para ver a contra-paga que Moro fará ao seu presidente. Tão implacável na administração da justiça, mandará investigar a legalidade da campanha eleitoral do “patrono”, ou vai aplicar todo o seu rigor nas investigações que, se a justiça funcionar, inevitavelmente incidirão sobre Paulo Guedes, o “fantástico” super-ministro das Finanças e afins? Bolsonaro, entre outras coisas, acautelou os telhados de vidro, os próprios e os das suas hostes. Brilhante!

Público - 04.11.2018 (truncado das partes sublinhadas e com o texto alterado para "Ainda Moro").

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Eles quiseram


Os brasileiros exerceram o seu poder de escolha em obediência às regras democráticas. A esse respeito, nada a dizer. Esperam, ao que parece, uma nova vida que acabe de vez com a corrupção e a violência. Aqui é que surgem as dúvidas que, pelos vistos, a maioria da população resolveu com facilidade. Primeiro, acreditou com bonomia que Bolsonaro nada tinha a ver com o sistema político que promete reformar, quando andou por lá quase trinta anos sem se incomodar muito. Depois, abraçou a crença “evangélica” de que a insegurança vai acabar pela liberalização na venda de armas e autoridade musculada nas ruas, esquecendo que o Exército já circula no Rio de Janeiro, por iniciativa de Temer, sem resultados palpáveis. Por fim, aceitou a promessa de que o Brasil vai empreender o caminho do progresso e do desenvolvimento, no combate ao desemprego e à pobreza, esses males que, segundo se lhes diz, são herança do PT de Lula e de Dilma, que já não governa há mais de dois anos, e que, de acordo com as estatísticas, se encontram melhores desde que aquele partido assumiu o poder, em 2002. O Brasil está bem? Não, mas não será Bolsonaro quem o vai “curar”.

Brasileiros amigos, do fundo do meu coração: sejam felizes. Nós, por cá, esperamos para ver. E oxalá não soframos, uma vez mais, as vossas dores.

Público - 30.10.2018 (expurgado do parágrafo final).

sábado, 27 de outubro de 2018

Que é isto, Brasil?


No preciso momento em que escrevo, tudo indica que Bolsonaro será eleito como o próximo Presidente do Brasil. Servindo-se do instrumento democrático por excelência que são as eleições, será que vai ocupar aquele cargo para aniquilar o regime que lhe permitiu a ascensão?

Os brasileiros terão posto para trás das costas a memória dos pesados anos da ditadura militar e, na mira de se livrarem da corrupção e da violência, vão eleger quem só dá indícios de as aumentar. Estou “ansioso” para ver como é que se vai conseguir legislar de forma impoluta numa Câmara de Deputados com a presença de mais de 30 partidos, no meio de uma desenfreada privatização das empresas públicas que ainda restam, num país em que a corrupção é doença visceral e crónica. Já no tocante à violência, um homem que considera que a tortura da ditadura foi mal-empregada (por ser preferível o fuzilamento), parece-me suficiente para prever que ela não só não vai ser erradicada como, ao contrário, será exponenciada. Aliás, já circulam pelo país listas de nomes a perseguir.

Bolsonaro, que invoca a sua qualidade de ex-militar, mas escamoteia a fama de bombista que levou o Conselho de Justificação Militar a declarar-lhe incompatibilidade para o oficialato e perda de posto e patente, que, em sete mandatos de deputado federal, durante 27 anos, esteve filiado em nove partidos, que recorreu ilicitamente a muitos dinheiros privados para pagar uma campanha eleitoral fraudulenta, que destila ódio com satisfação, não tem, não pode ter, as qualidades necessárias a um Presidente do Brasil. 

JN - 26.11.2018 - com algumas mutilações pelo meio e o título alterado para "Bolsonaro, salvador ou verdugo da democracia?".