terça-feira, 23 de maio de 2023

 NEM OS INVESTIGADORES ESCAPAM


Evidentemente que todas as profissões são dignas, necessárias, e todos os profissionais devem ter as melhores condições de trabalho possíveis, assim como as respetivas remunerações. Desde os trabalhadores da limpeza urbana, pedreiros, carpinteiros, pescadores, mecânicos, atores, padeiros, médicos, enfermeiros, etc.

Mas há algumas delas, por serem absolutamente imprescindíveis, contribuem decisivamente para o bem-estar e saúde pública e para o desenvolvimento. Já aqui referimos a dos médicos e dos enfermeiros assim como de todos os profissionais da saúde. Podíamos acrescentar ainda tantas outras, mas porque mais uma vez, tivemos conhecimento de grandes dificuldades numa atividade também fundamental para a saúde e, sobretudo, para o desenvolvimento do país, a ciência. Por isso, é inadmissível, que os principais obreiros deste setor fundamental para economia e para o desenvolvimento do país, tenham tanta precariedade laboral, como alertaram a opinião pública e os responsáveis governamentais, através de uma grande manifestação em Lisboa no passado dia 16, Dia Nacional dos Cientistas.

Promovida por várias organizações e estruturas sindicais, segundo a FENPROF, “tratou-se da maior manifestação de sempre do setor da Ciência em Portugal. Mais de mil bolseiros, investigadores, mas também docentes e outros trabalhadores científicos”, desfilaram desde a Reitoria da Universidade de Lisboa até ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Em declarações à Lusa, a presidente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), Bárbara Carvalho, disse que o protesto “parte de um grande descontentamento e um sufoco muito grande com a situação precária em que a maioria dos investigadores se encontra há muitos anos”. Acrescentando que a manifestação visou “mostrar ao país que o combate à precariedade é central para os trabalhadores científicos, para a ciência que o país precisa e merece e para reivindicar respostas muito concretas e definitivas”.

Para quem cria, como é o caso dos investigadores, não será fundamental a tranquilidade psicológica? Como a poderão ter, com todos os problemas que referem?

Quando nos dizem que a economia vai bem, quando os milhões do PRR estão aí a desaguar, quando os bancos apresentam lucros como nunca, com dois deles, a Caixa Geral de Depósitos e o Millennium BCP, mesmo a duplicarem-nos, mas depois vemos professores, médicos, enfermeiros, funcionários públicos, investigadores, a reclamar por melhores condições de vida e a pobreza a aumentar. Sem querermos fazer comparações, não será propositado vir-nos à memória o tempo em que, como se dizia, o dr. Salazar, ter os cofres do Estado cheios de barras de ouro, mas o país cheio de barracas, crianças com fome e descalças até aos 12 anos, idade em que muitas começavam a trabalhar, e um país cinzento, triste e subdesenvolvido?

Portanto, não será tempo, depois da Revolução dos Cravos, termos um país bem mais decente?

Como sempre, está nas mãos do povo.

Francisco Ramalho

Publicado hoje no jornal "O Setubalense"



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