O ABACATE É QUE ESTÁ A DAR?
Desde que semeei batatas no meu quintal (3 quilos), há cerca de um mês, que não cai uma pinga de água. E só lá para o fim da semana se prevê qualquer coisa. Ou seja, a falta do precioso líquido que cai cada vez menos regularmente, não se verifica só no Algarve como agora tem sido notícia, tem vindo a agravar-se nos últimos anos, também no Alentejo e até na Estremadura e Ribatejo.
Vem esta constatação a propósito da notícia divulgada aqui em O SETUBALENSE na edição de 29 do mês passado, sobre uma plantação de pera-abacate prevista para a nossa região. Mais precisamente, para o concelho de Alcácer do sal. Plantação esta, reparem, caros leitores, de 800 hectares. É obra! Imaginem 800 campos de futebol ao lado uns dos outros.
Segundo a associação ambientalista Zero em comunicado enviado à agência Lusa, pode ser uma “machada” na conservação da natureza.
Como afirma a Zero, o projeto do empreendimento agro-industrial para produção e exportação de abacate, promovido pela empresa Expoente Frugal Lda, do grupo Aquaterra, cuja consulta pública terminou em 24/01/24; esta “monocultura de regadio dependerá de 34 furos de captação de água subterrânea e do abastecimento do perímetro de rega do Vale do Sado, situa-se em plena Zona Especial de Conservação (ZEC) da Comporta/Galé, em área de habitats dunares”. E prevê-se um consumo anual de 4 milhões de metros cúbicos de água.
Portanto, não é apenas a falta de água, devido às alterações climáticas, que alastra cada vez mais para norte. São também as culturas intensivas a gastá-la. E, no caso presente, numa região tradicionalmente de cultura do arroz.
Não será oportuno e justo questionar-se o que será mais útil para o país e para o meio ambiente, o referido cereal, o milho, batata, forragens para o gado, ou a “invasora” pera-abacate? E, essencialmente para exportação.
A resposta parece-nos óbvia. Mais a mais, com o problema da escassez de água que poderá atingir níveis altamente preocupantes, e quando se trata de uma cultura que tanto a consome.
Será abusivo concluir-se que o lucro, os cifrões, falam mais alto?
Com o mundo agrícola em “pé-de-guerra”, justamente devido aos erros e injustiças da Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia, haverá necessidade, a concretizar-se, de se juntar mais este? Que, cremos, até nem está dependente dessa política.
Imperioso, é que se tomem medidas que minimizem o tão nefasto e mesmo potencialmente perigoso efeito das famigeradas alterações climáticas, e ainda mais, o que as provoca. Não só nesta atividade essencial, a agricultura, tendo atenção não ao que dá lucro, mas ao que é indispensável. E noutras atividades, claro! Por exemplo, nos transportes. Promovendo-se os coletivos e menos poluentes, aos individuais que até têm aumentado.
É matéria fundamental também para levarmos em conta na nossa decisão do próximo 10 de março. As decisões dos que maioritariamente têm sido eleitos, estão à vista. Cuidado também com os, ou o, que tudo promete sem dizer como.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O Setubalense
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