sábado, 30 de setembro de 2023

Dislates para todos os gostos

 

Num instituto de Gerez de la Frontera, um miudo autista, de catorze anos, que vinha sendo sistematicamente acossado por alguns colegas, só porque era diferente, muito calmo e metido consigo, segundo outros que o entendiam, que reprovavam a forma como era incomodado pelos que não respeitavam a sua condição, impotente perante aquela situação a que ninguém ligava, não aguentou mais os abusos e esfaqueou uns quantos que abusavam dele e também professores; levado pela polícia e presente a um juíz, este decidiu que fosse encerrado num centro para menores, como se a situação mental do rapaz fosse irrelevante e não devesse ser atendida por gente capaz para isso.

 

Um deputado municipal do PSOE em Madrid teve, numa reunião da Câmara, uma atitude intolerável com o presidente Martinez Almeida, do PP, dirigindo-se-lhe de forma brusca e “afagando-lhe” a cara; perante aquela insólita atitude, o líder do grupo socialista mandou-o saír imediatamente da sala, e que não ocuparia mais aquele lugar, decisão que foi louvada por toda a gente que fala e faz opinião no espaço público.

 

O deputado socialista no Congresso, Óscar Puente, entrou em Valladolid no comboio de alta velocidade, que eles chamam “AVE”, pretendendo dirigir-se a Madrid a tempo de participar na votação do último acto de investidura de Feijóo; ao pretender sentar-se, foi impedido por outro passageiro, que lhe travava a passagem e lhe perguntava insistentemente por notícias de Puigdemont; o deputado accionou a segurança e pediu que chamassem a polícia, que chegou de seguida e levou o sujeito.

 

Óscar Puente foi quem tinha substituido Sanchez na réplica a Feijóo, usando um discurso em que “desmontou” uma a uma as mentiras que o líder do PP tinha propalado em quase duas horas de discurso a “bater” no chefe do Governo ainda em funções, e foi tão eficaz que, no fim, quando passava pela bancada do Governo, Sánchez o abraçou efusivamente; e quando toda a gente decente condenava o acto daquele passageiro, no comboio onde Puente vinha para Madrid, uma alta figura do PP, Moreno Bonilla, presidente de Andaluzia, justificou o acto do passageiro com o discurso que Puente tinha feito contra Feijóo...

 

Amândio G. Martins

 

 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Jogo de gato e rato

 

Todos conhecemos os abusos que ao longo dos tempos se foram cometendo na orla marítima do nosso país, uns por ignorância ou mera necessidade, mas muitos outros de má-fé, fazendo tábua-rasa das leis reguladoras, pelo gozo lúdico de poderem dispor duma “janela virada pró mar”; e o contraste chocante entre as casinhas de pescadores e os mamarrachos de vários pisos, como em tempos se viu, por exemplo, em Ofir, no concelho de Esposende, tem dado do nosso país uma imagem terceiro-mundista.

 

E só quando o mar começou a comer a terra e a descalçar aquelas aberrantes construções é que se aperceberam do disparate e tiveram medo, aceitando pacificamente a demolição do que nunca deveria ter sido ali edificado; todavia, por estranho que pareça, continuamos a ver algumas tentativas de passar por cima das regras restritivas entretanto criadas, com os habilidosos de sempre a jogar na ambiguidade das várias entidades e no emaranhado das leis.

 

 Que é o que se vê acontecer agora, em Mindelo, Vila do Conde, como o JN nos mostra, com uma foto panorâmica; e o curioso é que, quando começam a surgir denúncias públicas das irregularidades, a obra avança ainda com mais força porque, no limite, como as autoridades não foram capazes de impedir o início da obra, e o construtor dispõe de licença do município, que “garante” estar tudo legal, aquele escuda-se nisso e acaba por exigir uma choruda indemnização...

 

Amândio G. Martins

 

 

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

50 ANOS DO GOLPE MILITAR FASCISTA NO CHILE


 Fez 50 anos no passado dia 11 de Setembro que os Estados Unidos da América promoveram, organizaram e executaram um golpe militar fascista no Chile, com a colaboração de traidores chilenos chefiados pelo general Pinochet, assassinando Salvador Allende, o presidente eleito democraticamente em 1970, derrubando o seu governo de Unidade Popular, instaurando uma ditadura fascista naquele país da América Latina, transformando o Estádio Nacional de Santiago num campo de morte onde foram assassinados patriotas chilenos.

Ary dos Santos, em poema, manifestou a sua HOMENAGEM AO POVO DO CHILE:




Parlamento espanhol ao rubro

 

Foi divertido assistir ao debate de investidura de Nuñes Feijóo que, sabendo que não passaria com os votos que tinha garantidos, mesmo assim quis aproveitar a oportunidade para desancar Sánchez, que se recusou a dar-lhe réplica, delegando a tarefa num porta-voz, o que enfureceu as bancadas das Direitas, ao ponto de lhe não pouparem os mais variados insultos, a que a presidenta teve que pôr termo, lembrando aos deputados as suas obrigações; e Feijóo, enquanto acusava o chefe de Governo em funções de ter deixado Espanha de rastos, desdobrava-se em promessas de melhorias já cumpridas pelos socialistas, e a que o seu partido votou sempre contra, tanto no tempo do seu antecessor como já consigo na direcção, dizendo agora que as manteria, mas muito melhoradas.

 

E deu que falar, nos dias que antecederam o debate, o apelo que altas figuras do PP fizeram, além do próprio Feijóo, à rebelião dos deputados socialistas que não concordassem com o que Sánchez terá que ceder aos independentistas catalães para poder ser investido, sendo certo que não poderá fazer nada que a Constituição do país lhe não permita; todavia, o “bochornoso” convite a eventuais trânsfugas do PSOE não surtiu até agora qualquer efeito, e ninguém acredita que alterem a disciplinada postura na seguinte e última votação...

 

Amândio G. Martins

 

 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Galp e EDP são a face do capitalismo verde...

A Galp e a EDP realizaram um evento: «A nova energia é verde». Estas empresas são continuadamente gigantes poluidoras do ambiente e, assim sendo, é altamente contraditório e ridiculamente caricato promoverem acções a favor do clima e do ambiente(!). A raposa não deve nem pode guardar o galinheiro... Esta gente que diz que governa 'é' a campeã do diálogo.... Mas, cedem aos interesses económicos daquelas grandes empresas, em manifesto prejuízo dos consumidores e, ao mesmo tempo, não defendem os incautos enganados pelas suas promessas eleitorais e eleiçoeiras! O medíocre ministro do Ambiente. Como? Do Ambiente? Recordemo-nos: este é o mesmo individuo que assinou o 'assassinato' - permitindo o corte cerce de centenas de sobreiros no Alentejo, onde a desertificação, já pula e avança. Este figurão foi convidado para o evento. Pudera! Caso fosse ministro da Defesa do Ambiente- não o tinham chamado. Jovens mobilizados, corajosos e acérrimos defensores do Planeta Terra, atingiram, e muito bem, o frouxo ministro, com tinta! Se não forem eles a defenderem esta casa grande, quem a defende, protege e estima?

terça-feira, 26 de setembro de 2023

 CHEGARÁ O DIA DAS SURPRESAS


Com um grande e entusiástico desfile do Jardim de Santa Marta do Pinhal até ao Parque Urbano da Quinta da Marialva, iniciou-se no passado sábado a 40ª edição da Seixalíada. Até 21 de Outubro, milhares de atletas de diversos escalões etários, incluindo desporto adaptado, irão competir em mais de 60 modalidades.

Trata-se do maior evento desportivo popular a nível nacional. É organizado pela Câmara Municipal do Seixal, contando com a participação das Juntas de Freguesia e do Movimento Associativo do concelho. Por sua vez, no Parque Urbano da Quinta da Marialva, acontecem regularmente dois dos maiores eventos do género a sul do Tejo: as Festas Populares de Corroios e a Mostra Mensal de Atividades Económicas. E na freguesia ao lado, no mesmo concelho do Seixal, na Amora, como se sabe, anualmente, decorre o maior evento, político, cultural, desportivo e gastronómico de Portugal; a Festa do Avante.

Nestes dias sombrios que vivemos e com perspetivas quiçá ainda mais negras, com enormes dificuldades praticamente em todos os setores da vida nacional, no Ensino, com muitos milhares de alunos ainda sem professor a uma ou mais disciplinas por falta deles e com os mesmos continuando os seus protestos por condições mais dignas e por uma melhor Escola Pública. Na Saúde, com o respetivo Serviço Nacional, definhando por falta de apoio e organização a engordar os privados e a deixar milhões à espera de uma consulta ou de qualquer intervenção mais ou menos urgente e indispensável. Com a enorme crise na habitação atingindo tanta gente, nomeadamente os jovens que não conseguem uma casa para iniciar a sua nova vida, os estudantes, não podendo os seus pais desembolsar centenas de euros por um quarto, deixando de frequentar os cursos que pretendem e tantas famílias já não tendo possibilidade de pagar os incomportáveis juros aos bancos. E apesar de tudo isto e muito mais, os grupos económicos dos diversos ramos incluindo a banca, a arrecadarem lucros fabulosos.

Perante tão injusta e negra situação, não será justo reconhecer-se os que para além de apresentarem propostas para sairmos dela, gerirem com responsabilidade e eficácia instituições para que foram eleitos, como autarquias, sindicatos, coletividades, e criam eventos tão importantes para as populações, para artistas, desportistas, comerciantes? E mais, não terá esta gente, capacidade para gerir o país melhor dos que se alternam no poder há décadas e o deixaram chegar a tal estado injusto e assimétrico?

Claro que há eleições e vivemos em democracia. Pois é! Mas numa democracia condicionada.

Se existissem rádios, televisões e mais jornais isentos e pluralistas como este, a resposta popular nas urnas, seria igual? É o quarto poder (comunicação social) a fazer com que ela, a democracia, seja condicionada.

Que fazer? Denunciar por todos os meios possíveis e legais, manter a mesma atitude, e mais tarde ou mais cedo, como disse o poeta, chegará o dia das surpresas.

Não manipularão sempre o povo.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal "O SETUBALENSE"



Do valor relativo das coisas

 

Chama-se “beladona” e brota por aqui com facilidade, ao aproximar-se o Outono, em qualquer socalco ou margem de caminho; trata-se duma flor rosada à qual, talvez por se impor com abundância, pouca gente por cá lhe dá grande valor, porque as vejo definhar e desaparecer sem que ninguém as colha; também as temos aqui em frente à porta, lembrança de minha mãe, que há muitos anos trouxe para aqui o “rizoma” e aquilo, uma vez enterrado, nunca mais desaparece.

 

Começa por surgir na Primavera uma ramagem farfalhuda, verde escuro, que acaba por secar no verão, voltando no fim de agosto, da noite para o dia, numa haste longa rosada, sem uma única folha, na ponta da qual se abre a tal flor rosa, com apenas seis pétalas cada uma, também compridas;  quando ainda era puto, mas já trabalhava em Lisboa, vi um dia a “velhota” que me alugava o quarto entrar em casa, muito vaidosa, com uma “manada” dessas flores e perguntei-lhe para que era aquilo, tendo-me respondido, no seu modo meio desabrido, se eu não sabia para que servem as flores, que eram “belas donas”, e as tinha comprado bem caras, para pôr na jarra da mesa da sala. Ui, D. Irene - desanimei-a eu - na minha terra há disso aos pontapés e ninguém lhes dá importância, ao que ela respondeu que devia estar enganado, que aquilo era uma flor de muita “estimação”...

 

Amândio G. Martins

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Mais um aumento do BCE...

O Banco Central Europeu, pela voz da sua «famigerada» presidenta, decide aumentar ainda mais 0,25% a taxa de juro. Esta, Christine Lagarde, responsabiliza os trabalhadores pelos sucessivos aumentos(!), já que lutaram por melhores salários. É a paladina do capitalismo que mata!, termo, até do «esquerdista», Papa Francisco. Enquanto presidenta do FMI retratou-se por nos ter imposto uma austeridade de garrote, que até suicídios provocou... (sei, infelizmente, do que escrevo), lá para a frente voltará hipocritamente a desculpar-se, mas as malfeitorias já estão feitas! Causará choro, ranger de dentes e entrega de casas à banca(!), por famílias que têm empréstimos a pagar. Os bancos encheram os cofres à nossa custa e, agora (quase) não renegoceiam os empréstimos. E quando o faz coloca entraves, dizem economistas. Afectará a criação de riqueza, por consequência. É mau para a economia, aumentando as desigualdades e, provavelmente o desemprego. Lagarde não foi eleita por nós. Quem manda é o BCE!. Ponto final.

A praga do assédio sexual

 

A Notícias Magazine, que acompanha o JN aos domingos, trazia um trabalho da jornalista Ana Tulha acerca do assédio a que por todo o lado estão expostas as mulheres em muitas actividades, e das vicissitudes por que tem passado a selecção espanhola de futebol feminino, ao qual juntou um caso transmitido em directo, a que assisti praticamente na hora, retransmitido na TV La Sexta no programa “Al Rojo Vivo”, de Antonio Garcia Ferreras.

 

Uma jovem repórter, que estava no passeio duma rua concentrada num directo para a sua TV, sentiu-se apalpada no traseiro por um “marmanjo” que apareceu pela parte de trás e repreendeu-o; o pivô, que no estúdio se apercebeu do abuso, perguntou-lhe se o sujeito lhe tinha mesmo apalpado o “culo”, acto que ela confirmou, o que o levou a accionar de pronto a polícia, que algemou o tipo uns metros à frente e o levou para a esquadra; todavia, as notícias seguintes acerca do episódio diziam que a juíza a que foi presente o libertou de imediato sem nenhum encargo.

 

E é isto que é frustrante para as vítimas e para a parte da sociedade a quem estes actos revoltam porque, como na maioria destes casos nada acontece aos abusadores, e outra boa parte da sociedade, machista, relativiza estes casos, nem mesmo a exposição mediática resolverá o problema, dado tratar-se de gente desprovida de quaisquer princípios, valores e vergonha;  há tempos foi muito comentada nas televisões espanholas uma praxe numa faculdade de Direito, com um ritual em que um “doutor” gritava: “Estupro, violación, cohecho(suborno), quién domina? E os caloiros respondiam em coro: Derecho! E ficaram assim durante muito tempo.

 

Transmitido e retransmitido, ouvidos vários comentadores, a maioria achava aquilo uma barbaridade, mas os defensores deste tipo de recepções aos novatos não viam nada de mal, porque aquele “grito de guerra” não significava que fossem dali a correr praticar tais actos, mas podia significar que, uma vez concluído o curso, “dominavam” aqueles crimes e defenderiam no tribunal as suas vítimas. Noutra escola, esta do Magistério Primário, donde concluído o curso partem para ensinar criancinhas, os rapazes, em comentários entre eles, nas redes, referiam-se às moças que acabavam de chegar como “todas muy putas”, e é a este tóxico ambiente que as mulheres vão ter de fazer frente ainda por muito tempo...

 

Amândio G. Martins

domingo, 24 de setembro de 2023

Fautores de guerra

 

EMBRUTECIDOS

 

Sempre existiram os que o mal fomentam

Mas bem poucos ficaram sem castigo

Que para os povos o que faz sentido

É poder saber como se alimentam...

 

Os que escravizam os que os sustentam

Dão força a um tarado agressivo

Que se exibe valente e primitivo

Crendo que as vítimas o não enfrentam.

 

Se ignorarmos os fautores da guerra

Que ameçam destruir-nos a Terra

As guerras não acabam por si mesmas;

 

Deixando os agressores por sua conta

Caminho livre para mais afronta

Não nos pouparemos a duras penas.

 

Amândio G. Martins

 

sábado, 23 de setembro de 2023

 PRESCREVEU


Sugere o nome dalgum filósofo grego, ou poeta; ou matemático. Sei lá.
A mim, sugere-me o nome do veredicto final que irá ser dado à "novela" que envolve o bando de salafrários a quem Rui Pinto descobriu a "careca". Isto, daqui a não sei quantos anos (décadas, tavez).

Uns, porque tiveram a "sorte" de terem sido apanhados pelo Alzheimer; outros por culpa das graves dos funcionários judiciais; outros por falta de provas que entretanto desapareceram, ou porque lhes "doyen" a coluna vertebral (quase improvável)....

Não acredito que o que venha a acontecer, se diferencie muito disto.
Faz parte de nós. É recorrente. Explica, em boa parte, a nossa vocação incontrolável para o abismo.

No final, Riu Pinto dirá: e o burro sou eu?



José Valdigem


sexta-feira, 22 de setembro de 2023

... e os Assistentes Operacionais na Escola Pública?

Nas escolas públicas, os Professores não conseguem instruir os alunos, sem a comparência efectiva dos(as) operários(as) escolares - os(as) Assistentes Operacionais (AO). Estes(as) dão apoio aos docentes em múltiplos afazeres. Nos pátios, nos recreios, vigiam, sendo bastas vezes os «confidentes» e o ombro amigo dos(as) estudantes. Desempenhando, até, o papel de auxiliares de educação e de instrução.... As políticas medíocres do ministério da Educação também os tem desvalorizado. Esquecido! Curioso, hoje, uma AO saía da escola, na Terrugem, Sintra, acompanhada com um aluno cabisbaixo e triste, dirigindo-se para o autocarro e, este já com a porta aberta, ela rogou ao motorista que deixasse entrar o jovem sem titulo de transporte, porque tinha perdido a carteira com o passe incluso. A sua consistência, objectividade e educação fez com que o rapaz pudesse viajar, sem titulo. Salientam-se pouco os AO, mas é uma classe com vários déficits. Desde as condições de trabalho, passando pela pouca valorização profissional até ao vital aspecto remuneratório, que deixa a desejar... Assistentes Operacionais e Professores, a «mesma» justa luta no mesmo barco para chegarem a bom porto.... Quem não luta perde sempre!

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Das tormentas da grande nau

 

Para satisfazer as exigências dos nacionalismos, o partido socialista espanhol concordou que no Parlamento se possam falar, além do castelhano, galego, euskera e catalão, o que levou a uma grande agitação das direitas, com a extrema a saír quando fala alguém com outra “lengua” que não a maioritária; isto levou à criação de um complexo sistema de tradução simultânea, para gáudio dos deputados que já se podem expressar na sua linguagem “tribal”, mas de pôr os nervos a ferver aos que são contra, sobretudo porque os agora “privilegiados” falam todos o castelhano fluentemente.

 

E parece que já levaram a mesma reivindicação para o Parlamento Europeu que, ao que foi noticiado, irá estudar a proposta; do linguajar dos naturais daquelas três regiões, só o galego é muito semelhante ao português, cujo sotaque, sobretudo das regiões que confinam com a Galiza, pouco se distingue do galego, mas das outras duas, o euskera, onde uma urgência hospitalar se escreve “Larrialdiak”,  Governo de Navarra “Nafarruak Governua” e polícia “Ertzantzia”, é mesmo intragável, sendo o catalão o menos indigesto...

 

Amândio G. Martins

Efeitos ao retardador


Ninguém de bom senso dirá que a NATO é a responsável directa pela catástrofe que atingiu a Líbia. Mas sabendo-se que foi exactamente a deposição e subsequente assassinato de Muammar Kadhafi, nas circunstâncias conhecidas, que conduziu o país a um estado de plena disfuncionalidade, desviando para a guerra intestina entre dois governos antagonistas os esforços e os fundos que deveriam ser canalizados para a segurança e o desenvolvimento da população, temos de concluir que o ciclone “Daniel”, obviamente inevitável, talvez não tivesse produzido tragédia com tal intensidade. Bastaria que as duas barragens que cederam à força das águas tivessem tido manutenção adequada, coisa que, há vários anos, a escassez de recursos não permitiu. Admitindo uma grande dose de especulação, será legítimo perguntarmos se os interesses imediatos do Ocidente, com a “purificação” da Líbia, expurgando-a de um ditador, valeram a pena perante o país falhado que lá ficou no seu lugar. Na alta geopolítica, ninguém pensa no médio-longo prazo?


Expresso - 22.09.2023

terça-feira, 19 de setembro de 2023

 MEIO AMBIENTE, TODA A PROTEÇÃO É NECESSÁRIA


Desde sábado até sexta-feira, decorre a 22ª edição da Semana Europeia da Mobilidade (SEM), cujo tema central é a economia de energia. Um dos pontos altos, dia 22, é o “Dia Europeu Sem Carros”.

Naturalmente, aderem muitas organizações, empresas e autarquias. Por exemplo, tal como O SETUBALENSE bem divulgou faz hoje 8 dias, a Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) e as câmaras de Setúbal e do Seixal.

Assim, dia 22, a CM de Setúbal interdita ao trânsito automóvel algumas ruas do centro histórico da cidade, e entre outras iniciativas, promove mais uma vez o “Bike to Work”, que apela aos trabalhadores municipais e à população em geral para realizarem de bicicleta o trajeto diário entre a residência e o local de trabalho.

Associa-se ainda a autarquia sadina, ao “Passeio de Bicicleta Metropolitano-Margem Sul” promovido pela TML que conta com participantes dos municípios do Seixal, Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Palmela, Sesimbra e Setúbal. Em nota de imprensa, explica que a intenção destas e de outras iniciativas , passa por “consciencializar para uma mobilidade urbana sustentável e promover mudanças de comportamento”.

A Câmara Municipal do Seixal também apoia todas estas iniciativas, investiu na Carris Metropolitana e no passe social Navegante, na renovação da sua frota com viaturas elétricas e para uma mobilidade mais “sustentável e responsável”, vai dinamizar um estudo junto da comunidade escolar, que na fase inicial será desenvolvido em parceria com o agrupamento de Escolas João de Barros. “Permitirá conhecer melhor a mobilidade dos alunos e as preocupações dos pais relativamente às deslocações para a escola”.

Perante as catastróficas consequências das alterações climáticas, evidentemente que tudo isto é altamente positivo. Mas não chega. É possível, sem grandes gastos, fazer mais. Fazer com que não se conspurque o ambiente. Ou pelo menos que isso se limite ao mínimo. Já aqui temos referido; repare-se nas bermas de estradas, de linhas férreas, nas praias ou em qualquer sítio de passagem.

Um exemplo que se replica em milhares por este país fora: há duas ou três semanas, a CM do Seixal, mandou limpar as bermas da estrada do Talaminho (Sta Marta de Corroios à Cruz de Pau). Ficaram impecáveis. Falando com um responsável por essa limpeza, que elogiei, disse-me : “vai ver como já estão!” E fui lá de propósito. Garrafas de plástico, embalagens várias e até já um monte de entulho lá estava.

Sobretudo plástico, esse “veneno” que muito dele vai parar a cursos de água e depois ao mar, que para além dos danos a tantos animais marinhos, se transforma em micro partículas que acabamos por ingerir.

Claro que não pode andar um fiscal ou um polícia atrás de cada prevaricador! Mas pode e deve fazer-se campanhas de sensibilização nas escolas e na comunicação social. Sobretudo na televisão e rádio públicas. E nos casos mais graves detetados, aplicar-se pesadas multas a essa gente que de sensibilidade e civismo, tem zero.

Francisco Ramalho


Publicado hoje em "O SETUBALENSE"




A falar é que a gente se "estende"

 

Diz a lenda que Oscar Wild, justamente famoso homem de letras irlandês, terá dito que, das mulheres, só conhecia dois tipos, “as que nunca se calam e as que estão sempre a falar”, mas esta afirmação, com a qual concordo um bom bocado, era desvalorizada pelo facto de se saber que ele “virava a mãozinha”, como dizem os brasileiros, o que na Inglaterra do seu tempo era tão escandaloso que até  lhe custou dois anos de prisão, que ele aproveitou para continuar a escrever, e quando saíu em liberdade, por não ver condições para continuar no seu país, exilou-se em Paris até à morte.

 

Mas as mulheres da nossa terra, por muito palradoras que sejam, benza-as Deus, não chegam aos calcanhares do nosso presidente, embora a maior parte das vezes até sejam elas, na função de jornalistas, que mais lhe puxam pela língua; e segundo o velho dichote,  “quem muito fala, pouco acerta”, mas se não for totalmente assim, no caso do nosso venerando chefe de Estado, não deixa de ser verdade que o excesso de verborreia o faz resvalar para inconveniências escusadas, como aquela verificada no Canadá, com o que até se divertiram os profissionais da TV espanhola “La Sexta”, Cristina Pardo e Iñaki López, mais os comentadores convidados, no programa de ontem “Más Vale Tarde”, onde fizeram passar o nosso presidente, traduzindo com legendas o que ele dizia...

 

Amândio G. Martins

domingo, 17 de setembro de 2023

"Olhem para mim"

 

O homem é tão activo que até os intervalos entre um avião e outro aproveita - nas constantes viagens a que o seu avassalador prestígio de sumidade da ciência económica obriga, para conferências e lições de sapiência em todo o mundo – para mais uma vez tentar deixar a gente cá do sítio de boca aberta; certamente recordado da falta que lhe fez um “guia” assim, naquele penoso tempo em que o tivemos que suportar, o “senhor professor” acaba de parir uma coisa onde pretende ensinar, aos que cheguem a primeiro-ministro, como devem agir com a “tropa-fanfanga” que constitua a sua equipa governativa, mesmo que muitos desses elementos lhe possam ser superiores.

 

Como todo o presunçoso que já morreu há muito e ainda não se deu conta, a quixotesca figura precisa destes exibicionismos como do ar que respira, babando-se toda com incentivos como o daquele ex-discípulo que o encoraja a que”não páre de incomodar os que querem a sua morte cívica”; é verdade que a mim me incomoda vê-lo até nas “pantalhas”, sem precisar de o ouvir, mas duvido que alguém que conte, nos lugares de decisão deste nosso país, se sinta minimamente incomodado com o seu pretensiosismo, que não merece outra coisa que não seja comiseração, por um livro que não há-de valer  o papel em que foi escrito, igual àqueles outros “roteiros”, que foram pagos com o dinheiro de todos nós...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

 

sábado, 16 de setembro de 2023

Em defesa da honra do telúrico Escultor Francisco Simões

«A unanimidade artítica não existe», disse-me olhos nos olhos, Francisco Simões, notável escultor tocado pelo Universo! A inveja, sentimento desprezível, pulula na criação de Arte. Sei do que escrevo, pois fui, durante anos, coralista dirigido pelo brilhante, Mestre Maestro, Eduardo Paes Mamede. A «minha» Invicta, não merece que escassas 37 pessoas, ditas de relevo, se pronunciassem em termos cripto-reacionários, sobre uma bela estátua de Francisco Simões, representando o imortal, Camilo Castelo Branco e sua musa, Ana Plácido. Diz aquela gente que a obra não é higiénica(!), sendo pornográfica(?). Ou são ignorantes ou têm má fé ou são desonestos intelectuais ou são de cor política diferente. Quem confunde pornografia com erotismo, confunde «truca-truca» com amor. O predestinado escultor franqueou-me o seu belo atelier e pasmei!, olhando ao alto reparei e vi um iluminado Miguel Arcanjo.... E incontáveis esculturas, também das «suas» eróticas mulheres. Erotismo é Arte! A quem interessar, vejam poetisas e poetas no ''Parque dos Poetas'', em Oeiras. Telúricas criações escultóricas - a visitar! Querido Francisco Simões, até à Eternidade!

"Filhos pródigos"

 

Pedro Sánchez nunca teve, ressalvando Rodriguez Zapatero, a vida facilitada pelos velhos barões do partido, e nem mesmo depois de chegar ao posto de chefe de governo tem visto o seu trabalho reconhecido pelos detractores internos que, para além de nunca o terem apoiado nas campanhas eleitorais, recorrem à terminologia da própria Direita para o atacarem em toda e qualquer polémica que a esta dê jeito alimentar;  incapaz de conseguir uma maioria parlamentar de apoio à sua investidura, e temendo que Sánchez o consiga, desde que lhe seja permitido ceder às exigências da Direita catalã de Puigdemont, que não tem sido pobre a pedir, Feijóo delicia-se com as posições públicas de velhos socialistas contra o presidente em funções.

 

De facto, não tem sido nada fácil de engolir, para a actual direcção socialista, ver figuras como Felipe Gonzalez, Rodriguez Ibarra, Alfonso Guerra e Nicolas Redondo, entre outros dirigentes regionais no activo, como Ximo Puig, Garcia Page e Javier Lambán, referendarem a favor do PP, por causa das cedências de Sánchez aos independentistas catalães, todo o tipo de ataques ao seu partido de sempre;  e como a militância mais activa vem exigindo à direcção nacional que expulse aqueles velhos senadores, Nicolas Redondo acaba de ser “despedido”, mas não creio que esta decisão possa fazer recuar os restantes, tendo Redondo respondido de imediato que não lhes deve nem lhe devem, sendo livre para continuar a falar “lo que le dá la gana”...

 

Amândio G. Martins

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Réquiem pelo conselho de estado


Tal como está o conselho de estado acabou.
Sabendo que o segredo deixou de existir, é natural que os conselheiros (sérios) se retraiam e já não digam ao presidente aquilo que realmente pensam.
Se eu estivesse no lugar do presidente, quando achasse que necessitava de conselho convocava-os um por um e a cada um deles contava uma estória diferente.
Depois é só esperar para saber quem é o BUFO
Quintino Silva

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

OS CONSELHEIROS DE ESTADO ELEITOS E ESCOLHIDOS DEVIAM DEMITIR-SE

 


As reuniões do Conselho de Estado não são públicas, obrigando à confidencialidade dos seus membros sobre o que se passa nas reuniões.  

A escandalosa e ilegal quebra de confidencialidade, sobre a eventual posição do Primeiro-Ministro na reunião do Conselho de Estado do passado dia 5 de Setembro, por uma questão de dignidade, devia levar ao pedido de demissão dos cinco cidadãos designados pelo Presidente da República e dos cinco cidadãos eleitos pela Assembleia da República.

Quando as palavras sobram

 

Volta e meia somos surpreendidos com notícias tão duras que nos deixam sem saber que palavras poderão ser adequadas para falar delas, porque sobram todas, e aquela que o JN de ontem nos trazia, de um pai que se esqueceu da filha de um ano no carro, o dia todo, indo dar com ela sem vida ao fim do dia é uma dessas; a desgraça que aconteceu a este homem já se tem verificado com outros pais, ou com outra gente que, tendo à sua responsabilidade vigiar e proteger as crianças que lhes são confiadas, se esquecem de alguma na viatura de tranporte.

 

Felizmente, nos casos anteriormente noticiados, sempre tem aparecido alguém que, ao aperceber-se do perigo em que a criança se encontrava, debatendo-se encerrada no carro, dá o alarme a tempo de a salvar, sorte que não acompanhou agora este caso; perante situações tão dramáticas, o que me ocorre não é atribuí-las à irresponsabilidade e negligência dos pais, “sentença” sempre mais fácil, mas quão avassaladoras hão-de ser as suas responsabilidades profissionais...

 

Amândio G. Martins

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

De Pérez Soto a Léon Blum


Oxalá Carlos Pérez Soto esteja certo quando se define como um “optimista histórico”, na entrevista que concedeu ao PÚBLICO, editada na passada segunda-feira, num libelo não contra a direita que, percebe-se, não concita o seu entusiasmo, mas contra a esquerda a que congenitamente pertence. E tem toda a razão em clarificar o “desvio” a que a esquerda se tem deixado submeter nas últimas décadas, “enrodilhada” nas (justas) reivindicações em torno de temas como as alterações climáticas ou as discriminações identitárias. Mas serão esses, efectivamente, os interesses fundamentais dos cidadãos que, por pudor ou por tacticismos vários, são sistematicamente escondidos dos olhares alheios, perdendo o “lugar na mesa”?

A invocação, quantas vezes inconsequente, dos direitos humanos, numa lista encabeçada pelo supremo valor da liberdade, ofusca outros valores que a dignidade deveria colocar na base das relações entre os homens, sobretudo os de “boa vontade”. Vale a pena cruzar as asserções de Pérez Soto com a frase de Léon Blum num “Escrito na Pedra” (PÚBLICO de 7 de Setembro): “Toda a sociedade que pretende assegurar a liberdade aos homens deve começar por garantir-lhes a existência”.


Público - 13.09.2023


terça-feira, 12 de setembro de 2023

 AINDA A FESTA DO AVANTE


Já muito aqui foi escrito, e bem, sobre a Festa do Avante. Por isso, queremos destacar, sobretudo, dois aspetos desse que é o maior acontecimento cultural, político, gastronómico e desportivo deste país. Apesar da propaganda contra de quem não interessa o grandioso evento, referimo-nos à afluência e ao trabalho que é necessário à construção, funcionamento e desmontagem daquela cidade efémera de três dias.

Primeiro, por causa da pandemia, foi criado um ambiente de medo para impedir as pessoas de lá irem. Que seria uma irresponsabilidade, um foco de propagação do vírus, etc. Foram tomadas todas as precauções sanitárias prescritas pela Direção Geral da Saúde, um exemplo até para outros grandes eventos, e tudo correu pelo melhor para grande satisfação dos muitos milhares que lá foram usufruir do caloroso convívio, da camaradagem, do debate, da música, da cultura.

Depois, na edição anterior e ainda nesta, a tentativa de denegrir o PCP por não alinhar no discurso mediático omnipresente sobre a guerra na Ucrânia. Por causa da sua frontal oposição a esta como a todas as guerras. Posição reafirmada pelo Secretário-Geral, Paulo Raimundo, no discurso do grande comício: “Nesta Festa da paz, e com a autoridade de quem desde sempre se empenhou e empenha contra a guerra e pela construção de um mundo seguro, afirmamos que é preciso dar uma oportunidade à paz, que precisamos mais de amizade e cooperação e menos de ódio e belicismo. Que é preciso agir, face aos que, indiferentes à morte e à destruição, apostam no conflito militar em vários pontos do mundo e insistem a todo o custo na continuação de uma guerra que na Ucrânia já leva nove anos, que nunca deveria ter começado e que é urgente parar. É com o carimbo da União Europeia e a sua ação que os povos são empurrados para o empobrecimento.

UE, cheia de contradições e às ordens dos EUA, a fomentar o militarismo e a abrir caminho a conceções e forças fascistas e reacionárias. Uma UE comprometida com os interesses e os milhões de lucro dos grupos económicos. Uma UE incapaz de travar a morte de milhares de pessoas no mediterrâneo, muitas delas em fuga de países alvo das ações dos EUA, da UE e das bombas da NATO. Este caminho não serve os povos. O que precisamos é de cooperação, paz, igualdade entre Estados, desenvolvimento e progresso social, objetivos pelos quais lutamos”.

Depois foi o que se viu; começam a abrir brechas na manipulação, e um mar de gente desde a abertura, numa alegria e convívio contagiantes, apreciando música e artistas de todos os géneros, a nossa gastronomia do Minho aos Açores e à Madeira, participando em debates, conhecendo melhor e enriquecendo as posições do PCP.

Os milhares de militantes e simpatizantes comunistas e amigos que construíram, asseguraram o funcionamento e desmontaram aquela festa de 50 hectares, gratuitamente, voltarão a fazê-lo. Fazem-no, por um ideal. Por um país e um mundo melhores que sabem ser possível com eles e com muitos mais que a eles se juntarão.

Francisco Ramalho


Publicado hoje no jornal "O SETUBALENSE"

Retorno à caverna

 

DECADÊNCIA

 

À segurança segue a decadência

Prediziam na Grécia os “sete sábios”

Decerto homens extraordinários

Num tempo à descoberta da ciência.

 

Quando era precisa a competência

Pondo de sobreaviso os falsários

Sempre sobressaíam perdulários

Que esqueciam dos mais a existência.

 

E foi assim com todos os impérios

Que não suportaram os despautérios

Das suas classes mais bem resguardadas;

 

Ciosos da sua prosperidade

Arrastaram toda a sociedade

Para as situações mais inesperadas.

 

Amândio G. Martins

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Inteligência Artificial

A condição humana receia o desconhecido. A Inteligência Artificial (IA), ainda para muitos, muitos milhões de pessoas não entrou no seu dia-a-dia e para o comum dos mortais é vista como a chegada a um ponto, que nos torna difícil destrinçar o que é humano de programas informáticos(!). A IA só pode ser uma boa ferramenta para um vasto leque de pretensões e objectivos, se aplicada a favor da Humanidade.... Caso contrário, há a possibilidade dos seus programas serem confundidos com pessoas, usando a voz dos humanos e imagem para burlar cidadãos sem cautela! Urge regulação, bem como falar sobre IA nas escolas. Estamos num caminha sem retorno, a IA já está em velocidade futurista acelerada. Venha ela!

Pecaminoso desperdício

 

Sendo bem conhecida e preocupante a nossa baixíssima taxa de natalidade, que só o precário contributo dos imigrantes vai disfarçando, é difícil encontrar qualquer desculpa para o descaso com que os governantes de há muito vêm olhando para os centros de recuperação de menores delinquentes; de facto, são tamanhas as carências com que essas casas se debatem no seu dia a dia que se fica com a impressão de que a tutela encara aquela juventude desestruturada como casos irremediavelmente perdidos.

 

E não pode nem deve ser assim, porque a maior parte daquela miudagem é inteligente e tem potencial de recuperação, se for percebendo que é tratada com dignidade por gente que se interessa verdadeiramente por ela, capaz e bem preparada para a sua importante função educativa, dispondo dos equipamentos necessários e instalações condignas, tudo ao contrário do que agora se verifica, segundo os depoimentos que o JN nos apresenta...

 

Amândio G. Martins

domingo, 10 de setembro de 2023

Pedra lascada

 

PETRIFICADOS

 

Quatrocentos anos após Galileu

Ainda há quem negue a Terra “redonda”

Recusam-se a crer no que ele descobriu

Orgulhosos da ignorância bronca.

Para escapar de ser queimado vivo

Na fogueira da sinistra inquisição

O sábio Galileu foi constrangido

A desmentir a sua revelação.

Não crêm que se tenha ido à lua

Que é tão pequenina como a vêem

Onde não cabe a humana figura

Tampouco a máquina da viagem.

Vivem no tempo da “pedra lascada”

Mas sem a vontade de aprender nada

Do bastante a que podemos aceder

Se não se tem a mente aparvalhada.

Quando não for possível compreender

Dada a complexidade do que vemos

É mais sensato evitar despender

Opinião sobre o que não sabemos.

Temos obrigação de tentar saber

Naquilo que ao nosso alcance já temos

Que no tempo que nos foi dado viver

Ainda é muito o que desconhecemos

Sempre que nos quisermos desenvolver...

 

Amândio G. Martins

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

"Habituem-se"

 

Decerto que não serei o único, mas é raro o nortenho, sobretudo minhoto, que não goste de foguetes por tudo e nada, daí que tenham, desde sempre, proliferado as fabriquetas onde eles são feitos, com os efeitos feéricos e potência explosiva mais diversa, artesanatos esses que vêm passando por grave crise, dadas as restrições de toda a ordem que lhes têm sido impostas, pelo perigo de incêndio que em muitos casos constituem, como pelo ruído cada vez menos tolerado, que em algumas romarias mais tradicionais chegava a ir pela madrugada dentro, só que os espaços rurais se foram tornando cada vez mais urbanos.

 

Estão a decorrer em Ponte de Lima as centenárias “Feiras-Novas” que, desde sempre dedicadas à Senhora das Dores, de religiosidade têm apenas a procissão do último dia, mas a que só uma ínfima parte da gente que aqui acorre prestará atenção, descontando os devotos locais de sempre; e desde miúdo que me lembro do grande foguetório que sempre fez parte indispensável do programa, começando com umas “morteiradas” de alvorada, cujo estouro troava pelo concelho todo, e depois, entrando pela madrugada , com o artifício a que chamávamos “fogo de vista”.

 

Todavia, a festança deste ano começou na quarta à noite, com o ligar da iluminação artística, e ainda não ouvi um único estouro, o que a mim parece bem; tal como já houve na Trofa, em pleno centro da urbe – não sei que terá acontecido lá com os foguetes -  tendo como padroeira a mesma santa, também estão programadas, a seguir, as da Póvoa de Varzim, cujo presidente da Câmara negou autorização para foguetório, alegando que a Póvoa não é mais uma aldeia, havendo na envolvente da festa um hospital e um lar, que não podem ficar sujeitos à perturbação do sossego dos seus utentes.

 

Amândio G. Martins

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Espanha (várias Espanhas) ao rubro...

As jogadoras da seleção de Espanha ganharam o Mundial de futebol com mestria e justiça. Mas, eis que surge um beijo na boca numa jogadora, dado pelo presidente da Real Federação Espanhola de Futebol(!), e o caldo entornou-se todo.... A Comunicação Social espanhola, no Mundo e cá respaldou este (quase) abuso sexual, do que propriamente a primeira célebre conquista do troféu por «nuestras hermanas». Aqui mais do que, a guerra na Ucrânia, a insanidade mental, a inflação, a falta de habitação social, o desemprego e a precariedade, a corrução sem condenados e por aí adiante. Se bem que a jogadora visada, Hermoso, através dos vários vídeos/reportagens pareceu que se pôs ligeiramente a jeito.... O dirigente deve ser afastado. «Desencanta-me» o papel de vítimas das mulheres, atendendo que não são as afegãs nem as árabes de burka nem as massacradas pelo alcoolismo e nem pelo défice de saúde mental dos maridos, as maiores vítimas. O 'Me too' chegará a Espanha e bem! O que mexe com os nervos de muita, muita boa gente é a «a marabunta vaginal», parafraseando Natália Correia - a imortal!

Mentes doentes

 

SALVA-VIDAS

 

O amor pode ser um “salva-vidas”

Que sem ele anda a gente meio-morta

Mas como nem a todos bate à porta

Carregam-se vidas entorpecidas.

 

Por isso induz tantos homicidas

A quem a vida já nada importa

Que nunca ouvem se alguém os exorta

A que procurem sensatas saídas.

 

O amor não salva a vida da gente

Que não for capaz de seguir em frente

Quando o que foi sonhado não deu certo;

 

Se por ele tantos perdem a razão

Decerto não era amor mas possessão

Onde não havia sério afecto.

 

Amândio G. Martins

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Nada de extraordinário

 

O JN põe em letras gordas, na primeira página, que os ricos garantem “quase” metade  das receitas do Estado, o que demonstra que, sendo detentores da grande fatia da riqueza do país, estão a pagar “poucochinho”, por muito que os partidos da Direita berrem contra a maior receita fiscal do regime democrático; de facto, sabendo muito bem que essa é a forma mais decente de  os governos distribuírem alguma da riqueza produzida, preferem usar o tema dos impostos para a sua propaganda, como se os seus líderes ainda se vissem naquele tempo em que assistiam à cena duma avozinha na familia ter o seu pobrezinho de estimação com quem, mais ou menos uma vez por semana, fazia a sua “boa acção”, dando-lhe uma côdea de pão duro e ficando de “consciência tranquila”.

 

Diz Paulo Núncio, que foi Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no governo PSD/CDS, quando foi criada a chamada Unidade de Grandes Contribuintes: “Nestas circunstâncias de aumento abrupto da carga fiscal, é normal que as unidades de supervisão da UCG também tenham entregue mais impostos ao Estado”; até parece, fazendo agora mau o que na altura era bom, que criaram esse departamento da Autoridade Tributária, não para ir buscar receita onde ela se escapava, mas para lhes baixar os encargos fiscais...

 

Amândio G. Martins

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Se é necessário não é extravagância

 

A médica de familia prescreveu-me vários exames para tentar descobrir a origem dos problemas que me vêm afectando as pernas e os pés, e me impedem o descanso necessário durante a noite; a antecessora – num curto espaço de tempo já vou na quarta médica, desde que a espanhola que me atendeu muitos anos se reformou e da qual tenho tido saudades, porque as substitutas parece que só vão ficando até arranjar melhor lugar – a antecessora, dizia, disse-me que o meu problema se chamava “síndrome da perna inquieta” -  coisa talvez “engraçada” para mulheres contraporem às maleitas das outras nas conversas de salas de espera – e receitou-me uns comprimidos, que foram muito eficazes para me anular a capacidade sexual, acção confirmada pela “bula”, mas quanto ao que se pretendia, nicles.

 

Mas o que realmente queria realçar, por me parecer incompreensível, é que, na organização a que recorri para fazer aqueles exames, Unilabs, onde fui muito bem atendido, enquanto o custo de uns corre por conta do SNS, é da conta do utente a pagamento de outros na íntegra; e se é assim porque os responsáveis da saúde os consideram uma dispensável extravagância, o que a mim me parece é uma indecente desautorização da médica em prejuízo do utente...

 

Amândio G. Martins

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Claro que a escola pode resolver

 

Devia ser claro para qualquer responsável que o uso indiscriminado de telemóveis nas salas de aulas interfere no que deve ser o ambiente de estudo e no trabalho dos professores, porque este  absurdo vício que se foi cimentando, em idades com pouca noção das responsabilidades, leva a que se distraiam boa parte do tempo de aula em brincadeiras e provocações, com toques e piadinhas, em vez de se concentrarem no que ali foram fazer; de facto, havendo já escolas onde aos jovens não é permitido o uso daqueles aparelhos no tempo de aulas, segundo os responsáveis com bons resultados, é difícil perceber que uma norma assim não avance pelo país inteiro com efeito obrigatório.

 

Nem entendo o que diz no JN o presidente do Conselho Nacional de Educação, Domingos Fernandes, que “é um problema da sociedade e não se pode empurrar para a escola e esperar que esta resolva”, como se à escola não seja legítimo criar as normas necessárias ao seu bom funcionamento e ao bom aproveitamento dos alunos enquanto estão à sua responsabilidade...

 

Amândio G. Martins

domingo, 3 de setembro de 2023

O efeito borboleta


A “borboleta” que bateu as asas na Eslovénia originou um furacão em Palmela. Tudo começou numa fábrica fornecedora do grupo Volkswagen, inundada pelas forças da natureza, que ficou impedida da fabricação de determinada peça indispensável à cadeia de produção. Sem a peça, nem solução alternativa, a Autoeuropa vai enviar para layoff alguns milhares dos seus trabalhadores. 

Qualquer espírito menos avisado diria que o “sistema” está mal concebido, porque uma adversidade localizada se repercute de forma praticamente incontrolável em várias geografias, a milhares de quilómetros, levando prejuízos incalculáveis aos accionistas e aos PIB’s dos países afectados que, na altura própria, certamente incentivaram os investidores.

A verdade, porém, é que a ocorrência só vem demonstrar a eficiência do “sistema”, como se pode comprovar pelo facto de esses prejuízos terem sido “devidamente” redirecionados para os trabalhadores, assim se poupando perdas aos detentores do capital. Se o “sistema” tivesse sido concebido para o bem comum, talvez a Volkswagen não se tivesse colocado numa situação de vital dependência de “uma peça”. 

A maximização do lucro acaba por ser garantida pelos trabalhadores do grupo por esse mundo fora. E ainda se pensará que o “sistema” está mal concebido?


Público - 03.09.2023

sábado, 2 de setembro de 2023

Da criminalidade ecológica

 

Os rios e ribeiros em zonas de muita indústria foram, e desgraçadamente ainda o são nalguns casos, os esgotos para onde eram descarregados todo o tipo de efluentes, que impediam que ali se desenvolvesse qualquer sinal de vida, porque mesmo depois que os “fundos europeus” permitiram aos industriais dotar as suas unidades com centrais de tratamento das águas contaminadas, a maior parte deles continuou a despejar a porcaria directamente para os rios, mantendo o velho hábito, que lhes ficava mais barato do que pagar as despezas de funcionamento  da “Etar”.

 

E o Ave foi um dos rios mais sacrificados, quase sempre se mostrando de várias cores, não deixando dúvidas acerca da impossibilidade de ali se poder desenvolver alguma vida; e pude testemunhar o que digo nos cerca de trinta anos que morei em Santo Tirso, dizendo-me um amigo daí natural, a quem doía o que via e gostava de história, que aquele rio tinha sido muito rico em peixes variados, havendo um documento que obrigava os pescadores a entregarem ao rei as primeiras lampreias que pudessem pescar.

 

Descrevendo as delícias do Parque das Azenhas, entre Santiago e S. Martinho de Bougado,diz Ana Correia Costa, no JN, que já há peixes no Ave, e que até já houve quem ali avistasse uma lontra, sinal de que aquele rio está a ganhar vida; faço caminhada habitual na Ecovia do Lima e uma das coisas que mais me divertem é poder observar a lontra, que gosta de brincar com as pessoas ao emerge/imerge, quando se apercebe dalgum mirone na margem...

 

Amândio G. Martins

 

 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Ainda Rubiales

 

Enquanto a parte “pimba” da família se juntava à porta duma igreja - onde a mãe do figurão se colocou em “huelga de hambre”- clamava a inocência do prepotente, e que a jogadora dissesse o que lhes convinha, eis que surge uma entrevista de Juan Rubiales, tio paterno do “señor presidente” e seu ex-chefe de gabinete, que confirma tudo quanto  a Imprensa em tempos já revelara e o corrupto negou, atemorizando com processos os jornais que o investigavam, para o que pagava advogados caros com dinheiro da Federação.

 

“Se ha echo la vista gorda en muchas cosas”, confessa o tio, que mesmo assim teve de abandonar o cargo porque o sobrinho arrogante já não lhe aguentava os reparos aos desmandos que vinha praticando, como um passeio aos Estados Unidos com uma namorada, paga com dinheiro da Federação como se fosse oficial, e festas privadas com miúdas, qual Berlusconi, cobrança de comissões numa negociata com o ex-jogador Piquet, tudo processos que Juan Rubiales classificou de completamente “impresentables” para uma função daquela responsabilidade, tendo a gota de água sido a sua recusa de engendrar uma forma de a RFEF pagar às escondidas uma mensalidade ao pai do malandro...

 

Amândio G. Martins