sexta-feira, 13 de setembro de 2024

 

NUMA MÃO A CRUZ, NA OUTRA A ESPADA


“Arzila, 21 de Agosto de 1471


O dia amanheceu ventoso, com vagas violentas de oeste que arrastavam as embarcações para os recifes. Esta situação frustrava o plano; no entanto, era necessário desembarcar quanto antes, pois de outra forma, Arzila receberia reforços.

(…) Arzila era uma praça rica, local de chegada do ouro do Mali, daí a perspetiva de uma conquista vantajosa. (…) Por entre recifes e vagas alteradas, conseguiram chegar a terra, saltando de forma ágil. De seguida, foram dadas ordens para levantar acampamento e colocar as primeiras bombardas, protegidas com trincheiras, bastilhas e outros artifícios de fortificação ligeira. Ainda nesse dia, o fogo das bombardas derrubou dois lanços de muralhas.

No dia seguinte, avaliando o poderio português, a alcaide de Arzila mandou içar o sinal de rendição nas muralhas. As tropas de Dom Afonso V, querendo derramar o sangue infiel e perpetrar o saque, anteciparam-se às negociações com os mouros, tratando de encostar as escadas às muralhas e aproveitando as brechas abertas na véspera. Desprevenidos e aterrados, os mouros abandonaram as muralhas, refugiando-se no castelo e na mesquita. A luta dava-se em cada rua, em cada travessa, em pequenas emboscadas ou quando os mouros ficavam encurralados; os mouros lutavam valorosamente. Houve pesadas baixas para os dois lados da contenda e, inevitavelmente, o massacre de bastantes inocentes.

(…) Os gritos lancinantes dos flagelados pelas espadas dos conquistadores encheram as ruas de Arzila; mulheres e crianças horrorizadas gemiam, encolhidas pelos cantos. Lopo Barriga corria num grupo de soldados e cavaleiros, chefiados pelo seu mestre, que do alto do alazão, de crinas esvoaçando ao vento, sangrava os destemidos sarracenos. De pendão em punho na esquerda e azagaia na direita, Lopo protegia, com valentia, a ilharga do cavalo. O grupo abria caminho no meio de uma chusma de infiéis, transformados, num ápice, num amontoado de corpos ensanguentados, implorando misericórdia. Os cristãos esqueciam as premissas da sua identidade religiosa, destruindo tudo à sua passagem.”

In EM NOME D`EL REY

Autor, Luís Barriga

Editora, Clube do Autor


Nota- Agora que a direita mais extrema trauliteira e demagógica, demonstra ainda mais aversão aos imigrantes para manipular incautos e colher dividendos, convém lembrar o que andámos a fazer durante tanto tempo nos países de tantos deles.

Francisco Ramalho







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