quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Efeitos ao retardador


Ninguém de bom senso dirá que a NATO é a responsável directa pela catástrofe que atingiu a Líbia. Mas sabendo-se que foi exactamente a deposição e subsequente assassinato de Muammar Kadhafi, nas circunstâncias conhecidas, que conduziu o país a um estado de plena disfuncionalidade, desviando para a guerra intestina entre dois governos antagonistas os esforços e os fundos que deveriam ser canalizados para a segurança e o desenvolvimento da população, temos de concluir que o ciclone “Daniel”, obviamente inevitável, talvez não tivesse produzido tragédia com tal intensidade. Bastaria que as duas barragens que cederam à força das águas tivessem tido manutenção adequada, coisa que, há vários anos, a escassez de recursos não permitiu. Admitindo uma grande dose de especulação, será legítimo perguntarmos se os interesses imediatos do Ocidente, com a “purificação” da Líbia, expurgando-a de um ditador, valeram a pena perante o país falhado que lá ficou no seu lugar. Na alta geopolítica, ninguém pensa no médio-longo prazo?


Expresso - 22.09.2023

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