quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Texto hormonal, a Bem de Portugal

Por Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque) A mamã e o papá não passavam de duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela dezasseis e eu três. Foi um casamento especial, autorizado pelas autoridades, que nele viram bons auspícios para a reposição dos normais níveis de natalidade de que Portugal carecia, porque a continuar a diminuição de nascimentos ficava em causa gerações de navegadores e seus descobrimentos. Quando, com três anos, eu fui ao casamento de meus pais, dando a mão à minha irmã de dois anos, minha mãe ia grávida, dum ou doutra! Não sabia se rapaz ou menina, mas, pelos pontapés que ela sentia, dizia, a rir, que era um rapaz e que talvez fosse um Ronaldo. Minha mãe era terra fértil, onde a semente de meu pai germinava de qualquer jeito, sem cuidar das indicações do Almanaque do Seringador quanto à época da sementeira! Aliás, mais que o amor, que sentiram à primeira vista, foram as hormonas que falaram mais alto! Felizmente, que meu pai, tendo casado com a idade de dezoito anos, não teve tempo de adquirir ferramentas de caça para sustentar a prole, beneficiando de subsídios, das Confederações Patronais, para a sustentação da família e sua educação, numa perspectiva de alargamento de mercado, assegurando formação nas áreas das tecnologias modernas; gestão, computação, informática e até como ser agricultor, com tratores telecomandados e alimentos saírem logo do campo, cozinhados para o consumidor! Meus pais não tinham que se preocupar com nada, a não ser em aumentar a população. A cada novo rebento que surgia recebiam cartas de apoio e estímulo pelo exemplo dado, que terminava com a referência elogiosa de ser a Bem da Nação e exemplo para todos, por, deste modo, engrandecer o poderio pátrio, e, eventualmente, embarca-lo em cápsulas espaciais para Marte ou Júpiter. Estava eu meditando nesta magna questão da diminuição da população quando ouvi gritos; era a minha mãe a dar à luz, mais uma vez! Meu pai, nos seus trinta anos, já com quinze filhos esperava ir para o Guiness. Interrompi o que estava a escrever e fui dar um beijo ao meu irmão, enquanto pensava, naquele mês de maio, na roupa que me dariam para acompanhar meus pais, na cerimónia do dia 10 de Junho; Dia da Raça Portuguesa, em que meus pais seriam medalhados! Eu tinha que seguir a raça. Já sentia as hormonas! ...........xxxxxxxxxxx............ Silvino Taveira Machado Figueiredo (o Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque)

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