terça-feira, 27 de agosto de 2024

Abalos sísmicos

 

Dizem os entendidos no tema que a nossa península se situa entre duas fracturas tectónicas importantes, que são a euroasiática e a africana, e é quando elas se movem que a coisa treme toda à superfície; todavia, o nosso território continental não tem sido muito martirizado, se tivermos em conta que, desde a hecatombe que foi para o Sul, sobretudo a região de Lisboa, aquele de 1755, não nos podemos queixar de grandes tragédias sísmicas.

 

Estava em Lisboa quando aconteceu o que terá sido o mais marcante abalo desde aquela data acima referida, que então deixou mesmo muita gente a tremer de medo, entre a qual me encontava; cumpria o serviço militar e pertencia ao então chamado Batalhão de Telegrafistas, mas não pernoitava no aquartelamento, tendo um quarto alugado num rés-do-chão ali próximo, Rua Frei Manuel do Cenáculo, uma zona de construções muito velhas.

 

Dormia quando tudo começou, e acordei com o tropel dos moradores dos andares de cima a descer as escadas de madeira; o que ainda recordo com nidez era a cama como que a balouçar em cima das ondas, da qual saltei rapidamente para a rua, onde me juntei àquela gente que surgia assustada de todos os cantos e ficava a comentar o que cada um tinha sentido, sem ocorrer a ninguém que se um daqueles prédios ruisse podia esmagar muita gente.

 

A explicação que posteriormente li, para que não tivesse havido estragos de monta, e corroborava aquela sensação de flutuar que tive ao acordar, foi que o movimento imprimido à terra foi horizontal, que é sempre bastante menos gravoso do que se fosse vertical; como quer que seja, a zona Norte do país é sempre menos afectada por estes abalos, e no caso concreto de ontem, que seguramente estava onde estou agora, a escrevinhar as minhas coisas - como sempre faço a partir das quatro horas até à seis e pouco - nem senti nada, sendo surpreendido quando ouvi as notícias.

 

Amândio G. Martins           

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