quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Do lado de cá, só heróis


Não é pecado não conhecer a Rússia e a sua história, ou não ter mergulhado na imensa cultura seminal desse país. Votar essa realidade a um ostracismo que roça o ódio, isso sim, é pecado. Tanto mais que a consciência de que, para lá do nosso, existe esse enorme mundo, poderá ajudar a compreender factos que hoje nos assolam. Coisas que a História do futuro haverá de tratar.

Refiro-me à crónica “Heróis e vilões”, de Miguel Sousa Tavares (M.S.T.), na edição do Expresso de 23 de fevereiro. Como é possível, no nosso século, no Ocidente, onde a palavra “liberdade” transborda de (quase) todos os copos “democráticos”, ser necessário preceder o tema “esquecido” do nacionalismo inerente à idiossincrasia russa, com uma introdução de inequívoca condenação do carácter individual de Putin? Tão arregimentados andamos todos nós pela propaganda de que, dos lados orientais do mundo, só podem vir desgraças? Pouco falta para pensarmos que, com a nossa “superioridade moral”, não precisamos deles para nada. Mas eles “estão lá”, no Oriente, e, como são muitos, não se vão calar nas suas pretensões só porque o desejamos.    

M.S.T. lembrou, e muito bem, que Navalny, como, aliás, antes, Soljenítsin, nunca alijaram o tal nacionalismo russo. O Ocidente, contudo, arranjou maneiras de os despir dessas roupagens. Passaram a poderosos aliados em cruzadas que deveriam ser impensáveis (e dispensáveis) neste século.


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