Oxalá Carlos Pérez Soto esteja certo quando se define como um “optimista histórico”, na entrevista que concedeu ao PÚBLICO, editada na passada segunda-feira, num libelo não contra a direita que, percebe-se, não concita o seu entusiasmo, mas contra a esquerda a que congenitamente pertence. E tem toda a razão em clarificar o “desvio” a que a esquerda se tem deixado submeter nas últimas décadas, “enrodilhada” nas (justas) reivindicações em torno de temas como as alterações climáticas ou as discriminações identitárias. Mas serão esses, efectivamente, os interesses fundamentais dos cidadãos que, por pudor ou por tacticismos vários, são sistematicamente escondidos dos olhares alheios, perdendo o “lugar na mesa”?
A invocação, quantas vezes inconsequente, dos direitos humanos, numa lista encabeçada pelo supremo valor da liberdade, ofusca outros valores que a dignidade deveria colocar na base das relações entre os homens, sobretudo os de “boa vontade”. Vale a pena cruzar as asserções de Pérez Soto com a frase de Léon Blum num “Escrito na Pedra” (PÚBLICO de 7 de Setembro): “Toda a sociedade que pretende assegurar a liberdade aos homens deve começar por garantir-lhes a existência”.
Público - 13.09.2023
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