Para quem se habituou, mesmo que em desacordo, a acatar as regras do confinamento e da distância social, a notícia de que, a partir de 1 de Junho, os aviões poderão circular sem limites de lotação para além daqueles que já existiam antes da pandemia, constitui um “golpe de asa” temerário. Se há alguma leviandade nesta decisão, a girar 180 graus em tudo o que foi dito ao (in)crédulo cidadão, não se pode deixar de pensar que, aquando da imposição das medidas restritivas, se cortou a direito e sem olhar a meios. Aí, os técnicos e funcionários foram “mais papistas do que o Papa”, mostrando serviço como só eles sabem fazer, ao perpetrarem o que poderíamos chamar de “golpe de Estado” de uma Direcção-Geral, que não enjeitou a oportunidade de nos aplicar uma panóplia de directrizes mais ou menos fundamentalistas em que, por vezes, a contradição era manifesta, e com contínuas mudanças do “pode” para o “não pode” e vice-versa.
Tudo se resume, afinal, à constatação de que o mundo dos negócios tem muita força. Só é pena que os governantes não tivessem consciência disso no princípio, pois evitariam o ridículo destas recorrentes manobras de marcha-atrás. Muito se devem rir Trump e Bolsonaro.