segunda-feira, 29 de abril de 2024

Da paleontologia

 

Fui para Lisboa quando era ainda rapazinho, e a minha primeira morada lá foi junto ao Campo de Santana, numa ruela perpendicular ao Paço da Rainha, em frente à Academia Militar; morava na porta em frente um tipo de sujeito a que se costuma chamar “gajo porreiro”, sempre bem disposto e a querer saber se estava tudo bem comigo, também porque era colega de borgas de um conterrâneo meu que se interessava por mim, como é que me estaria a adaptar na capital, tão diferente do local de onde provinha.

 

O moço, que era o que se podia chamar "benfiquista doente", por tudo e nada dizia que “não há pai para o Benfica”; um dia, estando eu com o grupo de conterrâneos que morava por ali perto e se costumava juntar à noite para jantar no restaurante Altinho, e depois por ali se mantinham em amena cavaqueira, falando de futebol e outras sandices, ocorreu-me aquela expressão do meu vizinho benfiquista e disse que “não havia pai para o Benfica”, o que provocou nos da minha terra uma reacção de tamanha surpresa, eles que eram todos sportinguistas, que me obrigaram a abjurar de tal convicção, sob pena de não ser mais aceite naquele grupo.

 

E não me custou nada fazer-lhes a vontade, porque o futebol, se até ali não me dizia nada, dali para a frente pouco mais passou a dizer-me, por muito que me levassem com eles sempre que o Sporting jogava em Alvalade ou nos outros campos por perto; é verdade que me fizeram sportinguista, mas com simpantizantes como eu o clube há muito tinha desaparecido por falta de clientela, sendo que o meu interesse pelo tema se resume a procurar andar informado, principalmente pelo que leio no meu JN diário.

 

Vem esta verborreia a propósito da notícia futeboleira do momento, que foi ver Pinto da Costa saír de cena humilhado e de rabinho entre as pernas, situação que, se tivesse sido mais lúcido e bem aconselhado, podia ter evitado, saindo a tempo e de cabeça erguida; mas são assim todos os ditadores, que têm de si próprios um tão alto conceito que se julgam imprescindíveis, e que só os substituirá quem eles apadrinharem, mas este deu com os burros na água, muito por culpa também dos lambe-botas que o rodeavam. Enfim, deste dinossauro ficarão as pegadas, nem todas suficientemente nítidas para valer a pena rever...

 

Amândio G. Martins

 

 

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