quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Hipocrisia


A hipocrisia está no ar. Respira-se todos os dias. Mesmo a ver televisão não se acredita no que se ouve, por vezes. Hoje leio na primeira página do Público que a troika faz mea-culpa pelo seu programa de austeridade aplicado a Portugal. O FMI tem economistas de muito saber, com exemplos antigos de crises idênticas noutros países. Pertencem a um organismo mundial de elevada craveira técnica. Estavam fartos de saber que este caminho não era a solução. Adoptaram-no porque é assim que podem favorecer o Capitalismo Especulativo com as privatizações de empresas públicas, por exemplo. Depois de asneira (?) feita desculpam-se com uma qualquer questão técnica ou dado novo que descobriram agora. Não nos deixemos enganar. Hoje o poder político-financeiro está-se nas tintas para o crescimento das desigualdades sociais para o aumento de pobreza para o aumento de custo de vida para a supressão de serviços essenciais como o SNS e a educação gratuita para todos. Ainda recentemente uma organização não governamental alertou para o perigo de aumentar em muitos países da Europa das desigualdades sociais. Dentro de alguns anos teremos milhões de pobres na Europa se nada for feito, dizem. Mas, sinceramente, não acredito que as instâncias europeias dêem importância ao caso. Há um dado novo, antigo, que veio alterar tudo. O muro de Berlim caiu. A União Soviética implodiu, já não é uma ameaça para os países livres do resto da Europa, como antigamente o foi. O perigo de, por vias de eleições livres e democráticas, os diversos partidos comunistas espalhados pela Europa, poderem ser poder nos seus países já não existe. Naquele tempo, hipocritamente, alguns governos preocupavam-se em ter políticas sociais para a educação e saúde, por exemplo, de modo a tirar força aos partidos de esquerda, comunistas principalmente. Hoje, mesmo que hajam grandes contestações sociais, o poder liberal de centro-direita não lhes dará importância alguma. Tem o poder militar. O perigo comunista desapareceu. E os partidos do chamado arco governativo são, maioritariamente, de centro-direita. No Egipto a Irmandade Muçulmana ganhou eleições livres e democráticas. Tentou afastar a poderosa casta militar do poder. Primeiro os militares fizeram de conta que não se importavam. Mas esperaram até à melhor oportunidade. Depois deram o golpe. Quem tem a força militar tem o poder. Quem tem o poder económico tem o poder. Hoje, no semanário" I, o historiador Antony Beevor veio dizer que a Alemanha não tem ambições políticas mas sim económicas. E? Quem tem o poder económico tem o poder político. É ela quem manda na CEE e não o Parlamento ou o Banco Central Europeu. Para os líderes europeus pouco importa que a Europa vá ter uma maior percentagem de pessoas a viver na pobreza. O Capitalismo que eles servem transformaram-nos em clientes. Deixamos de ser seres humanos. O Capitalismo só quer clientes, nada mais, nem que para isso se tenha de aliar a ditadores (Angola, Rússia, China) se isso lhes for vantajoso financeiramente. Nada de novo. Por mais protestos que queiramos fazer, que devemos fazer, não tenhamos ilusões. Se queremos mudar o sentido desta sociedade capitalista que nos governa temos de tomar o poder. Embora mesmo assim isso possa não chegar (Egipto). Temos de ter muita vontade e inteligência e não pensarmos só no nosso umbigo nesse trabalho de formiga que se nos exige. Formar partidos, ou seja lá o que for, e lutar com as mesmas armas que o "inimigo" mas com ideias bem diferentes e com forte convicção. Sermos diferentes. Sinceros, solidários, combativos, generosos e persuasivos. Se vivemos em Democracia usemos a armas que ela, acanhadamente é certo, nos dá para mudar o caminho onde nos meteram. No fundo precisamos de um homem novo...

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