TRATAR CHAGAS COM BÉTADINE
Isabel Jonet, afirmou que nunca houve tantos pedidos de ajuda ao Banco Alimentar Contra a Fome, como agora. Segundo a presidente desta instituição de solidariedade social, até famílias consideradas de classe média e com emprego, de uma forma discreta e quase envergonhada, lhe têm batido à porta.
Quem não vive desligado do mundo que o rodeia e se interessa minimamente por questões sociais, sabe que a senhora tem razão. Disse também que os portugueses responderam como nunca, com dádivas à porta das superfícies comercias, fazendo desta campanha a maior de sempre.
Mas há esta contradição; os donos das tais superfícies comerciais que só ganham com estas campanhas, primeiro, apesar da pandemia e agora com a guerra, como se sabe, têm aumentado exponencialmente os seus lucros. Estes, os bancos e outros grupos económicos. Quem não ganha é o povo. Só perde. Perde com a inflação, perde com os salários e pensões de reforma que não a acompanham, perde com o brutal aumento do custo de vida, perdem os jovens com salários que não chegam para saírem de casa, arrendar ou comprar uma para constituírem família, enfim, é só perder. Depois, recorre-se ao BACF, porque a Assistência Social é curta. Curtíssima. Ou em muitas situações, inexistente. E a ajuda do BACF, ou seja, do povo, é solução? Evidentemente que não! Dá para ir enganando temporariamente a fome. É bétadine para ir mantendo estas chagas sociais, não para as curar. Para as curar, seriam outras políticas que o governo do PS, do PSD, de toda a direita, não aplicam, porque não é essa a sua natureza. A sua natureza, é estarem ao serviço da minoria que se enche, enquanto o povo aperta o cinto. E agora, para “ajudar à festa”, temos aí já em força, aquilo que, como os prezados leitores sabem, uma coisa que já há meses aqui temos falado: a seca. O Governo anunciou uma central de dessalinização para a costa algarvia. Porque não também já outras para a alentejana? E o tipo de agricultura para o Alentejo não deve ser repensado?
Podíamos ainda falar da ruinosa gestão daquela que podia ser o rosto de Portugal no mundo, a TAP, que se preparam para cometer com ela um crime de lesa pátria, privatizando-a. Mas falemos da ainda maior desgraça e hipocrisia atual, a guerra na Ucrânia. Onde, para a alimentar e pagar, nós e os nossos parceiros da UE, estamos a sacrificar-nos, e os ucranianos e russos a morrer.
Impingem-nos, através de quase tudo o que é comunicação social, comentadores e analistas alinhados, que a mesma foi e é, inevitável. Sobretudo, depois da invasão russa. Mas, hipócrita e simultaneamente, omitem todos os antecedentes. A natureza fascizante do governo ucraniano nascido do golpe de estado de 2014 que apoiaram, a ilegalização dos partidos da oposição (11), os 15 mil mortos no Donbass antes da invasão, os acordos de Minsk que com o apoio dos seus aliados, EUA/NATO/UE, não foram cumpridos por Zelensky.
Para bem da Ucrânia, da Rússia, de toda a Europa e do mundo, a guerra pode e deve acabar.
Francisco Ramalho
Publicado hoje no jornal O Setubalense
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