segunda-feira, 25 de setembro de 2023

A praga do assédio sexual

 

A Notícias Magazine, que acompanha o JN aos domingos, trazia um trabalho da jornalista Ana Tulha acerca do assédio a que por todo o lado estão expostas as mulheres em muitas actividades, e das vicissitudes por que tem passado a selecção espanhola de futebol feminino, ao qual juntou um caso transmitido em directo, a que assisti praticamente na hora, retransmitido na TV La Sexta no programa “Al Rojo Vivo”, de Antonio Garcia Ferreras.

 

Uma jovem repórter, que estava no passeio duma rua concentrada num directo para a sua TV, sentiu-se apalpada no traseiro por um “marmanjo” que apareceu pela parte de trás e repreendeu-o; o pivô, que no estúdio se apercebeu do abuso, perguntou-lhe se o sujeito lhe tinha mesmo apalpado o “culo”, acto que ela confirmou, o que o levou a accionar de pronto a polícia, que algemou o tipo uns metros à frente e o levou para a esquadra; todavia, as notícias seguintes acerca do episódio diziam que a juíza a que foi presente o libertou de imediato sem nenhum encargo.

 

E é isto que é frustrante para as vítimas e para a parte da sociedade a quem estes actos revoltam porque, como na maioria destes casos nada acontece aos abusadores, e outra boa parte da sociedade, machista, relativiza estes casos, nem mesmo a exposição mediática resolverá o problema, dado tratar-se de gente desprovida de quaisquer princípios, valores e vergonha;  há tempos foi muito comentada nas televisões espanholas uma praxe numa faculdade de Direito, com um ritual em que um “doutor” gritava: “Estupro, violación, cohecho(suborno), quién domina? E os caloiros respondiam em coro: Derecho! E ficaram assim durante muito tempo.

 

Transmitido e retransmitido, ouvidos vários comentadores, a maioria achava aquilo uma barbaridade, mas os defensores deste tipo de recepções aos novatos não viam nada de mal, porque aquele “grito de guerra” não significava que fossem dali a correr praticar tais actos, mas podia significar que, uma vez concluído o curso, “dominavam” aqueles crimes e defenderiam no tribunal as suas vítimas. Noutra escola, esta do Magistério Primário, donde concluído o curso partem para ensinar criancinhas, os rapazes, em comentários entre eles, nas redes, referiam-se às moças que acabavam de chegar como “todas muy putas”, e é a este tóxico ambiente que as mulheres vão ter de fazer frente ainda por muito tempo...

 

Amândio G. Martins

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